Morta... presença morta... e eu acordando... despertando... deitado... real... estranho odor...
(“Não abra os olhos! Pode haver alguém por perto! Não abra!”) **
Realidade... corpo nu... meu... real... deitado de barriga para cima... braços e pernas estirados... abertos para o céu... talvez para um teto... algo próximo emanava leve calor... olhos fechados... fechados...
(“Você acaba de despertar de um sonho. Eu o acordei. Eu o trouxe de volta. Sua memória retorna lentamente. Não se mova. Não abra os olhos.”) **
Falecera sentado, o infeliz, e Mildred rapidamente descobrira porquê. Um leve choque de familiaridade com o dono daqueles cabelos brancos me fez levar tempo para recobrar a compostura, reassumindo minha posição ereta. Olhos estranhamente esbugalhados pareciam ter se aberto num susto tremendo e ficado assim para sempre junto ao resto do corpo do homem, paralisado no tempo e no espaço. Morrera pelo espírito e não pela carne... de maneira tão incomum que nem conseguira desfalecer. Parecia empalhado agora. Examinei então sua toga azul, muito vistosa, com uma cobra bordada sobre o tecido que terminava exatamente nos tornozelos do sujeito, onde sandálias marrons tinham início. Os “monges-estátua” de meu sonho existiam.
Amparada pelos parceiros, do lugar onde estava, ela até quis me apressar, evidente que sim, mas não demoraria a compreender meu contexto. Era esperta e ainda tinha acesso à mente que elabora estas ideias, pelo menos em parte.Sim, eu conseguiria vê-las e lê-las, aquelas lindas páginas, pois Mildred já esfregava uma erva entre suas palmas, aprontando nova magia, enquanto Duoff acendia-lhe uma pequena fogueira sob o breu do túnel onde estavam. Se o elixir que ela pretendia criar funcionasse, conseguiríamos, a maga e eu, decodificar dezenas de páginas em tempo mínimo. Padelah abriu-lhe a mochila rapidamente para retirar um cântaro e um cantil, usando este para colocar água no outro destinado a permanecer sobre fogo enquanto ervas amassadas por mãos mag
Era um rapaz, corpo franzino, veste branca idêntica à que guardas imóveis trajaram na realidade de meu espírito, dias atrás, desacompanhada de quaisquer adereços exibidos na ocasião citada, tais como tiaras, penachos, colares de folhas ou braceletes. Uma tocha e uma lança ocupavam as mãos do sujeito. Parado ele ficou... surpresa exalando dos olhos; certamente notavam algo errado no que viam. Cogitei se tinham me reconhecido ou apenas reparado as cinco velas apagadas em torno daquele cadáver sustentado pelo nada. Foi-me difícil esboçar reações também, admito. Seriam ele e a “presença” membros de algum clã ou guilda? Quem sabe um culto, como me pareceu em sonho? “Um culto com sacerdotisas em mantos rasgados”, pensei. Gabriele? Terrível imaginar
Um homem frio, sereno e ciente de seu poder deixou-se sorrir perante outro mais fraco, enquanto uma série de pequenas lembranças sem sentido procuravam lugares certos em minha memória. (“E então, Mildred? Pensou no que falei? Esse infeliz lhe serviu bem, mas é meu agora. Quanto à senhorita, nada poderá fazer exceto juntar-se à luz que ofereço.”) #O intruso, claro, pronunciara-se mentalmente através do mesmo canal humano utilizado pela maga o tempo inteiro.(“O que pretende, criatura? Por que me ajudar e não acabar comigo? Quais são suas verdadeiras intenções? Quem é voc
Seu nome é Mitzlotan... mas muitos preferem chamá-lo de Deus-serpente. Sei que a natureza dessa entidade só me será compreensível em breve, quando poderei então venerá-lo como o grande pacificador do mundo que seus idólatras tanto adoram seguir. Por hora devo contentar-me em aceitar a privilegiada possibilidade de conhecê-lo, alimentando-me de sua luz... deglutindo sua bênção... purificando-me enfim. Logo uma nova vida estará começando para Mildred, a mulher que pouco sabe de seu passado. Eu. Sentir meu corpo agora é
“Parece brilhar, não?” “Afaste-se! Pode acabar tirando-o do transe!” “Mas ele conseguiu?” “Provavelmente. Nosso mestre nunca falha com o glorioso.” “Desculpe-me, irmão. Jamais duvidei. Mas o rosto dele. Parece...” “O que há?” “Está ficando roxo, não?” “Roxo? Talvez...” “ Não sei se sonho... se acordo... se vivo... se vou...Simplesmente não sei.Mamãe aparece à porta enquanto junto cubos e diz que o almoço está pronto. Meu castelo vai ficar lindo. Logo serei a rainha da neve.Infelizmente meu reino atual já entrou em colapso e os súditos fogem sem qualquer fiapo de esperança. Alguns deles nem estão tão longe mas nego-lhes atenção assim mesmo. Paredes continuam desabando... luzes se apagam64
Tudo calmo agora. Tudo branco. Posso ver meu corpo nu reluzindo delicadamente sob um facho luminoso de pura tranquilidade enquanto o brilho alvo e opaco que rodeia meu espaço físico traz o dono daquela voz suave por quem fui chamada instantes atrás. Perambulo um chão de brancura pura, sem marcas, riscos ou reflexos. Embarco num verdadeiro paraíso celestial e logo noto a familiaridade mais óbvia do mundo em meu companheiro de estada, pois meu nome não foi enunciado por qualquer garoto. Saiu da boca de um peraltinha cujas feições presenciei na angústia mental daquele que tanto amei. Um sonho, uma casa, um garoto, uma fuga, uma escada-caracol e armaduras com machados flanqueando um enorme tapete azul. Hat Nao Pak revelando o horror de sua face para acordar um pobre coitado que leria “Eu bem que avisei!” redigido em sangue na própria mão. Último capítulo