Gael Ferraz caminhava lentamente pela orla de Copacabana, mas mal percebia o mar, o céu, ou as pessoas ao seu redor. Aquele dia, que se repetia todos os anos como uma maldição, trazia com ele uma dor sufocante, uma lembrança impossível de apagar. Era o aniversário da morte de sua mãe.Diferente de todos os outros dias, hoje ele decidira dispensar seus seguranças. Precisava ficar sozinho, sentir o peso da solidão que sempre o acompanhou, mesmo em meio à fortuna, aos negócios milionários e à bajulação constante daqueles que o cercavam. Hoje, nada disso importava. O CEO bilionário, sempre visto como frio e implacável, voltará a ser Gael, o garoto que, aos nove anos, viu sua mãe ser brutalmente assassinada diante de seus olhos. A lembrança era tão vívida que o fazia estremecer. Ele conseguia ver com clareza o minúsculo apartamento onde viviam, o cheiro de cigarro e álcool impregnado nas paredes, e sua mãe, que sempre fazia o possível para protegê-lo. Ela era uma prostituta, e por isso a
O sangue começou a escorrer rapidamente, e Gael se viu congelado por um breve momento. A visão do sangue trouxe de volta lembranças de sua mãe, a poça vermelha ao redor de sua cabeça, o desespero de não poder fazer nada. Ele mal conseguia processar o que acontecia à sua volta, sentindo o corpo fraquejar. A dor física misturava-se com o trauma emocional. De repente, uma voz forte e firme o trouxe de volta à realidade.___Fica calmo, senhor, você está ferido. Vou levá-lo para um pronto-socorro.Era um policial que, ao testemunhar parte da confusão, correu até ele enquanto seu parceiro perseguia o assaltante. O policial rapidamente pressionou o ferimento no braço de Gael com um pano, tentando estancar o sangue.___ Você vai ficar bem, só precisa de cuidados médicos.Gael, ainda em choque, mal conseguiu responder. Ele foi colocado na viatura e, com as sirenes ligadas, levado diretamente para o hospital. No hospital, Gael foi encaminhado para a emergência, onde médicos e enfermeiros c
___Correto, senhor. Mas a médica de plantão está em uma cirurgia de emergência. Se ainda não notou, este é um hospital público, onde a escassez de médicos é grande, e na maioria das vezes o médico que estiver presente tem que priorizar os casos com riscos maiores. — disse ela, tentando se manter o mais educada e paciente possível, e depois continuou.___Portanto, ou me deixa cuidar do seu ferimento ou terá que usar todo seu dinheiro e poder para ser atendido em um lugar mais de acordo com seu status. A frustração de Cecília era palpável. Ela havia tido uma manhã difícil, enfrentando não apenas o comportamento arrogante de Gael, mas também o desrespeito de um jovem bêbado, filho de papai, que havia passado a mão nela. Ela relevou, sabendo que o rapaz estava fora de si, mas a amargura do momento ainda a afetava.___Você me deu uma boa ideia. É isso que vou fazer — disse Gael, com um olhar de superioridade. No entanto, ao tentar pegar o celular do bolso, esqueceu-se do braço ferido e e
Por outro lado, Cecília, enquanto tratava o ferimento, também notou a atração que Gael emanava. Era raro ela se fixar na aparência de um paciente, mas Gael era, sem dúvida, o homem mais bonito e atraente que ela já havia visto. Ela o conhecia por fotos em revistas e na internet, mas, ao vê-lo pessoalmente, sua beleza era ainda mais marcante. Ele tinha um corpo atlético, alto e com músculos definidos, mas sem exagero. Seu rosto exibia uma beleza que, com certeza, chamava atenção por onde passava. Apesar da atração, Cecília manteve o foco em sua tarefa. Ela se lembrou de que, por trás da aparência bela e atraente de Gael, havia uma personalidade que não a agradava de forma alguma. Ela costumava evitar pessoas com o temperamento dele e, principalmente, com sua posição social. Ao retornar sua atenção para o que estava fazendo, fez o possível para manter seus pensamentos focados apenas no atendimento que estava prestando. Com mãos delicadas e uma habilidade precisa, Cecília trat
Gael deu mais um passo em sua direção, tão próximo agora que ela podia sentir o calor de seu corpo.____ Quem falou em agressão? — murmurou ele, sua voz soando quase como um sussurro. ____ Existem muitas formas de punição bem mais interessantes, e eu tenho outra maneira de lidar com o seu atrevimento.Antes que Cecília pudesse responder, Gael a segurou pela cintura, puxando-a para mais perto com um movimento rápido e firme. Seus lábios capturaram os dela em um beijo intenso, roubado, que a pegou completamente de surpresa. Ela tentou resistir, empurrando o peito dele com força, mas a força de Gael a manteve presa contra seu corpo, nem parecia que ele estava com um dos braços feridos. Cecília lutou, seu corpo tenso enquanto sua mente gritava para se afastar. Mas o beijo de Gael era quente, invasivo, e por um instante, ela sentiu a força da atração que inesperadamente estava sentindo por ele superar a raiva. Suas mãos, que antes o empurravam, hesitaram por um breve segundo, e ela quase
Agora, com 24 anos, ela era uma mulher madura, endurecida pela vida, e sabia exatamente como lidar com homens assim.Ainda assim, o efeito que Gael tivera sobre ela era inegável. Suas palavras firmes, sua presença dominadora, e o toque de seus lábios ainda queimavam nos dela, como uma chama que não se apagava. Ele havia mexido com algo que Cecília pensava estar enterrado profundamente, uma parte dela que ela havia decidido ignorar após a decepção devastadora de seu passado.Cecília tinha certeza de que jamais veria Gael novamente. Seus mundos eram completamente opostos. Ele, com toda sua opulência e poder, certamente morava e circulava pelos bairros mais nobres da cidade, enquanto ela vivia no Morro Paraíso, um lugar dominado pelo tráfico e pela violência. Seus caminhos se cruzaram apenas porque ele, ferido, fora parar no hospital público onde ela trabalhava. Esse pensamento a trouxe um certo alívio. Homens como Gael representavam perigo, não apenas físico, mas emocional. Ele po
Horas depois, o barulho dos tiros começou a diminuir, e a tensão no ar parecia aliviar-se lentamente. Cecília observou, com uma mistura de alívio e impaciência, enquanto os policiais desciam com uma jovem mulher, filha de alguém influente, que havia se metido em problemas ao se emvolver com quem não devia e estava sendo resgatada. A cena parecia um reflexo cruel da desigualdade: uma patricinha recebendo resgate imediato, enquanto os moradores do morro, cujas vidas estavam em constante risco, eram deixados à própria sorte. Mas, apesar de sua revolta pela desigualdade social, naquele momento ela só queria subir e verificar se seus avós estavam bem. Com o final do confronto, ela se aproximou dos policiais, tentando encontrar alguma informação sobre a situação no morro. Com um misto de nervosismo e determinação, ela avançou pelas barreiras policiais.Finalmente, com a permissão para retornar ao morro, Cecília subiu pelas ruas ainda desertas, com o som das sirenes cada vez mais distante.
Cecília sentiu um arrepio subir pela espinha. Seu avô raramente falava com tanto cuidado. Ela pousou a xícara sobre a mesa, a mão trêmula.____ Como... como assim ele fugiu?Então por isso que a policia estava por aqui ? — A voz de Cecília falhou, a boca ficando seca.— Sim ,mas pelo que ouvimos falar foi também para resgatar a filha de um deputado que se meteu com um dos soldados do trafico e o pai inventou que ela foi sequestrada por ele ...mas quanto ao Tiago ,com certeza ele teve ajuda de alguns policiais corruptos que têm ligação com o tio dele e facilitaram sua fuga — disse seu avô, os olhos sombrios.___ Fizeram uma emboscada no caminho quando ele estava para ser transferido para outro presídio.Cecília olhou para sua avó, o coração batendo tão forte que ela sentia o pulsar em seus ouvidos.___Ele apareceu por aqui? Será que ele ainda lembra de mim? Afinal, já se passaram sete anos desde sua prisão — perguntou, mal reconhecendo sua própria voz.___ Não... — respondeu Dona Lurd