O feiticeiro lançou um sorriso cínico para Albert, mostrando os dentes, como um predador.
– Que bom que já me conhece, assim as apresentações são dispensáveis. Não vai me convidar para entrar, Albert, onde estão seus modos?
– Veio devolver minha filha? – Albert questionou, sério, olhando para Eleanore atrás de Vincent. Ela desviou o olhar, incapaz de encarar seu próprio pai.
– Ela não é uma coisa para que eu devolva, mas é óbvio que você só a vê assim. – Vincent deu um largo passo à frente, fazendo Edelina ser obrigada a recuar, dando-lhe espaço. Ficou cara a cara com Albert, mesmo que fosse mais baixo, Vincent era infinitamente mais ameaçador. – Eis o que vai acontecer agora, Albert, Eleanore vai buscar suas coisas e nós dois vamos conversar.
Um
Albert trincou os dentes, impotente, e arrastou os pés em direção a sala sob o atento olhar do feiticeiro.O local possuía três sofás e duas poltronas dispostas de uma forma a ficarem de frente umas para as outras. Havia estantes com livros, intercaladas entre janelas verticais e uma mesinha de centro, onde ficava um delicado vasinho de crisântemo vermelhos.Um enorme quadro na parede de moldura dourada chamou a atenção do feiticeiro. Era uma pintura de uma mulher usando um elegante vestido azul marinho, o longo cabelo ruivo caia sobre um dos ombros em cachos espessos. Vincent só percebeu que não era Eleanore, porque aquela mulher tinha apenas sardas discretas no nariz e os olhos eram castanhos, ao invés de azuis. Não precisava nem perguntar para saber que era a mãe dela.Ele cruzou a sala e se sentou em uma das poltronas, cruzando as pernas, como se estivesse em um t
Vincent encarou Albert, que parecia espantado com a atitude de sua filha e com o último olhar que Eleanore o lançou.– É melhor não procurar por Eleanore e, se for uma pessoa esperta, vai fugir daqui para não ter que enfrentar a fúria de Lennox. – O feiticeiro andou em direção a saída, mas parou na entrada da sala, olhando novamente para aquele homem deprimente, mas não sentiu pena alguma.Vincent se virou para sair daquele lugar, não aguentava mais estar na presença daquele homem abominável, mas antes que pudesse Albert falou:– Eu jamais poderia ama-la! Eu só amei uma pessoa na minha vida, Verena – O homem olhou para o quadro pregado à parede e Vincent seguiu seu olhar, olhando para o rosto sereno daquela mulher. Percebeu que Albert só falava por ainda estar sobre o efeito da poção, que inspirava sinc
Quando Eleanore acordou já era noite, havia uma nova lamparina em sua mesinha de cabeceira, o fogo tremulando, movendo as sombras a cada segundo.Sua cama não estava mais queimada, nem o chão ou a madeira da mesinha. Ela podia supor que Vincent havia concertado tudo com magia.Ela sentia seus olhos pesados e inchados de tanto ter chorado na floresta, nos braços de Vincent. Não se lembrava de muito depois disso, ficou sonolenta de repente, sequer tinha memória de como voltou para o castelo. Sentia-se ligeiramente mais leve, depois de ter derramado tantas lágrimas, quase como se tivesse lavado a tristeza acumulada em seu corpo, ao menos uma parte dela, sabia que não era capaz de esquecer tudo assim tão facilmente.Antes que pudesse ter fugido da casa de seu pai, escutou-o dizendo que era incapaz de ama-la por se parecer com Verena, sua mãe. Aquilo tinha partido seu coração, de uma
Eleanore se recostou contra a cadeira, olhando fixamente para as próprias mãos em seu colo. Ela franziu o cenho, sem entender o que exatamente Vincent poderia querer dela.– Eu não entendo.– Pense a respeito, Ellie. – Vincent se levantou da cadeira, dando a volta na mesa, em direção a garota, que ergueu o rosto para encara-lo. – Me dê uma resposta amanhã.– Por que você precisa disso? – Eleanore perguntou.– Todos que moram aqui me ofereceram algo e eu preciso disso para te manter aqui, é uma condição.Eleanore assentiu. Estava muito grata por Vincent ter aceitado abriga-la, mesmo que tivesse dito que seria temporário, era mais do que ela poderia pedir. Era justo que ela oferecesse algo em troca. Só não conseguia imaginar ao certo o que exatamente “isso” seria.Vincent
Eleanore ficou deitada em sua cama de barriga para cima, olhando para o dossel acima de sua cabeça. Estava pensando sobre o que Vincent pediu e o que June dissera.Ela tinha oferecido conhecimento, o que era mais importante para ela. E o que era mais importante para Eleanore? Não era conhecimento certamente. Então, o que? O que ela mais prezava na vida?A menina sentou novamente, mexendo de forma inquieta nos lençóis, alisando-os, como se isso pudesse distrai-la.Eleanore ficou em pé e foi até a janela aberta, inclinou-se por sobre a mesa e olhou para fora, para as flores, o carvalho, a floresta ao redor. Novamente, buscou aquela besta de olhos vermelhos vivo, ficou minutos esperando, mas não a viu.Pensou em chamar por Sam, já que ele foi a primeira pessoa que falou sobre a “ligação” para ela. Talvez, pudesse ajudá-la a descobrir o que poderia oferecer.
– O que você está fazendo? – Eleanore perguntou, enquanto Vincent traçava desenhos com um carvão no chão da sala do castelo, bem diante das enormes portas de entrada.Ele desenhou um grande círculo de carvão, dentro havia uma estrela de quatro pontas e, entre as pontas, diversos símbolos diferentes, que Eleanore sequer tentou entender o significado.Todos estavam reunidos na sala à pedido de Vincent. Pouco antes de ele começar a fazer desenhos no chão, havia comunicado oficialmente para todos os moradores, inclusive o corvo, de que Eleanore se tornaria uma hospede por tempo indeterminado no castelo. Ninguém pareceu ficar surpreso, mas June estava visivelmente incomodada.– Eu tenho que mudar o castelo de lugar, não deve demorar muito para Maximus me procurar e vai ser muito fácil para ele se eu ficar aqui. – Ele colocou uma vela em
Sebastian se voltou para Eleanore, que observava atentamente o trabalho do esfregão, que já havia limpado o vômito e agora trabalhava na sujeira feita pelo carvão. Ainda era bastante impressionante para ela ver os objetos se moveram como se tivessem vida própria.O gato se espreguiçou e, gradativamente, seus membros começaram a se alongar, os pelos foram sumindo, as feições tomando forma e ele cresceu, assumindo a forma humana em questão de segundos.Quando ele ficou em pé, os olhos de Eleanore ameaçaram saltar das órbitas, era muita pele exposta para assimilar e também tinha aquilo, entre as pernas de Sebastian, que pendia. Nunca antes ela tinha visto tanto da anatomia masculina em sua vida, ele estava completamente nu. Eleanore soltou um grito e deu um giro, ficando de costas para ele. Seu rosto queimava de vergonha, ainda mais do que antes.– Seb
– Vincent pintou todos esses quadros e os animou com magia para que reagissem à música. – Bash explicou, enquanto acompanhava Eleanore, que observava os quadros com um fascínio mudo. Aquilo estava entre as coisas mais extraordinárias que já tinha visto.– É realmente incrível.Era possível notar, pelos detalhes nas pinturas e sutileza das pinceladas, que Vincent tinha realmente um dom incrível para arte.O quinto e último cômodo do corredor era o maior de todos, uma gigantesca sala com um teto altíssimo, sustentado por grossas vigas de madeira, com altas e arqueadas janelas cobrindo as paredes de pedra cinzenta. Mas não havia nada ali, nenhum móvel. No chão, nas paredes e no teto haviam diversas marcas de queimado, arranhões, como se alguém os tivesse esfolado, fissuras e lascas. Além de tudo isso, símb