Gael ficou em silêncio por um momento, respirando fundo, como se aquela pergunta fosse uma barreira difícil de atravessar. — Eu… nunca pude confiar em ninguém, Cecília — começou ele, a voz baixa, porém firme. — Nem mesmo nos meus avós. Eles tentaram constantemente me enganar, tentaram roubar tudo o que eu tinha. Acreditar em alguém sempre foi… difícil para mim. — Ele soltou um suspiro, e seus dedos começaram a acariciar os cabelos dela, quase como se buscasse consolo naquele contato. Cecília levantou o olhar para ele, seu rosto revelando uma mistura de empatia e tristeza. Ela entendeu, em parte, o peso que ele carregava. — E Mayra? — Ela perguntou, com um olhar perscrutador. — Você confia nela? Gael franziu a testa e desviou o olhar, seu rosto endurecendo. — Nela? Menos ainda — respondeu, com uma ponta de amargura na voz. — Vou investigar se ela tem alguma coisa a ver com o que está naquele dossiê. Eu sei que ela é capaz de tudo para afastar você e a nossa filha da minha vi
— Se Mayra não ameaçasse destruir minha imagem, eu daria toda a assistência, proteção e tudo o que meu filho precisasse, mas não me casaria com ela. Eu me casaria com você. — Ele a olhou intensamente, e Cecília sentiu o peso e a sinceridade daquelas palavras. Ela sorriu, um pouco incrédula. — Casar comigo? Duvido. Eu, uma garota que veio de um mundo tão diferente do seu? — perguntou, rindo suavemente. Ele retribuiu o sorriso, puxando-a para mais perto. — Claro que me casaria, se estivesse apaixonado como estou por você. Bastou te ver algumas vezes, beijar você, sentir você, para que isso acontecesse. — A voz dele era um sussurro carregado de intensidade. Cecília suspirou, olhando-o com carinho, enquanto acariciava seu rosto. — Gael, vamos embora. Eu quero buscar minha filha e voltar para a casa dos meus avós. Eles devem estar muito preocupados. — Havia um toque de urgência em sua voz, misturado com o desejo de cuidar de quem amava. Gael assentiu, uma expressão de arrepend
Cecília sorriu, abraçando a família, enquanto Gael observava a cena com respeito. Ele sabia que aquele momento era precioso para eles e se sentia um intruso, mas também sabia que precisava se desculpar. Ele respirou fundo, aproximando-se dos avós de Cecília, que o olharam com desconfiança, mas com uma disposição para ouvir. — Eu queria pedir desculpas — começou ele, a voz carregada de sinceridade. — Sei que o que fiz foi errado e que assustei vocês. Estava confuso e tomado pela raiva, mas isso não justifica ter tirado Bia de vocês dessa forma. O avô de Cecília olhou-o por um momento, em silêncio, antes de assentir levemente. — Nós só queremos o bem de nossa neta e da bisneta. Que essa menina tenha um lar seguro e cheio de amor — respondeu o avô, em um tom calmo, mas firme. Gael suspirou, os olhos fixos na paisagem do morro ao lado de Cecília, enquanto o sol começava a se pôr sobre as casas apertadas e o barulho da comunidade se aquietava. Havia um silêncio tenso entre eles,
Dias depois, o encontro foi marcado na casa dos avós de Gael. Cecília chegou de mãos dadas com Bia, que observava o ambiente ao redor com o olhar curioso de uma criança. Assim que entrou, Cecília percebeu o contraste gritante entre aquele lugar elegante e o mundo em que vivia: móveis requintados, fotos da família Ferraz nas paredes, tudo transmitindo um ar de imponência e tradição. Mesmo assim, ela ergueu a cabeça e deu um passo à frente, orgulhosa e firme. Os avós de Gael a observavam com olhares avaliadores, mas quando seus olhos pousaram sobre a pequena Bia, eles não conseguiram esconder a surpresa. A menina possuía traços que remetiam à família Ferraz: os olhos inquisitivos de Gael, a expressão que lembrava os ancestrais daquela linhagem. Bia, alheia à tensão no ambiente, sorriu com inocência, e o gesto infantil pareceu suavizar por um instante os semblantes rígidos dos avós. Bia olhou para a avó de Gael, curiosa, e ofereceu-lhe um sorriso doce. O semblante da senhora se suaviz
Mesmo Gael optando por registrar Bia sem ter feito o exame de DNA, o que deixou Cecília ainda mais apaixonada por ele por essa demonstração de confiança, ela fez questão de fazer o exame mesmo assim. Queria provar para os avós dele e, principalmente, para Mayra que não era uma golpista mentirosa como pensavam e que Bia era realmente filha de Gael. Quando o resultado saiu, Gael marcou de ir ao apartamento onde ela agora residia para abrir o envelope. Para Cecília, ela já sabia com certeza que Bia era sua filha, mas, se ele ainda tinha alguma dúvida, aquele exame deixaria claro que ele era o pai, sem sombras de dúvida, da pequena Beatriz. Assim chegou ao apartamento, Gael segurava o envelope do teste de DNA nas mãos como se fosse um peso insuportável. Mesmo optando por acreditar em Cecília, ele era constantemente atormentado pela sombra da dúvida, alimentada por Mayra, sua avó e o dossiê que ainda o assombrava. Cada passo em direção ao apartamento de Cecília parecia puxá-lo mais
Gael respirava pesadamente, tentando processar o turbilhão de emoções que tomava conta dele. O exame de DNA parecia ter destruído tudo o que ele acreditava sobre Cecília e a pequena Beatriz. Mesmo assim, ele não conseguia entender como aquela menina tinha traços tão semelhantes aos seus, com olhos tão parecidos com os da sua mãe. — Eu só não entendo como ela pode ter olhos tão parecidos com os meus e traços tão semelhantes à minha mãe se não é minha filha — murmurou, a voz cheia de mágoa e confusão. Cecília, sentindo-se ferida e humilhada pelas acusações dele, deixou um sorriso sarcástico surgir em seus lábios. Aproximou-se dele com um brilho desafiador nos olhos, querendo feri-lo tanto quanto ele a machucava. — Vai ver que, enquanto eu transava com o Lucas ou com qualquer um que seja o pai dela, pensei em você no momento em que a fizemos. — A voz dela saiu como veneno, as palavras projetadas para atingir o coração dele. Gael a olhou com uma raiva crescente e, incapaz de se con
Gael deixou o apartamento de Cecília como um furacão, dirigindo pelas ruas sem destino, a mente tomada pelo redemoinho de emoções que o consumia. Sentia-se traído, humilhado e destruído. A visão de Cecília e as palavras cruéis dela ainda ressoavam em sua cabeça, como facas afiadas penetrando sua alma. Ele apertava o volante com força, tentando conter as lágrimas de raiva e desespero que ameaçavam escapar. De repente, o toque insistente de seu celular interrompeu o fluxo de pensamentos. Ele relutou em atender, não queria falar com ninguém, muito menos com Mayra. Mas o toque persistente o venceu. Com um suspiro, ele pegou o celular e, ao ouvir a voz dela, percebeu que estava chorando. A notícia o pegou de surpresa: Mayra estava no hospital, havia perdido o bebê. A dor e o cansaço em sua voz eram claros, e ele sentiu um peso ainda maior em seu peito. Com a mente confusa, desviou o caminho em direção ao hospital. Ao chegar, encontrou a avó de Mayra ao lado dela, consolando-a. El
Quando Gael despertou novamente, a escuridão continuava ao seu redor, densa e impenetrável. Ele piscou, como se isso pudesse mudar algo, mas nada acontecia. Sentiu a tensão no corpo, os músculos ainda doloridos do acidente, e então o vazio esmagador da realidade o atingiu com força total e esmagadora . Ele estava cego. O pânico ameaçou tomá-lo novamente, mas ele respirou fundo, tentando se agarrar ao que lhe restava: suas memórias. Aos poucos, fragmentos de momentos importantes começaram a surgir em sua mente. Ele se lembrou de Cecília. A primeira vez que a viu, o sorriso dela iluminando a sala. Ela havia sido seu primeiro amor, o único que realmente mexeu com ele. Lembrou-se do parto de Beatriz, em meio ao caos do sequestro, quando Lucas, em sua loucura, os colocou em perigo. Cecília foi até lá, arriscando a própria vida para salvá-lo. Essas lembranças o atingiram como uma avalanche, cada detalhe mais vívido que o outro. E, no meio daquele turbilhão, algo se acendeu em sua me