Gael respirava pesadamente, tentando processar o turbilhão de emoções que tomava conta dele. O exame de DNA parecia ter destruído tudo o que ele acreditava sobre Cecília e a pequena Beatriz. Mesmo assim, ele não conseguia entender como aquela menina tinha traços tão semelhantes aos seus, com olhos tão parecidos com os da sua mãe. — Eu só não entendo como ela pode ter olhos tão parecidos com os meus e traços tão semelhantes à minha mãe se não é minha filha — murmurou, a voz cheia de mágoa e confusão. Cecília, sentindo-se ferida e humilhada pelas acusações dele, deixou um sorriso sarcástico surgir em seus lábios. Aproximou-se dele com um brilho desafiador nos olhos, querendo feri-lo tanto quanto ele a machucava. — Vai ver que, enquanto eu transava com o Lucas ou com qualquer um que seja o pai dela, pensei em você no momento em que a fizemos. — A voz dela saiu como veneno, as palavras projetadas para atingir o coração dele. Gael a olhou com uma raiva crescente e, incapaz de se con
Gael deixou o apartamento de Cecília como um furacão, dirigindo pelas ruas sem destino, a mente tomada pelo redemoinho de emoções que o consumia. Sentia-se traído, humilhado e destruído. A visão de Cecília e as palavras cruéis dela ainda ressoavam em sua cabeça, como facas afiadas penetrando sua alma. Ele apertava o volante com força, tentando conter as lágrimas de raiva e desespero que ameaçavam escapar. De repente, o toque insistente de seu celular interrompeu o fluxo de pensamentos. Ele relutou em atender, não queria falar com ninguém, muito menos com Mayra. Mas o toque persistente o venceu. Com um suspiro, ele pegou o celular e, ao ouvir a voz dela, percebeu que estava chorando. A notícia o pegou de surpresa: Mayra estava no hospital, havia perdido o bebê. A dor e o cansaço em sua voz eram claros, e ele sentiu um peso ainda maior em seu peito. Com a mente confusa, desviou o caminho em direção ao hospital. Ao chegar, encontrou a avó de Mayra ao lado dela, consolando-a. El
Quando Gael despertou novamente, a escuridão continuava ao seu redor, densa e impenetrável. Ele piscou, como se isso pudesse mudar algo, mas nada acontecia. Sentiu a tensão no corpo, os músculos ainda doloridos do acidente, e então o vazio esmagador da realidade o atingiu com força total e esmagadora . Ele estava cego. O pânico ameaçou tomá-lo novamente, mas ele respirou fundo, tentando se agarrar ao que lhe restava: suas memórias. Aos poucos, fragmentos de momentos importantes começaram a surgir em sua mente. Ele se lembrou de Cecília. A primeira vez que a viu, o sorriso dela iluminando a sala. Ela havia sido seu primeiro amor, o único que realmente mexeu com ele. Lembrou-se do parto de Beatriz, em meio ao caos do sequestro, quando Lucas, em sua loucura, os colocou em perigo. Cecília foi até lá, arriscando a própria vida para salvá-lo. Essas lembranças o atingiram como uma avalanche, cada detalhe mais vívido que o outro. E, no meio daquele turbilhão, algo se acendeu em sua me
As palavras dele a atingiram como um soco no estômago, mas Cecília não recuou. Ela sabia que aquilo era fruto da dor, da confusão. Ainda assim, não podia ignorar a acusação. — Gael, eu entendo que você está frustrado, mas não tem o direito de me tratar assim. Estou aqui porque me importo, porque quero te ajudar. Ele bateu a mão na cama, a respiração acelerando. — Ajudar? Você quer me ajudar? Onde estava sua ajuda quando mentiu para mim? Quando me fez acreditar naquela... naquela mentira que a Beatriz era minha ? Cecília ficou em silêncio por um momento, absorvendo a hostilidade. O peso das palavras dele era quase insuportável. — Gael, eu nunca menti para você sobre Beatriz. Nunca. Eu não sei o que te levou a acreditar nisso, mas estou aqui para esclarecer tudo. Ele virou o rosto, como se estivesse tentando fugir daquela conversa. — Eu já disse que não quero você aqui. E não é só por causa da cegueira. Isso não muda o fato de que você mentiu para mim .. — A voz dele tre
Alguns dias se passaram, e finalmente chegou o dia de Gael deixar o hospital. Ele estava sentado na beira da cama, ouvindo os sons ao seu redor: passos apressados, rodas de macas sendo empurradas e vozes abafadas no corredor. Embora tentasse manter a expressão calma, seu interior estava em ebulição. Ele sabia que a saída do hospital era apenas o primeiro passo em uma longa caminhada de adaptação. Quando a porta do quarto se abriu, ele reconheceu imediatamente os passos leves e cuidadosos de Helena, sua avó, seguidos pelo som característico da bengala de Alberto. Eles estavam ali para buscá-lo. — Pronto para ir, querido? — perguntou Helena, a voz doce, mas carregada de preocupação. — Sim — respondeu ele, seco, enquanto tateava para pegar sua mochila ao lado da cama. Ainda assim, percebeu a hesitação no ar, o que o deixou alerta. — Onde está Mayra? Um silêncio desconfortável tomou conta do ambiente. Helena e Alberto trocaram olhares que Gael não podia ver, mas sentiu claramente. —
Aos poucos, no entanto, a força que ele prometeu a si mesmo começou a se desgastar. Ele dizia que seria resiliente, que enfrentaria sua nova realidade com coragem, mas, pouco a pouco, tornou-se um homem amargo. Trancado em casa, isolado do mundo, ele rejeitava cada vez mais as visitas dos avós e de qualquer pessoa que tentasse se aproximar. Mesmo cercado de tecnologia de ponta, que facilitava seu trabalho e o permitia manter seus negócios em funcionamento, Gael sentia que sua vida estava se fechando em torno dele. O cão-guia, que antes era uma companhia, tornou-se uma lembrança do mundo exterior que ele se recusava a enfrentar. Em um gesto nobre, doou o animal para alguém que não podia comprá-lo, alegando que não fazia sentido mantê-lo se não saía de casa. O ato comovente era, na verdade, um reflexo do quanto Gael estava se afundando em sua solidão. Helena e Alberto, observando o declínio emocional do neto, decidiram que não podiam mais assistir a tudo sem agir. Eles se amavam prof
Ele estava sentado em uma poltrona próxima às enormes portas de vidro que davam para a varanda. Os raios de sol iluminavam seu rosto, revelando um homem que parecia mais sombrio e distante do que aquele que ela conhecia. .A barba estava mais cheia do que o habitual, conferindo-lhe um ar bruto e despreocupado. Mesmo assim, ele continuava lindo. Para ser sincera, o visual desleixado o tornava ainda mais irresistível, como se exalasse masculinidade de forma crua. Gael ouviu os passos e imediatamente se impertigou, levantando-se de forma precisa, embora sem sua guia. — Quem está aí? — perguntou ele, a voz firme. Antes que Cecília pudesse responder, ele sentiu o perfume dela, que apesar do tempo sem senti -,lo ele sempre se lembrava do seu cheiro doce d femenino , sua expressão imediatamente se endureceu. — Cecília? — disse, a voz agora carregada de frustração. — O que está fazendo aqui? Quem a deixou entrar? Eu fui bem claro que não quero vê-la! Quem quer que tenha permitido is
Depois que a respiração dele se normalizou Diogo se afastou de Cecília sem dizer nada e foi em direção ao banheiro com passos firmes e precisos como se já tivesse gravado onde ficava cada móvel em sua suite. Cecília entrou no banheiro silenciosamente, o vapor quente envolvendo o ambiente. Gael estava no box, com a água escorrendo pelo corpo, a cabeça inclinada para frente, como se tentasse deixar o peso do mundo ser lavado pelo chuveiro. Ele parecia tão vulnerável, tão distante, que o coração dela se apertou. Incapaz de resistir, ela se aproximou e o abraçou por trás, envolvendo sua cintura com os braços. — Gael... — sussurrou, a voz suave e cheia de emoção. Mas ele reagiu imediatamente, afastando suas mãos com um movimento brusco, quase defensivo. — Cecília, não. — A voz dele era fria, um contraste gritante com o calor do chuveiro. Ele virou de costas para ela e saiu do box, pegando a toalha com pressa. — Não faça isso. Cecília ficou parada por um momento, a água quente