JUSTIÇA À FLOR DA PELEOs pneus do carro esmagavam o cascalho da estrada enquanto nos aproximávamos da área rural indicada pelo rastreador. A noite estava escura, com apenas a luz da lua iluminando o caminho sinuoso. Dentro do veículo, o silêncio era pesado, como se cada um de nós estivesse preparando sua mente para o que viria. O som intermitente do rádio era a única distração, com Camila reportando as posições do caminhão e dos veículos de escolta.“Está desacelerando”, disse ela, com os olhos fixos na tela. –Parece que estão se aproximando do ponto de entrega. Fala elaVicenzo estava sentado ao meu lado no banco da frente, seu rosto rígido, quase inexpressivo. Mas eu sabia que ele estava tão tenso quanto eu. Para ele, isso não era apenas uma missão; era uma questão de honra. Rocco tinha pisado na máfia errada, e agora estávamos aqui para corrigir isso.Enquanto o caminhão parava em uma clareira rodeada por árvores densas, diminuímos a velocidade e desligamos os faróis. A clarei
Felipe Antes que pudesse reagir, ouvi passos atrás de mim. Um dos homens de Rocco tinha escapado e agora vinha em minha direção com uma faca. Eu me virei rapidamente, atirando antes que ele pudesse chegar perto. O som do disparo ecoou, e ele caiu no chão.Quando me virei novamente para Rocco, ele estava sorrindo. Um sorriso frio, calculado.“Você acha que pode acabar com isso tão facilmente?”, ele riu. “Você não tem ideia do que está enfrentando.”“Então me diga!”, exigi, puxando-o pela gola novamente. “Diga antes que eu acabe com você aqui mesmo.”Antes que ele pudesse responder, Vicenzo apareceu ao meu lado, segurando meu ombro. “Felipe, chega. Ele vai falar, mas não assim. Precisamos dele vivo.”Eu respirei fundo, tentando conter a raiva que me consumia. Finalmente, soltei Rocco, que caiu no chão, tossindo.“Levem-no”, ordenou Vicenzo. “Ele vai responder por tudo isso.”Enquanto os outros o arrastavam para fora, olhei ao redor. O campo estava coberto de destroços, mas havíamos ven
Chegada com os bebêsO carro deslizou suavemente pela estrada deserta, as luzes da cidade desaparecendo no retrovisor. No banco de trás, os pequenos bebês dormiam, aninhados em cobertores improvisados. Camila olhava para eles com uma expressão preocupada, segurando uma mamadeira recém-comprada.— Você acha que Helena vai nos matar? — ela perguntou, meio rindo, meio séria.— Não sei. Respondi, apertando o volante. — Mas como você mesmo disse, não temos escolha, e pode ser bom para ela.Chegamos à casa da ilha e saímos da lancha com cuidado, trouxemos os bebês na caixa que foram achados pois estava acolchoado, assim eles estavam bem protegidos. O frio da madrugada nos envolvia, e eu sentia o peso da responsabilidade nos ombros. Abrir a porta parecia mais difícil do que qualquer operação que já fiz.Helena nos aguardava como toda noite quando saíamos em missão , ainda vestindo seu roupão. Seus olhos se arregalaram ao ver as crianças em nossos braços.— O que…? Sua voz falhou, e el
CamilaO silêncio que se instalou depois da declaração de Helena parecia pesar sobre nós como uma tempestade prestes a desabar. Eu podia ver a batalha interna que ela travava. Seus olhos, ainda fixos nos bebês, estavam cheios de dúvidas, mas também de algo que eu reconheci de imediato: ternura.Camila foi a primeira a quebrar o silêncio, sua voz suave, mas cheia de emoção.— Helena, isso não é algo que você precisa decidir agora. Mas… olha para eles. Ela ajeitou a pequena menina nos braços, que soltou um suspiro profundo e se aconchegou mais contra ela. — Eles precisam de alguém que os ame.Eu me aproximei e me abaixei ao lado de Helena, que ainda estava sentada no sofá. Meu olhar se encontrou com o dela, e eu vi que ela já tinha tomado uma decisão, mesmo que ainda não estivesse pronta para admitir.— Você tem um coração enorme, Helena. E eu sei que você não conseguiria simplesmente virar as costas para eles.Ela soltou um suspiro trêmulo e passou a mão pelo rosto.— Eu… eu só não
O dilema do futuro O silêncio na sala era cortante. Eu olhava para os bebês dormindo no sofá, sentindo o peso da decisão que tínhamos que tomar. Helena ainda estava parada perto da mesa, os braços cruzados, o rosto marcado por um misto de incredulidade e preocupação. — Felipe… vocês sabem que não podem simplesmente ficar com eles, certo? Ela disse, sua voz mais suave do que antes. Passei as mãos pelo rosto, exausto. Camila se sentou ao meu lado, parecendo igualmente perdida. — Eu sei. Mas o que podemos fazer? Entregar para um orfanato? Para o governo? Minha voz saiu mais áspera do que eu pretendia. Vicenzo, que até então estava calado, respirou fundo e se encostou na parede. — Se entregarmos para um orfanato, corremos o risco de que os envolvidos nesse esquema os procurem. Ele disse. — Ainda não sabemos quem estava comprando essas crianças, e qual era a finalidade. Helena suspirou e olhou para os pequenos. Um deles se mexeu, soltando um resmungo baixinho antes de voltar a do
Felipe Eu me aproximei dela, colocando a mão sobre a dela que estava apoiada na mesa. O toque foi suave, mas firme, como se quiséssemos segurar algo precioso. Algo que era pequeno demais para ser abandonado, mas grande demais para ser ignorado. — Eu só quero ter certeza de que estamos fazendo o melhor para eles. Minha voz saiu mais baixa, carregada de incerteza. Helena respirou fundo e, por um momento, ficou em silêncio. Olhou para a janela, para o brilho suave da manhã que iluminava a casa. As árvores do lado de fora balançavam suavemente ao vento, e eu me perguntei se, de alguma forma, aquilo não fosse também um sinal. — Às vezes, não sabemos o que é certo. Às vezes, é preciso dar um passo para frente e confiar que estamos fazendo o melhor que podemos. Ela disse, suas palavras cheias de uma sabedoria que, até aquele momento, eu não tinha reconhecido. Foi naquele momento que eu soube. Sabia que a decisão estava tomada, não apenas por ela, mas por nós dois. Eu olhei para ela e
Felipe O vínculo cresceA noite avançou e já havíamos chegado a uma decisão definitiva. Helena já olhava para os bebês de um jeito diferente.Ela passou a madrugada em claro, levantando-se sempre que um dos pequenos chorava. O primeiro a acordar foi o menino. Eu a observei pegá-lo no colo com delicadeza, murmurando palavras de conforto. Seu toque era suave, e, em poucos minutos, ele se acalmou, aninhando-se contra ela.— Você tem jeito para isso Murmurei, recostado na parede.Helena sorriu, mas seus olhos estavam cheios de incerteza.— Eu nunca imaginei…— Imagino que não. Concordei.Ela olhou para o bebê e depois para mim.— Felipe, eles já foram rejeitados pelo mundo uma vez. Não deixarei que isso aconteça de novo.Suspirei, sentindo a tensão crescer.— Você sabe o que isso significa, não sabe? Cuidar deles não será fácil.Ela apertou a criança contra o peito, como se instintivamente já quisesse protegê-lo.— Eu vou conseguir, darei a eles todo o amor que não pude dar a nossa fil
Ele sabia que essa escolha não era fácil, mas sabia, talvez mais do que ninguém, que era a única escolha certa.Eu assenti, sentindo o peso de cada palavra.— Eu tenho certeza. Eles precisam de nós, e nós precisávamos deles!Vicenzo sorriu, seu olhar se suavizando. Ele não era de muitas palavras, mas quando ele dizia algo, sabia que tinha significado.Camila estava ao meu lado, sorrindo, mas com um toque de apreensão nos olhos. Ela se aproximou de Helena e tocou seu ombro com carinho.— Como está se sentindo? Perguntou Camila com um sorriso gentil.Helena olhou para ela e então para os bebês. A expressão dela era serena, mas seus olhos estavam cheios de algo mais profundo, algo que eu não conseguia explicar. Ela olhou para Camila e, com uma leveza no sorriso, respondeu:— Eu estou bem. Eu acho que estava incompleta, sentia a falta da minha bebê, mas agora estou completa, só não sabia disso até agora.Camila riu suavemente.— É bom saber que você está pronta para isso. Vamos precisar