A manhã começou tranquila. Miguel acordou com o sorriso doce que iluminava qualquer canto da casa. Emma o pegou no colo, cheirou seu pescoço e sentiu aquele perfume inconfundível de bebê misturado com ternura e esperança. Era por ele que ela seguia todos os dias, mais forte e inteira. Enquanto Emma preparava o café, Alexandre desceu as escadas, já pronto para sair, mas com um olhar curioso. — Marcos me entregou mais alguns documentos hoje cedo — disse ele, enquanto colocava uma xícara de café à frente dela. — Há registros antigos. Uma mulher que tentou procurar por você há anos, mas sem sucesso. Pode ser alguém da sua família biológica. Emma congelou por um momento, com a colher a meio caminho do açúcar. A ideia de ter uma ligação biológica com alguém soava quase surreal. Por tanto tempo, ela acreditou que tinha sido simplesmente abandonada, esquecida. — Quem? — sussurrou. — O nome dela é Ester. Ela tentou adotar uma menina anos atrás, mas quando descobriu que você já havia s
Emma caminhava pelos corredores de sua nova galeria como quem flutuava. O piso de mármore branco refletia os quadros imensos, carregados de emoção, que marcariam sua próxima exposição. Era tudo tão surreal... anos atrás, ela apenas sonhava com um espaço assim. Hoje, era dona de um império artístico respeitado internacionalmente.A mostra se chamaria Raízes Invisíveis — uma homenagem silenciosa à menina esquecida que ela foi, e à mulher que lutou para florescer mesmo nas terras mais secas.— Senhora Vasconcellos — disse uma assistente, aproximando-se com um tablet nas mãos. — Confirmaram sua entrevista com a “Vogue Arte” e também o editorial com a “Elle Internacional”. A agenda para Paris foi aprovada. Ah, e o colunista francês quer saber se o Alexandre a acompanha na viagem.Emma sorriu. Ainda estava se acostumando a ser chamada por aquele sobrenome. Vasconcellos.— Pode confirmar tudo. E sim, Alexandre vai comigo.Enquanto sua equipe corria para alinhar detalhes, Emma se afastou por
O sol da manhã parecia abençoar cada detalhe do evento. O prédio da fundação Raízes de Esperança estava repleto de cores suaves, flores do campo e painéis com trechos de cartas anônimas de mulheres sobreviventes. A arquitetura era leve, acolhedora. Cada sala havia sido pensada com sensibilidade, desde os tons das paredes até os materiais usados nas oficinas.Emma chegou cedo, vestindo um conjunto branco elegante, com os cabelos soltos e um olhar emocionado. Alexandre a acompanhava, orgulhoso, com Miguel nos braços. Juntos, eles eram o reflexo da força, da reconstrução e do amor.Pessoas influentes estavam presentes: artistas, psicólogos, assistentes sociais, empresários, representantes da mídia… Mas os olhares mais importantes eram os das primeiras jovens acolhidas pela fundação.Meninas com olhos cansados e corações ainda assustados, mas que pela primeira vez pisavam em um lugar onde não seriam julgadas — apenas escutadas.---Emma subiu ao pequeno palco montado no pátio interno. Um
O som suave da chuva no telhado acompanhava os pensamentos de Emma enquanto ela se sentava na beira da janela, com a pulseira nas mãos. O peso daquele pequeno objeto era imenso, mais do que ela poderia ter imaginado. Era a chave de algo que ela sabia que deveria descobrir, mas ao mesmo tempo temia.Alexandre entrou no quarto, seu olhar suave, mas atento, já conhecendo a expressão pensativa de Emma.— Não consigo parar de pensar nisso. — Ela virou a pulseira entre os dedos. — Não sei se estou pronta para enfrentar o que essa busca vai me trazer.Alexandre se aproximou e sentou-se ao seu lado, colocando a mão sobre a dela.— Você é forte, Emma. Sempre foi. Se precisar de tempo, eu estou aqui. Se precisar descobrir tudo de uma vez, também estarei aqui.Ela sorriu fraco, sentindo-se segura com a presença dele, mas ainda tomada pela dúvida.— Eu… não sei o que esperar. Talvez encontre algo que me machuque. Ou talvez… finalmente entenda quem eu sou de verdade.Alexandre inclinou a cabeça, t
O sol da manhã entrava suavemente pelas janelas da casa dos Vasconcellos, aquecendo o ambiente com uma luz dourada. Emma observava Miguel brincando no tapete da sala, com seus olhinhos curiosos e sorriso fácil. Era como se, ao olhar para o filho, ela encontrasse a força que precisava para seguir em frente.Depois do reencontro com Clara, uma parte de Emma se sentia mais leve. A outra, no entanto, ainda lutava para processar tudo. Saber que sua mãe biológica havia sofrido, que tentou mas falhou em mantê-la por perto, que viveu com o arrependimento, era doloroso — mas também curativo.Alexandre entrou na sala com uma xícara de chá nas mãos e a depositou ao lado dela.— Dormiu bem? — ele perguntou, sentando-se ao seu lado.Emma assentiu, recostando-se no ombro dele.— Pela primeira vez em muito tempo, sim. Ainda estou confusa, mas parece que algo dentro de mim finalmente encontrou um lugar para descansar.Ele beijou sua cabeça, orgulhoso da mulher forte que ela era.— Isso é o mais impor
A foto continuava sobre a mesa do escritório de Emma. Mesmo depois de horas olhando para ela, algo parecia pulsar naquela imagem. Uma energia antiga. Um apelo silencioso. Alexandre, sempre prático, havia colocado Marcos, seu segurança de confiança, para investigar a origem do envelope. Mas nem mesmo ele conseguia encontrar uma pista sólida. O envelope era simples, sem digitais, sem remetente, como se tivesse surgido do nada. Naquela noite, após colocar Miguel para dormir, Emma voltou àquela imagem. Agora reparava melhor: ao fundo, uma casa antiga, quase escondida pelas árvores. Ela não sabia por quê, mas aquela casa lhe parecia familiar. --- Enquanto isso, em um pequeno vilarejo do interior, Augusto terminava de escrever uma carta. Seu semblante era pesado, como se a verdade que carregava por décadas tivesse se tornado insuportável de manter em segredo. > "Emma, Se você está lendo isso, é porque chegou a hora. Você merece saber quem realmente é. Você merece saber quem f
Emma caminhava pelos corredores do ateliê com os olhos perdidos em cada tela. As luzes estavam apagadas, exceto por um feixe suave vindo da claraboia, iluminando a obra que ela acabara de finalizar. Era a imagem de uma mulher de cabelos soltos ao vento, com os olhos fechados e os lábios entreabertos — como se estivesse prestes a gritar. Ao fundo, sombras indistintas, ameaçadoras.Era Elisa.Ou talvez fosse ela mesma.Emma já não distinguia onde acabava sua dor e começava a dor da mãe. A conexão era tão intensa que pintar se tornara um processo de cura — e de denúncia.— Está pronta? — perguntou Alexandre, entrando no ateliê.— Não. Mas vai assim mesmo. O medo não pode me paralisar.— Então vamos montar a exposição.Ela assentiu. Decidiu chamá-la de "Herança Silenciosa". Uma mostra de telas inéditas, todas inspiradas nas memórias de sua mãe, nas descobertas que vinha fazendo e nas cicatrizes que ainda ardem.---A divulgação da exposição causou burburinho no meio artístico. O nome de E
O envelope com os documentos estava sobre a mesa do escritório de Alexandre. Ambos o encaravam como se contivesse dinamite prestes a explodir — e, de certa forma, era exatamente isso. Havia contratos adulterados, e-mails trocados entre nomes poderosos, fotos borradas mas reveladoras, gravações comprometedoras. Marina não havia mentido: era um dossiê completo, o suficiente para colocar Eduardo contra a parede.— Isso aqui é explosivo — disse Alexandre, folheando as páginas. — Mas precisamos de um plano sólido. Se divulgarmos do jeito errado, ele pode virar o jogo contra você, te acusar de difamação, manipulação, até de estar emocionalmente instável.— Já fui silenciada uma vez, Alexandre. Não vou aceitar isso de novo. Só que agora… agora eu tenho você. E não estou mais sozinha.— E nunca mais estará — ele respondeu, tocando a mão dela com firmeza. — Vamos fazer isso do jeito certo.---Dois dias depois, Emma e Alexandre encontraram-se discretamente com Vinícius Prado, um jornalista inv