“Luana Sartori”“Benício?” Ele não respondeu de imediato. Seu olhar perdido no horizonte parecia carregar o peso do mundo. A luz prateada da lua realçava as linhas do seu rosto, tornando-o ainda mais hipnotizante. Ele parecia uma estátua grega, esculpida à perfeição, um deus caído que encontrava refúgio na solidão do mar. As costas largas e musculosas brilhavam sob o luar, a pele morena reluzia com o reflexo prateado da água. Meu coração apertou. Ele estava ali, mas sua mente vagava longe. Eu queria ser capaz de alcançá-lo, de arrancá-lo do turbilhão que o prendia. O desejo de tocá-lo era tão forte quanto a ânsia de entender o que se passava em sua alma. “Posso ser eu mesmo com você, Luana?” A voz dele saiu rouca, carregada de algo que eu não conseguia definir. “Você não vai ter medo de mim?” Aquelas palavras soaram como um sussurro carregado de segredos, de dor e de uma sombra que parecia persegui-lo. “Eu nunca tive medo de você,” respondi, e minha mão, quase por instinto,
O homem diante de mim era um estranho. O Benício que eu conhecia parecia ter desaparecido, consumido por algo primitivo e sombrio. Ele urrava enquanto me tomava com uma brutalidade que beirava a loucura, seu corpo dominando o meu sem hesitação. Eu não estava confortável, mas tampouco recuei. Deixei que ele continuasse, queria vê-lo despido de qualquer máscara, queria entender o monstro que habitava dentro dele.Não posso negar que o medo rastejava pela minha pele, uma sombra gelada que contrastava com o calor da nossa união. Meus dedos cravaram em seus braços, deixando marcas profundas em sua pele. Era um misto de dor e prazer, uma linha tênue que eu nunca pensei em atravessar. Mas ali estava eu, perdida nesse abismo de sensações. Será que eu estava me tornando como ele? Será que, ao provar desse lado obscuro, algo dentro de mim também havia mudado?Senti seu gozo quente escorrer dentro de mim, acompanhando o ritmo das últimas pulsações de seu corpo. Seu aperto em meu pescoço se inten
Capítulo 31**Luana Sartori**Estapeei seu rosto com toda a força que ainda restava em mim. Como uma louca. Como alguém que segurou essa dor por tempo demais.Benício não reagiu.Ele me deixou fazer aquilo.Me deixou colocar para fora toda a raiva que eu guardei por anos.Respirei fundo, sentindo as lágrimas arderem nos meus olhos. Mas eu não ia chorar. Não mais.Virei-me para ir embora.Dei dois passos antes de sentir sua mão forte agarrar meu braço, me puxando de volta para ele. Meu corpo colidiu contra o seu, e seu olhar queimava sobre mim.“Me solta, Benício.” Minha voz saiu baixa, quase um sussurro.Ele não obedeceu. Pelo contrário, se aproximou mais, seu rosto a centímetros do meu.“Você quer me odiar, mas seu corpo diz outra coisa.” Sua respiração quente roçou minha pele.Meu coração martelou no peito.Ele inclinou o rosto, e por um segundo, achei que fosse me beijar.Mas então ele parou.Sorriu de lado, cínico.E sussurrou algo que fez meu sangue gelar:“Você não sabe nem meta
**Luana Sartori**Como eu era inocente… Pensar que meu príncipe encantado estava bem ali, diante dos meus olhos, fazendo aquilo com outra mulher, me fez sentir como se estivesse vivendo um pesadelo. Não podia ser real. Minha mente lutava contra as imagens que se desenrolavam à minha frente, tentando me convencer de que era apenas uma alucinação, um engano, uma distorção cruel da realidade. Mas não era. O quarto onde Benício entrou com aquela mulher era envolto por uma meia-luz avermelhada, que projetava sombras longas e sinuosas pelas paredes. Aquilo me causava um arrepio na espinha, como se eu tivesse atravessado uma fronteira invisível e agora estivesse em um território desconhecido, proibido. Mas o que mais me chocou não foi a penumbra sedutora, e sim a completa ausência de qualquer indício de que aquele lugar fosse um quarto comum. Não havia cama, nem móveis convencionais, nem nada que lembrasse o aconchego de um lar. O que havia ali era algo completamente diferente. N
**Luana Sartori**A resposta que eu tive era que sempre teria a ajuda do meu pai. — Papai, eu preciso ir embora. Neste momento, só quero sumir. — O que aconteceu, filha? — Não quero falar sobre isso agora. Preciso ir embora. Só não me diga nada. Assim que eu encontrar um lugar, eu te aviso. — Filha… — Eu preciso que procure por uma pessoa e a coloque em um bom emprego na vinícola. Ela é importante para mim. Ajude-a. Se ela tiver família, leve todos para o Sul. Mas não diga para ninguém para onde eu fui, para ninguém, nem mesmo para a mamãe. Falo com ela depois. Te amo, papai. — Também te amo, filha. Se cuida e me dê notícias. O táxi seguiu pela orla. Pedi ao motorista que simplesmente continuasse dirigindo, sem rumo. O homem de uns quarenta anos lançou-me um olhar quase interrogativo, como se perguntasse com os olhos o que tinha acontecido comigo para eu estar daquele jeito. Depois de meia hora, pedi que parasse. Paguei a corrida e saí sem olhar para trás. Segui em dir
**Luana Sartori**Agora meus olhos tinham lágrimas, por todas aquelas lembranças que tive, dele e a mulher, do aconteceu depois que eu saí daquele lugar horrível. Ele estava ansioso pela resposta dela. Luana podia ver pela expressão no rosto de Benício.Benicio estava ali, parado diante de mim, com os olhos fixos nos meus, como se pudesse me ler por dentro. A lua brilhava iluminando a pele dele, mas eu só conseguia ver sombras. Sombra do que ele foi, do que escondeu, do que eu vi naquela noite. A mulher, os olhos dele cravados nela, os gestos íntimos, a entrega. Aquilo ainda me feria como uma lâmina que insiste em abrir a mesma cicatriz."Luana…" ele sussurrou. "Me dá sua resposta. Entre no meu mundo, quero você comigo."Minha garganta se apertou. Eu queria dizer sim. Queria ceder. Mas não podia. Eu amava aquele homem com todas as minhas forças, mas não podia ceder. Eu tinha Scott e Alice à minha espera, eles eram importantes para mim também."Não," respondi, a voz embargada. "Eu não
**Luana Sartori**O vento que soprava entre as árvores altas da aldeia parecia carregar todos os segredos do mundo. Eu sentia o cheiro de terra molhada e folhas, e meu peito queimava com as palavras que acabara de ouvir. Diante de mim, Matheus, o homem que eu passei minha vida inteira acreditando estar morto, estava ali, vivo. E com olhos que não desviavam dos meus.“Eu sei que é difícil de acreditar,” ele disse, com aquela voz calma demais para alguém que acabou de voltar do mundo dos mortos. “Mas o cacique pode confirmar tudo. Ele sabe da minha história. Eu estou aqui há muitos anos, Benício.”“Eu não entendo,” murmurei. “Como assim está aqui há muitos anos? E por que ninguém nunca soube?”O cacique, que até então observava em silêncio, deu um passo à frente. Seus olhos eram serenos, mas havia firmeza na sua fala:“Seu tio é um homem de honra, Benício. Eu conheço sua índole. Ele salvou vidas nesta aldeia. É um dos nossos.”Mas isso só fez minha raiva crescer. Honra? Índole? Eu sempr
O JUIZ - Tio do Meu FilhoCapítulo 1Eu sou mais uma Maria na multidão, aquela que não deu certo na vida. Assim como tantas outras, vou levando, dia após dia, matando um, dois, três leões por dia. Tento ser mãe, provedora, trabalhadora, mas o mundo parece sempre estar contra mim. Eu sou apenas mais uma Maria lutando para sobreviver no cruel mundo dos humanos.******Maria Silva**"Até mais, meninas. Bom descanso." Deixei o trabalho aliviada por ter sobrevivido a mais uma noite na boate. Os saltos altos e a minissaia de couro, que eu era obrigada a usar, pareciam instrumentos de tortura. Cada passo doía, cada movimento parecia exibir uma ferida que eu escondia. Quando finalmente troquei aqueles sapatos desconfortáveis pelos meus velhos tênis de guerra, senti um alívio imediato. Estava livre, ainda que por algumas horas."Cansada... Como estou cansada," murmurei para mim mesma enquanto caminhava até o ponto de ônibus.O ônibus estava lotado como de costume, repleto de trabalhadores que