Sete de julho de 1990, sexta-feira. O dia mal havia clareado e a equipe já estava a caminho. Na viatura só os equipamentos essenciais. De volta à fazenda, colocaram o carro no mesmo local, montaram a micro-câmera por segurança e apanharam a trilha que os levaria ao córrego.
— Estive conversando com o Marcos ontem à noite, comentou Ramon. Não tenho dúvidas de que o nosso visitante é um federal.
— E o que os federais estariam fazendo atrás de nós? observou Carlos.
— Não estou bem certo, Carlão. Se o intuito deles é descobrir a conexão aqui na fazenda, por que estariam no nosso vácuo?
— Será que tem a ver com nosso acidente na estrada? perguntou Willdson.
— É possível, San. Pelo menos, continuou Ramon, seria a dedução mais lógica para eles. Contudo, duas coisas me intrigam nessa história: se os caras do Comodoro nos queriam fora do caminho, por que não atiraram na gente?
— Como você mesmo disse, provavelmente queriam que parecesse um acid
Mauro Corrêa tinha sido o outro guia da equipe do Projeto INCA. Na verdade, ele era quem conhecia, efetivamente, a região. Na época, ele caçava muito naquelas matas. O Ariovaldo era amigo seu e tinha acompanhado-o várias vezes. Quando Ramon e Willdson conheceram-no, ele solicitou a colaboração do Ariovaldo, pois, naquele ano, passariam por sua fazenda para que pudessem penetrar na então fazenda Estância sem serem percebidos. Era um bom sujeito e tinha se mostrado amigo da equipe. Prometeu até ir a Campinas para visitar os novos amigos, o que nunca aconteceu. Morava em uma pequena chácara na periferia da cidade. Seu pai tinha um boliche como eles diziam. Era um pequeno armazém onde se vendia de tudo. Quatro anos depois, novamente a CIFEC buscava a sua ajuda. A viatura parou diante de uma porteira amarrada com pedaços de borracha de câmara de ar. Os primeiros a recebê-los foram dois cachorros vira-latas carentes de afeto. Latiram por um instante e depois abanaram o rabo como s
Marcos trabalhara a sexta-feira toda vasculhando os arquivos. Fredy não havia retornado do Rio. Resolveu voltar no sábado para continuar suas investigações. Checou o laudo da perícia quanto ao incêndio da sala de arquivo, como Ramon lhe pedira, mas não encontrou nada de estranho. De acordo com o laudo, o motivo do incêndio tinha sido mesmo ocasionado por um curto-circuito acidental. Segundo o relatório, quando o segurança ligou a chave, dois cabos que haviam sido deixados próximos, durante a instalação do vibrador intra-molecular, soltaram faíscas iniciando o incêndio. O arquivo provisório, de madeira, estava em um canto atrás da máquina onde seriam conectados os cabos. Isso fez que o sistema contra incêndio, mesmo acionado quase imediatamente, através dos sprinkers, levasse um tempo até acabar totalmente com o fogo. Marcos decidiu deixar de lado, pelo menos por um tempo, essas investigações e partir para outra. Como era sábado, pouca gente trabalhava na administraçã
A viatura parou no antigo boliche de seu João. A fachada continuava a mesma, exceto pela placa que identificava o novo negócio. “Ferro Velho João Bolicheiro”. Era a forma como conheciam seu pai e Mauro manteve como homenagem. A porta do antigo bar estava fechada, mas era o portão lateral a principal entrada do novo estabelecimento. Deixaram o carro no mesmo lugar e dobraram a esquina. Ramon pediu que Carlos e Henrick ficassem na viatura. — Bom-dia! disse Ramon entrando no estabelecimento. — O Seu Mauro está? Um homem, sentado em um pequeno banco, mal levantou a cabeça. Desmontava um painel de carro e sem parar o trabalho respondeu em tom mal-humorado. — O patrão não está! Se quiser alguma coisa, fala com o outro lá no fundo. — Oh! Muito obrigado, respondeu Ramon. O outro de que ele falava era um sujeito de raça negra, bastante forte e que separava peças em lotes. O ferro-velho continha peças usadas de todas as marcas de automóveis. Não aparent
Não eram 11 horas ainda. Assim, a equipe resolveu não perder tempo. De acordo com a conversa de Ramon com o funcionário do ferro-velho, Mauro não dera previsão de retorno. O jeito era voltarem no riacho da floresta e prosseguirem na busca. Assim fizeram. Já haviam caminhado por duas horas aproximadamente, dentro do seu leito. Era muito tempo a mais do que haviam caminhado em 86. Além disso, o riacho começava a se transformar em um pequeno rio, atingindo dimensões de quatro metros de largura e profundidade, em alguns pontos, de quase um metro e meio. A paisagem estava totalmente mudada. Diferente de qualquer coisa registrada em suas memórias. Resolveram retornar pelo mesmo caminho até chegarem à pequena estrada. Era uma estrada recentemente aberta por trator de esteira. — Quem sabe essa estrada não seguiu o curso da vala? sugeriu Willdson. — Sabe de uma coisa, San? Não é má essa sugestão, observou Ramon. A vala de que falavam fora descobe
Nove de julho de 1990. Finalmente as idéias começavam a surgir. A equipe havia conversado muito na noite anterior. Se o Mauro estava descartado, por que não o Ariovaldo? Afinal, o Ariovaldo conhecia o Ponto M tanto quanto o Mauro e, por ser domingo, com certeza seria encontrado em casa na fazenda. A conclusão estava correta. Ariovaldo recebeu-os muito bem e alegrou-se com a visita. Conversaram por muito tempo relembrando aquela empreitada. — Almoçam com a gente, não e´? perguntou com clara satisfação. Afinal de contas, hoje é domingo! — Está certo, Ari, assentiu Ramon. Acho que estamos precisando mesmo relaxar um pouco. O almoço foi servido. A mesa era farta e toda a família e também amigos se reuniram em companhia dos arqueólogos. — E o Mauro, Ariovaldo? Como ele está? A pergunta era um tanto capciosa. Dependendo da resposta, Ramon poderia analisar o relacionamento dos dois nos tempos atuais. Ariovaldo baixou a cabeça demonstr
Dez de julho. Mal amanhecera e a equipe já iniciava os trabalhos de busca. Ariovaldo penetrava na selva como se conhecesse cada arbusto. — É aqui! gritou ele. A vala está aqui. Bem do lado dessa estradinha. Em seguida completou: — Puxa vida! Mais um pouquinho e o trator que abriu a estrada caía na vala... Interessante! Estava muito mais perto do que a equipe imaginara. A vala, provavelmente, fora usada para transporte de equipamentos, munições ou mesmo mantimentos durante a guerra do Paraguai. Teria sido ponto de defesa das construções maiores, onde tranquilamente transitaria homens e seus pertences. Do outro lado, ao sul da vala, finalmente o chamado Ponto M, batizado pela equipe em função do nome da cidade de Miranda. Durante três dias os arqueólogos transitaram tão próximos que não conseguiam acreditar. As ruínas estavam lá. Aparentemente intactas. Magníficas construções de pedra com encaixes perfeitos. Grandes muralha
Os arqueólogos jantaram mais cedo naquela noite. Tinham muito o quê preparar para o dia seguinte. Cláudio estava na capital e, portanto, não lhes fez companhia. — Preparem tudo pra nossa mudança amanhã, ordenou Ramon. Vou ligar pro Marcos e saber o que ele descobriu. Depois, dirigindo-se ao Henrick, completou: — Separe as fotos da Polaroid. Quero vê-las antes de dormir. Os outros foram para seus aposentos enquanto Ramon se encaminhou para o telefone. — Alô! Marquinhos? Espero não tê-lo acordado! — Ramon! Puxa vida! Estava mesmo esperando o seu telefonema. Tenho descobertas interessantes pra você. Marcos relatou em detalhes todas as informações que havia conseguido. — E quanto ao chefe da segurança? O que mais você descobriu? — Eu levantei a ficha do Manoel. Ele foi admitido na CIFEC em 84. Tinha boas referências. Foi da S1 durante o serviço militar e antes de vir pra cá trabalhou na segurança da Refinaria
Ramon entrou no quarto e percebeu um certo desconforto no ar. — E então, pessoal? Posso saber da notícia pra ficar chateado também? perguntou Ramon tentando amenizar o clima. — Mostra pra ele, Henrick! pediu Willdson. Henrick espalhou as fotos na cama como num jogo de cartas. Todos se voltaram para o chefe aguardando a sua reação. Ele ficou impassível. Colocou a mão na barba como sempre fazia enquanto analisava alguma coisa. — E aí? perguntou Willdson. O que é que você acha? As fotos, apesar do tempo que fazia dentro da mata, estavam bem definidas. — Pra ser sincero, eu já esperava por isso, comentou Ramon. Em três das fotos colocadas sobre a cama era possível visualizar um vulto por trás dos arbustos. — Por isso você queria tanto ver as fotos? perguntou Henrick. — Na verdade já estava sentindo a falta do nosso amigo federal. Ele deve estar nos seguindo durante todo o tempo. — Nesse caso, ele dev