Donna
Jess me apressava, enquanto observava seu reflexo no espelho, com os olhos arregalados tentando passar a terceira mão de rímel em suas pálpebras.— Não acha que vai ficar muito exagerado? Assim está ótimo, Jess. — Ela revirou os olhos e piscou duas vezes.— Eu gosto de ser exagerada, agora vai terminar de se vestir, já que estamos atrasadas.Estávamos nos arrumando para umas festas, por mim eu ficaria em casa mesmo, mas Jess insistiu e segundo ela, vai ser muito bacana. Matthew é nosso amigo, mas sua ousadia e liberdade fazem dele um homem sem caráter, por isso o evito quando posso.— Vou chamar um táxi, enquanto isso, vê se desce logo. — Avisei descendo as escadas, indo até a sala, onde era um lugar silencioso.Enquanto o táxi não chegava, aproveitei para olhar os arredores do jardim. Dessa vez demos sorte, Jess e eu dividimos nossas despesas, assim não pesa muito para nenhuma das duas. Levamos essa vida há dois anos, há até quem diga que somos namoradas. Como sempre, ela estava com mais um daqueles seus vestidos com um decote enorme nos seios, bonito porém, muito extravagante.— Tinha mesmo necessidade de tudo isso? — Perguntei e ela sorriu. Sei que não devo me meter em sua vida, mas quando está bêbada sai com qualquer um e depois, a única opção é ficar se lamentando para mim. — Você é linda, Jess. Mas hoje eu não vou cuidar de você, por favor!— Você é chata, em? — Meia chateada ela foi trocar de roupa, voltou com um vestido menos decotado, assim era melhor pra ela, ódio aqueles caras que parecem que vai arrancar um pedaço de tanto olhar.— Fiquei sabendo do que rolou no seu trabalho, sempre soube que Roger era um completo imbecil. Você já procurou um advogado? — O ex-patrão de Jess é um mau caráter, queria se aproveitar delas em troca de cargos e dinheiro. Mas, ele agora foi longe demais, o pior quase aconteceu se não fosse Matthew chegando na sala dele.— Meu pai já está sabendo, o advogado dele já está cuidando de tudo, em breve o desgravado estará pagando por isso.— Assim fico mais aliviada. — Toquei em sua mão, demonstrando que estaria com ela em todos os momentos.Estávamos juntas em quase tudo, mas, Jess é rica e trabalha em uma joalheria Granfina, coisa de gente que tem muita grana. Embora seja rica a beça, ela se dá a oportunidade de viver intensamente, aproveitando o máximo da vida.— Quando eu me casar, quero que você seja minha madrinha. Quero que seja madrinha dos meus filhos também. — Seu jeito espontâneo era algo que eu mais admirava nela.— É claro que eu vou ser tudo isso e mais um pouco. — Ela era uma luz na minha vida, está ao meu lado desse que perdi meus pais biológicos em um terrível acidente quando ainda era adolescente, desde então, conformei com meus pais adotivos, mesmo não tendo reparo a dor que habita em mim.De longe dava para ver a boate, cheia de luzes piscantes na frente, sem contra do letreir enorme em cores vibrantes neon. Jess desceu animada do táxi, paguei o senhor e fomos para a fila.— Somos VIPs, queria. — Sorrindo, ela tocou em meus ombros com as pontas dos dedos e me fez dar a volta. — Não teria graça de esperar para entrar. — Essa é uma das vantagens de ser conhecida. — Donna Mitchell e Jess Garbo.Observava todos os lugares, a maioria das coisas ali eram de ouro e prata, era tudo puro luxo. Jess logo avistou alguns amigos e foi correndo abraçá-los, enquanto eu fui tentando me encaixar ali…— Oi, Donna… você tá uma gata, fico feliz que tenha decidido vir com a Jess. Posso te dar um abraço? — Matthew estava com um sorriso estampado em seu rosto, era nítido o quão feliz ele estava por ter conseguido se formar.— Claro! — O puxei para um abraço, quando vi pelas suas costas um homem nos olhando. — Estou muito feliz que tenha conseguido, que não tenha desistido. Você vai ser um ótimo médico, eu tenho certeza. — Disse ainda abraçada ao seu corpo.Nos afastamos e ele contou sobre algumas coisas quais já havia realizados, mas aquele olhar fixo em mim, estava me deixando incomodada e sem jeito. Matthew é como Jess, vai pelo calor do momento e não pensou duas vezes quando me puxou para perto do homem, a quem estava prestes a se apresentar quando Jess apareceu ao meu lado.— Você é aquele amigo Russo, não é? Matthew sempre falou muito bem sobre você. — Jess perguntou, deixando todos sem jeito.— O próprio. Tenho o prazer de estar aqui hoje, é um grande dia. — Sua voz estridente e forte me deixaram com uma sensação estranha, ele parece seduzir só no falar.Não havia lugar para mim ali, estavam todos falando sobre o mesmo assunto, no eu mal participava e nem sei porquê vim. Mas já que estava aqui, iria ao menos passar pelo menos uma hora, assim não vai parecer que eu nem queria estar aqui. Peguei uma taça de champanhe e sentei distante, saindo da área VIP por alguns minutos.MikhailHoje é um dia feliz para mim também, jamais pensei que meu melhor amigo fosse se formar em medicina e hoje está comentando esse grande dia. Em casa deixei problemas para serem resolvidos depois, Andressa merece pensar um pouco na besteira que fez…Conversava com Jess, uma mulher atraente e bonita, mas notei a ausência de sua amiga alguns minutos depois que nos vimos. O ar estava quente, precisava me refrescar um pouco, a noite vai ser longa e não quero ter problemas ao decorrer da noite.— Um on the rocks duplo, por favor! — Rapidamente a moça já estava me servindo o copo, quando percebi que a moça também estava ali e, parecia sem rumo na vida. — A solidão pode ser cruel em certos momentos, parece que não está feliz. — Supus, vendo ela sorrir sem graça ao perceber que era eu que estava falando perto do seu ouvido.— Solidão é uma palavra muito sorte, eu prefiro chamar isso de paz. — Sua voz era suave, doce e calma, embora ela parecesse estar um pouco movida pelo álcool, não aparentava estar bêbada.— Ao conhecer pessoas como você, me pergunto o que vocês pensam sobre o Matthew. — Era uma comemoração, uma despedida dele, seria estranho tentar se aproximar de alguém que eu achei interessante somente por uma noite? Dane-se, essa mulher estava me tirando a concentração e eu queria saber mais sobre ela. Ela é tão… desafiadora e parece ser tão meiga e vazia, tudo ao mesmo tempo.— Não somos amigoo, bom… não somos íntimos. Sempre achei Matthew um babaca, só vim por causa da Jess e porque ele insistiu para que eu viesse. E você, o que te fez sair da Rússia? Você mora lá mesmo? — Ela virou-se, ficando de frente para mim e me encarando no momento seguinte. — Você tem um inglês ótimo, sabia?— Levei anos para adquirir esse sotaque… Matthew quem me incentivou a aprender quando eu morei aqui por alguns anos, mas tive que voltar e assumir os negócios da família. — Respondi com sarcasmo, pois essa não era minha vetadeeira vontade. — Ele é uma boa pessoa, só é um pouco desregulado vez ou outra, mas é uma boa pessoa.Ela era interessante… falou sobre ela, que morava com Jess, mas pretendia mudar para outra cidade quando terminasse a faculdade. Ela tinha planos, sonhos e parecia ter força de vontade também. Notando o seu jeito de falar e expressões, ela me lembrava um pouco a Andressa de antes, antes dela se tornar a mulher fria e egoísta que é hoje em dia.— Você quer dançar? Essa música parece boa e eu tô afim de perder a linha hoje. — Sua mão tocou a minha e me puxou para a pista de dança no momento seguinte, onde eu me vi complementarmente perdido naquele olhar tão cheio de brilho e algo mais que eu não consegui decifrar.Eu tinha um dom que não conhecia, a dança. Meus pés deslizavam no chão luminoso, deixando á mostra tudo que eu sabia naquele momento, enquanto todos ali me cercaram, batendo palma e acompanhando a música cantarolando alto. Jess logo se juntou a mim, depois Matthew e logo em seguida todos estavam envolvidos com o ritmo da música. A moça que me acompanhava com os olhos, parecia querer algo mais alem de apenas dança e eu me deixei levar, quando percebi estávamos nos beijando sem medo nem segredos.Donna Não sabia explicar o que estava me deixando desse jeito. Aquele homem que eu faço ideia de como ele se chama, mas ele é atraente até mesmo sem perceber. Ele estava no balcão, pegando uma bebida para nós dois quando Jess tocou meu ombro. — Se importa se eu der uma saidinha rápida? Prometo que vai ser coisa rápida. — Seu jeito pidão não me fazia capaz de dizer não. — Tá… mas vê se não demora muito. — Ela me agarrou e me beijou no rosto, puxando Matthew pela mão logo em seguida. O bonitão voltou com dois drinks e cantadas baratas, mas foi assim que ele conseguiu me fazer a mulher mais sortuda do mundo naquele momento. E se Jess tivesse razão? E se eu estiver mesmo me privando de aproveitar. A única coisa que me importa agora é saber se ele é casado ou não. Bebi quase todo o líquido, o doce embebedava rápido e eu já estava ficando alegre demais, precisava de coragem para fazer isso… — Então, sua namorada não se importa de você estar aqui hoje? — Na hora do nervosismo, eu só qu
Três anos depois… Mikhail A desordem na empresa estava me deixando confuso. Reclamações, negócios e um novo projeto que estava por vir, tudo isso estava me deixando desorganizado e perdido. Minha secretária já havia organizado toda minha sala, não sei o que seria de mim sem Ella. — Senhor Kurtz, o senhor tem uma reunião daqui há… — me esqueci completamente da reunião, faltavam apenas dois minutos e eu já deveria estar lá. — Obrigada, Ella. Não sei o que seria de mim sem você. Desmarque todas as outras. — pedir antes de sair correndo para a sala de reuniões, onde já estavam todos os outros reunidos. Há alguns meses venho constatando que está tendo um grande desvio de verbas, as quais eu não tenho conhecimento e não posso colocar nada a perder nem mandar ninguém embora, não agora! Sophia estava sentada na cadeira da ponta, com seu decote enorme, expondo seus seios fartos para todos que estavam ali, mas especificamente para mim. — Estamos em busca de melhoras. Tivemos uma reunião s
Mikhail Cristina era indecisa e fútil, embora eu gostei muito dela, não chega a ser amor. Nada mais é que questão de interesses, ela gosta de dinheiro e eu preciso de alguém ao meu lado para manter melhor as aparências dos meus negócios. — O que acha desse? Essa abertura lateral vai dar um charme, me deixando mais sensual e sexy. — O vestido que ela segurava era extremamente depravado e ela gosta disso, embora eu odiasse e me negasse a acompanhá-la nesses trajes. — Acho que não precisa se mostrar tanto, sabemos que você tem belas pernas, mas não é para tanto. — Olhei firme para ela que devolveu o vestido brava, indo até um mais depravado ainda. Meu celular estava tocando, era Carmem e eu não poderia rejeitar a chamada dela. Peguei um blazer qualquer e fui até o provador, Cristina era também invasiva e sem educação as vezes. “Boas notícias?” Carmem sorriu do outro lado, indicando que sim. “Ótimas! Finalmente conseguimos alguns para ocupar o cargo de administração. Ela tem ótimas
Donna Foi uma despedida difícil, mas necessária. Jess estava aos prantos quando entrei no avião com Dominic, meu coração também estava partido e por sorte, meu filho estava dormindo. Jess é sua madrinha e os dois são inseparáveis, não quero nem pensar em como vai ser difícil quando ele a procurar e não a encontrar por lá. (...)Depois de 15 horas de vôo, finalmente chegamos e já havia uma moça no aeroporto nos esperando, com uma plaquinha escrito “Donna”. — Boa noite, sou eu! — Disse me aproximando da moça que me comprimentou. Ela é japonesa, nada de sorrisos ou recepções demais. Apenas me deu boas vindas, apresentou-se como Ella e me levou até o táxi. — A senhorita hoje irá dormir em um hotel com seu filho, mas sua casa estará pronta amanhã. Já providenciamos tudo para o seu filho, escola, babá e tudo que ele precisará para viver aqui, assim como a senhorita. — Eu só posso estar sonhando, nem mesmo quando trabalhava em Nova York consegui pagar uma babá, diversas vezes tive que s
Mikhail Aí chegar em casa, me deparei com os quadros quebrados, algumas peças de roupas rasgadas e jogadas no chão e minha noiva bêbada no sofá. — Pode me dizer que merda está acontecendo, Cristina? — Gritei descontrolado, já não estava mais suportando seus ataques de raiva sem motivos. — Acontece que eu estou cansada, Mikhail. Você sempre me trata como segunda opção, estou farta de servir a você somente como um brinquedo. Estou farta de tudo isso. Será que quando a gente casar, vai continuar sendo assim? — Não quero ter essa conversa agora. Estou cansado e preciso descansar, tive um dia longo e não estou afim de conversar com você sobre isso agora. — Ela arremessou uma garrafa de uísque em minha direção que só não me acertou porque eu me abaixei rápido. — Controle-se mulher. Estou de saco cheio de você. Além de ser uma pessoa fútil, você também desequilibrada e um grande pé no saco. Pode até ser bonitinha, mas eu preciso de algo que vá além disso, preciso de uma mulher responsáv
Mikhail — Bom dia, meu amor. Me desculpa por ontem? Eu não sei o que aconteceu comigo, me descontrolei completamente, me deixei levar pela fúria e cabeça cheia. — Cristina me acordou aos beijos, droga, eu não deveria ter pego no sono desse jeito. — Eu… depois a gente conversa, Cristina. Tenho que ir para empresa agora. — Incrédula ela ficou, sem acreditar no que eu estava fazendo, sempre cedendo aos seus desejos e isso estava me deixando exausto. Não posso deixar a senhorita Hardin ir embora, não agora que a última administradora se demitiu. — Que tal sair com as duas amigas? Ou visitar sua mãe?Entrei no banheiro e fechei a porta, impedindo que ela pudesse ter acesso. Tomei um banho rápido e fui direto para Cyndi. Estava adentrando minha sala, quando esbarrei com uma mulher ao lado de Ella. Sua bolsa caiu no chão, ela se abaixou para pegar e se desculpou por aqui, mesmo sabendo que o culpado foi eu. — Onde você estava? Nos deixou quase uma hora esperando. — Ella me subjugou com o
Donna Dominic estava com febre alta, não sei onde fica o hospital e tive que apelar para Ella, não pensei duas vezes e liguei. “Me perdoe o horário, mas é que meu filho está com muita febre e eu não posso deixá-lo aqui. Preciso levá-lo ao hospital, pode me ajudar?” Era quase duas horas da manhã e eu estava aqui, apelando para uma desconhecida. “Por que não me ligou antes? Posso ir pegar vocês aí?” Às vezes penso que Ella é um anjo em forma de Jess. “Meu Deus, eu nem sei como te agradecer por isso.” Eu tenho um carro, poderia colocar no GPS e seguir em frente, mas não sou tão boa assim e tenho medo de não conseguir chegar a tempo ou pegar o caminho mais distante. Ella chegou rápido e entrou depressa.— Me desculpa por ter te interrompido, eu estava sem saber a quem apelar. — Disse ouvindo seu riso enquanto ela abria a porta para sairmos. Dafne estava em sua casa, por isso não tive com quem contar quando percebi que Dominic estava ficando mal. — Eu já te disse que já me afeiçoei
Dois meses depois… Donna As coisas estavam indo bem. A cada dia me encontro em uma nova eu. Dominic se adotou bem, adora a escola e a Dafne. Meus dias tem sido bastante corrido, mas hoje fui convidada para jantar na casa de Ella com Dom, não pude recusar ou ela me batia. Há boatos que Mikhail e sua noiva se separaram, mas reataram porque ela estava grávida, sinceramente eu prefiro manter meu filho como sempre foi, mas é tão difícil ter que mentir. Dominic havia acabado de chegar da escola e Dafne estava com boas novidades. — Boa tarde, senhora Hardin. — Sem essa de senhora, por favor. Não sou tão velha nem santa. — Dafne era uma pessoa maravilhosa, que qualquer pessoa teria uma baita sorte se tivesse uma Dafne, uma Jess ou uma Ella, são as melhores pessoas que eu já conheci na minha vida. — Ok, Donna! Eu e o Dominic fomos convidados para jantar na casa do meu namorado hoje, mas se precisar de mim eu fico aqui, sem problemas. — O namorado dela trabalha na Cyndi também, um sujeit