— Engraçado Victória. — Disse Áurea sem olhar para as meninas que soltaram mais risinhos irritantes.
— Vim só dar um recadinho. — Liz e Mirela seguraram os risos com a mão e Victória continuou. — Fique longe dele, já tem dona e — Seus olhos pousaram nos cabelos da garota. — você não ficaria contente se essa coisa que você chama de cabelo ficasse... como posso dizer... grudados.
As meninas explodiram em risadinhas e Afonso, que se encontrava atrás de Heitor, riu exageradamente alto. Heitor não conseguia suportar, aquelas garotas eram repugnantes e o fato de Afonso gostar daquilo...
— Então, estamos entendidas? — Victória disse, agora com um sorriso maléfico.
Áurea não respondeu, ainda tentava guardar o livro na mochila, mas a vergonha e a raiva pareciam lhe ter roubado suas capacidades mo
O parque ficava literalmente de frente à biblioteca e hoje estava cheio de pessoas. Muitos do colégio; Heitor conseguiu reconhecer Liz e Mirela que estavam, pela primeira vez, sem Victória Romênia e davam risinhos para um garoto loiro que Heitor lembrava ser um ano mais velho. Reconheceu também Angelina, uma menina de cabelos escuros e olhos castanho-claros muito bonita. A garota deu um sorrisinho para ele quando o viu. E, mais à frente, Áurea sentada em um banquinho ao lado de Icaro que ria feito uma criança que acabara de receber um aviãozinho de brinquedo, ou como Heitor, quando ganhava doces.Um calor subiu pelas pernas de Heitor, Icaro era o tipo de garoto que babava por Victória e Heitor sabia que, se menina estivesse ali, era muito provável que Icaro se juntasse à ela para zombar de Áurea.Sem pensar Heitor seguiu em direção aos dois, os olhos fixos em Icaro e
Finalmente dia vinte de fevereiro chegou. Heitor acordou como se tivesse dormido em cima de pedregulhos. Fora a pior noite desde que mudara-se. O nervosismo surgiu como um baque assim que debruçou-se para ficar sentado em sua cama. Olhou para a janelinha redonda de seu quarto e percebeu que o dia estava nublado, não duvidaria se dali à alguns minutos caísse uma tempestade. A sua jaqueta se encontrava pousada em cima da cômoda que ficava ao lado da janelinha e Heitor correu em sua direção. Levantou tão rápido que bateu os calcanhares no piso de madeira, fazendo um ruído seguido de um berro: — Heitor, se levantou agora?! — Sim, mãe. — Respondeu o garoto, enquanto revirava os bolsos da jaqueta. — Aqui! Guardou, então, o envelope na última gaveta da cômoda e jogou algumas meias por cima. — Vem tomar o seu café, querido. Preciso de sua ajuda hoje! — Estou indo. O garoto vestiu uma camiseta branca, um suéter azul-ciano e sua velha bo
Os dois levantara-se e rumaram ao colégio; a menina sorridente, mas um pouco tímida. E Heitor completamente congelado de pavor, tinha o máximo cuidado para não dizer nada que a ofendesse e a fizesse voltar a ignorá-lo. Caminhavam razoavelmente devagar, a garota abraçava a bolsa de lado em frente a cintura com as duas mãos, como se a abraçasse. Os olhos sempre fixos à frente. A poucos minutos do colégio os dois ouviram um barulho muito alto às suas costas, um carro cortava a estrada jorrando torrentes de fumaça pelos ares. Um carro verde-musgo, muito bonito e, provavelmente, muito caro. O veículo parou com uma freada brusca e um garoto desceu, seus cabelos pretos feito nanquim e olhos verde-água pareceram acentuados pelo forte sol. Afonso se aproximava sorrindo e o carro sumia às suas costas. Áurea parecia tão vermelha quanto um vinho tinto, a menina fitou rapidamente Heitor e disse que precisava se apressar, pois tinha que fazer alguma coisa antes da aula. Sumi
A professora passou alguns exercícios a respeito do purianismo e Heitor não teve muita dificuldade em respondê-los. Nesses últimos dias lera bastante sobre Turca e suas ideologias extremamente nacionalistas e em menos de meia hora terminou o seu trabalho e passou o resto da aula observando as costas de Áurea, seus cabelos curtos eram ainda mais bonitos vistos deste ângulo. Esperou, então, o fim da aula, guardou o material e acompanhou Áurea, com os olhares, sair da sala. Pulou sobre a perna esticada de Afonso; que agora conversava com Icaro sobre o jogo de ontem e seguiu para o corredor. A menina subia mais um lance de escadas e Heitor seguiu-a. Chegou ao quarto andar, onde nunca antes viera, o corredor parecia completamente vazio, exceto por uma menina que caminhava para o banheiro femino. — Áurea! — Berrou o garoto, caminhando em sua direção. A garota parou e fitou-o intrigada, mais de uma vez tentou abrir a boca, mas som algum saía. Finalmente conseguiu falar, e c
Heitor estava brincando com o talher quando uma senhora ossuda subiu ao palco. Os alunos viraram-se e a música reduziu-se.— Senhoras e senhores. Alunos e não alunos — Rosalina sorriu, pareceu radiante. — Quero pedir a atenção dos senhores por breves minutos para ouvir o professor Normando Mucenieks. Professor?O rapaz subiu com um sorriso maior que o de Rosalina, enquanto andava olhava graciosamente par os estudantes que o observavam curiosos.“Já ouvi falar que esse professor é muito bom”, ouviu Heitor, de uma voz vinda do amontoado de alunos em pé.— Boa noite à todos! — Os alunos responderam com um “boa” murcho e o professor continuou. — Como professor de história, tenho a obrigação de erguer o brinde e lembrar-vos do motivo desta celebração...O velho virou-se para um pequeno banquinho ao se lad
O garoto trabalhou um pouco mais que as outras vezes; tirou o pó do balcão e de todas as prateleiras, encheu-as de doces e pães e varreu o chão, limpou as vitrines e por fim organizou todo o estoque. Antonella logo surgiu atrás do balcão, com uma cesta forrada por um pano branco. — Aqui, querido. Leve-a para Héctor. — Disse a moça, sorrindo timidamente e Heitor consentiu. Seguiu para a rua e pôs-se a caminhar. O frio parecia queimar seu rosto, a rua estava mais vazia que durante a ida à padaria. Até as árvores pareciam imóveis, talvez pelos galhos e pelas folhas congeladas. Mas não nevava mais, o céu parecia limpo e por vezes o garoto pôde ver aves cortando os ares. Chegou, então, na velha biblioteca. Estava com o mesmo aspecto de abandono. Qualquer um que passasse em frente diria que ela se encontrava fechada há anos e, dessa vez, até o parque em frente estava vazio. Heitor abriu a porta e o barulho metálico que anunciava a entrada de alguém soou pelo silenc
Finalmente o dia vinte e nove de março chegou. A neve começou a dar uma trégua e de manhã já se podia enxergar o verde da grama e das copas das árvores pontudas — marca registrada de Romana. — Heitor e já estava a caminho da padaria, o cocheiro era um velho carrancudo, o mesmo que o trouxera da rodoviária quando chegaram a São Havier. Sua mãe já estava na padaria, precisara ir mais cedo por algum motivo que preferiu não contar ao garoto. O frio já não era tão insuportável quanto os dias anteriores e a carruagem parecia dançar sobre o chão de pedras. O cocheiro finalmente ergueu uma das mãos com as rédeas e os cavalos, depois de um relinchado alto, puseram-se a comer o pouco capim que o velho lhe dera. — Quinhentas pratas, garoto. — Disse, erguendo a mão enrugada. — Obrigado! O velho voltou a chacoalhar as rédeas e logo a carruagem, junto dos trotes, sumia no fim do quarteirão. Heitor ajeitou a mochila às costas e entrou na padaria. Por algum motivo já e
Alguns minutos depois estavam todos sentados nas rochas, na margem e ao lado do píer. Haviam feito uma fogueira onde todos procuravam se aquecer. Liz e Victória e Mirela ainda bebiam o conhaque e já estavam meio fora de si. A líder do bando levantou-se, então, tão de repente quanto o farol, que surpreendeu Heitor ao lança-lo um feixe de luz, ofuscando o rosto embriagado da menina.— Vamos jogar alguma coisa? — Disse Victória, aos soluços.Afonso deu um gigantesco sorriso e completou:— Eu nunca!Heitor erguer as sobrancelhas. “E nunca?” Que diabos é isso? O amigo pareceu notar sua ignorância e continuou:— Eu nunca... beijei uma garota na praia...Victória sorriu e puxou a garrafa para a boca, bebeu e passou para as amigas que fizeram o mesmo.— Você já? — Questionou Liz, olhando furiosa para