Quando Eleanore acordou já era noite, havia uma nova lamparina em sua mesinha de cabeceira, o fogo tremulando, movendo as sombras a cada segundo.
Sua cama não estava mais queimada, nem o chão ou a madeira da mesinha. Ela podia supor que Vincent havia concertado tudo com magia.
Ela sentia seus olhos pesados e inchados de tanto ter chorado na floresta, nos braços de Vincent. Não se lembrava de muito depois disso, ficou sonolenta de repente, sequer tinha memória de como voltou para o castelo. Sentia-se ligeiramente mais leve, depois de ter derramado tantas lágrimas, quase como se tivesse lavado a tristeza acumulada em seu corpo, ao menos uma parte dela, sabia que não era capaz de esquecer tudo assim tão facilmente.
Antes que pudesse ter fugido da casa de seu pai, escutou-o dizendo que era incapaz de ama-la por se parecer com Verena, sua mãe. Aquilo tinha partido seu coração, de uma
Eleanore se recostou contra a cadeira, olhando fixamente para as próprias mãos em seu colo. Ela franziu o cenho, sem entender o que exatamente Vincent poderia querer dela.– Eu não entendo.– Pense a respeito, Ellie. – Vincent se levantou da cadeira, dando a volta na mesa, em direção a garota, que ergueu o rosto para encara-lo. – Me dê uma resposta amanhã.– Por que você precisa disso? – Eleanore perguntou.– Todos que moram aqui me ofereceram algo e eu preciso disso para te manter aqui, é uma condição.Eleanore assentiu. Estava muito grata por Vincent ter aceitado abriga-la, mesmo que tivesse dito que seria temporário, era mais do que ela poderia pedir. Era justo que ela oferecesse algo em troca. Só não conseguia imaginar ao certo o que exatamente “isso” seria.Vincent
Eleanore ficou deitada em sua cama de barriga para cima, olhando para o dossel acima de sua cabeça. Estava pensando sobre o que Vincent pediu e o que June dissera.Ela tinha oferecido conhecimento, o que era mais importante para ela. E o que era mais importante para Eleanore? Não era conhecimento certamente. Então, o que? O que ela mais prezava na vida?A menina sentou novamente, mexendo de forma inquieta nos lençóis, alisando-os, como se isso pudesse distrai-la.Eleanore ficou em pé e foi até a janela aberta, inclinou-se por sobre a mesa e olhou para fora, para as flores, o carvalho, a floresta ao redor. Novamente, buscou aquela besta de olhos vermelhos vivo, ficou minutos esperando, mas não a viu.Pensou em chamar por Sam, já que ele foi a primeira pessoa que falou sobre a “ligação” para ela. Talvez, pudesse ajudá-la a descobrir o que poderia oferecer.
– O que você está fazendo? – Eleanore perguntou, enquanto Vincent traçava desenhos com um carvão no chão da sala do castelo, bem diante das enormes portas de entrada.Ele desenhou um grande círculo de carvão, dentro havia uma estrela de quatro pontas e, entre as pontas, diversos símbolos diferentes, que Eleanore sequer tentou entender o significado.Todos estavam reunidos na sala à pedido de Vincent. Pouco antes de ele começar a fazer desenhos no chão, havia comunicado oficialmente para todos os moradores, inclusive o corvo, de que Eleanore se tornaria uma hospede por tempo indeterminado no castelo. Ninguém pareceu ficar surpreso, mas June estava visivelmente incomodada.– Eu tenho que mudar o castelo de lugar, não deve demorar muito para Maximus me procurar e vai ser muito fácil para ele se eu ficar aqui. – Ele colocou uma vela em
Sebastian se voltou para Eleanore, que observava atentamente o trabalho do esfregão, que já havia limpado o vômito e agora trabalhava na sujeira feita pelo carvão. Ainda era bastante impressionante para ela ver os objetos se moveram como se tivessem vida própria.O gato se espreguiçou e, gradativamente, seus membros começaram a se alongar, os pelos foram sumindo, as feições tomando forma e ele cresceu, assumindo a forma humana em questão de segundos.Quando ele ficou em pé, os olhos de Eleanore ameaçaram saltar das órbitas, era muita pele exposta para assimilar e também tinha aquilo, entre as pernas de Sebastian, que pendia. Nunca antes ela tinha visto tanto da anatomia masculina em sua vida, ele estava completamente nu. Eleanore soltou um grito e deu um giro, ficando de costas para ele. Seu rosto queimava de vergonha, ainda mais do que antes.– Seb
– Vincent pintou todos esses quadros e os animou com magia para que reagissem à música. – Bash explicou, enquanto acompanhava Eleanore, que observava os quadros com um fascínio mudo. Aquilo estava entre as coisas mais extraordinárias que já tinha visto.– É realmente incrível.Era possível notar, pelos detalhes nas pinturas e sutileza das pinceladas, que Vincent tinha realmente um dom incrível para arte.O quinto e último cômodo do corredor era o maior de todos, uma gigantesca sala com um teto altíssimo, sustentado por grossas vigas de madeira, com altas e arqueadas janelas cobrindo as paredes de pedra cinzenta. Mas não havia nada ali, nenhum móvel. No chão, nas paredes e no teto haviam diversas marcas de queimado, arranhões, como se alguém os tivesse esfolado, fissuras e lascas. Além de tudo isso, símb
De repente, a árvore se mexeu e chacoalhou seus galhos, fazendo com que centenas de folhas caíssem no chão e sobre a garota. Aquilo assustou o corvo, que estava pousado em um dos galhos, fazendo-o levantar voo e grasnar em protesto. O tronco começou a se retorcer, mudando a casca, formando um rosto feminino, que devido aos sulcos e ranhuras do tronco parecia o de uma mulher idosa com suas rugas.– Sebastian – ela falou e tinha uma voz melódica, como o assovio do vento soando por entre as árvores de um bosque – O que você quer agora?– Quero apresentar à você Eleanore, que vai ficar com a gente por um tempo. – Bash puxou ela pela mão, para que ficasse bem diante da árvore, intitulada Flidas.A árvore pareceu franzir o rosto, enquanto analisava a garota dos pés à cabeça, abrindo um sorriso logo em seguida.&n
Eleanore estava andando por entre árvores negras, tão escuras que pareciam feitas de sombras. Os galhos estavam encurvados em sua direção, feito garras demoníacas. Ela seguia um rastro de névoa avermelhada, que serpenteava por sobre o caminho de pedras pelo qual ela andava, o caminho sombrio familiar que levava ao castelo.Alguém chamava seu nome, o que a fez correr na direção da voz. Uma silhueta se formou diante de seus olhos. Ele lhe ofereceu à mão, como no sonho que teve na primeira noite no castelo, como Vincent, quando a chamou para andar pelo ar, então, ela aceitou.– Vincent?– Não. Tente de novo – Ele entrelaçou os dedos nos dela, puxando-a contra si. De repente, ela se viu encarcerada, firmemente presa por um braço que rodeava sua cintura, enquanto aquele homem permanecia segurando sua mão esquerda, olhando para
Assim que chegaram naquele cômodo, eles puderam ver o caos instalado. Havia um vento anormal soprando fortemente todo o recinto em uma espiral furiosa ao redor da cama, onde Eleanore estava, pairando no ar a um metro do colchão, o corpo muito reto como se ela estivesse petrificada. Havia uma espécie de aura vermelha cobrindo o corpo da menina adormecida, formando o que se assemelhava à uma teia de aranha, enrolando sua vítima.– Maximus! – Vincent vociferou e se adiantou, subindo na cama, ficando em pé ao lado de Eleanore. Ele pairou as mãos sobre o corpo da garota, movendo os lábios entoando um cântico mágico e logo uma aura verde encobriu completamente o corpo de Vince, feito um escudo.– O que está acontecendo? – Sebastian perguntou no exato instante em que os vidros da janela, da lamparina e do espelho explodiram e ele teve que se proteger com os bra&ccedi