Tudo calmo agora. Tudo branco. Posso ver meu corpo nu reluzindo delicadamente sob um facho luminoso de pura tranquilidade enquanto o brilho alvo e opaco que rodeia meu espaço físico traz o dono daquela voz suave por quem fui chamada instantes atrás. Perambulo um chão de brancura pura, sem marcas, riscos ou reflexos. Embarco num verdadeiro paraíso celestial e logo noto a familiaridade mais óbvia do mundo em meu companheiro de estada, pois meu nome não foi enunciado por qualquer garoto. Saiu da boca de um peraltinha cujas feições presenciei na angústia mental daquele que tanto amei. Um sonho, uma casa, um garoto, uma fuga, uma escada-caracol e armaduras com machados flanqueando um enorme tapete azul. Hat Nao Pak revelando o horror de sua face para acordar um pobre coitado que leria “Eu bem que avisei!” redigido em sangue na própria mão.
1 - DUOFF Meu nome é Duoff. Não tenho sobrenome. Nós, Fairons das cavernas baixas, temos um nome apenas, uma palavra para resumir nossa natureza. Quando somos novinhos, nos chamam de Puli. Significa pequeno. Aos três anos, ganhamos um nome, que não dura para sempre. Ele muda aos dez, depois aos vinte, e então fica para a vida toda. O meu significa “rocha” e combina bem com “aniquilador”. Ou não? Adot está me cansando. Quando aquele magrelo de queixo esquisito apareceu por lá, achei que grandes coisas iam acontecer. Aconteceu sim, mas minha espada quase não trabalhou, e eu de
3 - PADELAH Acertar um serviço é deixar perguntas para trás, exceto em grande necessidade. Foi assim que aprendi. Aquele grupo errou no início, errou no fim, eu sempre soube. Talvez o espírito apressado e a inexperiência de alguns tenha atrapalhado. Não sei. Lancei umas ideias, pedi um plano inteligente, argumentei pouco. Não era assunto meu. Entramos, andamos, fiquei longe, senti o perigo, estava óbvio, mas discutir seria inútil. Sahad marchava à minha frente, um po
6 - DUOFFQuando a brancona ameaçou vomitar e capotou no chão, o pessoal ficou meio perdido. Ninguém sabia o que fazer. Padelah deu uns tapinhas nela, jogou água e depois tirou umas folhas grandes da mochila que levava, enrolando elas num pano e colocando a cabeça de Mildred em cima.O bardo já queria dar chilique e tive de mandar ele calar a boca. Padelah disse para ninguém ficar preocupado, mas pude ver nos olhos dela que a coisa não era muito boa. Detesto ficar sem fazer nada! A elfo ficou falando umas coisas no ouvido da moça, como se também fosse bruxa, e o corpo de Mildred se mexeu um pouco, como se delirasse. Ficou assim u
11 - DEHVORAK Naquele grande emaranhado de túneis, câmaras e galerias, a tal seita da serpente tinha escolhido uma área propícia e instalado um acampamento provisório. O homem de cota nos desamarrou enquanto o loiro com uma toga azul pedia para ser seguido pela parte iluminada do acampamento, repleta de cheiros de erva e pinturas primitivas nas paredes. Achamos tudo muito estranho, claro, e até desconfiamos, mas seguir aquele desconhecido que alegava ter hipnotizado o colega em direção a uma suposta pilha de armas parecia mais sensato do que continuar apodrecendo no escuro. Hoje sei que se tratava de uma criatura mutante, Hat Nao Pak, então na forma do falecido Amadeus Tirenat, mas controlado por aqueles jovens recém-assentados por aqui. Coisa para mago entender.
15 - RAPSKIN Magnânima, aquela peça. Brilho divino ela refletia. Temi por nós, confesso, durante a incursão no santuário, embora os conflitos tenham durado quase nada. Foi incrível. Por mágica, dez inimigos pararam como Maxis fizera naquela data, graças à Mildred e outros dois. Por devoção, cinco fiéis ignoraram o revés iminente e entregaram a vida em nome de uma serpente malévola enquanto outro
19 - LANCEIRO ARDOCK Eu fiquei muito feliz anteontem quando o lorde Duoff falou que eu podia ir no ritual do ovo e chefiar um pelotão. Ele sempre confiou em mim e sempre me escolhe para fazer as coisas mais importantes. Eu sou um bom soldado e não fico fazendo perguntas. Na hora eu nem entendi direito por que estavam levando aqueles prisioneiros da caverna junto com um monte de bugigangas e por que tinha que ser fora da fortaleza. Eu não perguntei nada. O pessoal que tinha vindo da outra vez estava quase todo com nós. Dehvorak, com uma máscara nova, o homem escuro (o magro, não o outro com as tatuagens), aquela mulher elfo estava lá também e o murgon, que é muito esperto.
22 - IRMÃO JALON Glorioso! Poderoso! Não entendo! Por que essa provação? Por que? Mostre-me sua luz! Preciso de mais luz! Alimente-me! Tire-me dessa prisão, eu imploro! Tire-me desse cárcere! Demônios lá fora... demônios malditos! Eu sabia que tinha coisa! Demônios! Catelahd veio, examinou, o mestre tinha ficado esquisito... Por que não o matamos? Por que não matamos aquela víbora de Nalíccia? Eu sabia que tinha coisa!
26 - MILDRED As mentes de Adot denunciam. Poucos ainda confiam em mim. Faz seis meses e alguns dias que estou com o ovo. É uma peça incrível. Seu poder me influenciou desde nosso primeiro contato. Hat Nao Pak, ainda antes, tinha lançado minha alma de encontro a sua num processo que irradiava pureza, leveza e liberdade, recheando-me o íntimo com energia e conhecimentos, sem deixar-se trair por eles, até que fosse tarde demais. Caí nessa teia como um mosquito. Minha essência, ou parte dela (não sei), foi arrancada de