Capítulo 03

Angel Lioncourt | New York

Eu não sabia para onde ir naquela noite. Só sabia que não podia continuar dirigindo sem rumo pela cidade, como se Nova York fosse me dar todas as respostas. Porque a verdade? A verdade era que eu me sentia quebrada. Completamente. Não importava o quanto eu tentasse ser forte, o quanto eu tentasse fingir que aquilo não me afetava tanto quanto parecia. 

Mas afetava. 

Então, quando me dei conta, já estava no caminho da casa do meu pai. Ele sempre foi meu porto seguro. Sempre soube como me ouvir, como me confortar... E agora, mais do que nunca, eu precisava dele. De alguém que não fosse uma mentira, que não estivesse fingindo me amar.

A casa do meu pai ficava no Upper East Side, nada muito extravagante, mas confortável o suficiente. Ele nunca fez questão de esbanjar, mesmo sendo um empresário de sucesso. Sempre dizia que o que realmente importava na vida eram as pessoas, não as coisas que compramos. 

Estacionei o carro na frente da casa e, por um momento, hesitei. O que eu iria dizer? "Oi, pai, voltei! Descobri que meu marido é um canalha e uma loira siliconada estava mandando nudes para ele"? Eu ri sem humor só de imaginar a cena. Mas no fundo eu sabia que ele entenderia. Lucian Lioncourt sempre foi o tipo de pai que sabia o que dizer, mesmo que eu não dissesse nada.

Respirei fundo e saí do carro, caminhando até a porta. Não precisei nem tocar a campainha. Meu pai, como se tivesse um sexto sentido para essas coisas, já estava lá, abrindo a porta antes mesmo de eu pensar em bater.

— Angel, filha... — O tom da voz dele foi o suficiente para me fazer desmoronar.

Eu caí nos braços dele sem pensar duas vezes. Não conseguia falar, as lágrimas começaram a descer antes que eu pudesse controlá-las. Tudo o que eu tinha segurado até ali, toda a raiva, a tristeza, o desgosto... tudo veio à tona. E ele simplesmente me abraçou mais forte, sem perguntar nada, sem exigir uma explicação. Apenas me deixou chorar.

— Eu... eu não consegui mais, pai. — Finalmente consegui falar entre soluços. — Não dava mais.

Ele me guiou para dentro da casa, me fazendo sentar no sofá da sala de estar. Não era a primeira vez que eu buscava refúgio ali, mas nunca por uma razão como essa. Quando o choro diminuiu, ele se sentou ao meu lado, segurando minhas mãos como se eu fosse uma criança de novo.

— O que aconteceu, meu amor? — ele perguntou, com aquela calma que sempre teve.

Eu respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas. Mas como é que se explica que o homem que você amou, o homem com quem você jurou passar o resto da vida, te traiu descaradamente e ainda riu da sua cara quando você descobriu?

— Antony... — comecei, a voz fraca. — Eu... eu achei que tinha dado certo, sabe? Por mais estranho que fosse, por mais rápido que tudo aconteceu entre a gente, eu pensei que ele realmente se importava. Mas era tudo uma mentira. Tudo, pai. Ele... ele nunca se importou de verdade. E eu... fui tão idiota por acreditar.

Eu fechei os olhos, me forçando a continuar.

— Encontrei mensagens. Ele estava trocando mensagens com outra mulher, uma loira. Não era a primeira vez que vi, mas... dessa vez havia fotos, pai. Fotos dela, nua. E quando eu perguntei a ele, sabe o que ele fez? Ele riu. Riu como se nada daquilo importasse. Como se eu fosse uma piada.

Meu pai respirou fundo, e vi o brilho de tristeza nos olhos dele. Ele não era do tipo que mostrava raiva, mas eu sabia que, por dentro, ele estava furioso.

— Angel, me escute. — Ele segurou meu rosto com as mãos, me forçando a olhar diretamente para ele. — Você não foi idiota. Nem por um segundo. Quem errou foi ele. Quem jogou fora algo precioso foi ele, e não você. Não se culpe por acreditar nas pessoas, por se permitir sentir amar. Isso não faz de você fraca, faz de você humana.

As palavras dele fizeram meu coração apertar ainda mais. Porque, por mais que eu soubesse que ele estava certo, a sensação de ter sido enganada, de ter sido usada, ainda era forte demais. Como era que alguém supera isso? Como era que alguém confiava de novo?

— Eu só... não sei o que fazer agora, pai. — Eu limpei as lágrimas que ainda escorriam. — Como eu sigo em frente depois disso?

Ele suspirou, me puxando para mais perto.

— Você vai dar um passo de cada vez, filha. Não precisa ter todas as respostas agora. Mas o que você fez hoje? Ter a coragem de sair daquela casa e deixar tudo para trás? Isso já foi um grande passo. E eu vou estar aqui, com você, em cada um dos próximos. Seja o que for que você precise.

Ficamos em silêncio por um tempo. A presença dele era reconfortante, como sempre foi, mas meu coração ainda estava em pedaços. E eu sabia que levaria tempo para curar, se é que isso algum dia seria possível. Talvez eu nunca mais fosse a mesma.

— Você acha... — comecei, com a voz baixa, quase temendo a resposta. — Você acha que um dia eu vou conseguir amar de novo?

Meu pai sorriu, um sorriso suave, cheio de compreensão.

— Eu acho que você tem mais amor dentro de você do que imagina, Angel. Só porque uma pessoa te machucou, não significa que você nunca vai encontrar alguém que te valorize de verdade. Mas antes de tudo, você precisa se curar. Precisa lembrar de quem você é, do quanto você vale. E quando estiver pronta, você vai perceber que o amor verdadeiro não se trata de grandes promessas ou jantares caros, mas de pequenas coisas. Do jeito que alguém olha para você quando acha que você não está vendo, do modo como te apoia nos momentos difíceis. O verdadeiro amor nunca vai te fazer sentir menos do que você é.

As palavras dele me acalmaram mais do que qualquer coisa até agora. Talvez ele estivesse certo. Talvez eu só precisasse de tempo para me curar, para me reencontrar. Porque, no fim das contas, eu ainda era Angel Lioncourt. Eu ainda tinha meu valor, mesmo que Antony tivesse me feito duvidar disso.

Enquanto a noite avançava, ficamos ali, conversando sobre tudo e nada, como costumávamos fazer. Aos poucos, a dor começou a parecer mais suportável, e eu soube que, por mais difícil que fosse, eu conseguiria seguir em frente. Afinal, eu não estava sozinha. Eu tinha meu pai, e isso já era um bom começo.

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