Ana De todos os acontecimentos do final de semana, algo me deixou intrigada. Lili simplesmente desapareceu. Minha amiga não deixou nem uma única mensagem. Tudo bem, eu também não liguei e nem escrevi. Acho que nós duas tivemos muito ocupadas.Vou direto para o escritório como sempre faço na segunda. Assim que chego envio uma mensagem pra ela, minha amiga. Ela visualiza, mas não responde, começo a ficar preocupada. Logo meu chefe chega e começo a trabalhar na sala de reuniões com algumas pessoas. Meu dia estava perfeito até que vejo uma imagem que não gostaria, Nicolas surge na sala.Observo ele cumprimentar nosso chefe, ambos cheios de intimidades. Seus olhos não saem de cima de mim, tento disfarçar.— Bom dia! — ele cumprimenta a todos.Continuo da mesma forma, com meu trabalho.— Nicolas, ainda não acredito que você e Laura romperam? — nosso chefe fala.Ignoro pela terceira vez os olhos de Nicolas sobre mim. Ele poderia ao menos disfarçar.— Nosso relacionamento não estava mais fu
AnaChego em casa mais tarde, nas segundas o trânsito está um caos. Confesso que estive ansiosa para chegar e ver ele, Marco. Mas não está, certamente saiu para levar comida aos moradores de rua. Deixo a bolsa no sofá e vou direto para cozinha a fim de ver o que ele cozinhou, estou faminta. Me sinto um pouco frustrada ao ver que ele fez apenas alguns sanduíches. Não compreendo.A casa está limpa e impecável. Sigo para o banho.Me demoro mais do que o necessário, a água quente me ajuda a relaxar, todo o meu corpo dói por causa da tensão de uma segunda. Visto um moletom.Quando passo pela porta da sala, quase me assusto ao ver Marco sentado no sofá angustiado. Seus olhos denunciam que ele esteve chorando. Ele está sentado observando uma caixinha com um aparelho de celular novo.Me sento ao seu lado e lhe abraço.— Ooi. Boa noite — falo procurando o que dizer.Ele se deita em meus ombros. Sinto o cheiro delicioso de seus cabelos, estar assim com ele é bom, senti falta disso hoje.E surpr
AnaTermino de fazer minhas malas, ainda ao telefone com Lili. Esta é a milésima vez em que ela faz piadinhas dizendo que vou conhecer meus sogros. Na verdade, minha situação com Marco ainda está indefinida, nessas duas últimas semanas dormimos juntos e confesso que meu corpo está se acostumando ao seu. Ele está se tornando um vício pra mim. Cada vez que fazemos amor parece que é a nossa primeira vez, sempre intenso e bom. Marco preenche todos os meus vazios. Também não sei como chamar isso, ainda não conversamos sobre o que há entre a gente, e também não quero pressionar ele.Percebo que ele está entrando no quarto e vou me despedindo de minha amiga:— Depois nos falamos, preciso terminar com isso aqui. Nosso voo sai às 11:00.Enquanto minha amiga desliga, sinto duas mãos fortes me envolver por trás, Marco me abraça e na sequência beija meu pescoço. Como em todas às vezes, suspiro. Ele é muito carinhoso.— E aí, falta muito para terminar com a mala? — ele fala ao pé do meu ouvido com
Ana Ainda estou assimilando a última descoberta, saber que a ex do Marco está aqui, tão perto, me incomoda bastante, principalmente quando me lembro da forma que ela olhou para ele. Havia algo estranho entre eles, mas com tanta gente querendo a atenção de Marco, felizmente os dois não tiveram contato por muito tempo. Na verdade, nem mesmo eu tive, já estou na terceira xícara de café, sentada praticamente sozinha, levando em consideração as duas crianças que brincam distraídas com os cookes bem ao meu lado. Marco foi levado por mais amigos, o pobrezinho está perdido em meio a tudo isso, mas no fundo sinto que está feliz.A vantagem de ficar sozinha por tantas vezes em lugar onde ninguém te conhece é que você pode fingir ser alguém que não é, seja lá quem você decidir ser, não corre o risco de parecer uma fraude. Dou meu melhor sorriso pela milésima vez fingindo estar supercontente. Já que o centro das atenções é Marco, ele é solicitado a todo tempo, noto como ele já está à vontade, is
MarcoMinha vida mudou completamente quando Ana entrou, ela me tirou da escuridão, me trouxe vontade de retomar tudo o que abandonei um dia. Inicialmente embarquei num relacionamento mentiroso apenas para ajudá-la, vi como a presença daquele canalha do Nicolas lhe fazia mal, eu senti que precisava fazer isso por ela. Mas a verdade é que aos poucos acabamos nos envolvendo, havia uma atração carnal muito forte entre nós, algo que eu nunca senti por mulher alguma. Não resistimos acabamos terminando juntos.Ana é uma mulher incrível, que apesar de toda sua independência, vejo nela uma carência, como de uma garotinha. Seu péssimo relacionamento com a mãe e o abuso sexual que sofreu na infância deixaram marcas dolorosas nela. Assim como meu vazio e culpa por me sentir responsável pela morte da minha filha. Talvez a nossa dor seja o que nos une, o que nos atraí, pois maior que todo esse vazio, é o desejo que temos de curar um ao outro.Então resolvemos continuar juntos, ainda não definimos a
AnaDesperto ainda com o cheiro em mim que ele deixou antes de sair. Marco me faz tão bem, ao seu lado me sinto protegida, completa e satisfeita. Mesmo depois da nossa tensa chegada com o reencontro de sua família, e principalmente de sua ex, tudo voltou ao normal, ainda não falamos sobre isso, Marco ficou bastante mal quando entramos nesse quarto com a lembranças dolorosas. Minha prioridade era ajudá-lo naquele momento e não enchê-lo de cobranças, sei o quanto está sendo difícil pra ele retornar aqui, e reviver suas dores do passado tão de perto. Confesso que descobrir que ele nunca amou de verdade a tal Priscila me animou bastante. Então isso significa que Marco nunca a amou pra valer alguma mulher.Me levanto da cama e percebo que estou bem melhor, minha roupa está um pouco molhada, certamente a febre saiu do meu corpo depois daqueles chás que Helena preparou junto ao medicamento. Pego meu celular na cabeceira da cama. Vejo que dormi por três horas. Marco me mandou várias mensagens
Ana Como as mãos de Marco estão nos meus olhos, o rosto está bastante cheio de suspense. Eu realmente quero saber onde estamos. Primeiro ele me deixou no carro e foi embora, ele me pediu para checar os olhos datados, bastante curiosos, e eu obedeci. Uma vez que uma porta forte é aberta, tente uma porta grande. Depois volta a me encontrar e tampa meus olhos com as mãos. — Aiiii, Marco, você está me deixando ansioso, quero muito saber onde estamos — falo assim que andarmos. — Calminha, você vai saber. Continuamos mais alguns passos e paramos. Meu coração bate forte, quase ou ouço. Marco lentamente libera seus dois olhos de suas mãos. - Em breve! Eu consigo sentir o cheiro...Não é o primeiro momento em que abro os olhos, me assusto, na imagem de um avião monomotor na minha frente, igual as miniaturas que vi no meu quarto, só que em tamanho real. Só tenho palavras, apesar de a aeronave ser linda, e ser impossível me intimidar, no fundo trata-se de dois dos meus maiores medos. — É u
AnaChegamos na cidade do Porto no início da noite. Ainda estou angustiada com tudo, não sei o estado em que minha mãe se encontra. Deixamos as malas em casa e seguimos para o hospital. Chegamos antes do encerramento das visitas. No quarto em que minha mãe está, se trata de um lugar simples, como qualquer quarto de hospital público, paredes frias num tom de cinza claro, móveis simples, uma cama de ferro e uma pequena cômoda no qual cabe apenas uma bolsa, além dos equipamentos médicos de suporte aos doentes. Noto que há mais dois pacientes e todos recebem suas famílias, mas dona Márcia está sozinha com a mesma cara de poucos amigos de sempre. Fico chocada com sua aparência, logo ela que sempre foi tão vaidosa, minha mãe nunca deixou de se arrumar nem mesmo para ir a um velório, ela também parece muito mais magra que o normal, de longe percebo que há um corte em sua testa com alguns pontos, além de um pulso enfaixado. Já estamos dentro do quarto quando ela se vira e me vê, fica pálida,