Meu estômago embrulhou imediatamente. Lucca apareceu, com um sorriso:- Se sente bem, Aimê?Assenti, incapaz de dizer uma palavra sequer, podendo vomitar se me arriscasse.- Mamãe disse que não se sentia bem. Está tudo pronto para partirmos de volta ao castelo. Vamos?Peguei a mão que ele me oferecia e saí sem sequer me despedir da duquesa, me sentindo destruída por dentro.Eu precisava odiar Catriel Levi Mallet, ainda mais do que já odiava. Ele só queria me destruir e eu nem conseguia saber o motivo.Voltei em silêncio o caminho de volta para o castelo. Assim que desci do carro, Max veio até mim:- Alteza, está tudo bem?- Que porra, por que todo mundo me pergunta o tempo inteiro se está tudo bem? – explodi – Será que eu não consigo viver em paz um minuto sequer?O deixei ali e entrei no castelo, subindo os degraus correndo até o meu quarto. Chegando lá, tirei o vestido, rasgando parte dele, sem paciência para retirá-lo com cuidado. E no banho deixei as lágrimas me devastarem. Era ho
- Foi... Exatamente do jeito que era para ser.- Acho que vou ficar marcada com esta tinta para o resto da vida.- Não ficará! – garantiu – É tinta à base d’água. Sai no banho.- A outra demorou para sair... Ardeu a pele para me livrar dela.- Como eu sei que atualmente uma monstrinha está no castelo, deixei uma tinta infantil ao alcance dela – sorriu – Já temia ser pintado.- Que bom... Que sabe o quanto é irritante e... Digno de receber tinta na cabeça... – sorri, tentando limpar o rosto.- Quanto mais mexer, mais espalhará... – ele brincou, passando o dedo no meu rosto, parecendo desenhar algo.- O que fez? – Arqueei a sobrancelha, curiosa.- Um “C” na sua bochecha.- C?- C de Catriel.- Está me marcando? – dei um passo para trás, furiosa – Acha que sou o quê?Ele apontou para meus seios:- Já está marcada, Alteza. É tarde demais.Fui até ele e desenhei o A em sua bochecha, vingando-me, enquanto ria divertidamente, já que Catriel não se defendeu.- Há mais algum lugar que queira m
- Sim, eu aposto que Sasha adoraria ajudá-la a esfregar-se. Mas por que ele não está aqui mesmo? – o rosto de Catriel aproximou-se do meu.Fechei os olhos, sentindo o coração saltitar dentro de mim e um frio na barriga percorrendo meu corpo por inteiro. Não tenho certeza, mas devo ter aberto a boca vagarosamente, a fim de receber sua língua. Mas não aconteceu.Eu deveria abrir os olhos, mas não o fiz. Sentia a respiração ofegante e a vergonha e humilhação me consumindo vorazmente. Por que aquele homem fazia aquilo comigo?Mordi o lábio e senti suas mãos massageando meu pescoço, incapaz de mexer as pálpebras.- Obrigado! – ouvi a voz dele, fraca.Abri os olhos, confusa:- Por... Quê?- Por fazer minha mãe sorrir.- Quem morreu, Catriel? – Questionei.Ele afastou-se, balançando a cabeça, aturdido:- Do que você está falando?- A pessoa que vocês perderam. Quem foi? Era... A mulher das fotos? Ela... Era sua namorada? Esposa? Vocês... Tiveram um bebê? Onde elas estão?- Não falaremos sobr
- Ele falou inclusive que vocês pensaram na possibilidade de um casamento de fachada.- Pensamos? – Estreitei os olhos, pensando na proposta que ele havia feito, talvez já pensando em casar comigo e ficar com várias outras mulheres ao mesmo tempo.Mas eu também tinha como plano há dias atrás casar e manter um relacionamento com Max. Por que agora eu já não pensava mais naquela possibilidade? Sequer passava pela minha cabeça casar com Lucca.- Ele disse que sim... – ela levantou os ombros, envergonhada.- Eu acabei de ver Lucca aos beijos com Carmela. – Levantei, indignada.Odette me olhou e esperei alguma reação dela. Mas não houve de imediato. Tudo que ficou no enorme quarto foi o silêncio constrangedor e parecendo inacabável.Depois de um tempo, Odette levantou-se e me encarou com seus olhos escuros e inquisidores:- Por que você é assim?- Assim... Como? – Fiquei confusa.- Egoísta... Acha que o mundo inteiro gira ao seu redor.- Confesso que não estou entendendo, Odette.- Quer tu
Assim que cheguei nos meus aposentos, completamente em choque com a atitude de Max, ouvi meu telefone tocando. Era meu pai:- Aimê, preciso que retorne imediatamente para Alpemburg. - O que houve, pai?- A denunciaram diretamente na Corte pelo atropelamento do sr. Durand e abriu-se um processo contra você. Precisamos trabalhar na sua defesa ou será presa. Já chamei os nossos advogados e contei o tempo que levará de País del Mar até Alpemburg. Preciso que esteja aqui em no máximo dez horas. - Mas... Preciso arrumar minhas coisas. E me despedir. É... Tarde da noite. - Eu não estaria ligando e exigindo seu retorno se não fosse extremamente necessário. Não estamos discutindo isso. Estou mandando, como seu pai e seu rei.- Estou indo... “Majestade”! – Encerrei a ligação.E pensar que há poucas horas atrás eu havia decidido que partiria porque a situação com Catriel estava insustentável. E agora que sabia que realmente precisava ir, por que meu coração doía tanto?Era minha casa, meu paí
- E... Quando não está fazendo chá?- Carrossel.- E quando não está no carrossel?- Play... – Mostrou o escorrega.- E... Se não estiver no play, no escorrega e nem no quarto.- Cat.- Cat? – Enruguei a testa.- Cat! – Sorriu, como se eu soubesse o que significava.- Quem é você?- Siena.Sim, óbvio! Claro que ela era a Siena e inclusive já tinha me dito antes. Eu amava crianças, principalmente porque uma delas me devolveu a vida: meu sobrinho, Arthur, filho de Alexia e Andy. Convivi muito com os filhos de Alexia e não sentia tanta saudade dela e do marido quanto deles.- Venha! – ela pegou minha mão, empolgada, me levando para uma escada estreita.Olhei para cima e percebi que a escada dava numa cama e para descer só através do escorrega em espiral.- Você dorme aí? – Questionei.- Sim. – Ela sorriu, confirmando.- Por que mesmo eu nunca tive um quarto assim? Vou perguntar para o meu pai quando chegar em casa.- Aonde você mora?- Alpemburg. E você?- No castelo! – Gargalhou.- Você
- Ela fala sim. – Olhei para a menina – Como eu saberia que o nome dela é Siena?Catriel riu e apontou para uma parede. Eu não havia percebido, mas o nome dela estava pintado, de várias formas diferentes, com cores vibrantes e flores. Ao lado, ela bebê, que reconheci pelos olhinhos puxados. E a mulher, com a barriga crescida, certamente sua mãe.Eu poderia dizer mil coisas, mas a arte na parede era tão incrível que fiquei sem palavras. Como queria poder tocar cada pincelada e um dia poder ter dele tudo que dava a qualquer outra pessoa, menos a mim.Quando me voltei novamente para eles, Siena já estava mais calma. O jeito que Catriel a olhava era simplesmente inexplicável. Havia todo o amor do mundo dentro daquela forma como ele contemplava a filha.A menina desceu do colo do pai e saiu. Juro que queria acompanhar para onde ela ia, mas meus olhos só conseguiam ficar estagnados naquele azul profundo que era a sua íris.Abri a boca para tentar me defender, incerta se valia a pena. Flagre
- Eu... Conheci Siena. – Falei, sem jeito – Mas juro que não fui me intrometer. Ela que me chamou.O rei Colton ficou um tempo me analisando antes de dizer:- Por favor, eu imploro, não fale a ninguém que viu a menina aqui.- Majestade... Ela... Foi sequestrada por vocês?Ele riu e balançou a cabeça, em negativa:- Jamais sequestraríamos uma criança, querida! Ela é minha neta.Respirei fundo e deixei o ar sair devagar pelas minhas narinas, enfim confirmando que Siena era filha de Catriel.- Não tenho nada a ver com a vida pessoal de vocês, Majestade. Não se preocupe. Siena é encantadora. E... Gostei muito de conversar com ela. – Arrisquei.- Conversar com ela? – ele ficou sério – Siena não fala.Engoli em seco e olhei em seus olhos:- Siena fala, Majestade.- Não, querida. Ela emite alguns sons. Mas talvez nunca mais volte a falar.- Então... Um dia ela falou com vocês?- Sim. Depois do trauma, parou de falar.- Que trauma?- Querida Aimê... É um assunto de família. Sinto muito...- A