A noite avançava, e o silêncio que pairava na casa de Emma e Alexandre era apenas aparente. Nos corredores, nas entrelinhas dos olhares, nas palavras medidas, havia tensão acumulada, ressentimentos antigos e dúvidas não ditas.Emma colocou Miguel no berço com cuidado, tentando acalmar o coração. O choro leve do bebê havia cessado, e sua respiração ritmada era a única paz que ela sentia naquela noite. Fechou a porta do quarto devagar e seguiu até a sala.Lá, a sogra e a irmã de Alexandre ainda estavam sentadas, agora em silêncio. A conversa havia morrido depois da resposta firme de Emma. Alexandre, por sua vez, voltava do escritório com o pai, ambos com semblantes sérios.— Algum problema? — Emma perguntou, olhando para o marido.Alexandre negou com a cabeça. — Apenas conversas... antigas.O pai dele a observou por um momento e então falou:— Confesso que não entendi sua escolha no começo, filho. E, sinceramente, ainda tenho meus receios. Mas hoje... vi como ela cuida da sua família. E
Emma olhava pela janela do quarto, com Miguel adormecido em seus braços. O sol da manhã entrava tímido, banhando o berço com uma luz suave e morna. Ela sentia o coração leve, mas também inquieto. Nos últimos dias, ela e Alexandre haviam se aproximado ainda mais, e as palavras trocadas na noite anterior ecoavam em sua mente.“Você é meu lar, Emma.”Era a primeira vez que Alexandre havia expressado tão diretamente o que sentia por ela desde o nascimento de Miguel. Emma sabia que ele sempre estivera ao seu lado, mas aquela frase tinha um peso diferente. Era uma promessa, um reconhecimento. Um amor real.Sofia entrou no quarto sorrindo, carregando um desenho. “Mamãe, olha! Desenhei nossa família!” Ela estendeu o papel com traços infantis: um homem de terno, uma mulher de vestido florido, uma menininha com tranças e um bebê com um enorme sorriso.Emma se ajoelhou e puxou Sofia para um abraço apertado. “Ficou lindo, meu amor. Você desenhou até o papai com terno!”“Porque ele sempre usa tern
Na manhã seguinte, Alexandre estava inquieto. Embora tivesse acolhido a confissão de Emma com compreensão e amor, algo dentro dele ainda queria protegê-la mais profundamente. Queria entender não só o que ela enfrentou — mas também de onde ela veio, o que a moldou até se tornar essa mulher forte, doce e determinada que agora era mãe dos seus filhos e a dona do seu coração. Pegou o telefone e ligou para Marcos, seu advogado e homem de confiança. — Marcos, quero que vá a fundo na vida da Emma... — disse, sério. — Está desconfiando dela? — perguntou Marcos, surpreso. — Não. Eu a amo. Mas quero entender. Saber de onde ela veio, o que ela viveu... O que ela superou. Eu quero conhecer tudo, até o que ela nunca teve coragem de contar. Me ajude com isso. --- Dois dias depois, Marcos retornou com um dossiê discreto, mas poderoso. Alexandre o leu página por página, sozinho em seu escritório, o coração apertado conforme as informações tomavam forma diante dos seus olhos. Emma nascera
A manhã começou tranquila. Miguel acordou com o sorriso doce que iluminava qualquer canto da casa. Emma o pegou no colo, cheirou seu pescoço e sentiu aquele perfume inconfundível de bebê misturado com ternura e esperança. Era por ele que ela seguia todos os dias, mais forte e inteira. Enquanto Emma preparava o café, Alexandre desceu as escadas, já pronto para sair, mas com um olhar curioso. — Marcos me entregou mais alguns documentos hoje cedo — disse ele, enquanto colocava uma xícara de café à frente dela. — Há registros antigos. Uma mulher que tentou procurar por você há anos, mas sem sucesso. Pode ser alguém da sua família biológica. Emma congelou por um momento, com a colher a meio caminho do açúcar. A ideia de ter uma ligação biológica com alguém soava quase surreal. Por tanto tempo, ela acreditou que tinha sido simplesmente abandonada, esquecida. — Quem? — sussurrou. — O nome dela é Ester. Ela tentou adotar uma menina anos atrás, mas quando descobriu que você já havia s
Emma caminhava pelos corredores de sua nova galeria como quem flutuava. O piso de mármore branco refletia os quadros imensos, carregados de emoção, que marcariam sua próxima exposição. Era tudo tão surreal... anos atrás, ela apenas sonhava com um espaço assim. Hoje, era dona de um império artístico respeitado internacionalmente.A mostra se chamaria Raízes Invisíveis — uma homenagem silenciosa à menina esquecida que ela foi, e à mulher que lutou para florescer mesmo nas terras mais secas.— Senhora Vasconcellos — disse uma assistente, aproximando-se com um tablet nas mãos. — Confirmaram sua entrevista com a “Vogue Arte” e também o editorial com a “Elle Internacional”. A agenda para Paris foi aprovada. Ah, e o colunista francês quer saber se o Alexandre a acompanha na viagem.Emma sorriu. Ainda estava se acostumando a ser chamada por aquele sobrenome. Vasconcellos.— Pode confirmar tudo. E sim, Alexandre vai comigo.Enquanto sua equipe corria para alinhar detalhes, Emma se afastou por
O sol da manhã parecia abençoar cada detalhe do evento. O prédio da fundação Raízes de Esperança estava repleto de cores suaves, flores do campo e painéis com trechos de cartas anônimas de mulheres sobreviventes. A arquitetura era leve, acolhedora. Cada sala havia sido pensada com sensibilidade, desde os tons das paredes até os materiais usados nas oficinas.Emma chegou cedo, vestindo um conjunto branco elegante, com os cabelos soltos e um olhar emocionado. Alexandre a acompanhava, orgulhoso, com Miguel nos braços. Juntos, eles eram o reflexo da força, da reconstrução e do amor.Pessoas influentes estavam presentes: artistas, psicólogos, assistentes sociais, empresários, representantes da mídia… Mas os olhares mais importantes eram os das primeiras jovens acolhidas pela fundação.Meninas com olhos cansados e corações ainda assustados, mas que pela primeira vez pisavam em um lugar onde não seriam julgadas — apenas escutadas.---Emma subiu ao pequeno palco montado no pátio interno. Um
Introdução Nunca passou pela minha cabeça que minha vida mudaria completamente ao atravessar os portões daquela casa. Eu só queria um emprego, algo que me desse estabilidade e me permitisse respirar em paz depois de tudo o que enfrentei. Ser babá da filha de um homem rico, poderoso e aparentemente inacessível não parecia parte de nenhum conto de fadas — e de fato, não era. Alexandre Vasconcelos era tudo que eu jamais pensei que me atrairia: frio, distante, cheio de cicatrizes que ele se recusava a mostrar. Um CEO de uma das maiores empresas do país, com um passado guardado a sete chaves e uma filha pequena precisando de cuidado e amor. Eu fui contratada para cuidar de Sofia... mas, no fim, foi ela quem me apresentou ao amor que mudaria minha vida. O que começou como um trabalho se transformou em algo que nenhum de nós previu. Uma conexão silenciosa, um sentimento que cresceu entre fraldas e histórias de ninar, entre noites de silêncio e olhares carregados de tudo que não podíamos di
Emma e Lily estavam terminando o café da manhã quando o som da porta da frente se abrindo ecoou pela mansão. A garotinha, que até então estava sorrindo, ficou tensa. Alexander Carter entrou na cozinha com sua presença imponente. Vestia um terno impecável, e seu olhar frio passou por Emma antes de pousar em Lily. — Você comeu tudo, Lily? — Sua voz era séria, mas não dura. A menina assentiu lentamente, ainda segurando o ursinho. — Sim, papai. Emma fez panquecas. Alexander desviou o olhar para Emma. — Espero que não tenha colocado açúcar demais. Lily não pode comer doces em excesso. Emma manteve a postura firme. — Fiz questão de equilibrar bem os ingredientes, senhor Carter. Lily se alimentou de forma saudável. Ele arqueou uma sobrancelha, como se não esperasse uma resposta tão direta. — Ótimo. Houve um breve silêncio antes de ele se virar para sair. — Senhor Carter? — Emma o chamou, sem pensar. Ele parou e olhou para ela, intrigado. — Sim? — Sei que sua roti