Era uma casa simples no topo de uma pequena colina, feita de madeira com uma pequena varanda. Algumas margaridas cresciam ao redor dela. Havia um cercado próximo com cerca de pouco mais de meia dúzia de ovelhas pastando.
Duas crianças brincavam no gramado em frente à casa. Uma delas era uma garotinha de não muito mais que dois anos, sentada, arrancando a grama com seus pequenos dedinhos; ela tinha cabelos castanhos caídos pelas costas. O menino, que corria em círculos com um pássaro de madeira nas mãos, possuía cabelos loiros volumosos, e se parecia muito com Sam.
Havia uma mulher pendurando roupa em um varal ali perto. Tinha cabelos loiros que estavam presos em uma longa trança, que caía por sobre o ombro toda vez que ela se abaixava para pegar a próxima peça de roupa em um cesto de madeira no chão.
Vincent caminhou até ela. Estava usando as roupas qu
A chuva atingia sua pele de forma agressiva, encharcando seu vestido e tornando-o absurdamente pesado. Ela segurava as saias para poder correr, mas seus sapados ficavam deslizando pela lama, o que tornava o simples ato muito dificultoso. Um raio rasgou o céu, iluminando a floresta ao seu redor, fazendo com que as árvores parecessem sombras sinistras. Logo em seguida, um trovão soou, mais alto do que as batidas do coração da menina, assustando-a. Eleanore VonBerge sempre foi ensinada a obedecer sem questionar, a fazer o que era esperado de uma mulher, a ser dócil, a abaixar a cabeça e cumprir com suas responsabilidades. Uma delas era se casar com um homem que não conhecia, que tinha praticamente o dobro de sua idade e que era muito rico, para que pudesse salvar seu pai da falência. Seu pai tinha perdido quase toda sua fortuna por causa de seu problema recorrente com jogos e bebida e, por isso, submetera sua filha à um casamento arranjado, por dinheiro. Ele cos
Há dezessete anos uma garota nasceu e foi batizada de Eleanore VonBerge, filha de um homem rico, dono de vastas terras na montanha, para cultivo de cereais, importados para boa parte do território imperial.Infelizmente, poucos meses depois de nascer, sua mãe, Verena, adoeceu e morreu. E Eleanore foi criada por sua tia, Eveline e seu pai, Albert. Mas não recebeu amor de nenhum deles, muito menos de sua prima, Belle, que nasceu dois anos depois, de um casamento de dois meses de Eveline, que enviuvou misteriosamente.Eleanore era dona de uma cabeleira ruiva encaracolada que sua tia chamava de “ninho horroroso” e de um par de olhos azuis, como águas cristalinas. Uma das criadas do casarão em que morava, uma das gentis, costumava dizer que Eleanore era o encontro de fogo e água, o que sempre a fizera se sentir especial e mágica.A felicidade da menina, porém, costumava durar poucas horas, &ag
O assovio do vento, entrando no quarto de forma assombrosa, fez um arrepio subir pela coluna de uma adormecida Eleanore. Ela rolou pelo colchão, enrolando-se mais as cobertas que a envolviam, para deixa-la mais quente. Lentamente, a consciência de Eleanore foi voltando.Seus olhos se abriram de súbito, ela se sentou ereta, olhando ao redor rapidamente. Um pânico a invadiu quando ela pensou que estava novamente em casa, que seu pai a tinha achado de algum jeito. Mas uma rápida olhada ao redor já foi o suficiente para perceber que não. O quarto onde se encontrava era diferente daquele que costumava ser o seu.A cama, onde estava deitada, era grande, cercada por pilares de madeira que sustentavam um delicado dossel sobre a cabeça de menina. Ao lado dela, ficava uma pequena mesinha de cabeceira, onde se encontrava uma lamparina, que iluminava parcialmente o quarto. Havia uma janela grande acima de uma mesa de madeira el
Eleanore se sobressaltou, ficou parada por um momento de choque, a respiração acelerada, o coração batendo forte em seu peito, as batidas soando em seu ouvido feito tambores de guerra.De repente, ela agiu, voltou correndo para o quarto, batendo a porta atrás de si. Foi direto para o mais longe possível da entrada. Segurou o encosto da cadeira, que ficava em frente à mesa elaborada, e testou seu peso, para saber se conseguiria arremessa-la contra qualquer ameaça. Não era pesada, ela conseguia levantar facilmente, então, iria servir como uma espécie de arma.Seus braços tremiam e ela sentiu um frio intenso percorrer sua espinha. Era mesmo um castelo assombrado, os rumores eram verdadeiros. Será que os fantasmas iriam matá-la? O que será que acontecia quando fantasmas te matavam? Aquela coisa em chamas era um demônio? Aquele garoto flutuante era um espíri
A sopa estava deliciosa e esquentou as entranhas de Eleanore, mas não a fez se sentir mais confortável com toda aquela situação que vivenciou.Ela não sabia se era capaz de lidar com elementais do fogo e fantasmas, mesmo que estes fossem aparentemente amigáveis. Nunca havia pensado na existência desse tipo de criaturas, nunca sequer imaginou e ainda estava considerando a possibilidade de estar sonhando.Provavelmente estava sendo grosseira em não confiar nas pessoas que cuidaram dela. Eleanore nunca confiou muito nas pessoas, dado os exemplos que tinha, mas, considerando que os habitantes do castelo não eram exatamente humanos, significava que eles eram mais confiáveis por isso?Eleanore não queria ficar naquele castelo, não quando o senhor dele não estava presente e poderia não gostar de encontrá-la ali. Não sabia que tipo de homem poderia abrigar elem
Eleanore desejou boa noite para Amber e foi para seu quarto, depois de terminar seu chá. A xícara saiu de sua mão, movida por uma força invisível e foi até a pia, lavando-se sozinha. Foi algo magnifico de se observar.Embora tivesse dormido por dois dias, ela ainda sentia seu corpo cansado. Talvez fosse resultado de toda a histeria pela qual passou em um curto período.Ela foi até a janela, subindo em cima da mesa para que pudesse respirar o ar fresco do lado de fora. Eleanore sentou de pernas cruzadas sobre o tampo de madeira, o corpo inclinado para frente, para que pudesse deixar a cabeça para fora. O ar frio da noite beijou sua face e Eleanore inspirou profundamente, trazendo-o para dentro de seus pulmões. A brisa ali era perfumada, por causa do jardim florido logo abaixo.Foi quando Eleanore viu algo andando por entre as árvores, bem a margem do bosque. Um vulto grande, encurvado, o
Eleanore quase engasgou com o leite, processando a informação que recebera do fantasma. Ainda estava digerindo o fato de que estava mesmo na presença de um fantasma, mas agora, estava mais nervosa com a chegada do anfitrião da casa.Por alguma razão que ainda desconhecia, estava nervosa com a ideia de conhecê-lo.– Mas está dormindo. – June se apressou em completar a frase de Sam – E eu, se fosse você, não iria acorda-lo agora. Vince fica de mal humor quando é acordado.– Ele também fica de mal humor por vários outros motivos. – acrescentou Bash.– Você é um deles – murmurou Sam, olhando para o gato Sebastian.– Entendi. E o que eu faço até ele acordar? – ela perguntou, inquieta, não querendo demonstrar toda a ansiedade que sentia, mas as mãos se torc
Vincent Maddox não era o que Eleanore estava esperando. Quando o chamaram de Mestre e disseram que ele era o dono da casa, ela havia imaginado um homem velho, que possivelmente teria uma longa e grisalha barba. Mas a realidade estava muito longe de ser essa.– Seu cabelo é branco. – Foi a primeira coisa que Eleanore pensou e raciocinou naquele momento.Vincent pegou uma mecha de seu cabelo e a contemplou, como se tivesse se esquecido desse detalhe sobre sua aparência.– Você é muito observadora... – ele fez uma pausa, esperando que ela se apresentasse.– Eu sou Eleanore VonBerge, é... – Ela engoliu em seco, já que não havia resquícios de saliva em sua boca. – um prazer, senhor Maddox.De uma forma bem graciosa, ele se levantou da poltrona, era um homem esguio e tinha um porte elegante, postura reta e impecável. Ele pegou o