**Maria Silva**
Os dois dias passaram como um borrão, e eu ainda tentava absorver tudo o que acontecera. Estar na fazenda, longe da correria e das lembranças de onde eu vim, deveria ser um alívio. Mas, ao contrário, meu coração estava dividido, uma mistura de ansiedade e dor. Eu sabia que essa decisão traria consequências, que talvez nunca mais houvesse um caminho de volta. Nunca mais houvesse uma história com Bruno.O ronco distante das hélices do avião começou a se intensificar, sinalizando que a hora estava chegando. Eu estava na varanda, observando ao longe a poeira fina que dançava no ar, levantada pelo vento. Benício brincava ao meu lado, alheio a tudo, e eu tentava manter a compostura. Mas o aperto no meu peito não dava trégua.Leila foi a primeira a vir até mim, sua expressão gentil, mas firme. Ela não parecia ali apenas como a mãe de Bruno, mas como uma mulher que entendia exatamente o que eu estava sentindo.“Mari**Maria Silva**O aroma das flores do campo misturava-se com o ar fresco da manhã, enquanto eu olhava para a imensidão da fazenda. Uma semana havia se passado desde que a família Alcântara e Leão deixou a casa, era impossível ignorar a saudade que preenchia os dias. Benício sentia falta dos avós e do tio Bruno, e isso me tocava de uma maneira que eu não sabia explicar. Já Débora... Bem, essa era a única ausência que ninguém parecia lamentar. Os dias ali haviam se transformado em momentos de conexão entre mim e Benício. Criamos novas memórias: caminhávamos entre as árvores, ríamos enquanto ele tentava pescar no lago e aproveitamos cada canto daquele paraíso. Ele era minha prioridade, especialmente depois de tudo o que passamos com o transplante de rim. A cada risada e cada momento juntos, eu sentia que estávamos mais fortes, mais unidos. Hoje era um dia importante. Iríamos ao médico para o exame de rotina de Benício, e eu estava ansiosa. Desde o transplante, cada consulta era uma m
**Maria Silva**Os lábios de Heitor eram firmes, mas gentis, e por um momento, tudo ao meu redor deixou de existir. Não era como Gabriel, que sabia usar palavras doces para mascarar sua verdadeira natureza. Nem como Bruno que me fazia esquecer quem eu era. Heitor não precisava de palavras. Ele era um homem de gestos, de ações, e cada uma delas me fazia perceber o porquê de tantas mulheres na vinícola suspirarem ao vê-lo passar. Mas foi só um beijo. Um momento que parecia suspenso no tempo, mas que logo foi interrompido pela realidade que nos cercava. Nós dois sabíamos que era cedo demais para qualquer coisa além disso. Não havia pressa. O silêncio confortável que se seguiu confirmou isso, e eu sorri timidamente antes de afastar os olhos dos dele. Heitor serviu mais uma taça de vinho para cada um de nós. O aroma encorpado preencheu o ar, misturando-se com o cheiro doce do chocolate que ele havia trazido. Peguei um pedaço pequeno e deixei derreter na boca enquanto observava o fogo da
**Maria Silva**Eu estava sentada na minha mesa, digitando lentamente um relatório que Heitor havia me pedido, quando ele entrou no escritório com um sorriso animado no rosto. Só a expressão dele já era suficiente para iluminar o ambiente, mas algo me dizia que havia mais por trás daquele humor contagiante. “Maria, tenho uma boa notícia para você,” ele disse, caminhando até minha mesa. Ele puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado, como fazia quando queria ter uma conversa mais descontraída. “Estou precisando de boas notícias,” respondi com um sorriso tímido. “Está chegando o dia da festa do vinho e da uva. É o evento mais esperado do ano aqui na cidade. A vinícola organiza tudo, e as pessoas vêm de todos os lugares para participar. É uma grande celebração.” “Festa do vinho e da uva?” perguntei, tentando processar a informação. “Isso mesmo,” ele confirmou. “Vai ter música, comida, degustação de vinhos, e até brinquedos para as crianças. É uma tradição por aqui, e este ano pr
**Maria Silva** A princípio, achei que fosse minha mente pregando peças. Talvez a luz fraca do depósito estivesse me confundindo. Mas não, era ele. Gabriel. O homem alto, com sua jaqueta de couro surrada e coturnos que ecoavam no chão frio. Estava ali, materializado diante de mim, entre as sombras dos barris. "Como foi que você me achou?" minha voz saiu trêmula, quase um sussurro. "Você achou que ia fugir de mim até quando?" Ele deu um passo à frente, os olhos escuros fixos nos meus, carregados de algo entre raiva e obsessão. "Eu não estava fugindo de você. Eu só não queria mais te ver," respondi, tentando soar firme, mas meu corpo inteiro tremia. Ele riu, uma risada baixa e perigosa que ecoou pelo galpão. "E você acha que as coisas são assim? Que você não quer mais me ver e simplesmente desaparece com aquele filho da Puta do Bruno?"
**Maria Silva** Eu mal podia respirar. A cada curva, o carro parecia que ia sair da estrada, a velocidade era absurda, e Gabriel mantinha as mãos firmes no volante como se estivesse no controle absoluto. Eu não estava. Meu coração disparava, minha mente corria ainda mais rápido do que o carro, tentando absorver tudo o que ele havia acabado de confessar. “Por que eu? Por que você veio até mim?” questionei. “Porque eu quero acabar com Bruno de Alcântara e Leão. E você era o alvo mais fácil para chegar até ele.” "Você... você armou aquele atropelamento na frente do hospital?" A pergunta saiu fraca, quase como um sussurro. Gabriel riu, uma risada fria e cortante, que reverberou no espaço fechado do carro como um trovão. "Armei. Gostou? Mamãe disse que qualquer mulher ficaria apaixonada pelo homem que a salvaria,” ele riu. “Aquele idiota fez tudo errado. E quase você morreu ali mesm
**Maria Silva**Eu ainda estava de pé. O impacto não veio. Abri os olhos lentamente e vi Gabriel abaixar a arma, um sorriso cruel no rosto. Ele deu um passo para trás, me observando como se fosse um predador brincando com a presa. "Isso foi só o começo, Maria. E tudo isso,” ele gesticulou. “É para você saber que se eu quiser matar você e deixar aquele seu filho órfão de pai e de mãe, eu faço sem pestanejar.”Voltei para o carro com passos vacilantes, como se o chão pudesse se abrir a qualquer momento e me engolir. Gabriel abriu a porta do passageiro com violência e me empurrou para dentro, batendo-a logo em seguida. Minha respiração estava descompassada, e meu corpo todo tremia. Dentro daquele carro, o ar parecia rarefeito, como se fosse impossível respirar perto dele. Enquanto ele ligava o motor e acelerava pela estrada deserta, minha mente era um turbilhão. Eu precisava encontrar uma saída. Tinha que pensar em algo, mas a cada segundo que passava, as palavras dele martelavam na
**Maria Silva**Eu estava sentada na beira da cama, minhas mãos tremendo ao ponto de mal conseguirem segurar o lençol que puxava contra meu peito, como se aquilo pudesse me proteger. Gabriel estava ali, a poucos passos, mas parecia uma fera à solta. Seus olhos queimavam, vermelhos de raiva, e o sorriso cínico que sempre estampava seu rosto havia desaparecido. “Por favor... não faça nada comigo,” sussurrei, com a voz falhando. Tinha medo que ele tentasse… não quero nem pensar. Meus lábios estavam secos, e meu coração batia tão forte que parecia querer sair do peito. “Eu não quero... Por favor... Eu...” Fechei meus olhos, e pedi que ele não fizesse nada comigo.Antes que pudesse terminar, ele deu um passo em minha direção, agarrando meu rosto com força. Senti o aperto firme de seus dedos contra a minha pele, forçando-me a olhar diretamente em seus olhos. “Quando eu quiser que você seja minha, Maria, ninguém vai te ajudar,” ele rosnou, sua voz baixa e ameaçadora. O calor de sua respi
**Maria Silva**O cômodo parecia abafado, aquela mulher parecia preencher espaço demais ali dentro. E o que me corria por dentro era não saber do porque ela estava ali, olhando para mim. Meus olhos se fixaram na cadeira que ela colocou bem no centro do espaço. O macacão preto justo desenhava em seu corpo magro, pude ver que não no pescoço a mulher tinha tatuagens, mas também na mão e em seu rosto um pequeno desenho de aranha, embaixo do olho esquerdo estava escondida pelas sombras. A voz dela cortou o silêncio como uma lâmina: “Não tenho a noite toda. Sente-se.”Engoli seco. Cada célula do meu corpo gritava para fugir, mas como eu iria sair dali. Olhei para a maleta preta, tentando adivinhar o que havia lá dentro. Meus instintos diziam que nada de bom sairia dali. A única certeza que eu tinha era que algo que iria sair dali iria me machucar, se não fosse física, seria psicologicamente ofensivo para mim.“Vamos, Maria. Não me faça repetir.” A voz dela era firme, quase impaciente. Ela