Ele estava tentando encontrar as palavras certas para pedir desculpas. Ensaiava mentalmente o que dizer para não ser mal interpretado, quando foi pego de surpresa por um convite inesperado.— O jantar está servido. — Jéssica bateu na porta, convidando-o para a refeição. Ele entrou na sala de jantar e viu uma mesa com uma refeição lindamente preparada. Os pratos eram coloridos, com vários tipos de legumes, e as crianças estavam comendo e gostando. Até a carne parecia muito boa.— Isso está lindo e cheirando muito bem! — Hugo, salivando, fez o elogio. Ele era especializado em massas e carnes mais elaboradas, e uma comida simples e rica em nutrientes não era exatamente seu forte.— Quem diria que uma gorda saberia fazer refeições saudáveis e adequadas para crianças? — A ironia era o resquício da raiva que ele a fez sentir. Jéssica gostaria de ser superior e deixar essa história para trás, mas sentiu que já havia engolido todos os sapos que podia. Não conseguiria deixar passar isso, por m
Digerindo o que leu nos relatórios, Jéssica recuou na decisão de morar sozinha. As crianças precisavam dela. Mesmo que não fossem seus filhos, não tinha coração para abandoná-las depois de saber o que haviam sofrido.Mas não estava disposta a ser dependente de um homem novamente. Com Leonardo, parecia que ela não era capaz de fazer nada sozinha, que precisava da opinião e aprovação dele para tudo.A dor de tudo o que passou ainda era viva e pulsante em seu coração. Os episódios de choro e stalking eram mais secretos agora, que tinha um pouco mais de privacidade, mas continuavam frequentes. Sentia um misto de emoções em relação a Clara. Não poderia dizer que era apenas ódio, havia outras coisas.Mas de Leonardo, era isso. Um ódio puro e bem fundamentado. Jéssica começava a perceber que vários dos comportamentos que ele tinha com ela, no início, ele repetia com Clara. Isso ainda era difícil de digerir.Não queria voltar a viver aquilo novamente. Visitou os apartamentos como planejado, ma
Junto com a decoração da casa, eles fizeram os combinados. Queriam que sua nova vida começasse da maneira certa, sem mentiras ou mal-entendidos. Desejavam entrar nesse novo capítulo sabendo exatamente o que aconteceria. — Acho que devemos estabelecer algumas regras — disse Hugo, tentando falar com suavidade. Não queria parecer mandão. — Sabe, para sabermos até onde podemos chegar, quais assuntos podemos abordar. O que você acha? — perguntou, analisando a reação dela, com receio. — Concordo. Eu tinha pensado nisso também. Não gostaria que as coisas ficassem estranhas. Pensei em algumas coisas que gostaria de definir. — O que tem em mente? — Ele se sentou no confortável sofá da sala de estar para conversar, enquanto as crianças tiravam a soneca da tarde. — Precisamos de uma empregada. — Ela estava um pouco constrangida, mas também determinada a começar a vida de forma diferente. — O quê?! Jéssica, podemos fazer isso? Quero dizer, é nossa vida, devemos ser capazes de cuidar dela. — H
— Não há mais tempo para isso. — Os olhos dela começaram a marejar. — É tarde demais. Um fungado surgiu, e sua postura ficou encurvada. Jéssica carregava muita culpa por ter engravidado aos dezesseis anos e precisar interromper os estudos.— Jéssica, você tem 18 anos! Há tempo para tudo! Pense no que você conseguiu fazer até agora, até mesmo trabalhando no supermercado. Eu te garanto que você pode tentar, e vai conseguir. — Foi a vez dele de tocar as mãos dela, tentando encorajá-la a seguir seus sonhos.Ela estava abalada. Tinha muito medo do que ele estava dizendo. “Será que eu realmente consigo ser médica?” Pensou, em dúvida, com os olhos fixos no chão. Hugo, como se pudesse ler seus pensamentos, respondeu:— Sim! Você consegue ser médica. E eu estarei aqui para apoiar cada passo desse caminho.— Não, Hugo. Você está delirando. Agora tenho um filho, e minha vida deve ser focada no sucesso dele. Não posso ter sonhos de adolescente. — Ela se desvencilhou bruscamente e caminhou pelo ta
— Ela não conhece uma escola, Hugo. Não pode decidir se quer ou não ir. Ela precisa visitar ao menos. — Jéssica mantinha o tom gentil, ciente da situação delicada em que estava envolvida.— Essa decisão não está em suas mãos. Você não é a mãe dela. Não sei como era na sua antiga casa, mas aqui respeitaremos a decisão dos meus filhos! — O tom irritado de Hugo deixou as crianças em choque. Breno chorou, e Hugo fez menção de se levantar para acalmá-lo.Jéssica interveio para pôr fim à discussão. Fez um gesto para que ele não se metesse e foi amparar a criança assustada.— Tem toda razão, eu não sou ninguém para dar opinião na educação da sua filha. Mas isso não impede que eu queira o melhor para ela. O melhor para todos nós. — Ela saiu da sala de jantar com Breno nos braços.A criança escorregou, pedindo peito. Jéssica segurou as lágrimas. Achava injusta a postura de Hugo, querendo mandar na vida dela, escolhendo o destino que ela deveria tomar e não aceitando sua opinião sobre o futuro d
As visitas às escolas foram bem animadas. Quando Maria viu como era o ambiente e o que acontecia lá, ficou super empolgada para ir. Percebeu que as amiguinhas estavam mentindo quando falaram de todas as coisas ruins e que havia muitas coisas legais para fazer.Uma pesquisa criteriosa ocupou as mentes de Jéssica e Hugo. Verificavam cada detalhe das instituições, questionavam os profissionais e checavam todas as informações que pudessem oferecer segurança na escolha do local que abrigaria os filhos.Juntos, decidiram qual seria o melhor para a menina e para os meninos que ingressariam depois. Tiveram um pequeno impasse quando Hugo preferia uma escola especializada em educação infantil e Jéssica dava mais importância à metodologia de ensino.Após uma conversa tranquila e a exposição das opiniões, conseguiram chegar a um acordo e optaram pela escola com a melhor metodologia e especializada em desenvolvimento infantil.— Fase um, concluída. Agora, a fase dois! — disse Hugo, afivelando o cin
Jéssica saiu do curso conversando com as novas colegas. Se entrosou rapidamente com o pessoal. Eram leves, mais não tão despreocupados como ela julgou. Esse lance de vestibular e faculdade pesa na cabeça de todos.Imaginou que sua situação de mãe adolescente formada no supletivo iria atrapalhar seu entendimento e o domínio das matérias. Foi apenas o primeiro dia e deu pra ver que seria desafiador, mas não impossível.— Jéssica, você se saiu bem na redação. Precisa de ajustes, mas tem potencial. Fique para o laboratório que faremos mais tarde. O professor elogiou depois de fazer a correção.Esse elogio encheu seu coração de esperança. Agarraria as oportunidades com tudo. Mas infelizmente não poderia comparecer à aula de hoje. Tinha uma coisa muito importante para fazer.— Hugo, tenho que ir a um lugar. Você pode me levar? Ela ligou porque queria mostrar que era realmente importante.— Claro, vou preparar os meninos. Ele se animou para sair um pouco.— Não. Deixe os meninos com a Célia.
A abertura da loja trouxe novidades para Hugo. Descobriu um mercado bastante competitivo, repleto de concorrentes ferozes. Ser mentorado por Edgar teve seus benefícios.Conheceu Alexandre, um homem de 28 anos, com grandes ambições, mas recursos limitados. De bom coração e mente perspicaz, Alexandre se tornou sócio da loja e um bom amigo.— Cara, se as vendas continuarem nesse patamar, vamos bater a meta logo. — disse, empolgado, enquanto analisava os gráficos.— Espero que sim. Vai dar para contratar alguém. Só nós dois está apertado e o feirão está chegando. — Hugo se desdobrava nos atendimentos.— Dá para contratarmos vendedores freelancers para o feirão. Nós cuidaríamos apenas da parte burocrática. — Alexandre ponderava, com a mão no queixo.— Não gosto dessa ideia. Um atendimento de qualidade é o que garante a venda. Freelancers não estariam comprometidos conosco. — Hugo explicou, quando foi interrompido por uma voz suave e gentil.— Não gosta de quê, ideia? — Jéssica chegou, sorri