Alguns dias se passaram, e finalmente chegou o dia de Gael deixar o hospital. Ele estava sentado na beira da cama, ouvindo os sons ao seu redor: passos apressados, rodas de macas sendo empurradas e vozes abafadas no corredor. Embora tentasse manter a expressão calma, seu interior estava em ebulição. Ele sabia que a saída do hospital era apenas o primeiro passo em uma longa caminhada de adaptação. Quando a porta do quarto se abriu, ele reconheceu imediatamente os passos leves e cuidadosos de Helena, sua avó, seguidos pelo som característico da bengala de Alberto. Eles estavam ali para buscá-lo. — Pronto para ir, querido? — perguntou Helena, a voz doce, mas carregada de preocupação. — Sim — respondeu ele, seco, enquanto tateava para pegar sua mochila ao lado da cama. Ainda assim, percebeu a hesitação no ar, o que o deixou alerta. — Onde está Mayra? Um silêncio desconfortável tomou conta do ambiente. Helena e Alberto trocaram olhares que Gael não podia ver, mas sentiu claramente. —
Aos poucos, no entanto, a força que ele prometeu a si mesmo começou a se desgastar. Ele dizia que seria resiliente, que enfrentaria sua nova realidade com coragem, mas, pouco a pouco, tornou-se um homem amargo. Trancado em casa, isolado do mundo, ele rejeitava cada vez mais as visitas dos avós e de qualquer pessoa que tentasse se aproximar. Mesmo cercado de tecnologia de ponta, que facilitava seu trabalho e o permitia manter seus negócios em funcionamento, Gael sentia que sua vida estava se fechando em torno dele. O cão-guia, que antes era uma companhia, tornou-se uma lembrança do mundo exterior que ele se recusava a enfrentar. Em um gesto nobre, doou o animal para alguém que não podia comprá-lo, alegando que não fazia sentido mantê-lo se não saía de casa. O ato comovente era, na verdade, um reflexo do quanto Gael estava se afundando em sua solidão. Helena e Alberto, observando o declínio emocional do neto, decidiram que não podiam mais assistir a tudo sem agir. Eles se amavam prof
Ele estava sentado em uma poltrona próxima às enormes portas de vidro que davam para a varanda. Os raios de sol iluminavam seu rosto, revelando um homem que parecia mais sombrio e distante do que aquele que ela conhecia. .A barba estava mais cheia do que o habitual, conferindo-lhe um ar bruto e despreocupado. Mesmo assim, ele continuava lindo. Para ser sincera, o visual desleixado o tornava ainda mais irresistível, como se exalasse masculinidade de forma crua. Gael ouviu os passos e imediatamente se impertigou, levantando-se de forma precisa, embora sem sua guia. — Quem está aí? — perguntou ele, a voz firme. Antes que Cecília pudesse responder, ele sentiu o perfume dela, que apesar do tempo sem senti -,lo ele sempre se lembrava do seu cheiro doce d femenino , sua expressão imediatamente se endureceu. — Cecília? — disse, a voz agora carregada de frustração. — O que está fazendo aqui? Quem a deixou entrar? Eu fui bem claro que não quero vê-la! Quem quer que tenha permitido is
Depois que a respiração dele se normalizou Diogo se afastou de Cecília sem dizer nada e foi em direção ao banheiro com passos firmes e precisos como se já tivesse gravado onde ficava cada móvel em sua suite. Cecília entrou no banheiro silenciosamente, o vapor quente envolvendo o ambiente. Gael estava no box, com a água escorrendo pelo corpo, a cabeça inclinada para frente, como se tentasse deixar o peso do mundo ser lavado pelo chuveiro. Ele parecia tão vulnerável, tão distante, que o coração dela se apertou. Incapaz de resistir, ela se aproximou e o abraçou por trás, envolvendo sua cintura com os braços. — Gael... — sussurrou, a voz suave e cheia de emoção. Mas ele reagiu imediatamente, afastando suas mãos com um movimento brusco, quase defensivo. — Cecília, não. — A voz dele era fria, um contraste gritante com o calor do chuveiro. Ele virou de costas para ela e saiu do box, pegando a toalha com pressa. — Não faça isso. Cecília ficou parada por um momento, a água quente
Ele se inclinou para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, e murmurou, quase para si mesmo: — Você não deveria estar aqui, Cecília. Eu não sou mais o homem que você conhecia. Ela cruzou os braços, a dor em seu peito queimando, mas sua determinação permanecendo intacta. — Talvez você não seja, Gael. Mas sabe o que eu vejo? Eu vejo o homem que ainda pode superar isso. O homem que eu amo. E eu não vou desistir dele. Mesmo que ele já tenha desistido de si mesmo. Gael permaneceu em silêncio, mas ela percebeu que suas palavras o atingiram. Ela sabia que ele ainda lutava contra seus próprios demônios, mas não importava. Cecília havia feito uma escolha, e ela não voltaria atrás. Ela ficaria com ele, mesmo que isso significasse enfrentar sua resistência dia após dia. Gael soltou um suspiro profundo, passando a mão pelos cabelos ainda úmidos. Um sorriso discreto, quase imperceptível, curvou seus lábios. — Você continua tão teimosa, Cecília... — murmurou, a voz rouca e ligeirame
Gael soltou uma risada curta, quase amarga, passando a mão pelo cabelo. — E você acha que eu mudei? Cecília, a perda da visão não me transformou em um homem melhor. Eu ainda sou tudo isso. Ela não recuou. Ao contrário, inclinou-se mais para perto, sua respiração quente contra o rosto dele. — Talvez você seja. — Sua voz era um sussurro suave, mas cheio de convicção. — Mas eu aprendi a amar até seus defeitos. Gael ficou em silêncio, mas ela podia sentir a barreira entre eles começar a se dissolver, mesmo que ele não quisesse admitir. O peso das palavras pairava no ar, carregando a tensão que parecia eletrificar o espaço entre eles. Ele finalmente virou o rosto em sua direção, os traços endurecidos suavizando apenas um pouco. — Você é louca, Cecília. — Ele murmurou, sua voz rouca e carregada de algo entre cansaço e desejo. — Louca por ainda me querer. Ela riu baixo, inclinando-se mais perto, até que os rostos estivessem a centímetros de distância. — Talvez eu seja. Mas
Ele hesitou antes de dar um passo em direção a ela. Mesmo visivelmente envergonhado, ele permitiu que ela pegasse sua mão e o guiasse para o closet. O momento era carregado de uma intimidade silenciosa. Cecília tratava cada movimento com cuidado, ajustando a camisa nele com dedos gentis, como se fosse um ritual. Enquanto Cecília ajudava Gael a ajustar a boxer em sua cintura, ele soltou um suspiro pesado, os ombros rígidos. Mesmo sem dizer nada, era evidente que ele estava desconfortável. — Cecília, você está exagerando. — Ele murmurou, balançando a cabeça. — Eu consigo me vestir sozinho. Ela parou o que estava fazendo por um momento, inclinando-se para frente para observar melhor o rosto dele. Um sorriso brincou em seus lábios, e sua expressão tinha um misto de provocação e carinho. — Sabe o que é? — Ela começou, ajustando o tecido com cuidado. Gael soltou um pequeno suspiro, balançando a cabeça enquanto um sorriso relutante surgia em seus lábios. — Você realmente não sabe q
— Não é nada disso, eu estou apenas sendo cuidadosa e carinhosa com o homem que eu amo — Ela respondeu, rindo. — Mas se eu puder pentear seus cabelos também, ficarei mais feliz. — Pentear meus cabelos? — Ele arqueou as sobrancelhas, um toque de divertimento em sua expressão. — Você realmente gosta de me provocar. Ela pegou um pente e, sem esperar resposta, começou a arrumar os fios úmidos dele. Gael suspirou, mas não resistiu, deixando-a terminar o que queria. — Pronto, agora sim. — Disse ela, satisfeita, deixando um beijo rápido no topo da cabeça dele. Amélia bateu de leve na porta e Cecília atendeu ,ela avisou que a mesa do café estava lhes aguardando porque Gael sempre toma seu café logo cedo. Cecília lhe agradeceu com um sorriso gentil . Descendo para a sala de jantar , Cecília guiou Gael com cuidado, mantendo a mão dele na sua. O aroma de café fresco preenchia o ambiente quando ela o acomodou na cadeira da mesa. Enquanto servia as xícaras, Gael relaxava aos pou