Capítulo 3

— É um procedimento delicado, Joshua, tem que ser feito em sigilo, você está tentando esse divórcio desde o ano passado.

Mais uma tentativa com meu advogado. Desde o ano passado, quando eu decidi realmente me divorciar no papel, estou buscando uma forma de provar que Janine não merece ficar com uma parte dos meus bens, as empresas da família dela estão em parceria com algumas empresas minhas e isso dificultou um pouco. Mas com todas as provas que eu tenho, acho que...

— ... mas sim, estamos muito perto de conseguir, você juntou muita coisa. — ele disse sorrindo.

— Passei muito tempo trabalhando nisso. – afirmei.

A porta da minha sala foi aberta e a secretária entrou para me dizer sobre a agenda que eu tenho durante o dia. Meu telefone vibrou no meu bolso e pela insistência, eu sei exatamente quem está me ligando.

— Ok, obrigado. — agradeci e a secretária saiu.

— Eu vou indo, se eu conseguir alguma novidade, eu te ligo. – meu advogado disse.

— Tudo bem. – respondi.

Retirei o telefone do bolso e antes de retornar a ligação, disquei em outro número, dessa vez vou conseguir mais uma prova necessária contra minha ex mulher.

— Robert, preciso que me retribua aquele favor.

— “Claro, o que posso fazer por você?” —ele perguntou.

— Apenas o seu trabalho, vou receber uns exames hoje, vou te enviar fotos e preciso que você avalie me diga o que acha a respeito deles. – pedi.

— “Ok, Hoke, conte comigo.” – ele respondeu.

Somente depois disso eu enviei uma mensagem avisando que já estava a caminho. Desde que Janine ficou doente, eu tive que ir atrás dela para todas as consultas e exames, como a minha vida é muito corrida, eu nunca havia percebido o padrão, até que na consulta passada eu percebi e minha mente clareou.

Na clínica, ela já estava lá, parecia ansiosa como ela fica todas as vezes em que vem fazer algum exame ou consulta de rotina.

— Joshua, que bom que chegou, achei que ia entrar sozinha. — ela falou com a voz baixa.

— Eu sempre venho, você sabe disso. — respondi sério.

— Sim, mas imaginei que o trabalho poderia...

— Vamos, seu nome apareceu na tela. — eu a cortei e apontei para o monitor na parede indicando o nome dela e a sala onde deveríamos ir.

Como imaginei, o mesmo médico de sempre estava na sala, Janine insistiu que se consultasse apenas com ele, porque segundo ela, ele é de total confiança da família.

— Janine, como vai? Está se sentindo bem? — ele perguntou.

— Um pouco, mas a última sessão da quimio me deixou um pouco mais fraca que o normal. — ela respondeu.

Os únicos momentos em que eu não venho, por coincidência, são as sessões de quimioterapia, ela alegou que é um procedimento muito invasivo e pessoal, então preferiu não deixar a família sofrer vendo isso.

— Entendo, mas tenho aqui o resultados dos exames que você fez na semana passada, ficaram prontos bem rápido. — ele anunciou.

Ele abriu a pasta, virou as imagens para nós, e começou a falar:

— Essa é a parte em que o câncer já se alastrou, como conversamos na última consulta, as quimioterapias estão ajudando a regredir, mas existe a possibilidade de cirurgia, não é uma certeza, você pode piorar muito rápido ou melhorar muito rápido. — ele continuou falando e falando.

Enquanto Janine se inclinava para ver as fotos e a explicação dele, eu retirei o telefone do bolso e fingi estar lendo uma mensagem, até balbuciei algumas coisas, mas consegui tirar duas fotos bem nítidas das imagens.

— ... Então, se tudo der certo, não precisaremos retirar o seu útero, apenas o tratamento vai dar jeito. — ele finalizou. — Mas preciso que vocês me ajudem, você não pode ficar estressada ou triste, nesse momento, você é um apoio importante, Joshua. – ele chamou minha atenção.

— Uhum, sim. – afirmei.

Enviei as imagens para meu contato e guardei o telefone, concordei com tudo o que o médico nos disse e quando saímos da sala, Janine me seguiu, estava falando ao telefone com Martin, provavelmente.

— Martin está indo para casa, ele quer me ver. – ela disse animada. — Ele é sempre tão atencioso.

Abri a porta do meu carro e ela entrou, eu não quis saber como ela chegou ao hospital, nem puxei conversa, mas ouvi e respondi a todas as suas perguntas. Quando cheguei em casa, ou melhor, na casa que deixei para ela viver, Martin já estava lá.

— Mãe, como você está? — ele a ajudou a sair do carro.

— Bem, tenho novidades. — ela falou.

Entramos dentro de casa e eu me sentei no sofá enquanto ela explicava para ele como funcionou o tratamento e que se tudo desse certo, logo ela estaria muito bem e saudável.

— Mãe, seja forte, por favor, preciso que a senhora esteja bem para o meu casamento. — ele pediu segurando na mão dela.

É impressionante como Martin e Janine são unidos, fiquei pensando no quanto ele já estaria contaminado pelo veneno da mãe, encarei os dois, completamente apático àquela demonstração de afeto entre os dois.

— Eu estarei, meu filho. – ela respondeu. — Mas, ainda estou incompleta, Joshua está me deixando muito sozinha, assim eu estou regredindo no tratamento. – ela fungou.

— Eu te acompanho em todas as consultas e exames, Janine. – rebati calmo.

— Estou falando de você, do meu marido. – ela respondeu chorosa.

Uma mensagem em meu telefone fez eu me calar, ou eu diria algo que acabaria com a minha paz por muito tempo, ouvi Martin consolando a mãe, dizendo que tudo isso ia passar e se referiu ao meu afastamento como “crise no casamento”.

“Me ligue quando puder”

Foi o que eu li.

Antes de guardar o telefone no bolso, recebi outra ligação, fiquei surpreso com o número, atendi no segundo toque.

— Sim.

— Senhor Hoke, aconteceu. — ele disse.

— OK, estou indo em breve.

Desliguei a ligação e levantei do sofá.

— Estou voltando para a empresa, conversaremos melhor depois. – avisei.

— Pai, preciso falar com o senhor sobre o meu casamento. – Martin disse.

- Ok, estarei aqui para o jantar. – respondi.

Ouvi a risada feliz de Janine, mas não dei bola, saí de casa e dirigi até o hospital o mais rápido que eu pude, cada dia que passa eu me sinto mais perto de chegar onde eu quero, ser um homem livre, livre desse casamento e dessa sociedade ridícula que eu tive o desprazer de fazer com a família de Janine.

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