Capítulo: Sob o Jasmim O toque dela em meus braços era frágil, mas carregava o peso de tudo o que estávamos vivendo. O vento balançava as flores do jasmim, e o perfume delas parecia misturar-se à nossa dor, tornando aquele momento ao mesmo tempo insuportável e necessário. Helena permaneceu ali, abraçada a mim, e eu percebia que, por mais que ela tentasse se recompor, seu corpo ainda tremia, dominado por uma tristeza que parecia inextinguível. — Eu não sei como seguir em frente...Ela sussurrou, sua voz rouca de tanto chorar. Eu me afastei o suficiente para olhar em seus olhos. Havia ali uma vulnerabilidade que me despedaçava. Ela sempre fora forte, muito mais do que eu em tantos aspectos, mas naquele momento era como se toda sua força tivesse sido sugada. Passei a mão pelo rosto dela, secando uma lágrima que escapava. — Nós vamos encontrar um jeito. Juntos, Helena. Eu prometo. Minhas palavras pareciam tão insuficientes, quase vazias, mas eram tudo o que eu podia oferecer. Eu não t
Meses depois na Fazenda Santo Antônio.MariaOs primeiros raios de sol iluminavam o horizonte quando acordei naquela manhã. Olhei pela janela do meu quarto na Fazenda Santo Antônio e senti uma paz que há muito tempo não experimentava. Clara ainda dormia em seu berço, os pequenos punhos cerrados descansando perto do rosto. Ela tinha apenas seis meses, mas já havia se tornado o coração da casa.Hilda estava na cozinha quando desci, cantarolando uma melodia que já conhecia de cor. Desde que cheguei à fazenda, ela havia se tornado mais do que minha patroa ou uma amiga; era como uma irmã mais velha. Estávamos sempre juntas, seja dividindo o trabalho ou confidenciando sonhos e segredos.— Bom dia, Maria! Ela disse, com um sorriso caloroso, enquanto mexia em uma tigela cheia de massa para biscoitos. Clara ainda dorme?— Dorme como um anjo. Sorri de volta, puxando uma cadeira para me sentar à mesa. — Acho que a fazenda tem esse efeito nela. O ar fresco, os sons da natureza é como um bálsa
MariaMinha alegria por ter uma casa independente na fazenda era imensa. Desde que cheguei, sentia que finalmente tinha encontrado um lugar onde podia criar raízes. Alfredo nos tratava como parte de sua família, e o trabalho na fazenda me dava propósito. As manhãs eram dedicadas aos afazeres domésticos, enquanto as tardes eram momentos de convivência e aprendizado.Certo dia eu, Hilda e Luís estávamos sentados no chão com ela, brincando com seus brinquedos simples, quando ela se apoiou nas mãos e joelhos e tentou se movimentar. O momento foi seguido por aplausos e gritos de encorajamento.— Isso mesmo, minha pequena! Eu disse, quase chorando de emoção. Você consegue!Luís, que geralmente era mais reservado, bateu palmas e riu alto. Essa menina vai longe, Maria. Pode apostar.Alfredo, que nos observava da poltrona, sorriu com orgulho. –Clara é a prova de que novos começos são possíveis. Essa criança vai trazer muita alegria para todos nós.Clara era minha motivação para tudo. Sempr
MariaA noite estava silenciosa na Fazenda Santo Antônio, e enquanto eu embalava Clara nos braços, os pensamentos sobre o passado vieram como uma brisa leve, trazendo memórias de Helena e Antônio. Clara estava aninhada contra o meu peito, os olhos quase fechados, mas ainda segurando meu dedo com a mãozinha macia. Ela era meu mundo agora, minha razão para seguir em frente, mas, às vezes, era impossível não sentir saudades de quem um dia foi parte de mim.Como estará Helena, imagino o sofrimento da minha menina, mas precisava salvar a Clara, ñela era a mais frágil em toda essa história.Sinto muitas saudades da Helena, e após aquela carta do Antônio, penso o que poderia ter sido nós dois, ou se um dia teremos alguma chance.Minha pequena casa na fazenda é simples, mas tem tudo o que precisamos. Uma cama confortável, um berço feito por Alfredo, uma cozinha aconchegante com uma mesa pequena onde eu e Clara fazemos nossas refeições. Hilda sempre diz que a casa tinha meu toque: flores no
Primeira Operação. Felipe A noite estava carregada de tensão. As equipes estavam posicionadas em suas respectivas rotas, e cada minuto que passava parecia se arrastar em câmera lenta. Eu estava com o meu grupo, liderando a equipe que interceptaria uma das rotas marítimas mais usadas por Paulo. O mar à nossa frente estava calmo, mas a escuridão era traiçoeira. — Equipe Alpha, posição confirmada. Nenhum movimento até agora. A voz de Camila soou no rádio, firme, mas com um leve tremor de nervosismo. Pedro e Juan já estavam no perímetro do aeroporto clandestino. Vitor e George haviam se infiltrado na rota terrestre. O plano era simples, mas arriscado: Atacar simultaneamente, desmantelar as operações e capturar Paulo, se possível. — Mantenham os olhos abertos. Assim que tivermos a confirmação do carregamento, avançamos. O som de tiros rompeu o silêncio no rádio. — Contato! Contato! Vitor, cuidado! Eles armaram uma emboscada! — A voz de George soou desesperada. — E
A Investigação ProfundaApós a operação bem-sucedida, a sensação de alívio foi substituída rapidamente pela tensão. Sabíamos que, apesar da vitória contra Paulo, a verdadeira batalha ainda estava por vir. A operação tinha sido arriscada e imprevisível, mas o verdadeiro inimigo estava dentro da própria organização. E era isso que mais nos preocupava agora.A equipe estava reunida na sala de comando, um ambiente tenso e abafado, enquanto aguardávamos a comunicação com Vicenzo. Ele havia nos acompanhado em cada passo, mesmo à distância, mas agora, ele precisava ouvir tudo diretamente de nós.Eu estava ali, de pé, com os outros membros da equipe, aguardando o momento em que o contato seria feito. Cada um parecia absorver os acontecimentos à sua maneira.A sensação de que havíamos fechado uma rota de fuga de Paulo, mas, ao mesmo tempo, a percepção de que havia algo maior, mais perigoso, à espreita. A missão não estava completa, não até que descobríssemos a verdade.Camila, ao meu lado, pa
Meu coração disparou. Era o momento da verdade.— Aqui é Felipe. Respondi, tentando manter a voz firme, embora sentisse a tensão tomar conta de mim. — A operação foi bem-sucedida. As rotas de fuga de Paulo foram destruídas, as embarcações estão fora de operação. O carregamento foi destruído no cais e, apesar das baixas, conseguimos neutralizar a maioria dos homens dele.— E Paulo? A voz de Vicenzo era grave, como sempre, mas havia um tom de frustração ali. — Ele foi capturado?Fechei os olhos por um instante, lembrando do momento em que Paulo escapou, rindo como um espectro, desaparecendo nas sombras.— Não, senhor. Ele conseguiu fugir antes que pudéssemos chegar a ele. Os barcos estavam preparados para levá-lo, e ele deixou a área antes que o cerco fosse fechado.Houve um silêncio no rádio, e a tensão aumentou. Eu podia sentir o peso da decepção em cada segundo que se passava. Mesmo sabendo que as rotas haviam sido fechadas, a fuga de Paulo era uma falha que não podia ser ignorada
O rádio silenciou, e todos na sala se entreolharam. Sabíamos que, ao reportar nossa missão de forma aberta e honesta, estávamos também colocando em risco tudo o que havíamos construído até agora. Mas a verdade precisava ser dita. A corrupção estava infiltrada, e, sem a autorização de Vicenzo, nunca seríamos capazes de limpar a casa por conta própria.Eu dei um passo atrás, a mente cheia de pensamentos conflitantes. A operação havia sido um sucesso, mas a guerra ainda não tinha sido vencida. Agora, precisávamos nos focar em algo ainda mais perigoso:A caça ao traidor!— A caça vai começar agora, então. Camila murmurou ao meu lado, e, apesar da leveza em sua voz, senti o peso de suas palavras.Eu assenti, determinado.— Vamos fazer isso.Agora, não havia mais volta. O inimigo estava dentro, e seria necessário limpar a casa, uma peça de cada vez.Agora, a missão se tornava ainda mais complexa. Não só tínhamos que capturar Paulo, mas também caçar um traidor que estava no centro de nossa