Poucos ruídos. Muito cuidado. Apreensão.
Medo.
Garpot adentrou o buraco antes de todos... besta armada.
Edgard seguiu logo atrás... iluminando o caminho... interrompendo-se constantemente para auxiliar uma caveira invisível em seu meticuloso trabalho de verificar armadilhas pelo percurso.
Demonstrei objeção ante tal estratégia, visto que nosso murgon poderia acabar realizando o que Dehvorak pretendia por mero acidente. Opinião vã, aliás. Garpot, graças a habilidades exploratórias singulares e aptidões visuais distintas – que só Padelah e Duoff possuíam além dele – , teria de encabeçar o grupo, claro. Nesse ínter
Edgard, tal qual dois lanceiros que ocupavam meu campo visual na direção de Sahad, pouco entendeu do que ocorria; nem havia como. Conhecia só uma mísera porção da louca odisseia que o pôs naquela gruta. Dehvorak, Padelah e Kingler, por outro lado, preferiram abrir mão de se pronunciar, já que não tinham motivos para revelar suas presenças. Diante de mim, e pela terceira vez desde o início daquele drama, a figura que parecia possuir o segredo para desvendá-lo. Ergui minha lamparina de encontro a um manto branco bastante conhecido e deixei meus olhos subirem por ele sem pressa, passeando pelo pequeno bordado que ensaiava formar uma gola sobre o colo seminu da jovem cujo verdadeiro nome nem era Gabriele. Encarei seu sorriso moreno resplandecente – reflexo perfeito de um reencontro há tanto esperado – minha vontade era beijá-lo sem parar.
Silêncio. Solidão. Tijolos observam meu corpo tremer enquanto tento fazê-lo chorar. Quanto tempo estive aqui? É certo que algo importante ocorreu há pouco... uma busca vital interrompida de forma repentina. Por quê? Tremo nu nesse cárcere impecavelmente limpo... melancolicamente frio. Há gente do outro lado com certeza. Uma presença maligna e perigosa me espr
Morta... presença morta... e eu acordando... despertando... deitado... real... estranho odor...(“Não abra os olhos! Pode haver alguém por perto! Não abra!”) **Realidade... corpo nu... meu... real... deitado de barriga para cima... braços e pernas estirados... abertos para o céu... talvez para um teto... algo próximo emanava leve calor... olhos fechados... fechados...(“Você acaba de despertar de um sonho. Eu o acordei. Eu o trouxe de volta. Sua memória retorna lentamente. Não se mova. Não abra os olhos.”) **
Falecera sentado, o infeliz, e Mildred rapidamente descobrira porquê. Um leve choque de familiaridade com o dono daqueles cabelos brancos me fez levar tempo para recobrar a compostura, reassumindo minha posição ereta. Olhos estranhamente esbugalhados pareciam ter se aberto num susto tremendo e ficado assim para sempre junto ao resto do corpo do homem, paralisado no tempo e no espaço. Morrera pelo espírito e não pela carne... de maneira tão incomum que nem conseguira desfalecer. Parecia empalhado agora. Examinei então sua toga azul, muito vistosa, com uma cobra bordada sobre o tecido que terminava exatamente nos tornozelos do sujeito, onde sandálias marrons tinham início. Os “monges-estátua” de meu sonho existiam.
Amparada pelos parceiros, do lugar onde estava, ela até quis me apressar, evidente que sim, mas não demoraria a compreender meu contexto. Era esperta e ainda tinha acesso à mente que elabora estas ideias, pelo menos em parte.Sim, eu conseguiria vê-las e lê-las, aquelas lindas páginas, pois Mildred já esfregava uma erva entre suas palmas, aprontando nova magia, enquanto Duoff acendia-lhe uma pequena fogueira sob o breu do túnel onde estavam. Se o elixir que ela pretendia criar funcionasse, conseguiríamos, a maga e eu, decodificar dezenas de páginas em tempo mínimo. Padelah abriu-lhe a mochila rapidamente para retirar um cântaro e um cantil, usando este para colocar água no outro destinado a permanecer sobre fogo enquanto ervas amassadas por mãos mag
Era um rapaz, corpo franzino, veste branca idêntica à que guardas imóveis trajaram na realidade de meu espírito, dias atrás, desacompanhada de quaisquer adereços exibidos na ocasião citada, tais como tiaras, penachos, colares de folhas ou braceletes. Uma tocha e uma lança ocupavam as mãos do sujeito. Parado ele ficou... surpresa exalando dos olhos; certamente notavam algo errado no que viam. Cogitei se tinham me reconhecido ou apenas reparado as cinco velas apagadas em torno daquele cadáver sustentado pelo nada. Foi-me difícil esboçar reações também, admito. Seriam ele e a “presença” membros de algum clã ou guilda? Quem sabe um culto, como me pareceu em sonho? “Um culto com sacerdotisas em mantos rasgados”, pensei. Gabriele? Terrível imaginar
Um homem frio, sereno e ciente de seu poder deixou-se sorrir perante outro mais fraco, enquanto uma série de pequenas lembranças sem sentido procuravam lugares certos em minha memória. (“E então, Mildred? Pensou no que falei? Esse infeliz lhe serviu bem, mas é meu agora. Quanto à senhorita, nada poderá fazer exceto juntar-se à luz que ofereço.”) #O intruso, claro, pronunciara-se mentalmente através do mesmo canal humano utilizado pela maga o tempo inteiro.(“O que pretende, criatura? Por que me ajudar e não acabar comigo? Quais são suas verdadeiras intenções? Quem é voc
Seu nome é Mitzlotan... mas muitos preferem chamá-lo de Deus-serpente. Sei que a natureza dessa entidade só me será compreensível em breve, quando poderei então venerá-lo como o grande pacificador do mundo que seus idólatras tanto adoram seguir. Por hora devo contentar-me em aceitar a privilegiada possibilidade de conhecê-lo, alimentando-me de sua luz... deglutindo sua bênção... purificando-me enfim. Logo uma nova vida estará começando para Mildred, a mulher que pouco sabe de seu passado. Eu. Sentir meu corpo agora é