(Demétrius) – Entendo... Foi por esse motivo que esqueci tantas coisas, não? O espírito de Galkorn bloqueara minha mente.
(Lando) – Fez mais do que isso, na verdade. Assunto complicado.
(Demétrius) – Complicado?
(Lando) – Explica para ele, Paulus.
(Paulus) – Não sei se posso. Pelo que sabemos, a alma de Galkorn possuiu uma parte de sua mente, Demétrius, escondendo lembranças, embaralh
Como é estranha essa vida, não? Sempre densa e insensata quando olhamos para frente, porém nítida e reveladora se viramos para trás.Não seria o contrário?Demétrius Aletrin é meu nome, disso tenho certeza. Minhas feições voltaram a ser como antes; cabelos lisos e negros, pele morena quase clara, sobrancelhas finas e corpo semi-robusto, mais adequado a um homem de armas. Se minhas lembranças recuperadas acusam vinte e cinco anos de existência, a nova carne possui dezoito ou dezenove, provável idade de um certo “hospedeiro”. Dependendo de como eu venha a falecer futuramente, poderei desfrutar uns aninhos
Remoer lembranças cruéis é incômodo, mas me ajuda a aceitá-las. Nossa oitava missão para a “Ordem da chama eterna” parecia simples: deixar Valks e seguir Hartsbark por uma estrada que conectava quatro vilas à capital do reino. Clérigos e cavaleiros pretendiam atravessá-la com mercadorias valiosas e desejavam uma avaliação prévia da trilha, temendo sua má reputação. Coisa fácil. Entramos no mato, cavalgamos, achamos a estrada, seguimos por ela atéZviling, Anaker, Elohwini Lembrar minha discussão com Valit traz Mildred à consciência explicitando uma teoria complicada sobre fenômenos casuais. Para a bruxa, não devemos encará-los como coisas sem sentido, mas pequenas vontades latentes do universo que desejam influenciar seus elementos, transformando-os em acontecimentos maiores e mais significativos, também geradores de influência e novas eventualidades. Cada fenômeno quer originar outro, e mais outro, e uma série de outros simultâneos, até que centelhas corriqueiras consigam engendrar uma árvore repleta de sentido. Isso nos faz indagar constantemente se existem forças controlando o acaso além da escolha e da fortuna. Claro que nem todas árvores crescem fortes e sustentáveis. Muitas tombam no meio do caminho ou apenas deixam de evoluir, pois sementes estão sempre surgindo para germinar e influenciar árvores vivas, auxiliando-as, parasitando-as ou arruinando-as na grande floresta 77
Transcorrida aquela tensa madrugada, Vencislo não nos procurou após o almoço, como havia combinado, mas durante o café da manhã com uma bela cara de surpresa. Amadeus, apesar de demonstrar pouco interesse em minha causa, alegou querer ver Demétrius e seu mapa integrando o jantar festivo que ocorreria aquela noite na luxuosa residência do barão.“Então é verdade!”, pensei. “Ele tem a mente aberta e pretende ouvir”. Amanda também ficaria feliz se não acalentasse planos próprios para a mesma data, afinal, desejava me fazer acompanhá-la até suas “irmãs” e obter, entre diversas previsões pessoais, pistas sobre o conte
Essa casa... está escuro aqui. Não totalmente, claro. Há um pouco de luminosidade vindo da janela com grades. Lua cheia? Algo não me deixa ver com perfeição. Aquela coisa branca no céu por entre as árvores. Sim... lua cheia... lá fora. Frio também. Deve estar bastante frio do outro lado destas paredes, creio. Aqui dentro está um pouco. Devo tatear mais. Achar uma lareira e também tochas. Tochas! Preciso encontrá-las e acendê-las, mas como? Algo se move por entre as folhagens lá fora. Um vulto que desaparece tão rápido quanto surgiu. Tenho de acender alguma coisa... pre
Levei tempo para acostumar minha visão à claridade e o corpo àquela nova situação, estranha e desagradável. Não só pingos de chuva o atacavam voraz e incessantemente, como também um ardor contínuo provocado por cordas puídas muito bem atadas visando prender-me a um imenso eucalipto. Tremedeiras de frio e desconforto proporcionado por mãos que manipulavam minhas feições sujas, vasculhando cautelosamente os adornos de minha nudez, só serviam para enriquecer aquele ritual de tortura. De fato eu já avistara tais criaturas anteriormente numerosas vezes. Sabia com plena exatidão o que eram, mas se porventura decidisse precisar uma situação onde os possíveis encontros tivessem ocorrido, n&a
Minhas pálpebras molhadas se abriram e pude ver o velho murgon... frente a frente... segurando um candeeiro aceso. Sua outra mão sustentava uma tigela vazia cujo conteúdo de instantes atrás jazia em meu rosto e iniciava lenta caminhada por diferentes direções, dando preferência a pescoço e orelhas. Havia outros murgons com o velho, claro, e todos me observavam no interior daquela caverna úmida iluminada apenas pelo utensílio do sujeito. Eu, recém despertado de um segundo sonho (riacho, homem das lamúrias, etc), também os observava, examinando olhares inquietos e curiosos. A maioria das criaturas ali era jovem, aparentando ter experimentado pouquíssimo contato com gente como eu. Virei-me para a parede próxima, onde estava o enorme inseto. A escuridão era total mas por razões desconhecidas, eu era capaz de enxergá-lo. Falei com ele.– O que foi? Já não se contenta com meu sofrimento e ainda zomba de mim? Volte para o buraco de onde saiu!– Está enfraquecendo, homem! Pensa que é o único a sentir as mazelas da fome nesse breu? Todos aqui lutamos dia e noite pela sobrevivência e cedo ou tarde você tombará. Nessa hora poderei vingar todos os meus irmãos que teve a audácia de mastigar sórdida e impiedosamente. Degustarei cada pedaço de sua carne vil, beberei cada gota de seu sangue podre e farei 4