Capítulo 2

Um ano depois

— Olívia? — ouvi uma voz me chamando.

Também ouvi um bip muito insistente na minha cabeça, um peso e uma escuridão totalmente confortável, senti vontade de ficar assim por muito tempo. Mas aquela voz insistiu em me chamar de novo.

— Olívia, você quer acordar? Oh, seja bem vinda, você finalmente acordou. — a moça me disse quando eu finalmente abri os olhos.

Uma mulher sorria amigavelmente para mim, tentei falar alguma coisa, mas eu estava um pouco desnorteada, pisquei várias vezes até me acostumar com a luz e conseguir mexer a minha boca.

— Onde... onde eu estou? —perguntei.

— Você está no St. Joseph, querida. — ela afirmou.

Hospital, eu estou em um hospital no centro da cidade, encarei o teto branco e ao forçar minha mente, as lembranças foram aparecendo na minha cabeça, como flashs rápidos que iam e vinham ao mesmo tempo. Então, tudo começou a fazer sentido, meu coração acelerou um pouco e acho que isso chamou atenção da enfermeira.

— O médico virá para vê-la. Não fique nervosa, descanse mais um pouco. — ela disse solícita.

Eu não conseguia entender o motivo de estar no hospital, já que pelo que eu consigo lembrar, estava em minha festa de noivado e... e então as peças parecem desconectadas, cada vez que eu tento lembrar, minha cabeça dói e então eu perco todos os encaixes.

— Olá, Olívia, estou feliz que você acordou. — um homem se aproximou de mim e falou. — Eu sou o Dr. Mark.

— Olá. — respondi devagar.

— Vou solicitar alguns exames em você, tudo bem? Vou te avaliar agora.

Eu nem percebi o que ele fez, só respondi ao que ele perguntava e fazia o que ele pedia para eu fazer, minha mente estava perdida sem conseguir me lembrar dos fatos, diversos questionamentos que eu me perguntava e queria saber realmente o que aconteceu.

— Olivia?

Saí do devaneio e olhei para o médico.

— Você está sentindo dor? — ele perguntou.

— Não. — respondi.

— Estou colocando uma agulha em seu pé. — ele avisou.

— Eu não sinto nada. — afirmei.

— Muito bem, faremos um exame a respeito disso também. — ele anotou alguma e entregou para a enfermeira.

— Dr. Onde estão meus pais? — eu quis saber, achei que por eu estar em um hospital, eles já estariam aqui. É assim que os filhos agem, eles procuram pelos pais, aqueles que deveriam cuidar.

Ele olhou para a enfermeira e ela acenou.

— Eu vou preparar as salas para os seus exames, pode perguntar tudo para a enfermeira, ela vai te dizer tudo. — ele anunciou.

Quando ele saiu pela porta, a enfermeira sentou ao meu lado na cama e segurou na minha mão.

— Nós já ligamos para eles, avisamos que você acordou, chegarão em breve. — ela sorriu.

— Oh, obrigada. — falei.

Um medo estranho se apossou de mim, tudo o que eu queria naquele momento era ir para casa, sei que meus pais são difíceis, mas ainda são meus pais e sei que eles cuidaram de mim a vida inteira.

As horas se passaram e nada do médico voltar ou alguém me contar quando eu faria os exames, nem meus pais chegaram, perguntei a enfermeira sobre o meu telefone e ela disse que não estava comigo quando eu fui trazida para cá.

— Ok, Olívia, vamos lá? — o médico entrou na sala novamente. — Não tenha medo, seus pais vão chegar em breve, vai acabar logo. – ele avisou.

Tive que reunir coragem para isso, então nós fomos. Eu fiz todos os exames imagináveis, até alguns que eu nem sabia que existiam, fiz exames na cabeça, corpo, minhas pernas ainda não se moviam quando eu voltei ao quarto.

Quando me colocaram na cama, meus pais entraram, eu sorri assim que os vi entrando, mas então minha irmã também entrou, e eu comecei a sentir um desconforto na cabeça.

Esperei que algum deles dissesse alguma coisa antes de mim, os minutos se passaram, até que minha mãe se aproximou.

— Como você está? — ela perguntou.

— Agora estou bem, mas minhas pernas ainda não se movem, por que demoraram tanto para vir? — questionei.

— O que importa é que estamos aqui agora. – meu pai rebateu. — E você acordou.

— Sim, acordei sozinha e num hospital. – falei nervosa.

— Estamos felizes que você está bem, Olívia. – minha irmã me disse.

Eu a encarei, minha mente ficou dando voltas para tentar se lembrar o motivo do meu desconforto à presença dela.

— Olívia, não seja difícil, foi um milagre você ter sobrevivido depois de cair de uma altura daquelas, além do mais, você passou todo esse tempo desacordada, gastamos muito com isso. — meu pai respondeu e me tirou do devaneio.

— Como assim, todo esse tempo? Que dia é hoje? – indaguei.

— Você não lembra? Você sofreu o acidente no ano passado, Olívia, dois meses atrás, fez um ano que você caiu. — minha irmã me encarou surpresa.

— Um ano... – sussurrei.

— Sim, muitas coisas aconteceram, eu estive muito preocupada com você, no dia que aconteceu, eu e Martin quase morremos de preocu...

Foi aí, depois do nome de Martin ser mencionado, eu me lembrei, comecei a ficar nervosa, então é por isso que eu estou tão desconfortável com a presença da minha irmã, ela e Martin estavam juntos quando eu caí.

— Preocupados? vocês dois estavam fazendo sexo quando eu os vi... eu me lembrei, você e Martin estavam... — falei completamente descontrolada.

As imagens estavam aparecendo na minha cabeça muito rápido e eu sabia exatamente como filtrar as sensações de desespero e mágoa que se formavam em meu coração.

— Olívia, você ainda está sob o efeito do sedativo, eu nunca faria isso com você. — minha irmã falou tentando chegar perto. — Fique calma, eu preciso conversar com você sobre o que aconteceu no último ano.

— Não estou sob efeito de sedativo, eu sei o que eu vi... – insisti.

— Já chega, viemos ver você, mas não vamos aceitar seu comportamento agressivo. — meu pai falou, obviamente não acreditou em mim.

— Vocês sempre defendem ela, mesmo quando eu estou falando a verdade. – eu disse, começando a chorar.

— Senhores... – o médico chamou nossa atenção e me livrou de chorar novamente. — Estou com alguns resultados dos exames de Olívia, gostaria de informá-los.

Limpei uma lágrima que queria cair no canto do meu olho.

— E então... – meu pai falou.

— Você está com uma pequena lesão na coluna, existe uma cirurgia, é um pouco complicada e não garante a volta total dos movimentos das pernas. – ele disse. — No geral, é realmente um milagre que você esteja bem, você deve estar esquecida de algumas poucas coisas, mas isso é temporário, internamente está tudo bem. Estou impressionado, nenhuma sequela grave na cabeça.

— Ela vai ficar de cadeira de rodas o resto da vida? – minha mãe perguntou.

— Depende do sucesso da cirurgia. – o médico disse.

— É a terceira vez que você sofre um acidente, primeiro aquele pesadelo que vivemos, depois a queda no mar e agora isso... – meu pai bufou.

Decidi não responder, porque eu não quero discutir com eles aqui. Foquei na explicação do médico sobre os riscos da cirurgia, eu precisava lembrar que eu ainda estava hospitalizada e queria me agarrar a qualquer coisa que me tirasse desse pesadelo familiar. Eu tive muito medo. Meu pai atendeu o telefone e falou alguma coisa no ouvido da minha mãe.

— Preparei tudo para fazer, se você optar pela cirurgia, Olívia. – ele me disse.

Minha mãe pegou a bolsa e conversou alguma coisa com minha irmã, meu pai se juntou a elas, quando ela deu um passo a frente eu perguntei:

— Aonde vocês vão?

— Precisamos ir, Dalila precisa passar no médico também, vamos deixar a equipe cuidar de você, quando tudo estiver bem, voltaremos e conversaremos com você. – ela explicou.

— Vão me deixar sozinha aqui? – perguntei magoada.

— A equipe é competente, viremos quando você estiver acordada depois da cirurgia. Boa sorte. – eles disseram e saíram do quarto.

O médico me encarou, vi um traço de pena no olhar dele, mas tentei não deixar aquilo me abalar. Meus pais simplesmente foram embora em um momento tão crucial como esse. Hoje, depois de tudo o que aconteceu, depois que eu me lembrei do que ocorreu, ficou tudo claro, meus pais sempre preferiram minha irmã, então, só me resta ter coragem para enfrentar tudo isso, depois que a cirurgia for feita, me lembrarei de ir atrás de quem está causando todo esse sofrimento a mim.

— Eu aceito, vamos fazer a cirurgia. – respondi convicta.

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