Capítulo Cinco

Guilherme

Estava terminando mais uma sessão intensa de malhação na academia. A sensação de suor escorrendo pelo meu corpo e a dor agradável dos músculos trabalhados me davam uma sensação de realização. O treino sempre foi uma forma de liberar o estresse, de focar minha mente e manter meu corpo em forma para enfrentar qualquer desafio.

Saí da academia e comecei a caminhar em direção à padaria que ficava no caminho do meu apartamento. Era um lugar simples, mas tinha o melhor café e croissants de queijo e presunto que eu já tinha provado. Enquanto caminhava, meus pensamentos voltaram para a morena da boate, a mulher que eu tinha defendido do tal jogador na noite da inauguração.

Sua imagem estava gravada na minha mente: aqueles olhos profundos e intensos, os cabelos escuros caindo em cascata pelos ombros, a forma como ela parecia tão vulnerável, mas ao mesmo tempo, tão forte. Desde aquela noite, eu não conseguia parar de pensar nela. Quem era ela? Por que estava ali? E por que aquele jogador a tratou daquela maneira? Essas perguntas rondavam minha mente sem cessar.

Entrei na padaria e fiz meu pedido: um café forte e alguns croissants de queijo e presunto. Sentei-me em uma mesa perto da janela, observando o movimento das pessoas na rua enquanto esperava. Meu pedido chegou rapidamente, e eu comecei a comer, mas meus pensamentos continuavam na morena.

― Ei, posso me sentar aqui? ― Uma voz me tirou dos meus pensamentos.

Levantei os olhos e vi um senhor idoso, com um sorriso simpático no rosto. Assenti, indicando que ele podia se sentar.

― Claro, fique à vontade ― respondi, tentando afastar a imagem da morena da minha mente por um momento.

― Obrigado ― disse ele, acomodando-se na cadeira em frente a mim. ― Você parece estar com a cabeça longe, jovem. Problemas no trabalho?

Sorri de lado, apreciando a curiosidade do velho.

― Algo assim. Apenas pensando em alguém ― confessei, sem entrar em detalhes.

Ele riu suavemente.

― Ah, o coração. Sempre nos fazendo pensar demais, não é? ― Ele pegou sua xícara de café e deu um gole. ― Já passei por isso várias vezes.

Antes que eu pudesse responder, meu telefone começou a tocar. Olhei para a tela e vi que era JP. Atendi rapidamente, aproveitando a desculpa para encerrar a conversa com o idoso.

― Fala, JP ― disse, levando o telefone ao ouvido.

― E aí, chefe. Estamos com o dinheiro das vendas. Você está em casa para a gente levar? ― JP foi direto ao ponto, como sempre.

Olhei para o relógio, calculando o tempo que levaria para voltar ao meu apartamento.

― Estou na padaria perto de casa. Daqui uns 15 minutos estarei lá. Podem passar ― respondi.

― Beleza, chefe. A gente se vê lá ― disse JP, desligando em seguida.

Guardei o telefone e terminei meu café e croissants rapidamente. Despedi-me do senhor idoso, que me deu um aceno compreensivo, e saí da padaria. Caminhei de volta para o meu apartamento, ainda pensando na morena. Havia algo nela que eu não conseguia ignorar, algo que me puxava para saber mais.

Cheguei ao meu prédio e subi para o meu apartamento. Minutos depois, a campainha tocou. Abri a porta e vi JP e outro dos meus homens, Carlos, com uma mochila aparentemente cheia.

― Entrem ― disse, dando espaço para que passassem.

Eles entraram e se dirigiram até a sala de estar. JP colocou a mochila sobre a mesa e começou a tirar pacotes de dinheiro, empilhando-os ordenadamente.

― Tivemos uma semana boa, chefe ― disse JP, um sorriso de satisfação no rosto. ― As vendas estão crescendo.

Assenti, observando o dinheiro na mesa. Era um alívio ver que os negócios estavam indo bem, especialmente com a nova boate.

― Bom trabalho, JP. E você também, Carlos ― disse, reconhecendo o esforço de ambos. ― Continuem assim.

― Claro, chefe. Estamos sempre na correria ― respondeu Carlos, com um aceno de cabeça.

Enquanto contava o dinheiro, não conseguia tirar a morena da minha mente. Eu precisava saber mais sobre ela, precisava encontrá-la novamente. Decidi que faria algumas perguntas discretas entre os meus contatos para ver se alguém sabia algo sobre ela.

― Alguma coisa errada, chefe? ― JP perguntou, notando minha distração.

― Não, só pensando em algumas coisas ― respondi, tentando não parecer muito envolvido. ― Vocês têm alguma ideia de quem era aquela morena na boate na noite da inauguração? Aquela que eu defendi do jogador?

JP e Carlos trocaram olhares rápidos, antes de JP responder.

― A gente viu ela, mas não sabe quem é. Parecia nova por ali. Quer que a gente descubra alguma coisa? ― ofereceu JP.

― Sim, quero saber quem ela é e por que estava ali ― disse, firme. ― Mas façam isso discretamente. Não quero chamar atenção desnecessária.

― Pode deixar, chefe. A gente cuida disso ― garantiu JP.

Eles terminaram de contar o dinheiro e, depois de uma rápida conversa sobre os próximos passos para expandir as vendas, se despediram e saíram do meu apartamento. Fiquei sozinho na sala, olhando para as pilhas de dinheiro na mesa, mas minha mente estava longe dali.

Peguei meu celular e fiz algumas ligações. Tinha amigos e contatos na cidade que poderiam saber algo sobre ela. A primeira ligação foi para Marcelo, um velho amigo que sabia tudo sobre todos na cena noturna.

― Fala, Guilherme. Quanto tempo! ― disse Marcelo, quando atendeu.

― E aí, Marcelo. Preciso de um favor ― disse, indo direto ao ponto. ― Tem uma morena que apareceu na minha boate na noite da inauguração. Sabe de alguma coisa sobre ela?

― Cara, difícil dizer sem mais detalhes. Mas vou ver o que posso descobrir. Alguma pista específica? ― perguntou ele, interessado.

― Não muito. Ela estava sozinha no segundo andar até que aquele jogador apareceu e começou a fazer um escândalo. Ela é... especial. Quero saber mais sobre ela ― expliquei, tentando transmitir a seriedade do meu interesse.

― Entendi. Vou perguntar por aí e te aviso se descobrir algo ― prometeu Marcelo.

― Valeu, Marcelo. Te devo uma ― disse, antes de desligar.

Sentei-me no sofá, sentindo uma mistura de frustração e expectativa. Precisava de respostas. Algo naquela mulher me puxava, me fazia querer saber mais, protegê-la.

Enquanto esperava alguma notícia de Marcelo ou de JP, me peguei relembrando o momento na boate. A forma como ela me olhou, com gratidão e surpresa, estava gravada na minha mente. Eu sabia que precisava encontrá-la novamente, entender por que ela tinha aquele efeito sobre mim.

O dia passou devagar, cada minuto parecendo uma eternidade. Eu fiz algumas outras tarefas, organizei os papéis da boate e cuidei de alguns negócios, mas minha mente estava constantemente voltando para ela.

Finalmente, no fim da tarde, meu telefone tocou. Era Marcelo.

― Guilherme, tenho algumas informações. Parece que a morena que você está procurando se chama Fernanda. Ela não é muito conhecida na cena, mas algumas pessoas já a viram com Miriam.

Meu coração deu um salto. Finalmente, um nome. 

― Miriam? A mesma Miriam que trabalha com garotas de programa? ― perguntei, tentando juntar as peças.

― Isso mesmo. Parece que Fernanda é uma das garotas dela. Mas não sei muito mais do que isso. Vou continuar investigando, mas achei que você queria saber logo ― disse Marcelo.

― Valeu, Marcelo. Isso já ajuda bastante. Me avise se descobrir mais alguma coisa ― agradeci, sentindo uma nova determinação crescer dentro de mim.

Desliguei o telefone e fiquei em silêncio por um momento. Fernanda. Finalmente, eu tinha um nome. E sabia onde procurar mais informações. Precisava encontrar Miriam, conversar com ela e descobrir mais sobre Fernanda.

Decidi que iria ao encontro de Miriam naquela noite. Precisava de respostas e não podia esperar mais. Peguei meu casaco, chequei se estava tudo em ordem e saí do apartamento. 

A noite estava começando a cair quando cheguei ao local onde sabia que Miriam costumava trabalhar. Era um bar discreto, frequentado por pessoas que sabiam o que procurar. Entrei e procurei por Miriam.

Ela estava sentada em uma mesa no canto, conversando com algumas garotas. Quando me viu, seus olhos se estreitaram, mas ela manteve um sorriso profissional.

― Guilherme. Que surpresa te ver aqui ― disse ela, com uma voz que não revelava nada de suas intenções.

― Precisamos conversar, Miriam ― disse, aproximando-me da mesa.

Ela fez um gesto para as garotas se afastarem e me indicou um assento.

― Claro, o que posso fazer por você? ― perguntou, ainda com aquele sorriso enigmático.

― É sobre Fernanda. Preciso saber mais sobre ela ― disse, direto ao ponto.

Miriam arqueou uma sobrancelha, claramente interessada.

― Fernanda, é? E por que você está tão interessado nela? ― perguntou, sua voz suave, mas carregada de curiosidade.

― Porque ela é diferente. Quero entender mais sobre ela e por que estava na minha boate naquela noite ― expliquei, esperando que minha honestidade a convencesse a colaborar.

Miriam ficou em silêncio por um momento, estudando-me com atenção.

― Fernanda é... especial. Ela não é como as outras garotas. Teve uma vida difícil e está tentando encontrar seu caminho. Eu a encontrei em um momento muito ruim e tentei ajudá-la. Mas ela é independente, forte. E talvez seja por isso que você está tão atraído por ela ― disse Miriam, finalmente.

Suas palavras confirmaram minhas suspeitas. Fernanda tinha uma história complicada, e eu queria entender mais, queria ajudar se pudesse.

― Onde posso encontrá-la, Miriam? ― perguntei, com um tom urgente.

Ela suspirou, parecendo pesar suas opções.

― Ela mora em um apartamento pequeno, não muito longe daqui. Posso te dar o endereço, mas, por favor, seja gentil com ela. Fernanda já passou por muita coisa ― disse Miriam, entregando-me um pedaço de papel com o endereço escrito.

― Obrigado, Miriam. Eu prometo que serei ― disse, guardando o papel no bolso.

Deixei o bar com uma nova determinação. Sabia onde encontrar Fernanda, e estava pronto para conhecê-la de verdade, entender sua história e talvez, de alguma forma, fazer parte dela.

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