Sentiu algo ao tocar sua pele. Observou como era bonita.
O cabelo foi o que logo chamou sua atenção. Era de um castanho forte, escuro e deixava alguns fios escaparem da longa trança que o prendia. Era bem longo.
Os olhos castanhos estavam arregalados e expressavam surpresa e raiva. A boca bem feita e bicuda era de um vermelho natural, ela não estava usando batom.
Era magra, parecia frágil também. Tinha a cintura fina e pernas compridas, mas não era muito alta. A cabeça dela só chegava até seu ombro. Tinha que erguer o rosto para olhar para ele.
Ele gostou de suas curvas, pelo menos o que dava para ver naquela roupa sem graça. E era bem feminina, mesmo com aquela cara de raiva que o mirava como se quisesse lhe bater.
Ele não entendeu essa reação rápida de seu corpo á mulher que ele segurava pelo pulso para não fugir. Sentiu uma vontade rápida de beijá-la, mas isso não era adequado na atual situação.
Ele a pegara em flagrante, era uma ladra e fingida, que se fazendo de inocente. Sabia bem que uma mulher era capaz de mentir com facilidade e quase a maioria não prestava.
Muitas delas eram dissimuladas, falsas e capazes de tudo para conseguir o que queriam. Não importava o objeto de interesse.
— Se uma pessoa tenta roubar o que é da outra é ladra, não é? Eu aprendi isso há muitos anos. Você não?
— Olhe aqui... Seu... - puxou o ar e segurou a língua — Eu nunca roubei nada na vida.
— Ah, então você é iniciante? - ele ergueu as sobrancelhas — E eu fui seu escolhido para começar. Por isso deu vacilo.
Ela troceu a boca fazendo um bico de irritação.
— Se você me der só um minuto, eu posso explicar o que aconteceu aqui - ele soltou seu pulso — Houve um engano aqui... – gesticulou — Da sua parte, é óbvio - frisou — E não tem porque incomodar o seu Humberto.
— E nem chamar a polícia, também? - cruzou os braços.
Ele a observou levar as mãos á bunda pequena, arredondada e arrebitada e limpar a calça que nem estava suja. Estava nervosa, isso era só um truque. Sabia bem o que ela queria.
É claro que estava se oferecerendo e o incitava a tomar a iniciativa para não ficar muito óbvio. Ela alisou a camiseta e isso destacou seus seios. Ela até que era esperta, mas ele já sabia como isso funcionava.
— E o que você vai me dar em troca?
Beatriz franziu os olhos e ficou confusa. O que ele queria dizer agora? ela já tinha feito o serviço completo.
— Não entendi... Olha, eu já terminei de fazer meu serviço, a limpeza foi completa - disse sem entender sua insinuação — O que houve foi que eu deixei as pastas em cima da mesa muito perto da beirada e sem querer as derrubei ao passar- gesticulou — Estava com as mãos cheias de produtos, mas já estava recolhendo os papéis antes de ir. Aí você chegou e confundiu a situação.
Até que ela tinha a cara de anjo e até parecia inocente, mas ele sabia bem que as mulheres adoravam se fazer de bobinhas e confusas quando queriam enganar um homem fosse por qualquer motivo que quisessem. E ela estava só repetindo o comportamento.
— Veja bem, se você quiser sair daqui sem a polícia, vai ter que ser boazinha comigo e me agradar - ele pegou as pastas do chão e as colocou em cima da mesa de novo — Está entendendo o que eu quero não é? - juntou o resto dos papéis enquanto ela o olhava espantada — Quer que eu desenhe pra ficar mais fácil? - ironizou.
Beatriz nem teve tempo para perguntar o que ele queria dizer com essa ironia, porque ele a puxou de uma vez para cima dele e acabou desequilibrando, dando um encontrão em seu peito.
Foi uma grande surpresa para ela, constatar que gostou de sentir seu corpo junto ao dele e de sentir seu cheiro. Porém, quando a boca grande cobriu a dela se assustou e começou a lutar para se livrar de suas mãos. Ela nunca tinha passado por uma situação dessa.
— Calma, calma - ele riu e a segurou apertado pela cintura, passando os dedos por seu rosto como uma carícia — Você até que é atraente, sabia, ladrazinha?
Ela se espantou com o que disse e abriu a boca para reclamar, mas ele se aproveitou dessa chance e foi ousado, enfiando a língua entre seus lábios entreabertos, buscando a dela que sugou e se perdeu um momento no beijo repentino.
Gustavo desceu a mão pela lateral de seu corpo até sua bunda e segurou, apertando de leve.
Nesse instante os sentidos dela acordaram e em um impulso ela o mordeu com força no lábio inferior, o que o fez gritar de dor e surpresa. A ação deu certo e ele a soltou apertando a boca dolorida.
— Sua maluca... - ele disse com raiva, sentindo a boca doer, olhando o dedo sujo de sangue. Não prestou atenção no que ela fazia e não viu quando a mão dela se aproximou de seu rosto e o acertou em cheio na bochecha — Ai! ... O que é isso?- recuou dois passos.
— Você que é maluco e pergunta se eu sou? – disse se sentindo revoltada com seu comportamento — E quem lhe deu essa liberdade? Eu disse que pode me atacar dessa forma?
Ela tinha a postura de defesa e enfurecida. Avançou de novo sobre ele, tentando intimidá-lo, cheia de revolta pela ousadia.
— Você que se ofereceu - ele disse.
“Talvez”? Ou será que tinha perdido a mão?
— Seu ridículo... Você é doente, pervertido - avançou de novo com ganas de acertar outro tapa e ele deu outro passo para trás — Idiota, arrogante de merda - gritou.
Ela não gostava de ser grosseira e sabia que não poderia gritar com um inquilino de seu melhor cliente, mas o homem passara dos limites. Seu comportamento tinha sido abusivo. Aí já era demais.
— Eu tenho um contrato e trabalho com limpeza para a fazenda Boa Luz. Faz parte do meu serviço deixar as cabanas em ordem antes que os hóspedes cheguem... O que eu sempre fiz sem problema nenhum - colocou as mãos nos quadris — Até você aparecer como um insano e...
— Pegar você em flagrante - apontou o dedo.
— Como ousa me acusar de roubar? – respirou fundo — Eu por acaso pareço uma ladra? E o que eu iria roubar de você?
Ele a encarou e franziu a testa. Talvez ele tivesse se adiantado demais. E sendo tão bonita, com o rosto afogueado, se ela fosse ladra seria a mais bonita que ele já vira.
— Eu só quis adiantar meu serviço e aproveitei a cabana vazia – gesticulou nervosa — Aí você aparece do nada e me ofende e agride.
É, de novo ele cometia um erro de julgamento. E bem perto de outro anterior. Ele precisava mesmo começar a ter calma antes de julgar os outros. Nem todos estavam com más ideias.
— E quer saber o que mais? – bateu as mãos — Eu quero mesmo que você chame a polícia. E agora - se abraçou tentando parar o tremor do corpo.
— Não me venha com essa. Você não é tão bobinha, também me beijou. E estava sim mexendo em minhas pastas.
— Claro que não estava - ela falou alto — Não do modo como insinua. Estava corrigindo um deslize, quando bati e derrubei tudo. Eu fui pega de surpresa e com o susto demorei pra reagir.
Gustavo ficou chateado com suas atitudes e erro de julgamento. Não era um comportamento adequado. Ele nunca tinha agredido uma mulher na vida, era avesso a violência e menos ainda beijado uma á força. Tinha mesmo sido ridículo e paranóico.
E o olhar dela lhe mostrava isso. Estava assustada.“Porra! Dessa vez exagerei.”— Eu... Foi mal, eu sinto muito... De verdade.Ele se aproximou dela e esticou a mão, mas quando ela não a segurou, viu que tinha mesmo passado do limite e nem ele entendia porque tinha agido assim.Criou coragem e pegou sua mão, mesmo com receio de levar outra bofetada. A puxou e devagar ela deixou que ele a abraçasse e ficou quieta enquanto ele alisava seus cabelos.Beatriz nem se lembrava da última vez que tinha sido abraçada e confortada. A não ser por seus irmãos.
Beatriz ainda estava um pouco nervosa quando entrou na rua de sua casa. Ela saiu rápido da fazenda, dirigindo quase como uma boneca, dura e travada no banco.Sua cabeça cheia só pensava em chegar logo e se enfiar em casa, onde ficaria mais tranquila e onde poderia se salvar das loucuras do mundo. Ou pelo menos do mais recente maluco que chegara em sua vida.Foi tudo tão inesperado e aconteceu tão rápido e estranho que ela precisava ficar quieta em seu cantinho, em seu quarto, para analisar e pensar direito no que tinha acontecido. O homem era fora da casinha com certeza.Tinha um modo muito impulsivo de agir e parecia achar que estava sempre certo.Ela estava mais confusa com sua
Em poucos meses ele faria vinte anos e tinha interesse em estudar ciência da computação, que era algo que estava dando muitas oportunidades atualmente. Tinha vários interesses, mesmo sendo um diferente do outro.Mas o que importava é que ele estava pensando em seu futuro e estava se organizando cada vez mais.Bianca tinha muito jeito com bonecas e sempre que podia estava no quarto que usavam como escritório e estúdio fazendo alguma com em algum modelo diferente. E ela começava a ter sucesso com suas bonecas. Duas lojas do centro tinham comprados algumas, o que lhe rendeu um bom dinheiro e agora ela tinha recebido outra encomenda.Aos poucos as pessoas iam conhecendo o seu trabalho. Isso a deixava animada. E ela também ficava feliz pelo sucesso da irmã.
Era até engraçado o modo deles de cuidar dela.— Você não precisa se preocupar em ir bater em ninguém - ela riu — E o Humberto estava lá na hora. O cara entendeu.Pelo menos ela esperava que tivesse entendido.— É bom mesmo - apontou — Não me importo de dar um chega pra lá em ninguém. E esse engano não te causou problemas na fazenda?— Graças a Deus, não - coçou a cabeça — Foi bem chato na hora, confesso, mas foi só um mal entendido mesmo.— E não houve mais nada depois disso? - Bianca franziu a testa — Humberto não reclamou c
— Ah, vou sim - se virou e saiu andando — O vizinho da frente já está na janela de olho no movimento aqui. E não quero que fiquem falando. Entre de uma vez!Meio perdido, Bruno abriu espaço para Gustavo entrar e depois fechou a porta, enquanto Bianca seguia atrás dele. Ela analisou o homem rápido e viu que suas roupas eram caras e de marca.— Você é de fora, né? - ela meneou a cabeça.—Sou sim - ele parou — Cheguei há poucos dias emTorres.— Vocês vão ficar aí na sala? - Beatriz disse alto.Ela seguiu para a cozinha carregando as flores. Se quisessem eles que fossem
Gustavo sentiu vontade de rir e ficou sem ação diante desse interesse genuíno deles. Nem se lembrava de quando alguém quis mesmo saber de saúde. E se queriam, geralmente era só para saber se não haveria algum tipo de prejuízo relacionado a eles.— Não, está tudo bem. Infelizmente eu sofri um acidente de carro há um tempo atrás e foi muito grave - esfregou as mãos nas coxas, relutante em contar — Quase morri na verdade e fiquei com alguns problemas como sequelas e ainda estou me recuperando. É isso.— Nossa, eu sinto muito. Deve ter sido horrível - Beatriz o encarou preocupada, recordando o acidente que matou sua mãe.— Bem, foi um período muito difí
Isso só o fazia perder o interesse. Nunca gostou das mesmas coisas que os outros. E se fosse se envolver com alguém ela teria que se destacar das outras. Nunca se contentou com o mesmo da maioria. De que adianta ter uma pessoa ao lado se ela é um robô que segue as tendências?O que queria era conhecer uma garota diferente, mas nem ali estava escapando. Até Morgô que logo se pendurou em seu braço era mais do mesmo. Aliás, ela queria ser assim. Uma pena, era muito bonita, mas sem conteúdo.Quando terminaram de jantar, os irmãos levantaram e começaram a organizar a louça, cada um fazendo algo e ele ficou sem jeito de ficar ali parado.— Eu posso ajudar em
— E espero que seja compreendido - ela apontou.Beatriz entrou nesse instante na cozinha e franziu os olhos ao ver os três calados. Eles pareciam sérios demais e o silêncio era estranho.— Credo... Aconteceu algo em minha ausência? - colocou a mão na cintura — Vocês falaram besteiras?— Não, ao contrário - Gustavo respondeu.— Nadica de nada - Bianca riu — A gente só estava se conhecendo. Né mesmo? — Isso aí - ele riu também — Seus irmãos só estavam me falando sobre as coisas... Aqui na cidade. Sabe como é...