Camila Nos dias que se seguiram, Helena se manteve reservada. Ela participava das reuniões sobre a organização do casamento, mas era óbvio que seu coração estava distante. Camila percebeu isso antes de todos. Um dia, enquanto eu estava no campo de treino com Antônio, vi as duas caminhando juntas pelo jardim. Camila falava gesticulando muito, enquanto Helena escutava, com os braços cruzados. Mais tarde naquela noite, Camila veio até mim. — Felipe, Helena está… quebrada. Olhei para ela, confuso. — Como assim, quebrada? Camila suspirou e se sentou ao meu lado. — Ela perdeu algo muito importante, Felipe ou alguém muito importante. Mas ela não fala sobre isso. Está guardando tudo dentro de si. — Você acha que eu devo falar com ela? — Acho que você deve dar tempo a ela. Mas… esteja por perto quando ela decidir falar. Assenti, sentindo um peso diferente no peito. Naquela mesma noite, encontrei Helena sozinha no terraço. Ela estava sentada em uma poltrona, com um copo
Felipe Os dias após o casamento foram uma mistura de alívio e tensão. A cerimônia havia sido impecável, com flores brancas adornando cada canto, Helena usando um vestido simples, mas elegante, e Felipe mantendo uma postura firme ao seu lado. No entanto, mesmo durante os votos, algo nos olhos de Helena parecia distante, como se ela estivesse em outro lugar.Agora, instalados na casa que havia sido alugada para que o casal passasse a lua de mel Vicenzo fez questão de comprar a ilha de Salvatore para presentar o casal com a desculpa que como Helena passava meses lá ela ficaria muito contente.E o Dom ainda fez um pedido irrecusável ao Salvatore, já que Felipe era seu soldado de confiança e estava sempre em missão, o Antônio deveria ficar como protetor de Helena para que nada de mal acontecesse a ela.Vicenzo aproveitou o pedido de Felipe para a compra da ilha e iria construir uma base secreta, no lado Sul da ilha distante da casa principal onde somente seus soldados mais chegados teria
Camila cruzou os braços e ia retrucar quando Helena apareceu na porta. Ela parecia hesitante, segurando um livro contra o peito.— Felipe, podemos conversar? A sós?Camila arqueou uma sobrancelha, mas assentiu, saindo do escritório.— Claro, Helena. Entre. O que aconteceu?Ela entrou, fechou a porta e sentou-se na cadeira à frente da mesa de Felipe. Seus dedos tamborilavam nervosamente sobre o livro.— Eu quero ir para a ilha.Felipe franziu o cenho.— Ilha? Está falando da propriedade isolada da família Vicenzo?— Sim. É um lugar calmo, longe de tudo. Eu preciso… respirar. Preciso de paz. Lá, eu me sinto mais próxima dele.Felipe não perguntou quem era "ele". Já sabia.— Helena, eu entendo seu desejo de paz, mas estamos em um momento delicado. Você realmente quer ficar tão isolada?— Sim, Felipe. É importante para mim.Felipe inclinou-se para frente, olhando diretamente nos olhos dela.— Antônio? Por quê? Ele é um dos homens mais leais de Dom Vicenzo, mas… por que especificamente ele
Felipe A manhã nasceu fria. A névoa se espalhava pelos campos enquanto o sol tentava, em vão, romper a densidade branca que cobria tudo. O silêncio era quase palpável, interrompido apenas pelo som de botas pesadas pisando no cascalho.Eu estava sentado nos degraus da varanda principal, segurando uma caneca de café quente. A noite anterior havia sido longa demais, e o peso das últimas horas ainda pairava sobre mim.— Felipe… — A voz suave de Camila me tirou dos meus pensamentos.Ela estava ali, envolta em um casaco largo demais para seu corpo magro. Seus olhos castanhos pareciam mais vivos do que na noite anterior, mas ainda havia algo quebrado neles.— Camila, você deveria estar descansando. A médica disse que precisa de mais algumas horas de sono.Ela deu um sorriso fraco, sentando-se ao meu lado.— Já dormi demais, Felipe. E você? Dormiu pelo menos um pouco?Bebi mais um gole de café antes de responder:— O suficiente para não desmaiar.O silêncio caiu entre nós, mas não era descon
FelipeEu estava no escritório quando os vi. Helena, com seus passos firmes, seguiu na direção do jardim. Antônio a acompanhava como uma sombra, com os ombros curvados, carregando um peso invisível que parecia maior do que ele. A manhã, embora ensolarada, tinha um silêncio denso, quase sufocante, que preenchia o espaço entre nós. Do outro lado da janela, meu coração começou a apertar.Eles pararam diante do jasmim. Era um arbusto robusto, florido e cheio de vida, mas, naquele instante, parecia um guardião de memórias dolorosas. Helena hesitou por um momento, depois caiu de joelhos, como se as forças tivessem sido arrancadas dela. Seu corpo tremia, os soluços vinham de algum lugar profundo, quase primal. Eu não precisava ouvir para saber a intensidade do seu sofrimento. Era como se cada lágrima fosse uma lâmina cortando seu coração.Eu fiquei ali, imóvel, com as mãos apoiadas na mesa, observando através do vidro. Minha respiração ficou irregular, e um nó se formou em minha garganta.
Capítulo: Sob o Jasmim O toque dela em meus braços era frágil, mas carregava o peso de tudo o que estávamos vivendo. O vento balançava as flores do jasmim, e o perfume delas parecia misturar-se à nossa dor, tornando aquele momento ao mesmo tempo insuportável e necessário. Helena permaneceu ali, abraçada a mim, e eu percebia que, por mais que ela tentasse se recompor, seu corpo ainda tremia, dominado por uma tristeza que parecia inextinguível. — Eu não sei como seguir em frente...Ela sussurrou, sua voz rouca de tanto chorar. Eu me afastei o suficiente para olhar em seus olhos. Havia ali uma vulnerabilidade que me despedaçava. Ela sempre fora forte, muito mais do que eu em tantos aspectos, mas naquele momento era como se toda sua força tivesse sido sugada. Passei a mão pelo rosto dela, secando uma lágrima que escapava. — Nós vamos encontrar um jeito. Juntos, Helena. Eu prometo. Minhas palavras pareciam tão insuficientes, quase vazias, mas eram tudo o que eu podia oferecer. Eu não t
Meses depois na Fazenda Santo Antônio.MariaOs primeiros raios de sol iluminavam o horizonte quando acordei naquela manhã. Olhei pela janela do meu quarto na Fazenda Santo Antônio e senti uma paz que há muito tempo não experimentava. Clara ainda dormia em seu berço, os pequenos punhos cerrados descansando perto do rosto. Ela tinha apenas seis meses, mas já havia se tornado o coração da casa.Hilda estava na cozinha quando desci, cantarolando uma melodia que já conhecia de cor. Desde que cheguei à fazenda, ela havia se tornado mais do que minha patroa ou uma amiga; era como uma irmã mais velha. Estávamos sempre juntas, seja dividindo o trabalho ou confidenciando sonhos e segredos.— Bom dia, Maria! Ela disse, com um sorriso caloroso, enquanto mexia em uma tigela cheia de massa para biscoitos. Clara ainda dorme?— Dorme como um anjo. Sorri de volta, puxando uma cadeira para me sentar à mesa. — Acho que a fazenda tem esse efeito nela. O ar fresco, os sons da natureza é como um bálsa
MariaMinha alegria por ter uma casa independente na fazenda era imensa. Desde que cheguei, sentia que finalmente tinha encontrado um lugar onde podia criar raízes. Alfredo nos tratava como parte de sua família, e o trabalho na fazenda me dava propósito. As manhãs eram dedicadas aos afazeres domésticos, enquanto as tardes eram momentos de convivência e aprendizado.Certo dia eu, Hilda e Luís estávamos sentados no chão com ela, brincando com seus brinquedos simples, quando ela se apoiou nas mãos e joelhos e tentou se movimentar. O momento foi seguido por aplausos e gritos de encorajamento.— Isso mesmo, minha pequena! Eu disse, quase chorando de emoção. Você consegue!Luís, que geralmente era mais reservado, bateu palmas e riu alto. Essa menina vai longe, Maria. Pode apostar.Alfredo, que nos observava da poltrona, sorriu com orgulho. –Clara é a prova de que novos começos são possíveis. Essa criança vai trazer muita alegria para todos nós.Clara era minha motivação para tudo. Sempr