“Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras
e faz doces.
Recomeça.”
Cora Coralina
Débora estava grávida. Nico demorou alguns segundos para organizar seus pensamentos. Tentava entender a dimensão dos últimos acontecimentos. Com a ajuda de Lia, Débora sentou no degrau da escada e sentiu o odor desagradável que Nico exalava. Mesmo assim estava emocionada. Nico olhou em seus olhos ainda tentando entender o que aquilo tudo significava. Débora não conseguia parar de chorar. Ela estava completamente assustada com o estado de Nico. Magro, debilitado, os olhos fundos. Aqueles olhos tão azuis e brilhantes q
“Liberdade busca jeito. Sou água que corre entre pedras. Quem anda no trilho é trem de ferro.”Manoel de Barros Era início de fevereiro. Débora, Clara e Lia chegaram à clínica por volta das onze horas. Débora estava agitada e andava de um lado para o outro, sem se importar com o peso do barrigão de oito meses. Clara tentava acalmá-la. ― Calma, minha filha. O Dr. Francisco garantiu que ele está ótimo. Agora é manter o tratamento para que ele não tenha uma recaída. ― Este é o meu maior medo. Que ele n&atil
“Embora ninguém possa voltar atráse fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”Chico Xavier A viagem de Nico deixou Débora apreensiva. Ela tinha medo que ele não estivesse presente na hora do parto e sabia o quanto este momento seria importante para sua recuperação. Por esse motivo, prometeu ficar em repouso absoluto durante o final de semana. Não queria correr o risco de ter o parto antecipado. Na hora da despedida Nico encheu Débora de beijos e abraços, acariciou e conversou com a barriga, pediu à filha que esperasse ele voltar para nascer. D&
“Não, não tenho caminho novo.O que tenho de novoé o jeito de caminhar.”Thiago de Melo Antes de voltar ao Rio, Clara e Nico foram ao local onde Dona Anita e seu Fernando estavam enterrados. Foi um momento de muita emoção para os dois, mas também de muita paz. Clara rezou por seu pai e disse que o perdoava. Nico agradeceu por tudo que viveu naquele lugar. Agora era hora de começar uma nova vida. Uma vida digna e honrada como era o desejo de seus avós. Quando chegaram à mansão contaram tudo o que havia acontecido. Foi uma emoção só. Lia foi
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viverApesar de todos os desafios,Incompreensões e períodos de crise.Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemasE se tornar um autor da própria história.É atravessar desertos fora de si,Mas ser capaz de encontrar um oásisNo recôndito da sua alma.É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.É saber falar de si mesmo.É ter coragem para ouvir um “não”.
"Nascemos todos os dias, quando nasce o Sol.Começa hoje mesmo a vida que te resta."Lygia Fagundes Telles ― Provavelmente foi infarto ― informou o legista ao oficial do corpo de bombeiros. O corpo de D. Anita estava inerte sobre a cama. Sentado no chão do quarto, Nico abraçava as pernas. Músculos tensos, olhar fixo no corpo da avó. O menino era altíssimo e magro, tinha os cabelos lisos e escuros. Seus olhos eram como duas safiras azuis. Azuis como os de sua avó. Olhos de menino, acostumados a contemplar o céu e correr atrás das pipas. Repletos de vida, transbordando alegria. Agora eram olhos tristes, cheios de dor, estarrecidos diante d
“Os nossos maiores problemas não estão nos obstáculos do caminho, mas na escolha da direção errada.”Augusto Cury ― Ponto final rapaz. Como você conseguiu entrar aqui? Nico acordou assustado com a voz rouca do motorista. ― Sai rápido antes que eu chame a polícia. Assim eu perco meu emprego. Anda! Sai logo. Nico, ainda tonto, levantou-se da poltrona de sobressalto, saiu correndo pelo ônibus esbarrando nas pe
“Só um e apertado é o caminho da virtude.”Plauto Na manhã seguinte, Nico acordou, mas não abriu os olhos. Desejou de todo o coração que ao abri-los estivesse em Redenção, em sua casa amarela de janelas de madeira, em sua cama de lençóis perfumados lavados com amaciante floral. Mas a buzina de um carro interrompeu bruscamente seus pensamentos, obrigando-o a abrir os olhos e encarar a realidade lancinante. Levantou com sacrifício, estava com uma terrível dor no corpo. Seus ossos pareciam moídos. Esfregou os olhos, procurou em volta e não encontrou Deco nem os outros garotos. Sua barriga doía e revi
“No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho...” Carlos Drummond de Andrade ― Acorda, acorda, madame! Nico acordou assustado com uma voz forte e sarcástica. Abriu os olhos e viu três homens em cima de Deco. Um deles era negro, alto, gordo, de cabeça raspada e com duas tatuagens enormes, uma em cada braço. Nico fingiu que estava dormindo, mas conseguiu ver quando Deco se levantou e apertou a mão do homem. ― E aí Deco! Faz uma sem