EvelyneEu não deveria estar aqui. Sei que não deveria.Não pelo fato de ser um bar — os caras não pedem identidade por aqui, e isso não significa exatamente que eu tenha que beber, porque dificilmente bebo — mas confesso que ele me afeta mais que qualquer dose de vodca que eu me aventure a consumir. Assistir Aaron Ditt em cima de um palco, guitarra na mão e cantando, me deixa um tanto quanto... excitada, extasiada, com borboletas na barriga.Os músculos de seus braços ondulam quando ele passa a mão pelo cabelo escuro e os tira da testa. Pela primeira vez, estou vendo Aaron com uma roupa que não possui mangas compridas, e as tatuagens que cobrem literalmente toda a pele dos seus braços estão visíveis, como obras primas em um painel. Sua voz me lembra um uísque de sabor picante, seus dedos habilidosos me fazem esquecer por um momento que sua especialização é o piano, e não a guitarra. Ele é bom com essa coisa. É bom também em atrair a atenção das pessoas, principalmente a minha. Vou mo
Ele rola os olhos e se levanta do seu banco. Fica de frente para mim e afasta uma mecha de cabelo do meu rosto com seu dedo mindinho. Sem tirar os olhos dos meus, diz:— Você não confia em mim?— Preciso mesmo te responder essa pergunta?Mais uma vez, aquele sorriso.— Apenas dessa vez.Eu abaixo a cabeça, interrompendo nosso contato visual mais uma vez. Ele tem um poder de persuasão muito bom, maldito seja. Ou eu simplesmente estou com os meus hormônios todos fora de controle. É a única explicação para eu fazer o que não deveria estar fazendo: aceitar o seu convite.Quando entro no carro de Aaron, faço o possível para manter a viagem silenciosa. Ele tenta puxar assunto, mas estou nervosa demais para interagir ou me permitir focar no cheiro de sua colônia ou a maneira como ele fica ao menos em manejar o volante. As coisas seriam mais fáceis se ele não fosse tão atraente, ou se não agisse totalmente o oposto do que eu imaginei que seria.Eu saberia lidar com um babaca idiota. Eu não se
— Um cara como eu?— Você sabe do que estou dizendo, Aaron. Você é popular e todos giram ao seu redor.Ele faz uma pausa.— Como um certo personagem diz: nunca devemos julgar uma pessoa pela imagem que você esboça dela.Eu paro com a frase conhecida.— Isso é um trecho de...— Capitão Flecha. Comecei a ler.Boom, boom. Meu coração está batendo tão forte agora. Levo a mão ao peito para conter esse músculo teimoso.— E você gostou?Ele ri.— Não posso dizer que é o meu estilo, mas não é tão ruim quanto imaginei.Eu mordo o lábio, sentindo um sorriso espreitar no meu rosto. Já não ligo mais para a discussão que estávamos tendo antes. Eu quero beijá-lo. Quero tanto beijá-lo. Sei que ele sente isso também, porque seus olhos navegam até a minha boca, seu sorriso morrendo aos poucos. O corpo de Aaron está mais perto do meu agora, mas ele não avança. Ele está apenas esperando uma confirmação da minha parte. Bastaria um sim e nossos lábios estariam grudados um no outro, eu estaria sentindo com
Evelyne— Eu achei que você nunca mais viria para casa — minha mãe diz, aproximando-se de mim para me dar um beijo.— Desculpe, mãe. Eu estava meio atarefada.— Imagino, querida. As primeiras semanas no Joe Bixby sempre são as mais difíceis.— Isso porque ela não chegou às últimas ainda — meu padrasto brinca. Ele também se aproxima e dá um beijo na minha testa. — Bem-vinda de volta.— Obrigada. — Me sinto mal por tê-los evitado por tanto tempo. Por mais que eu tente mentir para mim mesma, não é surpresa que só estou aqui porque quero evitar Aaron e as coisas que ele me faz sentir. Estou muito dividida a respeito dos meus sentimentos. É óbvio que me sinto atraída por ele, mas não posso permitir ter algo com ele enquanto a minha consciência estiver pesada. Eu preciso contar, de uma vez por todas, a verdade para a minha mãe. Não posso mais manter essa mentira. Mesmo que isso os magoe, eles vão ter que superar um dia, certo?— O que temos pro almoço? — Cass indaga. — Estou faminta.— Prep
Evelyne— Carro bonito — diz Kendall na segunda-feira de manhã.Tenho certeza de que há alguém lá em cima que já está começando sua sessão de punições, caso contrário eu não estaria sendo obrigada a dar de cara com ela justamente agora.— Obrigada. — Eu tento passar por Kendall, mas ela segura em meu braço e me faz parar.— Presente da mamãe?Puxo meu braço de volta.— Algo assim.— Ela parece bastante orgulhosa de você, não é?Dou de ombros.— Modéstia à parte, sou uma ótima aluna.Kendall cruza os braços e volta a encarar o carro novinho em folha.— Se me lembro bem, da vez em que Cassidy foi convidada para participar das Ravens, sua mãe deu a ela uma passagem para Paris. Viajamos nas férias do semestre e foi tão incrível. Você deveria ter nos acompanhado, querida — ela diz cinicamente. — Por acaso, este carro não tem nada a ver com sua quase relação com as Ravens, não é? Afinal, você ainda não cumpriu com a sua parte no acordo.— Ken, a gente acabou de chegar — diz Cass. — Dê um te
Quando chego na sala da reitoria, a mulher me recebe com um sorriso polido.— Srta. Dixon, por favor, sente-se.— Obrigada. — Eu me sento na cadeira diante da sua mesa, nervosa sob seu olhar astuto.Margot Ramsay é uma mulher de meia-idade, com cabelos loiros até os ombros e que sempre carrega uma postura austera. Há algo no olhar dela que não me transmite confiança e me deixa apreensiva.— Estou curiosa para saber o que te traz aqui na minha sala — ela diz.— Sinto muito por não ter marcado uma reunião. Sei como seu tempo é precioso.Ela sorri.— É o mínimo que posso fazer pela filha de alguém por quem tenho tanto apreço — diz. — Já fiz os agradecimentos formais, mas quando puder diga à sua mãe que ainda somos imensamente gratos pela doação que ela fez à nossa universidade no ano passado.Não é a primeira vez que minha família faz doações às instituições relacionadas à música. Não seria diferente com Joe Bixby, obviamente, um lugar tão importante para Dionne.— Claro. Não vou me esqu
Atiro o papel na mesinha de centro e cinco pares de olhos se voltam para o ponto em questão.— O que significa isso? — pergunta Monroe.— Minha inscrição para o festival anual. Decidi participar.Kendall inclina a cabeça.— Gostaria de um parabéns?Eu sorrio cinicamente para ela.— Mais que isso. Gostaria de anunciar que vou vencer.Ela ri.— Você não vai.— Eu vou — rebato, confiante.Kendall cruza os braços.— Você, por acaso, sabe quem foi que ganhou nos dois últimos anos na categoria em que vai competir?— Claro que sei. E estou disposta a fazer de tudo para enfrentá-lo de maneira justa — eu digo. — Sem toda a coisa de ter que seduzi-lo e quebrar o coração dele.Kendall me analisa por um momento.— Por que tudo isso, Evelyne? Não vai me dizer que está com pena dele, ou... o feitiço virou contra o feiticeiro e foi você quem se apaixonou.Eu bufo, tentando disfarçar a reação que suas palavras me causaram.— Piada engraçada, Kendall, mas eu estou aqui para falar sobre coisa séria — f
Evelyne— Bem-vindos à aula preparatória para a competição anual de música do Joe Bixby. Eu sou a Sra. Linderman e estou muito animada para orientar vocês neste projeto.Pelo menos duas dúzias de alunos estão sentadas ao redor da sala de música enquanto a mulher de cabelos grisalhos nos fala sobre o projeto anual. A maioria é composta por veteranos, e ele está aqui. O cara que ganhou por dois anos consecutivos na categoria de piano. O mesmo cara que tem mexido com muitas partes de mim pelas últimas semanas.Evitei Aaron Ditt o máximo que pude pelo restante da semana. Hoje é sexta-feira, minha primeira aula semanal de ensaio preparatório e já estou me arrependendo de ter ajustado a minha grade para este dia em específico. Teremos aulas juntos todas as sextas? Quão mais enervante isso poderia ser?— Neste ano, a organização para o evento não será muito diferente dos anteriores — continua a Sra. Linderman. — Como vocês sabem, gosto de praticar a união e aflorar o espírito esportivo de no