A chuva castigava a cidade com gotas grossas e impiedosas, transformando as ruas em espelhos traiçoeiros. Isabella estava sentada no banco do passageiro, o olhar perdido na paisagem distorcida pelas gotas que escorriam pelo vidro. O restaurante ficava para trás, assim como Ethan e a confusão de sentimentos que ele causava dentro dela. Alex dirigia em silêncio, respeitando o espaço que Isabella precisava. O motor do carro roncava suavemente enquanto ele avançava pelas avenidas parcialmente vazias. O trânsito estava fluindo, mas a visibilidade era péssima. — Você quer que eu te leve direto para casa? — Alex perguntou, lançando-lhe um olhar rápido. — Sim… — Isabella respondeu com a voz baixa, a mente ainda presa na cena que havia deixado para trás. Ethan com Marie. Ethan confuso. Ethan sem tomar uma decisão. Ela respirou fundo, tentando afastar a dor. Sabia que precisava ser firme, que não poderia continuar presa a alguém que não sabia o
Ethan estava de pé em frente à enorme janela de seu escritório, observando a cidade encoberta pela névoa da manhã. A imagem de Isabella caminhando ao lado de Alex, entrando no carro e partindo sem olhar para trás ainda o corroía por dentro. Ele passara a noite em claro, debatendo consigo mesmo sobre o que sentia, o que queria e como tudo havia saído de controle.Seu celular tocou. Ele atendeu de imediato, esperando que fosse uma ligação comum de trabalho, mas a voz do outro lado da linha carregava uma urgência que o fez congelar.— Senhor Ethan... aqui é Claire. Desculpe ligar assim, mas aconteceu uma coisa. Isabella sofreu um acidente.Por um instante, tudo ao redor pareceu perder o som. O coração de Ethan parou por um segundo antes de disparar, o sangue correndo em suas veias como um raio.— Como assim, Claire? Que acidente? Onde ela está? — ele perguntou, a voz falhando.— Foi grave. Ela estava com Alex... no carro. Bateram em um caminhão... Alex faleceu na hora. Isabella foi leva
Ethan não saiu do hospital. Ele se recusava a deixá-la sozinha, mesmo que os médicos e enfermeiros tentassem convencê-lo de que ela ainda não acordaria tão cedo. A ideia de ir para casa, tomar banho e descansar parecia absurda. Como poderia simplesmente sair dali quando Isabella estava naquele estado? Ele se mantinha firme ao lado dela, segurando sua mão sempre que podia, observando cada batida no monitor cardíaco como se pudesse controlar a recuperação dela apenas com sua presença. A dor no peito ainda era sufocante. O tempo passava devagar. Durante a madrugada, ele ouviu o som suave da porta se abrindo e virou a cabeça. Claire entrou no quarto, segurando um café e um saco de papel. — Você precisa comer alguma coisa.Ethan apenas balançou a cabeça, sem tirar os olhos de Isabella. — Não estou com fome.Claire suspirou, puxando uma cadeira para se sentar ao lado dele. — Você está aqui há quase dois dias sem dormir direito. Se ela acordar e te ver desse jeito, vai ficar preocu
O quarto estava mais calmo agora. Depois que a enfermeira saiu e Isabella foi examinada por um médico que sorriu aliviado ao vê-la consciente, restaram apenas ela e Ethan novamente, mergulhados em um silêncio denso, carregado de tudo o que ficou pendente entre eles.Isabella repousava com os olhos voltados para o teto. Seu corpo doía e a cabeça latejava, mas nada era tão doloroso quanto o vazio que sentia por dentro. A morte de Alex pairava como uma sombra sobre seu peito, pesada e sufocante. E, ao mesmo tempo, havia Ethan. Ao seu lado. Firme. Presente. E absurdamente confuso em sua mente.Ela virou o rosto devagar para encará-lo. Ele estava sentado de forma rígida, os cotovelos apoiados nos joelhos, os olhos cansados a observando como se ela fosse algo frágil demais para o mundo. — Você não precisa ficar — disse ela, sua voz ainda rouca. Ethan ergueu os olhos, franzindo o cenho. — Não diga isso. Eu não vou a lugar nenhum.
Os dias no hospital foram longos para Isabella. Embora sua recuperação estivesse progredindo bem, o peso da perda de Alex ainda pairava sobre ela como uma sombra. O silêncio ao seu redor parecia mais alto do que qualquer palavra que pudesse ser dita. Ethan esteve lá todos os dias. Mesmo quando ela acordava no meio da noite assustada, ele estava por perto. Às vezes, não falavam muito—ele apenas segurava sua mão e ficava ali, presente, sólido, como se estivesse tentando provar silenciosamente que não iria mais a lugar nenhum. Na tarde do quarto dia, o médico finalmente a liberou para ir para casa. Ethan, como esperado, fez questão de acompanhá-la. — Eu posso ir sozinha — Isabella disse, tentando soar firme, embora ainda sentisse seu corpo fraco. Ethan arqueou uma sobrancelha, segurando a porta do carro aberta para ela. — Não seja teimosa. Ela suspirou, sabendo que discutir seria inútil. No caminho p
Na manhã seguinte, Isabella acordou com os raios de sol filtrando pela cortina. Seu corpo ainda estava fraco devido ao acidente, mas sua mente estava mais alerta do que nunca. Ela precisava tomar uma decisão sobre Ethan. Ao sair do quarto, encontrou-o na cozinha, preparando café. A cena a fez sorrir involuntariamente. Ele parecia tão confortável ali, como se pertencesse àquele espaço, àquela rotina ao lado dela. — Bom dia — ele disse, sem olhar diretamente para ela. — Bom dia — Isabella respondeu, sentindo um leve frio na barriga. Eles tomaram café em silêncio, apenas os barulhos sutis das xícaras e talheres preenchendo o ambiente. Mas havia algo no ar. Algo que precisava ser dito. Depois que terminaram, Isabella respirou fundo e decidiu não adiar mais. — Ethan, precisamos conversar. Ele pousou a xícara devagar e cruzou os braços, os olhos atentos nela. — Eu sei. — O que exat
A noite mergulhava Chicago em um véu silencioso de luzes tênues e sombras longas. A cidade, vista da ampla janela do apartamento de Ethan, parecia um universo distante, indiferente ao que pulsava no interior daquele lar momentâneo. Isabella, envolta em uma camiseta dele, grande o suficiente para esconder sua silhueta, observava o horizonte com os olhos perdidos. Os pés descalços tocavam suavemente o chão frio, contrastando com o calor crescente em seu peito.Ethan a observava do sofá, apoiado nos cotovelos, os olhos fixos na curva do pescoço dela, na forma como seus cabelos caíam despretensiosamente. Mas não era apenas desejo. Era a inquietação de quem carrega algo que não consegue mais guardar. E ela sentia isso. Sentia o peso daquele silêncio carregado de tudo o que ainda não haviam dito.— Está tudo bem? — ele perguntou, com a voz rouca, quebrando o silêncio.Isabella se virou devagar, seus olhos encontrando os dele com uma vulnerabilidade que desa
O sol filtrava-se pelas frestas da cortina, lançando raios suaves sobre o quarto silencioso. A cidade lá fora já acordava com sua rotina apressada, mas ali dentro, o tempo parecia suspenso. Isabella abriu os olhos lentamente, sentindo o calor de um corpo ao seu lado. Por um breve instante, imaginou que tudo havia sido um sonho. Mas ao virar-se e encontrar Ethan ainda adormecido ao seu lado, com os cabelos bagunçados e o braço em volta de sua cintura, teve certeza de que a noite anterior fora real. Tão real quanto o coração acelerado em seu peito. Ela o observou por alguns segundos, sem se mover. Era raro vê-lo tão vulnerável. Sem as camadas de CEO impenetrável, sem o sarcasmo afiado ou o olhar controlado. Ali, Ethan parecia apenas um homem. Um homem que, mesmo ferido por dentro, havia permitido que ela se aproximasse. Que a deixara vê-lo. Isabella levou a mão ao rosto dele e acariciou sua barba rala com suavidade. Ethan murmuro