Um ano depois
— Olívia? — ouvi uma voz me chamando.Também ouvi um bip muito insistente na minha cabeça, um peso e uma escuridão totalmente confortável, senti vontade de ficar assim por muito tempo. Mas aquela voz insistiu em me chamar de novo.— Olívia, você quer acordar? Oh, seja bem vinda, você finalmente acordou. — a moça me disse quando eu finalmente abri os olhos.Uma mulher sorria amigavelmente para mim, tentei falar alguma coisa, mas eu estava um pouco desnorteada, pisquei várias vezes até me acostumar com a luz e conseguir mexer a minha boca.— Onde... onde eu estou? —perguntei.— Você está no St. Joseph, querida. — ela afirmou.Hospital, eu estou em um hospital no centro da cidade, encarei o teto branco e ao forçar minha mente, as lembranças foram aparecendo na minha cabeça, como flashs rápidos que iam e vinham ao mesmo tempo. Então, tudo começou a fazer sentido, meu coração acelerou um pouco e acho que isso chamou atenção da enfermeira.— O médico virá para vê-la. Não fique nervosa, descanse mais um pouco. — ela disse solícita.Eu não conseguia entender o motivo de estar no hospital, já que pelo que eu consigo lembrar, estava em minha festa de noivado e... e então as peças parecem desconectadas, cada vez que eu tento lembrar, minha cabeça dói e então eu perco todos os encaixes.— Olá, Olívia, estou feliz que você acordou. — um homem se aproximou de mim e falou. — Eu sou o Dr. Mark.— Olá. — respondi devagar.— Vou solicitar alguns exames em você, tudo bem? Vou te avaliar agora.Eu nem percebi o que ele fez, só respondi ao que ele perguntava e fazia o que ele pedia para eu fazer, minha mente estava perdida sem conseguir me lembrar dos fatos, diversos questionamentos que eu me perguntava e queria saber realmente o que aconteceu.— Olivia?Saí do devaneio e olhei para o médico.— Você está sentindo dor? — ele perguntou.— Não. — respondi.— Estou colocando uma agulha em seu pé. — ele avisou.— Eu não sinto nada. — afirmei.— Muito bem, faremos um exame a respeito disso também. — ele anotou alguma e entregou para a enfermeira.— Dr. Onde estão meus pais? — eu quis saber, achei que por eu estar em um hospital, eles já estariam aqui. É assim que os filhos agem, eles procuram pelos pais, aqueles que deveriam cuidar.Ele olhou para a enfermeira e ela acenou.— Eu vou preparar as salas para os seus exames, pode perguntar tudo para a enfermeira, ela vai te dizer tudo. — ele anunciou.Quando ele saiu pela porta, a enfermeira sentou ao meu lado na cama e segurou na minha mão.— Nós já ligamos para eles, avisamos que você acordou, chegarão em breve. — ela sorriu.— Oh, obrigada. — falei.Um medo estranho se apossou de mim, tudo o que eu queria naquele momento era ir para casa, sei que meus pais são difíceis, mas ainda são meus pais e sei que eles cuidaram de mim a vida inteira.As horas se passaram e nada do médico voltar ou alguém me contar quando eu faria os exames, nem meus pais chegaram, perguntei a enfermeira sobre o meu telefone e ela disse que não estava comigo quando eu fui trazida para cá.— Ok, Olívia, vamos lá? — o médico entrou na sala novamente. — Não tenha medo, seus pais vão chegar em breve, vai acabar logo. – ele avisou.Tive que reunir coragem para isso, então nós fomos. Eu fiz todos os exames imagináveis, até alguns que eu nem sabia que existiam, fiz exames na cabeça, corpo, minhas pernas ainda não se moviam quando eu voltei ao quarto.Quando me colocaram na cama, meus pais entraram, eu sorri assim que os vi entrando, mas então minha irmã também entrou, e eu comecei a sentir um desconforto na cabeça.Esperei que algum deles dissesse alguma coisa antes de mim, os minutos se passaram, até que minha mãe se aproximou.— Como você está? — ela perguntou.— Agora estou bem, mas minhas pernas ainda não se movem, por que demoraram tanto para vir? — questionei.— O que importa é que estamos aqui agora. – meu pai rebateu. — E você acordou.— Sim, acordei sozinha e num hospital. – falei nervosa.— Estamos felizes que você está bem, Olívia. – minha irmã me disse.Eu a encarei, minha mente ficou dando voltas para tentar se lembrar o motivo do meu desconforto à presença dela.— Olívia, não seja difícil, foi um milagre você ter sobrevivido depois de cair de uma altura daquelas, além do mais, você passou todo esse tempo desacordada, gastamos muito com isso. — meu pai respondeu e me tirou do devaneio.— Como assim, todo esse tempo? Que dia é hoje? – indaguei.— Você não lembra? Você sofreu o acidente no ano passado, Olívia, dois meses atrás, fez um ano que você caiu. — minha irmã me encarou surpresa.— Um ano... – sussurrei.— Sim, muitas coisas aconteceram, eu estive muito preocupada com você, no dia que aconteceu, eu e Martin quase morremos de preocu...Foi aí, depois do nome de Martin ser mencionado, eu me lembrei, comecei a ficar nervosa, então é por isso que eu estou tão desconfortável com a presença da minha irmã, ela e Martin estavam juntos quando eu caí.— Preocupados? vocês dois estavam fazendo sexo quando eu os vi... eu me lembrei, você e Martin estavam... — falei completamente descontrolada.As imagens estavam aparecendo na minha cabeça muito rápido e eu sabia exatamente como filtrar as sensações de desespero e mágoa que se formavam em meu coração.— Olívia, você ainda está sob o efeito do sedativo, eu nunca faria isso com você. — minha irmã falou tentando chegar perto. — Fique calma, eu preciso conversar com você sobre o que aconteceu no último ano.— Não estou sob efeito de sedativo, eu sei o que eu vi... – insisti.— Já chega, viemos ver você, mas não vamos aceitar seu comportamento agressivo. — meu pai falou, obviamente não acreditou em mim.— Vocês sempre defendem ela, mesmo quando eu estou falando a verdade. – eu disse, começando a chorar.— Senhores... – o médico chamou nossa atenção e me livrou de chorar novamente. — Estou com alguns resultados dos exames de Olívia, gostaria de informá-los.Limpei uma lágrima que queria cair no canto do meu olho.— E então... – meu pai falou.— Você está com uma pequena lesão na coluna, existe uma cirurgia, é um pouco complicada e não garante a volta total dos movimentos das pernas. – ele disse. — No geral, é realmente um milagre que você esteja bem, você deve estar esquecida de algumas poucas coisas, mas isso é temporário, internamente está tudo bem. Estou impressionado, nenhuma sequela grave na cabeça.— Ela vai ficar de cadeira de rodas o resto da vida? – minha mãe perguntou.— Depende do sucesso da cirurgia. – o médico disse.— É a terceira vez que você sofre um acidente, primeiro aquele pesadelo que vivemos, depois a queda no mar e agora isso... – meu pai bufou.Decidi não responder, porque eu não quero discutir com eles aqui. Foquei na explicação do médico sobre os riscos da cirurgia, eu precisava lembrar que eu ainda estava hospitalizada e queria me agarrar a qualquer coisa que me tirasse desse pesadelo familiar. Eu tive muito medo. Meu pai atendeu o telefone e falou alguma coisa no ouvido da minha mãe.— Preparei tudo para fazer, se você optar pela cirurgia, Olívia. – ele me disse.Minha mãe pegou a bolsa e conversou alguma coisa com minha irmã, meu pai se juntou a elas, quando ela deu um passo a frente eu perguntei:— Aonde vocês vão?— Precisamos ir, Dalila precisa passar no médico também, vamos deixar a equipe cuidar de você, quando tudo estiver bem, voltaremos e conversaremos com você. – ela explicou.— Vão me deixar sozinha aqui? – perguntei magoada.— A equipe é competente, viremos quando você estiver acordada depois da cirurgia. Boa sorte. – eles disseram e saíram do quarto.O médico me encarou, vi um traço de pena no olhar dele, mas tentei não deixar aquilo me abalar. Meus pais simplesmente foram embora em um momento tão crucial como esse. Hoje, depois de tudo o que aconteceu, depois que eu me lembrei do que ocorreu, ficou tudo claro, meus pais sempre preferiram minha irmã, então, só me resta ter coragem para enfrentar tudo isso, depois que a cirurgia for feita, me lembrarei de ir atrás de quem está causando todo esse sofrimento a mim.— Eu aceito, vamos fazer a cirurgia. – respondi convicta.— É um procedimento delicado, Joshua, tem que ser feito em sigilo, você está tentando esse divórcio desde o ano passado. Mais uma tentativa com meu advogado. Desde o ano passado, quando eu decidi realmente me divorciar no papel, estou buscando uma forma de provar que Janine não merece ficar com uma parte dos meus bens, as empresas da família dela estão em parceria com algumas empresas minhas e isso dificultou um pouco. Mas com todas as provas que eu tenho, acho que...— ... mas sim, estamos muito perto de conseguir, você juntou muita coisa. — ele disse sorrindo. — Passei muito tempo trabalhando nisso. – afirmei. A porta da minha sala foi aberta e a secretária entrou para me dizer sobre a agenda que eu tenho durante o dia. Meu telefone vibrou no meu bolso e pela insistência, eu sei exatamente quem está me ligando. — Ok, obrigado. — agradeci e a secretária saiu. — Eu vou indo, se eu conseguir alguma novidade, eu te ligo. – meu advogado disse. — Tudo bem. – respondi. Retirei o tel
— Eles não vieram? — perguntei a enfermeira. — Ainda não, senhorita Olivia, mas chegarão logo, não se preocupe. Desde que acordei da cirurgia, meus pais ainda não vieram, além de estar triste, também estou preocupada e curiosa para saber o motivo que Dalila precisava ir ao médico naquele dia, ela parecia muito bem. A porta do quarto foi aberta e fiquei animada, o médico entrou com a minha ficha na mão. — Olívia, como se sente? – ele perguntou. — Bem, eu sinto meus pés, minhas pernas, mas...— Calma – ele riu. — Eu estou aqui para te dizer, a cirurgia foi um sucesso, a sorte está ao seu lado. Acontece que, você vai precisar de fisioterapia para estimular a sua força nas pernas, você passou um ano deitada, houve muita perda muscular. — ele explicou cauteloso. — Mas, eu sentir o movimento é um bom sinal? – perguntei devagar. — Sim, com toda certeza. É um ótimo sinal, eu estou colocando o encaminhamento para o fisioterapeuta na sua ficha, vamos nos esforçar para que tudo ocorra bem
Um mês depois— Muito bem, Olívia! — meu fisioterapeuta disse. Desde que eu cheguei, meu progresso tem chamado atenção, o senhor Hoke não vive nessa casa, mas ele vem todo final de semana para ver pessoalmente como eu estou progredindo. Não está sendo fácil, mas eu consigo. — Obrigada, senhor Evans. — respondi. Eu já consigo levantar, consigo segurar nos corrimãos e dar pequenos passos, eu já ganhei peso também, estou fazendo treinos de força e estão dando muito resultado. — Vamos dar uma pausa, é a hora do seu lanche. – ele disse. Até a minha alimentação é balanceada, confesso que estou com muita vontade de comer um hambúrguer ou uma pizza bem grande, mas tenho medo de isso atrapalhar o meu progresso. O senhor Evans empurrou a minha cadeira e me deixou na área externa da casa, perto da piscina, ele me colocou na mesa e uma das cozinheiras trouxe o meu lanche, eu fiz amizade com todo mundo, as moças da cozinha vivem aqui, então nós já nos conhecemos bem. Ouvi o barulho de um ca
Eu me olhei no espelho, encarando minha roupa e minha face, realmente desde o último mês, as coisas mudaram bastante, já consegui ganhar peso, fortaleci minhas pernas, progredi com a fisioterapia. Antes de virar as costas, dei um sorriso, o mais verdadeiro que consegui. Uma das enfermeiras que vive aqui, me ajudou a descer a escada, ela me deixou na mesa de jantar e saiu. Em minha mente, eu imaginava os motivos que levaram o senhor Hoke a se divorciar, também existe o fato de que ele afirma que eu posso ajudá-lo. Como? Como uma pessoa como eu, com a vida toda virada de cabeça para baixo, pode ajudar um homem tão decidido e bem resolvido como ele? — OláSaí do meu devaneio porque ouvi sua voz atrás de mim, virei o rosto para o lado e lá estava ele, bem vestido, usando um casaco preto, o cabelo parecia diferente, talvez ele fez um corte, mas o rosto era o mesmo, aquele bem marcante e...— Olá — me forcei a responder.— Esperou muito? — ele me perguntou. — Não, não muito. Ele colocou
Até o café da manhã eu não havia visto Joshua em lugar nenhum. Minhas pernas estavam doloridas, mas por incrível que pareça, eu senti que elas ficaram mais fortes e decidi andar sozinha hoje para todos os lugares. — Muito bem, Olívia, está conseguindo andar sozinha. — o senhor Evans me cumprimentou. — Obrigada, senhor, estou muito feliz que consegui. — respondi animada. A manhã inteira foi intensa, comecei com treino de força, depois andei na esteira, devagar e com auxílio, depois andei segurando nas barras e por fim, fiz hidroterapia, quando saí da piscina, minha enfermeira, Ema, estava me aguardando na mesa onde eu costumo descansar. — Sua mãe ligou diversas vezes. — ela me avisou. — Agora? — questionei. — A manhã inteira, mas eu não quis te atrapalhar. — ela respondeu. — Fez bem, não quero perder minha motivação. Ema, pode me trazer um pouco de água? Estou com sede. — pedi. — Claro, você deve estar bem cansada, o almoço logo ficará pronto. — ela respondeu e saiu. Segurei o
— Joshua, o contrato de divórcio está pronto. Quando você vem? — meu assistente me telefonou logo nas primeiras horas da manhã. — Logo, estou em outra cidade, mas chego aí em breve. — respondi. Acho que exagerei na noite passada, depois daquilo que conversei com Olívia, fiquei com raiva, não sei o motivo, mas achei sua fala inocente demais, e ao mesmo tempo curiosa, eu não quis pensar nas palavras dela e saí de casa, vim a um clube noturno, onde sou sócio e acabei passando a noite com uma das mulheres. Abri a carteira e deixei algumas notas ao lado da cabeceira porque ela era muito boa, do jeito que eu gosto, sem sentimento e enrolação. Fui em casa rápido para tomar banho e me lavar de toda essa sujeira da noite passada. Mesmo irritado e achando aquilo uma baboseira, as palavras de Olívi não saíam da minha mente. E tudo piorou quando eu precisei voltar para casa horas depois para buscar a pasta e dei de cara com ela, em um maiô minúsculo de banho, os bicos de seus seios estavam du
Quando eu estava no carro, indo para uma reunião, recebi uma ligação da minha irmã, pedindo que eu fosse até em casa, não disse qual seria o motivo urgente, mas insistiu que eu fosse até lá o mais rápido que pudesse. Então, liguei no telefone da minha casa e uma das empregadas atendeu. – Bom dia, Olívia está ocupada? É o Hoke. – avisei. – Oh, sim, senhor! Ela está na área externa da casa. Quer que eu vá chama-la? – Não, apenas diga que eu liguei, avise que não poderei chegar para o jantar essa noite, estarei em casa quando puder, tenho uma viagem de última hora. – expliquei. – Tudo bem, senhor, eu avisarei. Desliguei o celular e dei meia volta, fui direto ao aeroporto novamente, comprei a passagem mais próxima para o Havaí e aguardei o horário do embarque. Estou exausto, mas Morgana parecia ansiosa ao telefone e eu sempre corro quando é algo relacionado a minha família. Meu telefone vibrou no bolso do paletó e eu atendi antes mesmo de ver quem era, merda. – Pai, onde você está
Eu não sabia o que fazer quando Joshua me mandou aguardá-lo para o jantar, foi em um momento tão desconfortável, toda essa cobrança em cima de mim, esse sentimento de não pertencer a lugar nenhum me deixou tão triste e pensativa. Um dia minha vida estava perfeita, tudo acontecia como deveria ser e no outro.... nada, simplesmente não existia mais nada de como era antes. Pouco depois que ele saiu, eu continuei com minha sessão de fisioterapia, os avanços do último mês foram incríveis e eu não quero perdê-los. Durante as aulas a curiosidade a respeito da conversa estavam quase me deixando doida. — Tem que se concentrar, Olívia. – meu professor falou gentilmente e riu. — Tudo bem, me desculpe . – falei sem graça. Respirei e tentei manter minha mente o mais limpa possível, eu não queria que nada me atrapalhasse. Depois disso foi uma sucessão de treinos e conversas com os meus ajudadores, estou cada dia mais forte e saudável. Para minha felicidade e acho que somente a minha. No momento