**Benicio de Alcântara e Leão**O frio da lâmina contra meu pescoço era um lembrete constante de que qualquer movimento errado poderia ser o último. Meu coração batia forte, mas mantive a expressão firme. A mulher diante de mim continuava a me encarar com aquele olhar enigmático, como se soubesse de algo que eu desconhecia.Aquilo me incomodou. O que ela queria dizer com isso? E, mais surpreendente ainda, como ela sabia a minha língua?“Por que você está dizendo isso?” perguntei, tentando entender sua intenção.Ela, no entanto, não respondeu. Apenas me observou por um instante antes de desviar o olhar. Foi então que um homem surgiu entre os outros. Diferente dos guerreiros ao redor, ele usava adereços na cabeça que o destacavam. Seu olhar era severo, e sua presença fez todos ao redor se encolherem ligeiramente, como se sua autoridade fosse inquestionável.“Quem ousou pisar na minha aldeia sem ser convidado?” sua voz ecoou com firmeza, e os homens que seguravam as lanças contra meu pes
**Benicio De Alcântara e Leão**A sombra do homem escondido entre as árvores ainda me inquietava. Quem era ele? O que fazia ali? Instintivamente, tentei me soltar dos guerreiros que seguravam meus braços, mas a força deles era impressionante. Não estavam apenas me escoltando, estavam me contendo. “Quem é aquele homem?” perguntei, olhando diretamente para o cacique. “Alguém daqui o conhece?”Ninguém respondeu. “Tem alguém observando vocês, ninguém vai atrás dele?”Nenhum deles reagiu às minhas perguntas ou hesitações, apenas continuaram me carregando com a mesma firmeza impassível. Tentei me dirigir ao cacique, buscando alguma resposta, mas ele sequer me lançou um olhar. Sua voz soou firme e impenetrável quando, sem me dar qualquer explicação. “Você ainda estava sob o efeito da erva que te fez adormecer.”Isso só aumentou minha irritação. Eu não estava acostumado a ser ignorado. Passei a vida inteira no comando, ditando ordens, julgando, decidindo o destino de outras pessoas. Mas
**Benicio de Alcântara e Leão**Aquele anel não deveria estar ali. A caixa de madeira repousava na mesa rústica da oca, e dentro dela, entre objetos sem valor aparente, o anel dourado me encarava como um fantasma do passado. Era impossível não reconhecê-lo de imediato. O brasão da família Alcântara e Leão, cuidadosamente gravado em relevo, brilhava sob a fraca luz que entrava pelas frestas da palha. Meus dedos tocaram a peça fria, pesados com a lembrança da tradição que atravessava gerações. Meu pai tinha um anel igual. Eu também. Todos os homens da família receberam o seu das mãos da minha avó. Ela mesma encomendava cada anel a um ourives de confiança, garantindo que cada detalhe fosse cuidadosamente esculpido à mão. Era impossível existir uma réplica exata.Mas esse… Esse não poderia estar aqui. Dei um passo para trás, tentando absorver o significado daquela descoberta. Meu coração acelerou. Como esse anel veio parar aqui? Meu pai ainda tinha o dele, eu tinha o meu. Seria impos
**Benicio de Alcântara e Leão** Meus olhos foram cobertos por um tecido áspero, apertado o suficiente para me privar completamente da visão. Antes que eu pudesse reagir, senti o puxão firme em meus pulsos enquanto amarravam minhas mãos com uma corda rústica, a fibra áspera queimando minha pele. Tentei me soltar, mas os guerreiros eram mais fortes e não me deram chance. Em seguida, me ergueram com brutalidade, guiando-me por um caminho desconhecido. O solo irregular sob meus pés me fazia tropeçar a cada passo, e galhos secos estalavam sob o peso do meu corpo. O cheiro úmido da mata densa invadia minhas narinas, misturando-se ao suor frio que escorria pela minha nuca. O desespero crescia dentro de mim, e minha voz ecoava na escuridão enquanto eu exigia saber para onde estavam me levando. Mas o silêncio deles era implacável, tão sólido quanto as mãos que me seguravam, me empurrando adiante sem qualquer explicação. “Para onde estão me levando?” gritei, tentando soar autoritário, mas
**Benicio de Alcântara e Leão**O vento úmido da mata fechada parecia sussurrar segredos antigos, enquanto eu seguia aquela mulher estranha, meu coração batendo em um ritmo descompassado. Cada passo meu era um golpe seco no chão, minhas pernas bambas e a mente tomada por uma única imagem: Luana. Eu precisava dela viva, precisava sentir o calor do seu corpo, ouvir sua voz, saber que ela ainda estava comigo. O medo era uma faca afiada, cortando qualquer resquício da minha famosa frieza.“O que aconteceu, ela piorou?”A mulher que me guiava mantinha o rosto impassível, o que apenas aumentava minha angústia. Eu, que sempre tive o controle, agora me sentia um menino perdido, desesperado por uma resposta que ninguém me dava.“Preciso que você venha comigo,” ela disse, sem olhar para trás. “Me diga, o que aconteceu com a minha mulher?” Minha voz saiu rouca, quase um grunhido.“Venha e veja você mesmo.”Segui a passos largos, quase atropelando aquela mulher que caminhava com a calma irritant
**Benicio de Alcântara e Leão**Eu já estava farto de ser vigiado por aquela pessoa desconhecida. Seria algum guerreiro? Acredito que o cacique da tribo não deixaria alguém estranho rondando o seu espaço. Isso era óbvio. Quem quer que fosse que estivesse ali, estava com o consentimento deles. E ele sabia, sim, quem era.Corri para onde o homem estava e, como era de se imaginar, não tinha ninguém. Esse filho da puta sabia se esconder. A escuridão tornava tudo mais difícil, e não consegui ver se havia qualquer rastro. Voltei para onde a tribo estava reunida, sentindo os olhares curiosos que me seguiam, intrigados com a minha corrida repentina para fora da oca. O incômodo fervilhava em mim. Eu estava farto daquela sensação de ser caçado. Sem pensar duas vezes, fui até o cacique, decidido a obter respostas."Preciso falar com o senhor agora." Minha voz saiu firme, quase uma ordem disfarçada de pedido.Ele se levantou de onde estava vagarosamente e veio até mim. Seu olhar encontrou o meu,
O JUIZ - Tio do Meu FilhoCapítulo 1Eu sou mais uma Maria na multidão, aquela que não deu certo na vida. Assim como tantas outras, vou levando, dia após dia, matando um, dois, três leões por dia. Tento ser mãe, provedora, trabalhadora, mas o mundo parece sempre estar contra mim. Eu sou apenas mais uma Maria lutando para sobreviver no cruel mundo dos humanos.******Maria Silva**"Até mais, meninas. Bom descanso." Deixei o trabalho aliviada por ter sobrevivido a mais uma noite na boate. Os saltos altos e a minissaia de couro, que eu era obrigada a usar, pareciam instrumentos de tortura. Cada passo doía, cada movimento parecia exibir uma ferida que eu escondia. Quando finalmente troquei aqueles sapatos desconfortáveis pelos meus velhos tênis de guerra, senti um alívio imediato. Estava livre, ainda que por algumas horas."Cansada... Como estou cansada," murmurei para mim mesma enquanto caminhava até o ponto de ônibus.O ônibus estava lotado como de costume, repleto de trabalhadores que
**Maria Silva**Ele apertou mais o meu braço, seus olhos penetrantes me encarando com desdém. "Vamos, me diga quem você é," ele repetiu, sua voz carregada de ameaça."Eu..." minha voz falhou. Não sabia o que responder. Estava apavorada."Você não deveria estar aqui," ele rosnou. "Eu vou fazer da sua vida um inferno se não me disser o que sabe." Ele se aproximou ainda mais, sussurrando no meu ouvido. "Mal posso esperar para descobrir o que está escondendo."Minhas pernas começaram a tremer, o medo me consumindo por completo. Eu não deveria ter vindo. Estava claro que eu havia cometido um erro terrível. Mas antes que eu pudesse reagir, ele me puxou para mais perto."Você vai sair daqui agora, e vamos conversar em um lugar mais privado," ele disse, guiando-me em direção à saída. O pânico me dominou, e minha mente começou a correr em busca de uma saída. Não podia deixar que ele me levasse.Eu me sentia como se estivesse flutuando em um mar de confusão e angústia. As memórias da minha vida