A brisa fria da noite me envolveu assim que pisei no jardim. Felizmente, estava vestida o suficiente para não sentir frio, mas, assim que Nadir me seguiu, ele franziu a testa. — O vento está mais forte ultimamente. Você não deveria sair, principalmente se não está se sentindo bem. Inclinei a cabeça, sorrindo de forma quase travessa. — Estou perfeitamente bem, Nadir. Mas, se preferir discutir o que tem a dizer na frente da sua querida futura ex-sogra, podemos voltar para dentro. Ele soltou um suspiro resignado, sem responder de imediato. Andei até um dos sofás do pátio, sentando-me de forma casual, esperando que ele quebrasse o silêncio. Mas, como o silêncio estava ficando embaraçoso, resolvi tomar a iniciativa. — Peço desculpas por ter demorado. Não pude chegar mais cedo. Ele riu baixo, sentando-se no sofá oposto. — A culpa é do senhor Speredo, suponho. Ele demorou para lhe informar? Não esperava menos dele. — Não acho que foi por mal. Meu marido tem dificuldades com ce
Se eu fosse jornalista, jamais entenderia a relevância de uma notícia como essa. Quem, além de meia dúzia de fofoqueiros, realmente se importa com o drama de uma família rica? O país certamente tem coisas mais importantes para se preocupar. Mas, como bem sabemos, dinheiro compra manchetes, e os Speredo sabem usá-lo para transformar qualquer problema doméstico em uma novela transmitida ao vivo. Nadir sendo crucificado pela mídia, acusado de ser um oportunista e um canalha. Alexander processando todo mundo por difamação, incluindo seus próprios pais. Lily defendendo Nadir publicamente e insistindo que o cancelamento foi uma decisão pessoal e mútua. Minha sogra finalmente tendo um colapso mental de verdade porque percebeu que tem os piores filhos do mundo. Eu sendo obrigada a ir até a casa dela com Alexander para ouvir xingamentos e insultos… porque, de alguma forma, tudo isso era culpa minha. E pensar que eu só queria evitar briga, dando ao meu marido um conselho inocen
Com o tempo, passei a entender que Alexander sempre demonstrava seu afeto de maneiras silenciosas. Pequenos gestos, olhares demorados, a forma como me segurava um pouco mais forte durante a noite. Mas também era o tipo de homem que não demonstrava emoções sem um propósito prático. Então, quando me vi deitada na cama ouvindo o som da chuva e percebi o celular dele ao meu alcance, minha curiosidade foi inevitável. Antes que me julguem, eu não sou esse tipo de esposa. Nunca fui de bisbilhotar o telefone do meu marido. Primeiro porque Alexander nunca me deu motivo para isso, e segundo porque, para ser sincera, ele sempre foi um livro aberto nesse sentido. Ele sempre me dizia quando mudava a senha, mesmo que eu nunca tivesse perguntado. O papel de parede dele era um fundo metálico padrão, sem nada de interessante. Ele atendia chamadas na minha frente e, às vezes, até pedia que eu checasse quem estava ligando. Ou seja, o homem era chato. Sem segredos, sem mistérios. Mas o tédio faz
O pensamento me atingiu com a força de um tapa. Por um segundo, meu cérebro processou a ideia de um Alexander miniatura correndo pela casa de roupinhas formais e com um olhar de puro julgamento antes mesmo de aprender a falar.Só que… eu sabia que não estava grávida. Meu corpo já me dera sinais suficientes para eu não nutrir expectativas irreais. O atraso? Efeito colateral dos remédios. As mudanças de humor? Bem, eu sempre fui assim. Mas Alexander, com todo o seu pragmatismo, havia detectado um padrão que eu mesma nem tinha notado. E agora, vendo a faísca de esperança em seus olhos — que ele tentava esconder desesperadamente —, eu simplesmente não consegui esmagá-la. E o que minha vida espiritual, na cabeça desse meu marido, tinha a ver com isso?Se ele queria acreditar… Talvez, só talvez, eu quisesse acreditar também.Então, ao invés de dizer “Ah, é só uma reação dos medicamentos, relaxa”, eu murmurei, hesitante:— Agora que penso nisso… talvez eu esteja grávida.Alexander assentiu
Eu odiava a palavra “mas”. Ela nunca vinha acompanhada de boas notícias. — Considerando seu histórico médico, precisamos ser extremamente cautelosos. Ainda é cedo para dizer qualquer coisa com certeza, mas não podemos ignorar os riscos. A recomendação é que evitem criar muitas expectativas até que possamos monitorar melhor a evolução da gestação. A felicidade esmagadora deu lugar a um nó apertado na garganta. Claro. Eu deveria ter esperado por isso. De repente, tudo parecia frágil. Instável. E se meu corpo falhasse? E se…? No caminho de volta para casa, fiquei em silêncio. Alexander também. Nenhum de nós parecia saber como lidar com aquilo. Até que a angústia me dominou de uma vez. — Para o carro! — gritei. Minha respiração ficou irregular. O medo me golpeou com força total, prendendo-me num redemoinho de pavor. Minha mente já pulava para o pior cenário possível, porque, claro, ela não sabia funcionar de outra maneira. Comecei a hiperventilar. Antes que eu pude
Quando acordei na manhã seguinte, encontrei Alexander dormindo profundamente ao meu lado.Ele provavelmente passou a noite inteira acordado, então preferi não o incomodar. Movi-me com todo o cuidado do mundo para não fazer barulho enquanto lavava o rosto e trocava de roupa. Andei na ponta dos pés até a porta, pronta para sair.Mas, assim que coloquei o pé fora do quarto, percebi que a mansão estava um verdadeiro caos.Primeiro, uma das empregadas praticamente correu até mim assim que nossos olhares se cruzaram.— Bom dia, senhora! Espero que esteja melhor hoje. A senhorita Speredo está no quarto dela e pediu para avisá-la assim que acordasse. Devo chamá-la agora?Antes que eu pudesse responder, outra funcionária apareceu, descendo as escadas como se estivesse fugindo de um incêndio.— Senhora, a Sra. Speredo ligou várias vezes. Disse que precisa falar urgentemente com o mestre Alexander ou com a senhora. Devemos retornar a ligação?Mal tive tempo de processar essa informação quando um
Felizmente, todos estavam tão emocionados que não pareceram se importar com a total falta de hospitalidade de Alexander. Lily praticamente pulou em mim, me abraçando com entusiasmo, e Vovó… bem, vovó gritou tão alto que provavelmente os anjos anotaram no caderninho dela, agradecendo a Deus repetidamente como se tivesse acabado de ganhar na loteria. Meu sogro, sempre discreto, esboçou um raro sorriso e caminhou até nós, nos parabenizando com um aperto de mão firme. Já minha sogra… bom, ela foi exatamente quem eu esperava que fosse. — Por que esconderam uma notícia tão feliz de nós? Finalmente terei um neto! — exclamou, como se fosse ela quem estivesse grávida. — Quando me disseram que foram ao hospital ontem à noite, achei que algo ruim tinha acontecido! Passei a manhã toda preocupada! Isso precisa ser amplamente comemorado. Vou começar os preparativos para um jantar na mansão ainda esta semana! Alexander cortou seu entusiasmo antes que ela pudesse arquitetar algo extravagant
Alexander desenvolveu um novo hábito: ser insuportável. Quer dizer, ele sempre foi. Mas agora está pior. Este homem já era uma das pessoas menos sociáveis que conheci. Mas, durante minha gravidez, ele refinou sua técnica de antissociabilidade a um nível quase artístico. Para colocar em perspectiva: Uma vez, fomos a uma fazenda da família dele, e, como era esperado, havia muitos convidados. A lógica dizia que deveríamos socializar. Mas Alexander? Falou apenas com duas categorias de pessoas: Seus parceiros de negócios. Conversas estritamente profissionais, sem um segundo sequer de cordialidade desnecessária. Outros seres antissociais como ele. Pessoas que estavam estrategicamente posicionadas nos cantos mais distantes, tentando evitar a interação humana. Quando percebi isso, entendi a estratégia do meu marido: ele simplesmente procurava as pessoas que odiavam eventos sociais mais do que ele. Mas agora, na minha gravidez, ele elevou isso para um nível superior. Ele