Capítulo 03

Angel Lioncourt | New York

Eu sempre soube que meu pai tinha uma sensibilidade impressionante para perceber quando algo não ia bem comigo. Ele era o tipo de homem que enxergava além das aparências, além dos sorrisos falsos e das respostas automáticas. Sempre soube quando eu estava mal, mesmo que eu tentasse esconder. E, depois de quase três anos casada com Antony, eu não estava só mal... eu estava destruída.

Logo depois daquela noite em que encontrei as mensagens no celular de Antony, as coisas começaram a se desfazer ainda mais rápido. Eu tentei manter a compostura, tentei agir como se ainda existisse algo ali para salvar, mas a verdade é que já estava tudo perdido. Não havia mais casamento. Não havia mais nós.

Eu estava sobrevivendo. Apenas isso.

E meu pai, Lucian, percebeu. Claro que ele percebeu. Não demorou muito para ele começar a me questionar.

— Angel, está tudo bem? — ele me perguntou certa tarde, enquanto estávamos sentados na varanda da casa dele, olhando o sol se pôr no horizonte.

Eu dei de ombros, forçando um sorriso que nunca enganaria ninguém.

— Está tudo bem, pai.

Ele me olhou de lado, aqueles olhos gentis, mas cheios de preocupação, me atravessando como uma lâmina afiada. Ele sabia que não estava tudo bem. Sabia que eu estava mentindo.

— Angel, eu conheço você melhor do que isso. Não precisa fingir comigo. — Sua voz era suave, mas carregava o peso de quem já passou por muita coisa na vida.

Eu suspirei, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos, sentindo o vento suave no rosto. Não dava mais para fingir. Ele merecia a verdade.

— Não está tudo bem, pai — admiti, finalmente deixando as palavras saírem. — Antony... ele não é o homem que eu pensei que fosse. Ele me traiu. E... acho que eu nunca fui importante de verdade para ele.

Houve um silêncio pesado depois disso. Meu pai não disse nada por um momento, apenas continuou me observando, absorvendo cada palavra. Eu podia sentir a raiva crescendo dentro dele, mas ele a controlou. Sempre foi um homem calmo, e mesmo agora, diante de algo que claramente o estava machucando, ele conseguiu manter a serenidade.

— Por que você não me disse antes, Angel?

Eu dei um sorriso triste, virando-me para ele.

— Porque eu queria que desse certo, sabe? Queria acreditar que, de alguma forma, as coisas iam melhorar. Que eu conseguiria amar alguém que... não se importava comigo.

Ele balançou a cabeça, desapontado, mas não comigo. Com Antony. Eu sabia que ele nunca tinha gostado de Antony de verdade, mas aceitou o casamento porque achava que seria o melhor para mim, para nossa família. E agora, tudo isso parecia uma decisão tão errada, tão vazia.

— Filha, você não precisa continuar com isso. — Ele se inclinou para frente, pegando minha mão com delicadeza, mas com firmeza. — Não deixe que nossos negócios ou minha opinião te prendam. Se você não está feliz, se ele não te trata como merece... então saia. Eu não quero que você sacrifique sua felicidade por nada nesse mundo. Nem por mim.

Essas palavras, ditas com tanto amor e sinceridade, me fizeram perder o ar por um momento. Eu sabia que ele estava certo. Eu sabia que continuar com Antony não fazia sentido, que cada dia ao lado dele só estava me afundando mais e mais em uma vida que não era minha.

Meu pai apertou minha mão com um carinho que quase me fez chorar.

— Largue ele, Angel. Por favor. Eu quero minha filha de volta. Aquela que sorria de verdade, que tinha sonhos, que amava viver.

E foi isso. Essas palavras foram o empurrão que eu precisava.

Eu sabia que, no fundo, a decisão já estava tomada, mas ouvir aquilo do meu pai, sentir o apoio dele, foi a última peça que faltava. Eu iria me separar de Antony. E não tinha mais volta.

Naquela noite, voltei para casa com o coração mais leve, embora ainda houvesse uma dor latente, uma tristeza por tudo o que aquele casamento deveria ter sido e nunca foi. Eu não estava feliz, mas estava decidida. Era hora de acabar com aquilo.

No dia seguinte, esperei Antony chegar do trabalho. Ele entrou em casa como sempre, sem me olhar direito, apenas dando um breve aceno antes de subir para o escritório. Não havia afeto, não havia conexão. Era como se fôssemos estranhos dividindo a mesma casa, e eu estava cansada de viver dessa forma.

Eu fui atrás dele.

— Precisamos conversar — disse, a voz mais firme do que eu esperava. Meu coração estava disparado, mas minha determinação era maior.

Antony olhou para mim por cima do ombro, como se eu fosse uma interrupção incômoda.

— Agora? — Ele suspirou, visivelmente irritado, fechando o laptop. — O que foi dessa vez, Angel?

Eu cruzei os braços, tentando controlar a raiva que subia à minha garganta.

— Quero o divórcio.

Ele parou, me encarando como se eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo. E, então, ele riu. Sim, ele riu, como se eu estivesse contando uma piada de mau gosto.

— Você quer o divórcio? — Antony se levantou, caminhando até mim com aquele sorriso sarcástico que eu aprendi a odiar. — Você realmente acha que pode me deixar assim, tão facilmente?

— Acho. — Cruzei os braços, tentando me manter firme. — Você sabe que esse casamento já acabou, Antony. Há muito tempo.

Ele me observou por um momento, os olhos frios e calculistas. Eu sabia que ele não se importava de verdade. Para ele, o casamento nunca foi mais do que um contrato, uma aliança de conveniência. Eu, por outro lado, tinha me deixado enganar, tinha acreditado que havia algo mais.

— Tudo bem — ele disse finalmente, com um sorriso amargo. — Se é o que você quer, Angel. Eu não vou te impedir. Esse casamento nunca significou nada para mim, de qualquer forma.

Eu senti um aperto no peito, mas ao mesmo tempo, uma libertação. Ele não ia lutar. Ele não ia implorar. Para Antony, eu era só uma página que podia ser arrancada facilmente do livro da vida dele.

— Vou falar com meu advogado — ele disse casualmente, como se estivesse discutindo sobre o tempo. — Pode deixar que cuidamos disso rápido.

Sem mais o que dizer, virei as costas e saí do escritório. Era o fim. E dessa vez, eu estava realmente pronta para seguir em frente.

A dor ainda estava lá, claro, mas agora havia espaço para algo novo. Para algo que eu ainda não sabia o que seria, mas que finalmente me daria a liberdade que eu tanto queria.

Naquela noite, enquanto olhava para o horizonte da cidade, senti algo que não sentia há muito tempo: esperança.

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