A foto continuava sobre a mesa do escritório de Emma. Mesmo depois de horas olhando para ela, algo parecia pulsar naquela imagem. Uma energia antiga. Um apelo silencioso. Alexandre, sempre prático, havia colocado Marcos, seu segurança de confiança, para investigar a origem do envelope. Mas nem mesmo ele conseguia encontrar uma pista sólida. O envelope era simples, sem digitais, sem remetente, como se tivesse surgido do nada. Naquela noite, após colocar Miguel para dormir, Emma voltou àquela imagem. Agora reparava melhor: ao fundo, uma casa antiga, quase escondida pelas árvores. Ela não sabia por quê, mas aquela casa lhe parecia familiar. --- Enquanto isso, em um pequeno vilarejo do interior, Augusto terminava de escrever uma carta. Seu semblante era pesado, como se a verdade que carregava por décadas tivesse se tornado insuportável de manter em segredo. > "Emma, Se você está lendo isso, é porque chegou a hora. Você merece saber quem realmente é. Você merece saber quem f
Emma caminhava pelos corredores do ateliê com os olhos perdidos em cada tela. As luzes estavam apagadas, exceto por um feixe suave vindo da claraboia, iluminando a obra que ela acabara de finalizar. Era a imagem de uma mulher de cabelos soltos ao vento, com os olhos fechados e os lábios entreabertos — como se estivesse prestes a gritar. Ao fundo, sombras indistintas, ameaçadoras.Era Elisa.Ou talvez fosse ela mesma.Emma já não distinguia onde acabava sua dor e começava a dor da mãe. A conexão era tão intensa que pintar se tornara um processo de cura — e de denúncia.— Está pronta? — perguntou Alexandre, entrando no ateliê.— Não. Mas vai assim mesmo. O medo não pode me paralisar.— Então vamos montar a exposição.Ela assentiu. Decidiu chamá-la de "Herança Silenciosa". Uma mostra de telas inéditas, todas inspiradas nas memórias de sua mãe, nas descobertas que vinha fazendo e nas cicatrizes que ainda ardem.---A divulgação da exposição causou burburinho no meio artístico. O nome de E
O envelope com os documentos estava sobre a mesa do escritório de Alexandre. Ambos o encaravam como se contivesse dinamite prestes a explodir — e, de certa forma, era exatamente isso. Havia contratos adulterados, e-mails trocados entre nomes poderosos, fotos borradas mas reveladoras, gravações comprometedoras. Marina não havia mentido: era um dossiê completo, o suficiente para colocar Eduardo contra a parede.— Isso aqui é explosivo — disse Alexandre, folheando as páginas. — Mas precisamos de um plano sólido. Se divulgarmos do jeito errado, ele pode virar o jogo contra você, te acusar de difamação, manipulação, até de estar emocionalmente instável.— Já fui silenciada uma vez, Alexandre. Não vou aceitar isso de novo. Só que agora… agora eu tenho você. E não estou mais sozinha.— E nunca mais estará — ele respondeu, tocando a mão dela com firmeza. — Vamos fazer isso do jeito certo.---Dois dias depois, Emma e Alexandre encontraram-se discretamente com Vinícius Prado, um jornalista inv
O dia amanheceu cinza, com nuvens pesadas cobrindo o céu de São Paulo, como se a cidade sentisse o peso dos dias que Emma vinha enfrentando. Naquele sábado, ela acordou cedo, tomou seu café em silêncio e ficou observando a foto que recebera na noite anterior.A imagem, já desbotada, mostrava Elisa abraçada a uma mulher de olhar firme, cabelos escuros e expressão decidida. A legenda anônima deixava claro: havia mais segredos escondidos naquele passado que Emma achava conhecer.Alexandre entrou na sala, ainda com a expressão sonolenta, e parou atrás dela, lendo a anotação.— Acha que essa mulher pode ter as respostas?— Acho que essa mulher pode ser a chave. Ela era próxima da minha mãe. Talvez fosse parte do grupo de denúncia, talvez saiba o que realmente aconteceu… talvez saiba por que minha mãe morreu.— Então vamos encontrá-la.---Foram dias de buscas silenciosas, evitando deixar rastros. Marina ajudou com algumas lembranças, nomes soltos, pistas desconexas. Até que uma ligação de
O voo de Sofia aterrissou em São Paulo em uma manhã abafada de terça-feira. Ela sentiu uma mistura de emoções ao pisar novamente no solo brasileiro. Estava ansiosa para ver sua família, mas algo estava diferente agora. Não podia ignorar os sinais que surgiam em sua mente. Algo no passado de sua mãe, Emma, e nas histórias que ela começava a descobrir a cada conversa, parecia incompleto.Quando Sofia chegou à casa de Alexandre e Emma, a primeira coisa que fez foi correr até o quarto de Miguel, que estava brincando com os brinquedos. O sorriso do pequeno fez seu coração se aquecer.Emma estava na sala de estar, revisando algumas imagens de suas obras mais recentes. O peso da situação era visível em seus olhos. Ela levantou a cabeça assim que Sofia entrou na sala.— Sofia! Você voltou! — Emma a abraçou, sentindo alívio e carinho. — O que trouxe de Paris?Sofia olhou para a mãe, mas antes de responder, algo em seu peito a impediu de falar. Ela ainda não sabia como contar sobre o que encont
A chuva caía fina sobre os vidros da mansão naquela manhã silenciosa. Emma acordou cedo, inquieta. Depois do que descobriram na delegacia, a noite havia sido longa e carregada de pensamentos confusos. Ela se perguntava até onde Verônica tinha chegado em sua investigação… e por que ninguém a protegeu. Alexandre já estava no escritório, em uma chamada internacional. Miguel ainda dormia, e a casa estava em silêncio — um raro momento de calmaria, antes da próxima tempestade. Emma, com os olhos fixos em uma das pinturas em seu ateliê, viu algo que nunca havia notado. Uma figura escondida entre traços abstratos. Um rosto. O rosto de alguém conhecido. Ela se aproximou devagar, o coração acelerando. Era como se Verônica tivesse deixado mensagens nos quadros, códigos que Emma só agora estava aprendendo a decifrar. — Isso não é só arte… — murmurou. Ela puxou o quadro da parede. Atrás dele, havia uma pequena fissura. Com cuidado, retirou um envelope amarelado, selado com fita adesiva antiga
A noite havia se instalado, silenciosa e serena, sobre a mansão. O quarto de Emma e Alexandre estava imerso em uma luz suave, apenas iluminado pelos abajures delicados e pelas sombras que a noite lançava. A atmosfera era íntima, quase mágica. A chuva lá fora, caindo tranquilamente, parecia criar uma melodia suave que ecoava nas paredes do quarto, completando a sensação de acolhimento.Emma estava sentada na cama, seus pés descalços tocando suavemente os lençóis. Ela usava uma camisola delicada, de tecido leve e transparente, que delineava suas curvas com sutileza e elegância. A peça, elegante e ao mesmo tempo provocante, era um reflexo de sua confiança e sensualidade, algo que, com o tempo, ela aprendera a abraçar completamente. Os cabelos dela estavam soltos, caindo em ondas suaves sobre os ombros, e seus olhos estavam fixos em Alexandre, com uma intensidade que ele sabia muito bem como decifrar.Alexandre estava parado ao lado da cama, seus olhos observando-a com uma mistura de dese
A manhã tinha começado como qualquer outra na casa de Alexandre e Emma. Miguel brincava no tapete da sala sob o olhar atento da babá, enquanto Emma se preparava para sair para um evento importante de sua carreira. Ela usava um vestido elegante, o rosto iluminado por aquele brilho natural que Alexandre tanto amava.— Volto logo — disse ela, sorrindo para ele enquanto ajeitava a bolsa no ombro.Alexandre se aproximou, a puxou pela cintura e deu um beijo demorado em sua testa.— Tenha cuidado. Me avise quando chegar lá.Emma sorriu. — Sempre aviso, meu amor.Ele observou enquanto ela entrava no carro, sem imaginar que seria a última vez, por um tempo, que veria aquele sorriso tão cheio de vida.Horas depois, o celular de Alexandre tocou.Era Marcos.— Senhor, desculpe ligar, mas… aconteceu uma coisa. A senhora Emma… — a voz dele tremia — Ela sofreu um acidente.Alexandre sentiu o chão desaparecer sob seus pés.— O quê? Que tipo de acidente? Onde ela está?! — a voz dele subiu em desespero