— Descobriu alguma coisa interessante? — Beth pergunta, se movimentando na cozinha estreita, preparando nosso jantar.
— Bastante coisa, para ser mais exata.
Minha pesquisa daquela noite, estava girando em torno de Brian Harris, o irmão gêmeo idêntico do Dr. Harris. Ambos nascidos com diferença de um minuto e alguns segundos, Brian sendo considerado pelos médicos o mais velho e até mesmo o bebê mais forte, enquanto o Dr. Harris, Jonah, precisou de cuidados após o nascimento.
Havia uma verdadeira biografia sobre Brian Harris, incluindo fofocas nos tablóides em torno do casamento com a estilista Elena Mackenzie e sua morte. Apesar da vida do bilionário ser reservada e ele fazer de tudo para a manter dessa forma, sua esposa já não era assim, por causa do seu trabalho, vivia constantemente na mídia.
O casal era como óleo e água.
— Seus legumes a vapor — diz Beth, minutos mais tarde, colocando na minha frente um prato colorido com legumes e vegetais.
Ergo o olhar do notebook, apenas para lhe lançar um meio sorriso, antes de começar a comer ali mesmo diante do aparelho, mergulhada na minha pesquisa com o pouco que sabiam sobre Brian Harris.
Naquela noite, demorei para dormir, me sentia de alguma forma perturbada por todas as recentes informações, enquanto me questionava o parentesco do Dr. Harris com Brian Harris. As duas únicas coisas naquele momento que sabia, era que os dois eram irmãos e que precisava de uma entrevista exclusiva com Brian Harris e não tinha ideia de como conseguiria isso.
— Não vai tomar café da manhã? Fiz aquelas panquecas proteícas que você insiste em comer — diz Beth na manhã seguinte, precisando elevar a voz, enquanto andava em direção da porta.
— Como alguma coisa depois — Saio rapidamente pela porta, batendo a mesma atrás de mim.
Por causa da minha ansiedade noturna, não consegui dormir como o recomendado, não via a hora do dia amanhecer, para poder usar um dos meus “métodos jornalísticos”, que muitas vezes eram bem invasivos e agressivos. Mas não importava, não quando se tratava de uma entrevista exclusiva como aquela.
Saio do prédio com tijolos vermelhos gastos em passos largos, procurando por um táxi. No banco de trás do veículo, dou o endereço do prédio suntuoso e exuberante no centro da cidade, quase idêntico as torres gêmeas. Por ser um prédio oponente e até belo para quem admirava certas arquiteturas, também tinha uma segurança impecável e, mesmo eu já pensando sobre essa hipótese, tive a certeza quando me aproximei do vidro espelhado da porta e a abri, me deparando com um homem de aparentemente dois metros de altura.
Ele me olha de cima a baixo e não deixo de notar rapidamente o rádio comunicador instado em seu ouvido direito.
— Vim para uma entrevista — Mentir parecia ser o mais sensato naquele momento, invés de contar que era uma jornalista e que estava ali para bisbilhotar.
O segurança não responde, apenas olha para outro que estava do outro lado do salão e volta para seu trabalho. Acreditando que a primeira fase havia passado,caminho até o balcão, não demorando para atrair a atenção da ruiva atrás dele.
— Olá — diz colocando um sorriso largo no rosto repentino — Posso ajudar? — Seus olhos se fixam em mim, talvez tentando adivinhar o que eu queria ali.
— Gostaria de falar com Brian Harris — digo com a voz firme.
Uma risada breve escapa de sua garganta, enquanto ela coloca a mão com as unhas pintadas de vermelho em frente a boca.
— Muitas pessoas querem falar com o Sr. Harris. Não é a primeira hoje, pode ter certeza.
Olho ao redor, acompanhando o pouco movimento que havia no saguão, imaginando que nos andares acima deveria ser bem diferente.
— Brian Harris está na empresa?
Ela ergue a sobrancelha e não demora para que não aja nenhum vestígio do sorriso de antes em seu rosto.
— É uma informação que não posso passar, então eu peço gentilmente que se retire — Em seguida ela olha para o segurança mais próximo, que não demora para se aproximar de nós — Tenha um bom dia — Ela força dessa vez um sorriso, deixando mais do que claro que eu não era bem vinda ali.
Na calçada em frente do prédio, observo atentamente tudo ao meu redor, em busca de uma solução para aquele meu obstáculo e não demoro para ver uma porta bem ao meu lado, quer dizer, uma garagem. Assim que um carro adentra no subterrâneo, corro o mais rápido que posso na direção, concluindo comigo mesma que era questão de tempo até a segurança vir ao meu encontro.
Um homem de cabelos grisalho de terno, folheando um jornal, para de ler as manchetes no mesmo instante que entro no elevador e aperto o último botão, ciente de que Brian Harris se escondia na cobertura.
— Dia quente para outono — Comento, com a impressão de que estava em uma sauna, devido ao tanto de suor que escorria por todo meu rosto, se acumulando em lugares estratégicos em meu corpo.
— Não sei dizer — diz com certa prepotência, como se o clima naquele momento não lhe importasse.
Meio em jeito, começo a observar o elevador subir pelos andares, lembrando que eu costumava gostar do verão, do calor, de sentir o sol em minha pele, formigando em determinado momento. Mas já não sentia que gostava dessa estação, nos últimos dias me pegava admirando a beleza das cores do outono e até mesmo esperando, imaginando, quando começaria o inverno.
O homem do jornal desce dois andares antes do meu, o que para mim é um alívio, já que a conversa entre nós não estava fluindo, não havia nem começado por opção dele. Para uma pessoa que não era muito sociável, que preferia ficar atrás de um computador, presa em um escritório por horas, até que estava me sentindo mais energética.
Pessoas andando de um lado para o outro, foi a primeira coisa que vi, quando as portas do elevador se abriram. Não era muito diferente do jornal, pelo menos ali não falavam ao mesmo tempo e o silêncio predominava. Assim que sai do elevador, pelo menos meia dúzia de olhos se concentraram em mim, obviamente não fazia parte do quadro de funcionário e minhas roupas deixavam isso bem claro.
Ás três mulheres na minha frente estavam vestidas com roupas sociais alinhadas, assim como seus cabelos que estavam impecavelmente arrumados num coque. Nenhuma delas estava com o cabelo solto e aqueles saltos agulhas, não precisava calçar para dizer que eram desconfortáveis. Um contraste completamente diferente do vestido florido que vestia com jaqueta jeans e tênis all star. Me sentia uma eterna adolescente, pelo menos desde da cirurgia e estando com 25 anos de idade.
Naquela manhã, como todas as horas, não dei importância para meu cabelo. Quando estava no hospital, fazia questão de me arrumar todas as manhãs, estar bonita para Tyler, mas depois parecia algo mais que supérfluo e acabava preferindo estar o mais natural possível, sem ter que me esconder atrás de maquiagem e cabelos perfeitos.
Ando atrás de uma mulher de estrutura mediana atrás de uma mesa organizada, me apressando em colocar um sorriso amigável no rosto.
— Gostaria de falar com Brian Harris — Ela pisca algumas vezes com seus olhos verdes— claros grandes, como se estivesse duvidando do que acabara de ouvir.
— Tem hora marcada? — Ela gagueja com sua voz suave.
— Não.
Ela força um sorriso sem graça, com certeza pensando em como me diria que ele não me atenderia. Deveria ser funcionária nova e ainda estava em um treinamento rígido.
— Oi — diz uma mulher alta, digna de ser modelo, se aproximando, me olhando disfarçadamente de cima a baixo — Receio que o Sr. Harris não poderá atender você sem horário marcado.
— Não acho que um homem como ele, não teria alguns minutos de seu tempo para mim.
Um sorriso debochado surge em seu rosto e não demoro para suspeitar que ela deveria ter algum cargo importante por ali, pelo modo que estava se comportando.
— Acredite, ele não tem. E acho que você não era para estar aqui — Neste momento, dois seguranças surgem de algum lugar, para minha surpresa, já que esperava que vinhesse pelo elevador e que não brotassem de repente — Não é? — Ambos seguram meu braço com uma força desnecessária e tenho a impressão que irão partir meus ossos.
Ela se aproxima mais e num movimento rápido se apossa da minha bolsa e de lá tira meus documentos.
— Rebeca Marie Barker — Lê, olhando para mim — Jornalista? — Chuta, acertando em cheio — Vocês jornalistas são verdadeiros vermes, sempre procurando um furo, uma notícia — Ela revira os olhos — Tirem ela daqui.
Tento me livrar do par de mãos em meus braços, mas é inútil, me apertavam com força, enquanto me puxavam para o elevador, que sem qualquer aviso prévio, se abre e de lá os olhos frios de Brian Harris se fixam em mim.
— Poderia ser pior — diz Beth, naquela noite, após horas atrás eu ter sido praticamente expulsa da sede da empresa de Brian Harris. Acredito que meu otimismo não permitiu que eu enxergasse, que a situação era mais complicada do que eu pensava. Sim, realmente era, pois as chances de Brian Harris falar com uma jornalista, comigo nesse caso, era quase que nulas.— Vou pensar em alguma coisa — murmuro pensativa.— Ou pode dizer ao Frank mandar outra pessoa — Seria a opção mais viável naquele momento, entretanto, queria mostrar meu valor, que apesar de todo aquele tempo afastada, ainda conseguia fazer meu trabalho com excelência — Você não tem que ir — Ela faz questão de lembrar.— Mas eu quero ir — digo com a mudança rápida de humor, deixando o cômodo. Assim que entro no meu quarto, começo a me sentir inquieto, como se estivesse inutilizada e Beth tivesse razão, era uma grande responsabilidade para mim e é claro que Frank poderia até estar esperando que eu não cons
O dia definitivamente não havia começado muito bem para mim, além de estar vivenciando na pele sensações de outra pessoa, ainda tinha que lidar com a forte crise de ansiedade que aconteceu em seguida, me fazendo chegar atrasada no trabalho. E antes mesmo que pudesse me refugiar em minha mesa, Frank sentiu meu cheiro e com um gesto simples, mas claro, me chamou para sua sala.— Frank — digo ao entrar no recinto, permanecendo em pé, em frente as duas cadeiras de madeira vernizada.— O que pedi a você? — Ele pergunta sério, me fazendo lembrar de um dos professores que tinha na adolescência, no qual todos temiam por ser uma pessoa séria e autoritária.— Uma entrevista com Brian Harris — digo em tom baixo, temendo que a resposta não fosse aquela.— E por que trouxe um processo para o jornal?! — Ele eleva a voz abruptamente, batendo na mesa.— Um processo? — Repito, duvidando do que acabara de ouvir.— É. Um processo — diz sarcástico — Brian Harris decidiu nos processa
— With all my favorite colors, yes, sir. All my favorite colors, right on. My sisters and my brothers. See ‘em like no other. All my favorite colors — Cantava a plenos pulmões, parecendo de alguma forma, colocar aquela canção de um jeito ou de outro para fora de mim. Sentia que depois de tudo que aconteceu no dia anterior, estava energizada, mesmo acreditando que aquele não seria o normal de qualquer outro ser humano.Mas só bastou abrir os olhos naquela manhã, tomar um banho que...bum! Uma música surgiu sorrateiramente em minha mente e quando me dei conta, estava cantarolando uma música desconhecida e após uma rápida pesquisa, descobri o nome da banda e o nome da música. Na cozinha, me movia de um lado para o outro, quase que no ritmo da música, com a sensação de que já havia vivido aquele dia, aquele momento. Meu corpo desacelera em questão de segundos e meus olhos se fixam no vazio. Quase que automáticamente, um cheiro contraditório ao que estava na c
Dr. Harris me olha aparentemente confuso, parecendo estar processando o que havia acabado de dizer.— O que foi que disse? — Ele pergunta finalmente, num tom baixo hesitante. Engulo em seco, notando que o silêncio havia predominado naquele ambiente, não dava nem para escutar as respirações que haviam ali.— Eu. Estou. Com. O. Coração. De... — digo pausadamente, levando — Elena Mackenzie. Os olhos dele se tornam vidrados, enquanto os fixa no vazio, processando as minhas palavras. Por um momento, ele empalidece e até temo que estivesse sentindo alguma coisa.— Senta aí! — diz o segurança, me empurrando para a cadeira.— Tira a mão de mim! — digo elevando a voz, olhando dentro dos olhos dele que, no mesmo instante, tenta me fazer sentar novamente.— Ei. Calma — diz Dr. Harris, se colocando entre nós, fazendo com que o segurança se afastasse de mim — Ela ainda está se recuperando de uma cirurgia e é paciente deste hospital, então se não for medico, por gentileza, tire
— Você não pode estar falando estar falando sério — diz Beth, enquanto preencho a mala sobre a cama com roupas. Havia dado uma rápida olhada no clima no interior Minnessota e não havia muita diferença com o clima de Rochester, só estava dois graus abaixo — Ir atrás dos pais de Elena Mackenzie! Não poderia negar que aquela decisão havia sido tomada de última hora ou melhor, após o breve café com Jonah. Por alguma razão, ele havia despertado ainda mais a minha curiosidade, precisava saber mais sobre Elena e mesmo que eu já tivesse explicado para Beth, que a minha doadora era a esposa falecida de Brian Harris, ela ainda continuava a achar que era uma péssima ideia. Continuo arrumando minha mala, sem saber se estava colocando roupa demais ou roupa de menos, nunca fui muito boa em fazer malas e sempre esquecia do essencial e isto me fazia odiar viagens. A única coisa que sabia e que estava levando naquela mala, era a minha vontade crescente de decifrar a vida d
Me sentia paralisada diante da senhora, seus olhos distantes, entretanto, penetrantes, pareciam ler a minha alma, meus pensamentos... Ela não esboçou qualquer reação enquanto me olhava, seus lábios finos, mantinham uma linha reta séria. Seus rosto redondo, tinha algumas marcas da idade, o que não era muito relevante, até mesmo o seu cabelo grisalho, solto, não era apenas o que me chamava atenção; Mas sim o modo que estava em minha frente, como uma assombração.— Oi — digo baixo, esperando que assim quebrássemos o gelo que estava ali, na verdade, um iceberg — Meu chamo Rebeca e... — Me detenho quando uma mulher surge da parte de trás da casa, aparentemente mais nova que eu, uma trança lateral enfeitava seu cabelo, as roupas que vestia era composta por uma jardineira e camiseta branca.— Mãe!— diz com um breve sorriso no rosto, subindo os degraus rapidamente, secando o suor do rosto com uma flanela ao se aproximar. Ela afaga os ombros da mãe, para em seguida me
— Achou quem estava procurando? — A garçonete pergunta, me servindo mais café e eu simplesmente aceitar, mesmo não sendo minha bebida com café preferida. Desde que deixei a casa dos Mackenzie, não me sentia como antes, se antes já estava me sentindo outra pessoa, agora definitivamente me sentia outra pessoa. Eu senti na pele a dor da Billie, irmã caçula da Elena, era como se já a conhecesse a anos e compartilhássemos a mesma dor. E não compartilhávamos? Solto o ar bruscamente pela boca, imaginando o quão querida Elena, o quanto seu espírito era livre, aventureiro e em como agora só sobrou lembranças daqueles que a conhecia. E eu sentia tanto por isto, que não conseguia descrever ou se quer explicar. Eu queria poder arrancar todos aqueles sentimentos, sensações e d’javús e os guardar todos em um pote e enterrar. Eu sei que era algo injusto e até mesmo egoísta com a história de vida que aquele coração carregava, mas tudo aquilo estava me esmagando, esta
Ainda tinha a impressão que meu coração estava prestes a sair do meu peito a qualquer momento ou melhor, saltar para fora da minha boca. Estava sendo ainda difícil acreditar no que acabara de acontecer, a verdade era que eu não conseguia me mexer, mesmo com Louise andando de um lado para o outro do lado de fora do carro, xingando cada vez mais que percebia o tamanho do estrago que havia sido feito na traseira do carro. Os meus batimentos cardíacos continuavam pulsando em meus ouvidos e poderia jurar que a minha pressão arterial havia caído drásticamente, já que estava começando a me sentir enjoada e tonta. E tinha certeza que estava prestes... Abro abruptamente a porta do carro, não conseguindo tirar o cinto de segurança, quase vomitando dentro do carro. Eu sabia que de uma forma ou de outra, as duas xícaras de café que havia tomado, iriam me fazer mal até o final do dia e nem precisei chegar até o final do dia.— Espero que não tenha sujado meu carro! — Louise gr