**Luana Sartori**Como eu era inocente… Pensar que meu príncipe encantado estava bem ali, diante dos meus olhos, fazendo aquilo com outra mulher, me fez sentir como se estivesse vivendo um pesadelo. Não podia ser real. Minha mente lutava contra as imagens que se desenrolavam à minha frente, tentando me convencer de que era apenas uma alucinação, um engano, uma distorção cruel da realidade. Mas não era. O quarto onde Benício entrou com aquela mulher era envolto por uma meia-luz avermelhada, que projetava sombras longas e sinuosas pelas paredes. Aquilo me causava um arrepio na espinha, como se eu tivesse atravessado uma fronteira invisível e agora estivesse em um território desconhecido, proibido. Mas o que mais me chocou não foi a penumbra sedutora, e sim a completa ausência de qualquer indício de que aquele lugar fosse um quarto comum. Não havia cama, nem móveis convencionais, nem nada que lembrasse o aconchego de um lar. O que havia ali era algo completamente diferente. N
**Luana Sartori**A resposta que eu tive era que sempre teria a ajuda do meu pai. — Papai, eu preciso ir embora. Neste momento, só quero sumir. — O que aconteceu, filha? — Não quero falar sobre isso agora. Preciso ir embora. Só não me diga nada. Assim que eu encontrar um lugar, eu te aviso. — Filha… — Eu preciso que procure por uma pessoa e a coloque em um bom emprego na vinícola. Ela é importante para mim. Ajude-a. Se ela tiver família, leve todos para o Sul. Mas não diga para ninguém para onde eu fui, para ninguém, nem mesmo para a mamãe. Falo com ela depois. Te amo, papai. — Também te amo, filha. Se cuida e me dê notícias. O táxi seguiu pela orla. Pedi ao motorista que simplesmente continuasse dirigindo, sem rumo. O homem de uns quarenta anos lançou-me um olhar quase interrogativo, como se perguntasse com os olhos o que tinha acontecido comigo para eu estar daquele jeito. Depois de meia hora, pedi que parasse. Paguei a corrida e saí sem olhar para trás. Segui em dir
**Luana Sartori**Agora meus olhos tinham lágrimas, por todas aquelas lembranças que tive, dele e a mulher, do aconteceu depois que eu saí daquele lugar horrível. Ele estava ansioso pela resposta dela. Luana podia ver pela expressão no rosto de Benício.Benicio estava ali, parado diante de mim, com os olhos fixos nos meus, como se pudesse me ler por dentro. A lua brilhava iluminando a pele dele, mas eu só conseguia ver sombras. Sombra do que ele foi, do que escondeu, do que eu vi naquela noite. A mulher, os olhos dele cravados nela, os gestos íntimos, a entrega. Aquilo ainda me feria como uma lâmina que insiste em abrir a mesma cicatriz."Luana…" ele sussurrou. "Me dá sua resposta. Entre no meu mundo, quero você comigo."Minha garganta se apertou. Eu queria dizer sim. Queria ceder. Mas não podia. Eu amava aquele homem com todas as minhas forças, mas não podia ceder. Eu tinha Scott e Alice à minha espera, eles eram importantes para mim também."Não," respondi, a voz embargada. "Eu não
**Luana Sartori**O vento que soprava entre as árvores altas da aldeia parecia carregar todos os segredos do mundo. Eu sentia o cheiro de terra molhada e folhas, e meu peito queimava com as palavras que acabara de ouvir. Diante de mim, Matheus, o homem que eu passei minha vida inteira acreditando estar morto, estava ali, vivo. E com olhos que não desviavam dos meus.“Eu sei que é difícil de acreditar,” ele disse, com aquela voz calma demais para alguém que acabou de voltar do mundo dos mortos. “Mas o cacique pode confirmar tudo. Ele sabe da minha história. Eu estou aqui há muitos anos, Benício.”“Eu não entendo,” murmurei. “Como assim está aqui há muitos anos? E por que ninguém nunca soube?”O cacique, que até então observava em silêncio, deu um passo à frente. Seus olhos eram serenos, mas havia firmeza na sua fala:“Seu tio é um homem de honra, Benício. Eu conheço sua índole. Ele salvou vidas nesta aldeia. É um dos nossos.”Mas isso só fez minha raiva crescer. Honra? Índole? Eu sempr
**Luana Sartori**Passei a noite inteira com o pensamento preso nele. Em Benício. No homem que eu amava, no homem que brigou com aquele que dizia ser seu tio… e que ele odiava. Matheus de Alcantara e Leão. A cena ainda estava clara na minha mente: os dois se encarando, trocando socos, raiva pulsando nos olhos de ambos. E o que mais me perturbava não era a briga em si, mas a semelhança gritante entre os dois. Como dois reflexos no mesmo espelho. Agora, cada um carregava um olho roxo como lembrança daquilo que nem sei mais como começou.Deitei, mas não consegui dormir. Meus olhos não se fechavam. Meu coração parecia estar em guerra dentro do peito.Na manhã seguinte, a luz que entrava pela fresta da oca me alertou que o sol já estava alto. Foi a curandeira quem me acordou. Com sua voz firme e serena, ela me chamou.“Algumas pessoas perguntam por vocês, menina Luana.”Me vesti com pressa. Minhas pernas estavam fracas e minha mente ainda mais. Saí da oca, o vento me atingiu com força, e f
**Luana Sartori**Eu não queria. Juro que não queria. O mar diante de mim parecia um portal para algo que eu não sabia se estava pronta para viver novamente. As ondas quebravam com leveza, sobre a pele morena de Benicio, banhada pela lua, mas o que pesava era o convite, o olhar dele, as palavras que ecoavam ainda no meu peito.“Vem, Luana. Fica comigo… pra sempre.”Fiquei ali, com os pés afundados na areia molhada, a camisola colada no corpo pelo vento frio da madrugada. A manta que cobria os meus ombros se soltou e dançou até procurar abrigo em algum lugar naquela imensidão de areia. Meus olhos grudados nos dele. O peito arfando. E mesmo com tudo gritando dentro de mim pra não ir, eu fui. Um passo. Depois outro. Até que a água me envolveu completamente e o mundo pareceu desaparecer. Naquele momento, eu me fiz uma promessa silenciosa: **essa seria a última vez**.Entrei no mar como quem entra em um destino selado. Benício me esperava com os olhos ardendo de desejo e amor. Quando seus
**Luana Sartori** O sol atravessava as frestas da janela como dedos dourados, e por um instante, desejei que ele não me tocasse. Me movi lentamente, sentindo a brisa salgada e o cheiro de terra úmida que vinha das árvores ao redor. Ao meu lado, o corpo de Benício ainda descansava, o peito subindo e descendo num ritmo lento. Seus traços estavam serenos, o maxilar relaxado, os cabelos bagunçados pelo sono e o suor da noite de amor que tivemos no mar. Meu coração se apertou.Ele era lindo. Era tudo o que uma mulher desejava encontrar. Mas eu não voltei ao Brasil para ficar enroscada nos braços de um homem, por mais que esses braços tivessem me feito esquecer o mundo por algumas horas. Eu tinha promessas a cumprir. Um legado a proteger. Pessoas que dependiam de mim.Levantei sem fazer barulho, pegando minhas roupas molhadas espalhadas pelo chão de madeira da cabana. Vesti-me o mais rápido que pude, sentindo o tecido frio contra a pele. Não fazia ideia de que horas eram, mas sabia que o t
** Luana Sartori**O cheiro do campo me invadiu assim que montei Trovão, um cavalo árabe que meu pai havia comprado a dois anos. Enquanto cavalgava a brisa suave que vinha dos vinhedos da Vinícola Sartori me trouxe lembranças antigas, memórias de infância guardadas nas frestas do coração. Era como se eu nunca tivesse ido embora. Cada pedra, cada parreira, cada suspiro daquele lugar fazia parte de mim. Ver aquilo de novo mexia mais comigo do que eu estava disposta a admitir. O pessoal já se preparava para a colheita das uvas. Em poucos dias, os cachos maduros seriam recolhidos, dando início à mágica transformação que daria origem ao nosso vinho. Cumprimentei os funcionários que ainda lembravam de mim. Beijei bochechas, apertei mãos, sorri até meus músculos doerem. Passei o dia caminhando por cada canto da propriedade - quase como um ritual antes da colheita. Tanta coisa se misturava na paisagem: o cheiro da terra quente, os murmúrios entre os parreirais, o tilintar de ferramentas à di