Marilyn, mal contendo seu entusiasmo por compartilhar o que considerava seu plano magistral, inclinou-se na direção delas e começou a explicar com riqueza de detalhes. Seus pais, durante o almoço que aconteceria no hotel, pediriam para falar com Camelia em particular na casa familiar, fingindo uma repentina aceitação de seu casamento com Ariel. Conhecendo o desejo que sua irmã tinha de que seu pai aceitasse seu relacionamento, estava certa de que ela concordaria sem hesitar.
—Então, Mailen —continuou Marilyn com um brilho calculista nos olhos—, quando meus pais saírem, você envia aquela carta que mencionou ao Ariel. Espera ele na recepção e o traz até aqui com o pretexto que combinamos. —Fez uma pausa dramática antes de prosseguir—. Eu me encarregarei de que papai passe por aqui antes de ir embora para ajudar você a dopá-lo, e partimos no cAmbas as mulheres, apesar de serem experientes na arte do engano e da traição, não puderam evitar observar Marilyn como se fosse uma criatura de outra espécie. Seus olhares revelavam uma mistura de admiração e temor diante da jovem que tinham à sua frente. Não que fossem diferentes em essência —afinal, todas compartilhavam a mesma veia manipuladora—, mas havia algo na calculada frieza de Marilyn que as fazia sentir iniciantes no jogo da conspiração. A maneira metódica com que planejava cada movimento, sem um vestígio de dúvida ou remorso, era perturbadora até mesmo para duas mestras do engano como elas.—Nossa! E eu que reclamava da minha família —comentou Mailen com um sorriso malicioso, enquanto brincava com seu colar—. Até pena estou sentindo dessa coitadinha da Camelia ao ver como os seus a tratam. Como é poss&iacut
Seu instinto gritava-lhe para fugir, mas justo quando ia fazê-lo, presenciou como Ariel, com um envelope na mão, encontrava-se com Mailen na recepção. Ambos dirigiram-se aos quartos enquanto os alarmes de incêndio começavam a soar estridentemente. Um dos homens dos Rhys apareceu correndo, e todos precipitaram-se em direção à empresa."Em que confusão estas mulheres se meteram?", perguntou-se alarmado. "Enrique, sai daqui agora mesmo, isto vai ser um desastre". Levantou-se decidido, mas ao ver Camelia afastando-se num carro com sua avó e os familiares de sua melhor amiga, sentiu um momentâneo alívio. Tentou segui-los para escapar daquele caos, mas ao chegar ao seu veículo, descobriu que os bombeiros haviam bloqueado a rua.—Maldição...! —exclamou frustrado, batendo no volante—. Não devia ter vindo —repetia uma e outra vez, preso em seu
Enrique esgueirou-se ao ver chegar os homens dos Rhys, liderados por Ismael, cujo olhar prometia tempestade. Escondeu-se rapidamente e correu até seu carro, onde se refugiou com o coração acelerado. As perguntas o atormentavam: Quem era realmente Camelia? Que tipo de relação tinha com Ariel? Seria tudo uma elaborada farsa orquestrada por Ariel para afastar Mailen? Sua reação tão pouco convencional só alimentava mais suas dúvidas.Da sua posição privilegiada, observa a cena que se desenrola como uma obra de teatro macabra: Ismael emerge carregando o corpo de Ariel envolto em lençóis, apenas para que Marlon lho arranque com um rugido dilacerante que ressoa por toda a vila. Nesse instante, compreende com clareza cristalina: esta vila e todos os seus habitantes, incluindo essas duas mulheres ensandecidas, estão condenados. Com impotência, observa como introduzem o corpo in
Enrique observou pelo retrovisor a Mailen, notando algo que jamais tinha visto nela: descontrolo total. A mulher que sempre planificava cada pormenor com precisão cirúrgica agora parecia perdida, desorientada, como um animal encurralado. A sua fachada de atriz famosa desmoronava-se diante dos seus olhos.—Como permitiste que lhe fizessem isso? Não proclamavas amá-lo? —cuspiu Enrique com desgosto mal contido—. Se algo lhe acontece, Mailen, será melhor que te esfumes da face da terra. Embora nem sequer isso te salve dos Rhys.—Já chega com as tuas ameaças! —vociferou ela, virando-se bruscamente para ele—. Eu não tive nada a ver com isso! Mas o pai da Camelia... ele parece odiá-lo com toda a sua alma. —Um sorriso maníaco desenhou-se no seu rosto—. Embora, pensando bem, isto possa funcionar a meu favor. Os Rhys jamais permitirão esse casamento quando sou
Pedro não disse nada, olhou para a filha que o observava expectante, e com desânimo levantou os ombros enquanto murmurava que já se lembraria de algo para tranquilizar o Rigoberto. Um sorriso de complacência cruzou o seu rosto ao recordar o que tinha feito ao Ariel Rhys; custaria-lhe muito recuperar, se é que chegaria a fazê-lo.—Afinal de contas, a Camelia ainda não se casou com o Ariel, e acho que não o fará —disse com um sorriso malicioso—. Embora tenha disfarçado muito bem, todos a conhecemos. Depois de o ver nu com duas mulheres a enganá-la, não o perdoará. Será a nossa oportunidade quando a deixarem sozinha, de fazer com que regresse.Marilyn assentiu dando razão ao pai, embora soubesse que agora a Camelia andava sempre com seguranças, o que tornaria quase impossível aproximar-se dela. Deviam pensar numa maneira de a encontrar sozinha,
Os Rhys fizeram o trajeto a uma velocidade vertiginosa, em completo silêncio. Seus irmãos levaram Ariel num helicóptero que apareceu de repente. Os carros seguiram-nos a toda velocidade, aproveitando ao máximo a potência dos seus motores, até chegarem ao hospital. No entanto, ao chegarem não conseguiram obter informação. Ariel estava lá dentro, enquanto os médicos lutavam para salvá-lo.Camelia, acompanhada pela avó, que também foi atendida pelos médicos, vagueava como uma alma penada. Seu olhar parecia perdido, incapaz de registrar o que acontecia à sua volta. Todos tentavam falar com ela e fazer-lhe perguntas, mas não reagia; apenas se agarrava com força ao braço da avó, como se temesse perdê-la também.—Eu acho que é melhor irmos para casa, Cami —sugeriu a avó, e ela apenas asse
Camelia soltou um suspiro que pareceu dilacerar-lhe o peito, tentando desfazer o enorme nó que lhe apertava a garganta. A dor espalhava-se como um veneno por todo o seu corpo, paralisando-a. Queria chorar, gritar, deixar sair toda essa tempestade que rugia no seu interior, mas as lágrimas recusavam-se a brotar. Era como se a sua alma tivesse congelado, aprisionando cada emoção numa prisão de gelo.Com mãos trémulas apertou o peito, ali, onde o coração lhe batia com uma pesada agonia. As imagens repetiam-se uma e outra vez na sua mente como um cruel lembrete: Ariel com ela, com a mulher que uma vez amou, essa que lhe disse que não podia esquecer. Cada respiração doía, cada pensamento era uma nova punhalada. Sentia-se traída, humilhada, mas sobretudo, terrivelmente impotente.O nó na sua garganta tornava-se maior, ameaçando sufocá-la. Era como se todas
Na sala de espera do hospital, a família Rhys consumia-se na sua própria agonia. Ariel Rhys, desfigurado pela quimioterapia, passeava furioso de um lado para o outro, praguejando apesar de cada passo parecer custar-lhe um mundo. As lágrimas de impotência brilhavam nos seus olhos encovados, enquanto o seu corpo, antes imponente, agora se dobrava sob o peso do desespero.—Meu pequeno... meu Ariel —murmurava entre dentes, a culpa corroendo-lhe as entranhas—. Porquê? Porque fizeram isto ao meu filho?Aurora Rhys segurava o terço com dedos trémulos, enquanto com a outra mão tentava deter o marido cada vez que este parava à sua frente. As suas orações quebravam-se entre soluços contidos, e os seus olhos, cheios de horror, não conseguiam desviar-se do seu segundo filho.Ismael, perdido nos seus próprios demónios, carregava e descarregava a arma mecanicamen