**Luana Sartori** O sol atravessava as frestas da janela como dedos dourados, e por um instante, desejei que ele não me tocasse. Me movi lentamente, sentindo a brisa salgada e o cheiro de terra úmida que vinha das árvores ao redor. Ao meu lado, o corpo de Benício ainda descansava, o peito subindo e descendo num ritmo lento. Seus traços estavam serenos, o maxilar relaxado, os cabelos bagunçados pelo sono e o suor da noite de amor que tivemos no mar. Meu coração se apertou.Ele era lindo. Era tudo o que uma mulher desejava encontrar. Mas eu não voltei ao Brasil para ficar enroscada nos braços de um homem, por mais que esses braços tivessem me feito esquecer o mundo por algumas horas. Eu tinha promessas a cumprir. Um legado a proteger. Pessoas que dependiam de mim.Levantei sem fazer barulho, pegando minhas roupas molhadas espalhadas pelo chão de madeira da cabana. Vesti-me o mais rápido que pude, sentindo o tecido frio contra a pele. Não fazia ideia de que horas eram, mas sabia que o t
** Luana Sartori**O cheiro do campo me invadiu assim que montei Trovão, um cavalo árabe que meu pai havia comprado a dois anos. Enquanto cavalgava a brisa suave que vinha dos vinhedos da Vinícola Sartori me trouxe lembranças antigas, memórias de infância guardadas nas frestas do coração. Era como se eu nunca tivesse ido embora. Cada pedra, cada parreira, cada suspiro daquele lugar fazia parte de mim. Ver aquilo de novo mexia mais comigo do que eu estava disposta a admitir. O pessoal já se preparava para a colheita das uvas. Em poucos dias, os cachos maduros seriam recolhidos, dando início à mágica transformação que daria origem ao nosso vinho. Cumprimentei os funcionários que ainda lembravam de mim. Beijei bochechas, apertei mãos, sorri até meus músculos doerem. Passei o dia caminhando por cada canto da propriedade - quase como um ritual antes da colheita. Tanta coisa se misturava na paisagem: o cheiro da terra quente, os murmúrios entre os parreirais, o tilintar de ferramentas à di
**Luana Sartori**Minha respiração vinha em ondas curtas, ofegantes. O sabor daquele beijo ainda dançava nos meus lábios, me deixando tonta. Recuo um passo, como se estivesse diante de um estranho. Olho para Scott sem entender nada."Isso... isso não foi uma encenação", murmuro, tocando minha boca, tentando entender se aquilo realmente aconteceu. "O que tá acontecendo, Scott?"Ele me encara. Os olhos dele estão escuros, intensos. Ele respira fundo antes de dizer, quase num sussurro:"Eu quero você."Meu coração tropeça."Como assim… você me quer?"Scott não responde. Apenas se aproxima e, sem hesitar, me beija novamente.Não era como beijar o Benício. Os beijos com o Benício sempre foram lentos, carregados de histórias mal resolvidas, cheios de lembranças. Já o beijo do Scott… era urgente, confuso, e ao mesmo tempo carregado de uma ternura que me desarmava. Era como se algo dentro dele tivesse se rompido.Eu devia empurrá-lo. Fazer perguntas. Gritar, talvez. Mas não fiz nada. Porque n
O JUIZ - Tio do Meu FilhoCapítulo 1Eu sou mais uma Maria na multidão, aquela que não deu certo na vida. Assim como tantas outras, vou levando, dia após dia, matando um, dois, três leões por dia. Tento ser mãe, provedora, trabalhadora, mas o mundo parece sempre estar contra mim. Eu sou apenas mais uma Maria lutando para sobreviver no cruel mundo dos humanos.******Maria Silva**"Até mais, meninas. Bom descanso." Deixei o trabalho aliviada por ter sobrevivido a mais uma noite na boate. Os saltos altos e a minissaia de couro, que eu era obrigada a usar, pareciam instrumentos de tortura. Cada passo doía, cada movimento parecia exibir uma ferida que eu escondia. Quando finalmente troquei aqueles sapatos desconfortáveis pelos meus velhos tênis de guerra, senti um alívio imediato. Estava livre, ainda que por algumas horas."Cansada... Como estou cansada," murmurei para mim mesma enquanto caminhava até o ponto de ônibus.O ônibus estava lotado como de costume, repleto de trabalhadores que
**Maria Silva**Ele apertou mais o meu braço, seus olhos penetrantes me encarando com desdém. "Vamos, me diga quem você é," ele repetiu, sua voz carregada de ameaça."Eu..." minha voz falhou. Não sabia o que responder. Estava apavorada."Você não deveria estar aqui," ele rosnou. "Eu vou fazer da sua vida um inferno se não me disser o que sabe." Ele se aproximou ainda mais, sussurrando no meu ouvido. "Mal posso esperar para descobrir o que está escondendo."Minhas pernas começaram a tremer, o medo me consumindo por completo. Eu não deveria ter vindo. Estava claro que eu havia cometido um erro terrível. Mas antes que eu pudesse reagir, ele me puxou para mais perto."Você vai sair daqui agora, e vamos conversar em um lugar mais privado," ele disse, guiando-me em direção à saída. O pânico me dominou, e minha mente começou a correr em busca de uma saída. Não podia deixar que ele me levasse.Eu me sentia como se estivesse flutuando em um mar de confusão e angústia. As memórias da minha vida
**Maria Silva**Eu estava nervosa, as mãos tremendo enquanto tentava manter a compostura. Não errar as palavras e saber o que falar aquele homem imponente à minha frente era crucial naquele momento."Não, eu não vim aqui a mando de ninguém,” O que eu diria para ele? Tive um caso com seu irmão e ele me enganou e vim aqui só para ver se ela realmente estava morto? A voz dentro da minha cabeça me alertava, tentando encontrar uma saída para aquela situação insana.Diante de mim, o homem que parecia ser a sombra viva de Matheus me encarava com uma intensidade perturbadora. "Sou uma jornalista e queria uma foto." Era a desculpa mais plausível que consegui formular naquele momento. “Só isso.”"Foto? Como assim? Você acha mesmo que sou idiota, garota? Até parece que você não sabe com quem está falando" A voz dele era um misto de desprezo e desafio. Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. "Você queria tirar foto da minha família num momento frágil como esse. Era para eu e
Maria SilvaEu me joguei no banco do carro, ofegante, tentando processar tudo que havia acontecido nas últimas horas. Não era apenas a tensão de estar no velório do homem que destruiu minha vida. Agora, eu estava à mercê de um completo estranho, ou melhor, do irmão do daquele que eu tanto queria esquecer. A presença dele ao meu lado era sufocante, e o silêncio que dominava o carro era ainda pior."Você não pode fazer isso, me jogar dentro do seu carro," disse, tentando soar mais firme do que me sentia.Ele me olhou de soslaio, os olhos estreitos e a mandíbula cerrada. "Você queria que eu te deixasse lá para ser... Deveria ter deixado aqueles homens fazerem o que quisessem com você, talvez você deixasse de ser tão teimosa." Ele estava furioso, mas eu não conseguia rebater, pois sabia que ele estava certo. Se Bruno não tivesse ali, o que teria acontecido? Nem queria imaginar.Ele continuou, sua voz carregada de desconfiança. "A não ser que eles estivessem com você e tudo aquilo era uma
Maria Silva**Assim que Vivian falou, senti um calafrio subir pela espinha. Benício era mesmo a cara de Bruno, cada traço dele me lembrava Matheus, o pai de Ben. Eu mal conseguia pensar em como eu ia esconder isso. Meus pensamentos corriam, e quando ela mencionou o quanto Ben se parecia com Bruno, senti meu coração disparar.“Se ele ver o moleque, ele vai saber na mesma hora. Quase caí pra trás, quando prestei atenção no rosto dele,” Vivian comentou, balançando a cabeça como se estivesse em choque.“Vivian, o pai do Ben morreu,” murmurei, tentando processar tudo.“Como assim, morreu?” Ela arregalou os olhos.“Você assistiu os noticiários hoje? Viu o filho de um ricaço que mataram? Ele é o pai do meu filho,” expliquei, ainda incrédula.“Caralho, eu não acredito que o pai do Ben é rico?” Vivian estava pasma, e antes que eu pudesse responder, o cliente dela apareceu no topo da escada.“Vivian, eu paguei pela hora e você fica aí de papo com a sua amiga,” ele resmungou.“Espera aí, bebezão