Felipe A manhã nasceu fria. A névoa se espalhava pelos campos enquanto o sol tentava, em vão, romper a densidade branca que cobria tudo. O silêncio era quase palpável, interrompido apenas pelo som de botas pesadas pisando no cascalho.Eu estava sentado nos degraus da varanda principal, segurando uma caneca de café quente. A noite anterior havia sido longa demais, e o peso das últimas horas ainda pairava sobre mim.— Felipe… — A voz suave de Camila me tirou dos meus pensamentos.Ela estava ali, envolta em um casaco largo demais para seu corpo magro. Seus olhos castanhos pareciam mais vivos do que na noite anterior, mas ainda havia algo quebrado neles.— Camila, você deveria estar descansando. A médica disse que precisa de mais algumas horas de sono.Ela deu um sorriso fraco, sentando-se ao meu lado.— Já dormi demais, Felipe. E você? Dormiu pelo menos um pouco?Bebi mais um gole de café antes de responder:— O suficiente para não desmaiar.O silêncio caiu entre nós, mas não era descon
FelipeEu estava no escritório quando os vi. Helena, com seus passos firmes, seguiu na direção do jardim. Antônio a acompanhava como uma sombra, com os ombros curvados, carregando um peso invisível que parecia maior do que ele. A manhã, embora ensolarada, tinha um silêncio denso, quase sufocante, que preenchia o espaço entre nós. Do outro lado da janela, meu coração começou a apertar.Eles pararam diante do jasmim. Era um arbusto robusto, florido e cheio de vida, mas, naquele instante, parecia um guardião de memórias dolorosas. Helena hesitou por um momento, depois caiu de joelhos, como se as forças tivessem sido arrancadas dela. Seu corpo tremia, os soluços vinham de algum lugar profundo, quase primal. Eu não precisava ouvir para saber a intensidade do seu sofrimento. Era como se cada lágrima fosse uma lâmina cortando seu coração.Eu fiquei ali, imóvel, com as mãos apoiadas na mesa, observando através do vidro. Minha respiração ficou irregular, e um nó se formou em minha garganta.
Capítulo: Sob o Jasmim O toque dela em meus braços era frágil, mas carregava o peso de tudo o que estávamos vivendo. O vento balançava as flores do jasmim, e o perfume delas parecia misturar-se à nossa dor, tornando aquele momento ao mesmo tempo insuportável e necessário. Helena permaneceu ali, abraçada a mim, e eu percebia que, por mais que ela tentasse se recompor, seu corpo ainda tremia, dominado por uma tristeza que parecia inextinguível. — Eu não sei como seguir em frente...Ela sussurrou, sua voz rouca de tanto chorar. Eu me afastei o suficiente para olhar em seus olhos. Havia ali uma vulnerabilidade que me despedaçava. Ela sempre fora forte, muito mais do que eu em tantos aspectos, mas naquele momento era como se toda sua força tivesse sido sugada. Passei a mão pelo rosto dela, secando uma lágrima que escapava. — Nós vamos encontrar um jeito. Juntos, Helena. Eu prometo. Minhas palavras pareciam tão insuficientes, quase vazias, mas eram tudo o que eu podia oferecer. Eu não t
Meses depois na Fazenda Santo Antônio.MariaOs primeiros raios de sol iluminavam o horizonte quando acordei naquela manhã. Olhei pela janela do meu quarto na Fazenda Santo Antônio e senti uma paz que há muito tempo não experimentava. Clara ainda dormia em seu berço, os pequenos punhos cerrados descansando perto do rosto. Ela tinha apenas seis meses, mas já havia se tornado o coração da casa.Hilda estava na cozinha quando desci, cantarolando uma melodia que já conhecia de cor. Desde que cheguei à fazenda, ela havia se tornado mais do que minha patroa ou uma amiga; era como uma irmã mais velha. Estávamos sempre juntas, seja dividindo o trabalho ou confidenciando sonhos e segredos.— Bom dia, Maria! Ela disse, com um sorriso caloroso, enquanto mexia em uma tigela cheia de massa para biscoitos. Clara ainda dorme?— Dorme como um anjo. Sorri de volta, puxando uma cadeira para me sentar à mesa. — Acho que a fazenda tem esse efeito nela. O ar fresco, os sons da natureza é como um bálsa
MariaMinha alegria por ter uma casa independente na fazenda era imensa. Desde que cheguei, sentia que finalmente tinha encontrado um lugar onde podia criar raízes. Alfredo nos tratava como parte de sua família, e o trabalho na fazenda me dava propósito. As manhãs eram dedicadas aos afazeres domésticos, enquanto as tardes eram momentos de convivência e aprendizado.Certo dia eu, Hilda e Luís estávamos sentados no chão com ela, brincando com seus brinquedos simples, quando ela se apoiou nas mãos e joelhos e tentou se movimentar. O momento foi seguido por aplausos e gritos de encorajamento.— Isso mesmo, minha pequena! Eu disse, quase chorando de emoção. Você consegue!Luís, que geralmente era mais reservado, bateu palmas e riu alto. Essa menina vai longe, Maria. Pode apostar.Alfredo, que nos observava da poltrona, sorriu com orgulho. –Clara é a prova de que novos começos são possíveis. Essa criança vai trazer muita alegria para todos nós.Clara era minha motivação para tudo. Sempr
MariaA noite estava silenciosa na Fazenda Santo Antônio, e enquanto eu embalava Clara nos braços, os pensamentos sobre o passado vieram como uma brisa leve, trazendo memórias de Helena e Antônio. Clara estava aninhada contra o meu peito, os olhos quase fechados, mas ainda segurando meu dedo com a mãozinha macia. Ela era meu mundo agora, minha razão para seguir em frente, mas, às vezes, era impossível não sentir saudades de quem um dia foi parte de mim.Como estará Helena, imagino o sofrimento da minha menina, mas precisava salvar a Clara, ñela era a mais frágil em toda essa história.Sinto muitas saudades da Helena, e após aquela carta do Antônio, penso o que poderia ter sido nós dois, ou se um dia teremos alguma chance.Minha pequena casa na fazenda é simples, mas tem tudo o que precisamos. Uma cama confortável, um berço feito por Alfredo, uma cozinha aconchegante com uma mesa pequena onde eu e Clara fazemos nossas refeições. Hilda sempre diz que a casa tinha meu toque: flores no
Primeira Operação. Felipe A noite estava carregada de tensão. As equipes estavam posicionadas em suas respectivas rotas, e cada minuto que passava parecia se arrastar em câmera lenta. Eu estava com o meu grupo, liderando a equipe que interceptaria uma das rotas marítimas mais usadas por Paulo. O mar à nossa frente estava calmo, mas a escuridão era traiçoeira. — Equipe Alpha, posição confirmada. Nenhum movimento até agora. A voz de Camila soou no rádio, firme, mas com um leve tremor de nervosismo. Pedro e Juan já estavam no perímetro do aeroporto clandestino. Vitor e George haviam se infiltrado na rota terrestre. O plano era simples, mas arriscado: Atacar simultaneamente, desmantelar as operações e capturar Paulo, se possível. — Mantenham os olhos abertos. Assim que tivermos a confirmação do carregamento, avançamos. O som de tiros rompeu o silêncio no rádio. — Contato! Contato! Vitor, cuidado! Eles armaram uma emboscada! — A voz de George soou desesperada. — E
A Investigação ProfundaApós a operação bem-sucedida, a sensação de alívio foi substituída rapidamente pela tensão. Sabíamos que, apesar da vitória contra Paulo, a verdadeira batalha ainda estava por vir. A operação tinha sido arriscada e imprevisível, mas o verdadeiro inimigo estava dentro da própria organização. E era isso que mais nos preocupava agora.A equipe estava reunida na sala de comando, um ambiente tenso e abafado, enquanto aguardávamos a comunicação com Vicenzo. Ele havia nos acompanhado em cada passo, mesmo à distância, mas agora, ele precisava ouvir tudo diretamente de nós.Eu estava ali, de pé, com os outros membros da equipe, aguardando o momento em que o contato seria feito. Cada um parecia absorver os acontecimentos à sua maneira.A sensação de que havíamos fechado uma rota de fuga de Paulo, mas, ao mesmo tempo, a percepção de que havia algo maior, mais perigoso, à espreita. A missão não estava completa, não até que descobríssemos a verdade.Camila, ao meu lado, pa