— Querido, acho que aqui já está bom — falou Olivia ao parar com a cesta nas mãos vendo o marido se afastar com a pequena Khristin carregada nos ombros, a garotinha usava um conjuntinho branco e rosa, além de um divertido chapéu branco com longas orelhas de coelho.
— Não, amor, tem muitas crianças jogando bola nesse ponto do parque, vamos seguir por aqui, paramos num lugar mais tranquilo — disse ao se virar para a esposa, fazendo a garotinha sorrir com o movimento.
— Chris, as crianças estão a muitos metros de distância, não tem como acertar a bola... — falou enquanto ajeitava o cinto de seu vestido azul-céu.
— Vamos, Olivia, mais um pouco e já vamos nos sentar — incentivou, seguindo em frente.
— Está bem, amor, mas você está sendo exagerado em seus cuidados! — declarou dando passos largos para alcançar o marido que segurava firme a menina enquanto apontava para uma flor ou algum animal que estivesse no caminho a fim de entreter a sua filha.
Olivia o seguia sorridente ouvindo o marido falar com a pequena, que respondia através de um vocabulário indecifrável. Christopher usava uma bermuda preta e uma regata de mesma cor, deixando as pernas e os braços malhados expostos, o cabelo estava mais curto e a pele levemente bronzeada, já que agora tomava sol com mais frequência, graças aos passeios em família.
Ela nunca foi tão feliz como nos últimos dez meses, assim como o seu marido, que descobriram na filha adotiva uma imensa alegria, a maior satisfação que aquele casal poderia ter. Khristin era para ambos a realização de seu maior sonho, o de se tornarem pais, e não importava como a criança chegou até eles, não importava o fato de não ter o sangue deles, pois ela fora um presente!
Agora, Olivia já não pensava mais em retornar ao trabalho, enquanto Christopher contava as horas para o seu dia de folga para passar junto da sua bela família. Assim, a cada folga sua, saíam os três para um passeio ao ar livre, faziam piqueniques, tomavam sorvete, saboreavam deliciosos lanches, iam à praia ou simplesmente, quando em dias frios ou chuvosos, assistiam filmes e faziam todo o possível para que a pequena tivesse horas agradáveis e animadas, resultando no cansaço da pequena para que dormisse bem durante a noite.
Mesmo quando Khristin dormia, se não era Olivia a admirando em seu berço, era o pai coruja. A pequena sempre fora bastante sadia, e apesar de ser muito esperta, ainda não arriscava os primeiros passinhos. Embora a mãe passasse mais tempo com ela, e sempre a paparicasse, Khristin se mostrava mais apegada ao pai, preferindo por vezes o seu colo ao de Olivia. Também era Christopher o preferido para fazê-la dormir, o que em muito alegrava o detetive, que somente com sua chegada percebera o quanto ansiava por se tornar pai.
Caminharam mais alguns minutos, até que chegaram num gramado onde se via ao longe um casal ou outro, o ambiente tranquilo que Christopher tanto queria.
— Pronto, querida, chegamos — falou sorrindo enquanto descia a filha e a entregava para a esposa. — Me dê a cesta, Olivia! — pediu com gentileza, ao que a esposa de pronto a entregou.
— Finalmente chegamos. — Sorriu Olivia vendo Christopher abrir a cesta e retirar uma toalha de cor marrom, estendendo-a sobre a grama, em seguida, retirou as frutas, alguns potes com fatias de pães, biscoitos e balas, e por fim, três caixinhas de suco.
— Venha, minha coelhinha! — chamou ao se levantar, estendendo os braços para Khristin e puxando delicadamente a esposa pela mão para sentar sobre a toalha.
Olivia sentou arrumando a saia do vestido e se acomodando confortavelmente ao lado da filha, que Christopher já colocara sentadinha.
— Pegue, coelhinha! — falou oferecendo a ela uma fatia de pão com geleia de morango, ao que a menina obedeceu, levando-o rapidamente para a boca e se sujando com a geleia enquanto seus pais riam da cena. — Olivia, o que vai querer? — Sorriu para a esposa.
— Nada, obrigada — respondeu olhando para a filha que parecia alheia aos pais. — Ela é tão linda, Chris!
— Sim, nossa filha é linda! — concordou sorrindo, e a puxou pelo braço carinhosamente, fazendo-a levantar e se sentar em seu colo. — Você é linda, meu amor! — falou acariciando os cabelos castanhos da esposa que caíam soltos na altura dos ombros com as pontas levemente onduladas. — Obrigado! — falou tocando com os dedos os lábios dela, que sorriu feliz.
— Por que está me agradecendo, Chris? — perguntou, enquanto acariciava os braços fortes do marido.
— Pela nossa família, por nunca desistir de tentar termos um filho, por insistir pela adoção, por ser tão maravilhosa...
— Chris!
— Me deixe falar, Olivia! — disse tocando mais uma vez os lábios da esposa. — Você sabe que meu trabalho exige muito de mim, que nem sempre consegui estar contigo quando queria. E depois de todos esses anos você está do meu lado, obrigado por não desistir de mim.
— Nunca desistiria de você, Chris! Eu te amo, sei o quanto seu trabalho é difícil e eu te admiro tanto, meu querido! — disse sorrindo.
— Também te amo, Olivia! E você está perfeita nesse vestido, nunca te vi com ele antes — constatou com um sorriso.
— É novo. Comprei porque quando o vi percebi que é da cor dos olhos da nossa filha — falou olhando para a menina que estava entretida olhando um rapaz que conduzia um cãozinho na coleira. — Olha como combina! — Sorriu divertida.
— Sim, é verdade. — Sorriu também e em seguida lhe deu um beijo apaixonado.
Chade, África
— Aqui não é lugar pra isso, Ruby! — falou após retirar as luvas e tentando se soltar do abraço que ela lhe dera por trás, acariciando seu abdômen sob a camisa cinza.
— Não seja careta, querido! Aqui é o melhor lugar, ninguém vai aparecer — comentou insistindo em acariciá-lo, deixando sua mão escorregar para tocá-lo de forma mais íntima, mas Vincent a impediu se virando para ela e ficando de costas para o frasco que acabara de fechar sobre uma cadeira, dentro jazia um feto mergulhado em formol.
— Não, Ruby, olha para isso! — falou apontando para o cadáver estirado numa mesa velha de madeira de onde escorria sangue formando poças no chão. — Não há qualquer clima para... — Ruby o beijou antes de deixá-lo concluir, mas ele a afastou, irritado. — Que droga, Ruby!
— Deixa de frescura, Vince! Esse seu nojinho de sangue tem que acabar logo, deixa eu te ajudar — falou se jogando nos seus braços.
— Ruby! — Revirou os olhos ainda mais irritado. — Não entendo como isso pode te excitar! — declarou olhando rapidamente a mulher morta sobre a mesa, onde se percebiam cortes nos braços, pernas, rosto e muitos outros na barriga.
— Definitivamente não te entendo — falou se aproximando da mesa e olhando atentamente os ferimentos deixados no cadáver, todos feitos antes da extração do feto. — Essa inútil tem um cheiro tão agradável — declarou aspirando o ar devagar.
— Isso é cheiro de sangue, Ruby! — Vince revirou os olhos, enojado.
— Não, querido! Não é só isso. É cheiro de dor e de medo.
— Ela já morreu, não está sentindo nada disso, querida! — ironizou ele.
— Mas sentiu. E o cheiro ainda está aqui apesar de você não o sentir.
— Você é louca!
— Você também, querido! — falou, encarando-o com um sorriso malicioso. — Somos iguais, apenas com gostos diferentes. Gostos peculiares, eu diria. — Sorriu.
— Você não é capaz de entender o que eu...
— Blá-blá-blá. — Revirou os olhos, interrompendo-o. — Não me interessa por que você faz, me interessa que você o faz. E faz muito bem! — falou erguendo uma sobrancelha. — Apesar de ainda contestar meus modos, somos iguais e você é um tolo ao negar isso.
Vincent cruzou os braços, ciente de que sua parceira estava prestes a iniciar uma palestra sobre quem eles eram.
— Olha para ela! — Ruby apontou para o cadáver, uma garota de quinze anos, um corpo pequeno e magricelo. — Depois que você lhe tirasse seu anjinho, ia matá-la depois de qualquer forma. Singelo demais, sem graça, sem emoção! — falou colocando as mãos sobre o corpo ainda quente e o empurrando da mesa, fazendo-o cair em um baque surdo, ao que Vincent suspirou irritado. — Estamos juntos, meu querido! Te ajudo a ter o que quer. — Apontou fazendo ele olhar na direção do seu dedo, avistando o feto no frasco. — E você me ajuda a ter o que eu quero... — Apontou para o corpo no chão.
— Já entendi isso há muito tempo — declarou ele.
— Não parece! — retrucou impaciente. — Isso tudo pra mim é extasiante, Vince, um momento sublime... excitante! Então preciso de você, isso é tão óbvio que chega a me cansar! — seu tom soou irritado.
— Eu tenho o que quero. — Vince apontou para o frasco na cadeira. — Você tem o que quer. — Apontou para o cadáver e para o sangue no chão. — Estamos quites, não?
— Estaríamos se não fosse eu a pessoa quem vai te ajudar em Los Angeles, não só nesses seus passatempos, como também a encontrar a sua filha, esqueceu? — Sorriu vitoriosa.
— Não acredito que possa fazer grande coisa — falou irritado.
— Isso prova que não me conhece o suficiente. — Sorriu se aproximando do biomédico. — Não me conhece como eu conheço você! — falou próximo de seu rosto. — Ou talvez eu não o conheça tão bem assim — disse em tom provocativo. — Porque jamais imaginei que seu nojinho de sangue o faria brochar! — falou ao mesmo tempo em que levou a mão para o volume na calça do biomédico, apertando-o, fazendo-o gemer.
— Sua... — falou agarrando-a pelo cabelo que estava preso em um coque e a puxou para mais perto do seu corpo, beijando-lhe a boca com um misto de raiva e desejo.
— Isso! — Ruby sussurrou excitada enquanto ele abria os botões da sua blusa e fazia escorregar a sua calça. Em seguida, Vincent a ergueu pelas nádegas e a levou até a mesa, colocou-a sentada para, finalmente, a possuir do jeito que Ruby queria.
— Meu Deus, Chris! — falou Olivia ao assistir ao vivo na TV uma perseguição policial, onde Christopher e Ramona corriam atrás de um suspeito de estupro e assassinato enquanto a polícia organizava um cerco.Levou alguns minutos para findar a reportagem, ela aguardou ansiosa, esperando um momento oportuno para ligar para o marido e comprovar que tudo acabara realmente bem, conforme fora dito na matéria, onde vira apenas o carro da polícia sair levando para a delegacia o suspeito.Sabia que ao chegar à Unidade de Homicídios demoraria algum tempo até ir interrogar o rapaz, considerando que os vinte minutos que se passara fosse suficiente para que tivessem chegado e consequentemente o marido pudesse lhe atender, ligou.— Olivia, tá tudo bem? — perguntou ao atender.— Eu que te pergunto, querido, eu vi a perseguição na TV e...— Est&aac
Christopher teve um dia longo e exaustivo, pela primeira vez estava tendo que trabalhar sozinho, pois Ramona recebera férias, que há muito estavam atrasadas, de forma que ela já não podia adiá-las, mesmo não querendo deixar o parceiro na mão. O corte de gastos não permitiu a contratação, mesmo que temporária, de um novo detetive, assim, seus colegas de trabalho quando não estavam ocupados com outros casos o acompanhavam nos seus, mas especialmente hoje, ninguém conseguiu uma pausa na Unidade de Homicídios, todos atarefados em demasia com as monstruosidades típicas de cidades grandes.Não bastasse o dia atribulado, sua filha adoecera, de forma que a madrugada anterior, ele e Olivia passaram parte da noite no hospital, já que a menina demonstrava ter fome, mas não comia, e chorava angustiada pela dor. Não demorou para que fosse atendida e diagnost
Dois meses havia se passado desde que Donna chegara à Chade, já visitara quase todas as cidades vizinhas da capital, e passara por dezenas de aldeias. Por vezes, Donna sentiu o coração doer ao percorrer aquelas ruas, mais ainda ao adentrar algumas casas para as quais ela e Neila eram gentilmente convidadas. O que mais a impactava eram aquelas crianças, que mesmo marcadas por uma vida regada a misérias, muitas exibiam sempre um sorriso no rosto, mesmo que fossem sorrisos banguelas acompanhados de olhares apagados e tristes.Neila se saiu melhor do que Donna esperava, era sempre solícita e se fazia querida facilmente a cada aldeia visitada, o que em muito ajudava na sua investigação, mas diferente da amiga americana, ela se mostrava indiferente a todo sofrimento que assistia, não era porque não se importava, mas porque estava acostumada. Aquele cenário triste e miserável não era ne
— Doutor Hassan? — chamou Neila, ao mesmo tempo em que ele tocava a maçaneta da porta para sair. — Preciso que cuide dela! — insistiu com firmeza.— Já disse que... — Não concluiu ao se deparar com a guia apontando uma pistola para ele. — Que brincadeira é essa? — perguntou assustado.— Não é uma brincadeira, doutor! Você só sai daqui depois que essa mulher estiver a salvo! — avisou séria.— Você está louca? Não temos medicamentos aqui, as condições desse lugar são péssimas, ela vai morrer de qualquer jeito...— Pelo seu bem, ela não pode morrer! — ameaçou.— Está tentando me intimidar, senhorita? — falou dando um passo na direção de Neila.— Na verdade estou te dando um aviso muito claro, se essa mulher
Nas últimas horas Khristin se revezava entre a piscina de bolinhas e a cama elástica, mas agora corria estabanada entre os convidados, o vestidinho rosa de princesa não era nenhum impedimento para a pequena brincar, apenas a pequena tiara em forma de coroa há muito ela retirara de sua cabeça, negando-se a usá-la.Olivia se encarregara de registrar cada momento, relembrando os tempos de fotógrafa. Christopher não tirava os olhos delas, mas também não deixava de dar atenção aos seus convidados, aquele era o primeiro aniversário da menina, então organizaram uma bela festa, com direito a convidar toda a família do casal, os amigos mais chegados, os vizinhos e os colegas de trabalho do detetive com suas respectivas famílias, o que garantiu à garotinha dezenas de presentes.A casa estava lotada, para a alegria de Olivia, havia ali umas vinte crianças,
— Muito bonito seu apartamento, comprou ele recentemente? — perguntou Giovani apoiado no balcão que separava a pequena cozinha da sala enquanto Donna revirava o armário.— Na verdade não! Eu o comprei antes de me casar com... ele. Nos últimos anos o aluguei — contou colocando sobre a pia a cafeteira, o pote de açúcar e um pacote de pó de café fechado.— Entendi.— É bem pequeno como você pode ver, diferente da casa dele ou da Ade — comentou ela.— Sim, a casa da Ade também era bem grande.— E você? Onde está morando?— Troquei meu apartamento antigo por um novo, você sabe... Mesmo tendo saído da prisão, parece que estão sempre me condenando com o olhar.— Sinto muito, Giovani!— Um dia isso vai ficar realmente pra trás! — disse el
— Que merda! — disse Ruby segurando o pequeno teste de gravidez nas mãos. — Qual o problema comigo? — falou em voz alta, jogando o resultado do teste na lixeira. Ruby lavou as mãos e saiu do banheiro, em seguida deitou em sua cama, pensativa.Aquela era a quarta vez que fazia um teste de gravidez desde que começou a ter relações sexuais com Vincent.Ele nunca se prevenira, já que a japonesa garantiu que tomava pílulas e que não tinha qualquer intenção de engravidar, convencendo-o assim. Ruby sabia que o biomédico não tinha qualquer problema de saúde que impossibilitasse sua gravidez, então talvez houvesse algum problema com ela.Quando era mais nova, sem qualquer interesse em ser mãe, sempre se protegera, até mesmo com Kioshi, com quem nunca cogitou ter um filho.Pensou em fazer exames e confirmar se estava tudo certo com
Fazia muito tempo que Donna não se vestia na intenção de se sentir bonita, de se sentir bem com ela mesma, mas apesar de todo inferno que enfrentara, agora tinha esperanças de um futuro melhor, acreditava que o material que em breve enviaria para a polícia, ajudaria na captura do Ceifador, de forma que a segurança da filha estava garantida. Podia viver bem próxima de Olivia, que sempre fora uma amiga querida, onde poderia acompanhar o crescimento pleno de sua pequena, mesmo que nunca pudesse dizer que era ela sua mãe biológica. Donna colocou um vestido longo preto, embora fosse justo e delineasse suas curvas, não era apertado, já que não colava em seu corpo. Pôs saltos pretos e fez uma trança na lateral da cabeça, deixando-a caída sobre o ombro. A maquiagem sempre leve realçava seus belos olhos azuis. Giovani chegara exatamente no horário marcado, estava elega