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Capítulo VIII

A esfera de fogo se expandiu no quarto e enviou fagulhas para os lençóis, o chão e mesinha de cabeceira. Rapidamente, elas foram crescendo, consumindo a mobília.

Eleanore soltou um grito de pânico. Ela olhou ao redor, buscando por algo que pudesse ajudar.

Foi então, que todas as chamas convergiram para o mesmo ponto, como se fossem sugadas pelo vento, espiralando-se no meio do quarto, diminuindo cada vez mais, até se tornarem um pequeno ponto luminoso. O fogo deslizou pelo ar, transformando-se em um pássaro, pousando na mesa.

 – Eleanore? O que houve aqui? – era a voz de Amber.

 – Amber?! – Eleanore finalmente conseguiu respirar direito, quando não havia mais uma esfera de chamas crescente prestes a engolir o quarto todo e queima-la viva. – Você fez isso?

 – Não. Senti uma perturbação na casa e a localizei aqui. Eu posso controlar qualquer fogo presente no castelo, então eu diminuí as chamas. Mas o que aconteceu?

Eleanore engoliu em seco, olhando para o livro de feitiços que estava ao lado de Amber. A pequena cabeça de pássaro dela se voltou para onde Eleanore olhava e, mesmo que fosse difícil dizer, já que era feita de fogo, ela pareceu espantada.

 – Você fez um feitiço?

 – E-eu... não foi minha intenção... N-não achei que fosse possível. Foi sem querer, eu juro – Ela estremeceu devido as velhas lembranças que tinha do que acontecia quando aborrecia alguma pessoa e as consequências disso.

 – Tudo bem, Eleanore. – Amber disse gentilmente – É bom não fazer isso de novo. Magia sem controle pode ser muito perigosa.

Eleanore balançou a cabeça firmemente. Ela não pretendia fazer novamente mesmo que Amber não a avisasse. Magia era perigosa demais e quase a matou. Ainda assim, ela sentia como se uma pequena fagulha tivesse se acendido em seu âmago, uma espécie de brasa, que poderia se transformar em um incêndio infernal.

 – Boa noite, Eleanore – Por fim, Amber saiu voando pela janela aberta, levando a luz consigo, banhando o quarto em escuridão.

Vincent estava andando inquieto de um lado para o outro na sala social, uma das mãos apoiadas em seu queixo, a expressão fechada como um tempo nublado. Quase era possível ver as engrenagens de seu cérebro funcionando, enquanto era envolvido por milhares de pensamentos turbulentos.

Sebastian estava jogado no sofá, na forma humana, mordendo suas unhas. June estava em uma poltrona, sentada empertigada, como se fosse levar uma bronca. Amber crepitava na lareira, que costumava ficar sempre acesa. Sam flutuava próximo a June, de pernas e braços cruzados. Dimitri, o corvo, estava empoleirado no encosto do sofá, grasnando em intervalos aleatórios.

 – Então, essa garota chegou há três dias. – declarou Vincent, depois de minutos inteiros de silêncio.

 – Sim, estava chovendo muito na noite que ela chegou. Encontramos ela de manhã caída na entrada, toda suja de lama e com a perna ferida. – June explicou – Nós achamos melhor não deixá-la ali, então trouxemos ela pra dentro. Eu a lavei e curei a perna dela. Ela dormiu por dois dias inteiros, sem acordar. Achávamos que ela ia morrer, mas, bem, não morreu.

 – Ela me disse que o pai dela é cruel e a forçou a ter um casamento arranjado. Falou que ele a vendeu para ganhar dinheiro, porque está falido. – Amber acrescentou, sua voz ecoando pela lareira – Por isso ela fugiu e acabou encontrando o castelo.

 – Ela disse como conseguiu entrar? – Vincent questionou sem olhar para ninguém especificamente.

 – Falou que simplesmente abriu a porta – June deu de ombros, irritada.

 – Isso não é possível. – declarou Vincent olhando para ela.

 – Vai ver você não é um feiticeiro tão poderoso quanto pensa que é, já que foi vencido por uma garotinha indefesa. – Bash abriu um sorriso cheio de dentes. – Isso fere seu ego incomensurável?

Vincent dirigiu um olhar glacial para Bash que não pareceu captar o aviso silencioso.

 – Talvez a proteção tenha enfraquecido – sugeriu June timidamente.

 – Não. Passei a noite verificando e corrigindo a magia, mas não havia nenhum erro. – Um vinco profundo se formou na testa de Vincent, que apertou com mais força o polegar e o indicador contra seu queixo.

 – Houve algo ontem – Amber falou repentinamente – No quarto de Eleanore.

 – Ah, sim – Vince descartou o assunto como se não fosse nada. – O incidente com o fogo. Sabe, Amber, não pensei que você fosse do tipo que ficava assustando as pessoas assim. Eleanore já me pareceu uma garota assustada sem nenhum incentivo.

A chama da lareira tremulou, de uma forma que todos no castelo já haviam aprendido a identificar como um desconforto de Amber.

 – Na verdade, não fui eu. Eleanore criou uma bola de fogo enorme no quarto dela, tive que controlar. Aparentemente, ela reproduziu um feitiço que viu em um livro.

Todos fixaram sua atenção na lareira naquele instante.

 – Ela fez magia? – questionou Bash, perplexo.

 – Mas ela não é... – June olhou para Vincent, buscando algum tipo de resposta.

 – Com certeza não é feiticeira. Eu a vi ontem e Eleanore é completamente... comum, ao menos visualmente falando. Está mais do que óbvio que tem alguma coisa diferente nela. – Vince inspirou e expirou profundamente – Ela é filha de Albert VonBerge, aquele patife que tem uma fazenda na montanha.

Uma quietude mutua se instalou naquela sala, juntamente com o vento frio que soprava para dentro do castelo.

 – Não é ele que tem negócios com Maximus Lennox? – Sebastian franziu o nariz.

 – O próprio. – Vincent respondeu.

 – Será que vendeu a filha para pagar dívidas com Lennox? – Amber questionou indignada.

 – Isso é bastante possível. – Vincent esfregou a mão em sua testa, pensando sobre o assunto. – Mas por que Lennox estaria interessado em Eleanore?

 – Ela é uma moça bonita – Bash comentou.

Vincent fez um gesto com a mão como se descartasse a hipótese.

 – Duvido que esse seja o caso. Primeiro, ela entra no castelo mesmo com a proteção mágica. Segundo, ela pode ter uma ligação com Maximus Lennox, mesmo que não saiba. Isso não pode ser coincidência, tem alguma coisa excepcional nessa tal de Eleanore.

June bufou, mas não disse nada.

Sem dizer qualquer outra coisa, Vincent marchou em direção a escadaria.

 – Vince, onde você vai? – June inquiriu.

 – Falar com Eleanore.

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