Recusei-me a deixar minhas emoções tomarem controle. Com um gesto suave, tirei as mãos de Alexander do meu rosto e tentei soar despreocupada. — Estou bem… Minha maquiagem está arruinada?Ele me observou por um longo tempo, os olhos percorrendo cada detalhe do meu rosto como se procurasse alguma rachadura invisível. No fim, apenas murmurou: — Sua maquiagem está ótima. Avaliando seu tom, percebi que ele dizia isso mais para me acalmar do que por qualquer outra razão. Balancei a cabeça, desviando o olhar.— Antes que você surte ainda mais, eu realmente não fui atrás do Nadir para te irritar. Eu achei que estava tudo bem chamar Lily e ele no caminho… como eu disse aos funcionários. Alexander cortou minha explicação com um simples aceno. — Não importa. Sei que você tem seus motivos. E então, sem aviso, ele deu um passo atrás de mim, deslizando os braços ao redor da minha cintura e descansando o queixo no meu ombro.— Eu só não gosto quando as coisas fogem do meu controle — murm
Na verdade, minha cabeça estava tão cheia de pensamentos sobre o assunto que fiquei estranhamente calada no carro durante o trajeto até a fazenda. Alexander, sentado ao meu lado, revisava documentos no laptop, mas mesmo assim não deixou de notar o fenômeno raro de eu não estar falando. — Charlotte? — Ele chamou meu nome sem nem desviar os olhos da tela. Virei-me para encará-lo, esperando que ele fizesse o mesmo, mas nada. — Charlotte! — Ele repetiu, o olhar ainda preso no maldito laptop. Revirei os olhos, exasperada. — Se você vai me chamar, pelo menos olhe para mim! Qual é o sentido de incomodar alguém se você nem se dá ao trabalho de prestar atenção? Alexander finalmente fechou o laptop devagar, como se estivesse lidando com uma criança teimosa. — Você está brava comigo? — A pergunta veio acompanhada de um olhar cauteloso, o que só piorou meu humor. Cruzei os braços, fingindo indiferença. — Ah, você fez alguma coisa para me deixar brava? — perguntei, arqueando uma
Eu já tive que memorizar o nome de muitas pessoas quando comecei a trabalhar logo após a formatura. Objetivamente, eu sabia que não precisava saber os antecedentes de cada indivíduo, a menos que estivesse escrevendo um artigo sobre eles. Mas, claro, meu gerente da época era um lunático obsessivo por detalhes. Não tive escolha. Foram tempos difíceis. Tentar encontrar um apartamento decente para alugar, mobiliar com o pouco que ganhava e, ao mesmo tempo, sobreviver à montanha-russa emocional que era lidar com um chefe sádico. E agora, anos depois, aqui estava eu, ainda precisando lembrar de nomes, datas e informações irrelevantes sobre a vida de gente que, no passado, sequer me deixava passar da recepção. Era quase engraçado ver alguns daqueles mesmos rostos que antes me ignoravam, agora se aproximando com sorrisos educados e conversas forçadas, só porque eu era a Sra. Speredo. Por dentro, eu gargalhava da ironia. Por fora? Bem, mantinha um sorriso cortês. Quando finalmente consegu
Como eu esperava, encontrei Maida sozinha, parecendo que estava prestes a sucumbir ao tédio mortal. Assim que nossos olhares se cruzaram, foi como se tivéssemos encontrado um oásis no meio de um deserto. Dramático? Talvez. Mas, naquele momento, era exatamente assim que me senti. Passamos um bom tempo conversando enquanto caminhávamos pelo jardim e experimentávamos os aperitivos servidos pelos Midicalin. Eu já estava no modo “respostas automáticas” com os convidados; minha paciência tinha se esgotado. Quando uma senhora particularmente insistente começou a discursar sobre um evento social qualquer, balancei a cabeça, soltei um “que interessante” e saí sem cerimônia. — Sei que devo estar deixando uma impressão terrível — comentei com Maida, enquanto respirava aliviada por ter escapado. Maida franziu o cenho, mas sua expressão era séria. — Não é bem assim, Sra. Speredo. Na verdade, a senhora está exatamente como esperavam que fosse. Arqueei as sobrancelhas, intrigada. — Isso
Foi só quando todos saíram que minha sogra, que até então estava imóvel como uma estátua de mármore, decidiu abrir a boca. — Como seu funcionário se atreve a ofender minha filha? — Sua voz transbordava indignação teatral. — Ele não respeita nossa família! Isso não é a primeira vez! Você deveria demiti-lo imediatamente e encontrar um homem melhor. Nem um cachorro morde a mão que o alimenta!Alexander soltou um suspiro pesado, como se todo o seu estoque de paciência tivesse se esgotado nos últimos minutos. Ele lançou um olhar afiado para os pais, sem qualquer vestígio de emoção. — O único problema aqui é que vocês falharam miseravelmente em criar sua filha. Não vejo por que meu funcionário deveria assumir a responsabilidade disso. Minha sogra arregalou os olhos, escandalizada. — Como você ousa falar assim comigo?! Parece que “como você ousa” era o mantra oficial da família Speredo. Meu sogro, por outro lado, parecia muito mais prático. — Vocês dois vão voltar para dentro t
— Olha — comecei, tentando não soar tão bruta. — A menos que você tome uma decisão de verdade, é melhor não arrastar outras pessoas com você. Isso que você está fazendo… é doentio. As pessoas ao seu redor também merecem felicidade, tanto quanto você acha que merece. Se a sua ideia de solução é fazê-las sofrer junto com você, então o melhor é deixá-las ir. Lily piscou para mim. Então, pegou um dos lenços usados e o jogou na minha cara. — Foi um erro falar com você! Você não tem coração!Joguei o lenço de volta na cama. — O que você esperava? Que eu dissesse “parabéns, Lily, você está arrasando”? Ou melhor: “tome todo o tempo que precisar, continue fazendo Pedro esperar, continue fazendo Nadir esperar, continue brincando com os sentimentos das pessoas enquanto finge que é a vítima”? Meu tom subiu. Lily me olhou, chocada. E, honestamente? Eu também estava chocada comigo mesma. Respirei fundo, tentando recuperar a calma. — O que quer que você escolha, vai se arrepender. Então
Quando Alexander me disse que iria acabar com o noivado da Lily com Nadir, presumi que ele agiria imediatamente, como sempre faz. Afinal, Alexander Speredo não perde tempo com coisas que considera resolvidas. Mas os dias passaram… e nada aconteceu. Nenhum golpe arquitetado, nenhuma movimentação nos bastidores, nenhuma sabotagem cirurgicamente planejada. O homem seguiu com sua vida normalmente, enterrado no trabalho, enquanto Nadir continuava sendo recebido na mansão com mais frequência do que a própria família de sangue. Lily, por sua vez, fazia o que Lily faz de melhor: não tomava uma decisão clara. A única coisa que avançava era a frustração crescente dela — frustração essa que, naturalmente, era descarregada no noivo. O resultado? Brigas. Discussões. Trocas de farpas cada vez mais afiadas. A situação era tão caótica que até minha avó, que adorava uma boa fofoca, perdeu o interesse no drama. E eu? Bom, eu apenas assistia Nadir saindo da mansão como um furacão cada vez que d
Fiquei no escritório dele por um tempo, sem fazer nada além de jogar no celular ou fazer comentários aleatórios para lembrá-lo de que sua esposa ainda existia e esperava algum tipo de atenção. Mas quando finalmente perguntei: — Então… você já aceitou o Nadir como cunhado? Porque, sinceramente, você não fez nada a respeito do noivado dele com Lily. Isso é bem incomum da sua parte. Alexander ficou tenso. Como se eu tivesse cutucado um nervo exposto. Ele fechou o laptop devagar, cruzou os dedos sobre a mesa e me lançou um olhar avaliativo antes de responder: — Se eu realmente tivesse feito algo, você ficaria chateada? Arqueei uma sobrancelha, desconfiada. — Você está tentando inverter minha pergunta. Só me responda de uma vez. Nada do que você fizer vai me surpreender. — O noivado acabou. Eu pisquei, tentando processar. — O quê? — Acabou. Eles só estão esperando uma boa oportunidade para anunciar para minha mãe. Você sabe como ela é. Não vai aceitar isso sem um escânda