Depois de sair do escritório de Alexander e absorver a informação chocante de que o noivado de Lily com Nadir tinha sido cancelado, fui para o nosso quarto, tentando não me perder na espiral caótica dos meus próprios pensamentos.Por um lado, me senti um pouco mal por Lily. Talvez eu devesse ter ficado ao lado dela.Por outro lado, cheguei a uma conclusão ainda mais importante: minha sogra precisava sair dessa casa o mais rápido possível.A situação era uma bomba-relógio. Assim que ela descobrisse que o noivado tinha ido pelos ares, haveria gritaria, drama e, pior, ela insistiria em passar dias "se recuperando emocionalmente" aqui na mansão, trazendo uma legião de convidados matinais para sofrerem ao seu lado.Por que, por Deus, eu deveria suportar isso?!Quando Alexander finalmente subiu para o quarto, me encontrou deitada na cama, de cara fechada.Ele se sentou ao meu lado e analisou minha expressão com interesse.— Mais cedo, você me avisou para não pular refeições. Mas, no jantar,
A brisa fria da noite me envolveu assim que pisei no jardim. Felizmente, estava vestida o suficiente para não sentir frio, mas, assim que Nadir me seguiu, ele franziu a testa. — O vento está mais forte ultimamente. Você não deveria sair, principalmente se não está se sentindo bem. Inclinei a cabeça, sorrindo de forma quase travessa. — Estou perfeitamente bem, Nadir. Mas, se preferir discutir o que tem a dizer na frente da sua querida futura ex-sogra, podemos voltar para dentro. Ele soltou um suspiro resignado, sem responder de imediato. Andei até um dos sofás do pátio, sentando-me de forma casual, esperando que ele quebrasse o silêncio. Mas, como o silêncio estava ficando embaraçoso, resolvi tomar a iniciativa. — Peço desculpas por ter demorado. Não pude chegar mais cedo. Ele riu baixo, sentando-se no sofá oposto. — A culpa é do senhor Speredo, suponho. Ele demorou para lhe informar? Não esperava menos dele. — Não acho que foi por mal. Meu marido tem dificuldades com ce
Se eu fosse jornalista, jamais entenderia a relevância de uma notícia como essa. Quem, além de meia dúzia de fofoqueiros, realmente se importa com o drama de uma família rica? O país certamente tem coisas mais importantes para se preocupar. Mas, como bem sabemos, dinheiro compra manchetes, e os Speredo sabem usá-lo para transformar qualquer problema doméstico em uma novela transmitida ao vivo. Nadir sendo crucificado pela mídia, acusado de ser um oportunista e um canalha. Alexander processando todo mundo por difamação, incluindo seus próprios pais. Lily defendendo Nadir publicamente e insistindo que o cancelamento foi uma decisão pessoal e mútua. Minha sogra finalmente tendo um colapso mental de verdade porque percebeu que tem os piores filhos do mundo. Eu sendo obrigada a ir até a casa dela com Alexander para ouvir xingamentos e insultos… porque, de alguma forma, tudo isso era culpa minha. E pensar que eu só queria evitar briga, dando ao meu marido um conselho inocen
— Dê-me o divórcio!Sabe quando você olha nos olhos de alguém e sente um calafrio na espinha? Pois é. E, naquele momento, eu não estava diante de um anjo. Eu tinha certeza de que demônios existem, e um deles usava terno italiano e ocupava uma cadeira de couro do outro lado da mesa.Passei horas esperando como uma estranha para ter uma “audiência” com o meu próprio marido. Mas, finalmente, lá estava eu, de pé, respirando fundo, enquanto ele mal levantava os olhos por cima dos óculos. Papéis espalhados, canetas rolando pelo tampo da mesa… Alexander Speredo, o homem mais frio e insensível que eu conhecia, me encarava com aquele olhar gélido que faria até o Polo Norte parecer quente.Seu silêncio durava. O que ele esperava? Um show? Talvez. Senti o nervosismo me consumir, mas mantive a pose. Afinal, tudo naquele escritório gritava “poder”, e eu? Eu queria só uma assinatura no maldito papel do divórcio. — Não vai dizer nada? — Cruzei os braços, mais para esconder o tremor nas mãos do que
Quando acordei, o primeiro rosto que vi não era exatamente o que eu esperava encontrar ao abrir os olhos. Um homem, talvez na casa dos trinta, me observava com um olhar preocupado. Não era o tipo de beleza que me faria suspirar, mas seus olhos suaves e o nariz bem delineado eram, de alguma forma, reconfortantes.— Você está bem, senhora? — ele perguntou, a voz doce como uma brisa de primavera.Notei que ele estava vestindo um jaleco branco. Ah, então deve ser o dentista. Soltei um suspiro de alívio e, enquanto tentava controlar a dor que ainda latejava na minha boca, disse:— Estou viva, mas meu dente está me matando. Você pode fazer algo a respeito?Ele soltou uma risada suave e me ajudou a levantar do chão, suas mãos firmes, mas gentis.— Siga-me até o consultório.E assim fiz, passando pela sala de espera sob olhares curiosos que, sem dúvida, me amaldiçoavam silenciosamente por ignorá-las enquanto ele me arrastava para fora. A dor era uma sombra tão insuportável que não me permitia
Passei na farmácia para comprar o medicamento e me dirigi apressadamente à estação de rádio onde trabalho como radialista. Assim que entrei no prédio, encontrei meu gerente descendo as escadas. O olhar dele se fixou em mim e eu sabia que o show estava prestes a começar.— Você planeja aparecer depois que a estação fechar? Você tem ideia de que horas são? — sua voz ecoou, quase um grito.— Pedi uma licença para hoje. Estou aqui apenas para pegar alguns materiais para o episódio de amanhã — lembrei, com um sorriso sarcástico. O homem parecia ter um ataque cardíaco ao ouvir isso. E então, a explosão:— Recusei seu pedido! O programa vai ao ar em meia hora! Se não tiver nada preparado, é melhor improvisar qualquer coisa! Você está tentando me matar, Charlotte Viradia?! Está planejando deixar toda a equipe desempregada?!Entrei no estúdio e fechei a porta, mas ainda conseguia ouvir os xingamentos voando como flechas. Quando finalmente tirei meu telefone da bolsa, a mensagem que ele enviou
Só ouvia rumores dele através dos jornais e revistas que, infelizmente, não podia evitar. E mesmo depois de tanto tempo, ainda reconhecia sua voz. Meu coração disparou, não por amor, mas por puro ódio!— Você parece muito bem, com admiradores ligando e pedindo para estar com você — ele continuou, seu tom frio e sarcástico.Fiquei em silêncio, lembrando da promessa que fiz a mim mesma de não falar com ele novamente. E, claro, havia o medo. Se aprendi algo sobre Alexander, é que ele era implacável e impiedoso.Agradecia a Deus, dia e noite, por ter me livrado desse demônio em forma de gente. Mas, aparentemente, superestimei minha sorte. Essa escoria ainda estava bordado na minha vida. Sabia onde eu trabalhava e me ligou, arruinando meu humor.Fiz sinal para que Tamilian cortasse a ligação, mas antes que pudesse fazer isso, Alexander declarou, com um tom que gelou meu sangue:— Nos encontraremos muito em breve, Charlotte.E desligou.Poderia alegar que fui ameaçada ao vivo, mas continuei
Eu já estava a um fio de perder a paciência. Qual é o problema desses homens? Será que todo narcisista que anda sobre duas pernas acaba na minha órbita?— Dr. Jamil, meu marido é um homem perigoso. Só de estar sentada aqui comigo, você está correndo risco. E não, não vou me divorciar — nem se eu quisesse, teria como!Ele apenas me encarou, calmo, como se a minha declaração não tivesse o menor impacto. Aquele olhar gentil, quase complacente, me irritava. Suspirei, aliviada por acreditar que ele, finalmente, ia parar com a insistência ridícula.— Eu vou embora. Talvez devesse procurar outro dentista, caso se sinta desconfortável. — Levantei-me, sem sequer esperar por uma resposta. — Tenha uma boa tarde, Dr. Jamil.— Pelo menos, tome seu café antes de sair — ele disse, a voz séria, quase uma ordem.Eu reviraria os olhos se não fosse pela sua postura firme. Me mantive na cadeira, resignada. A ideia de um dentista me obrigando a tomar café me pareceu tão ridícula que quase sorri. O garçom