Capítulo 05

Angel Lioncourt | New York

Finalmente. Divorciada. Eu não sabia se ria ou chorava, mas uma coisa era certa: eu precisava de uma bebida. Ou várias. Talvez por alívio, talvez por frustração... Ou talvez porque depois de tudo o que passei, eu merecia uma noite de esquecer de tudo.

Depois de assinar os papéis, eu saí do escritório do advogado com uma sensação esquisita. O peso daquele casamento fracassado tinha sido retirado das minhas costas, mas ao mesmo tempo, uma parte de mim ainda processava o que isso significava. Eu estava livre, sim. Mas livre para o quê? Para recomeçar? Para ser eu mesma? Eu nem sabia mais quem eu era fora daquele casamento.

Minhas pernas me levaram até o bar do restaurante mais próximo, sem nem pensar. Eu precisava de algo forte, algo que fizesse esse turbilhão de pensamentos sumir por algumas horas. O bar estava levemente cheio, mas não me importei com a movimentação ao redor. Tudo o que eu queria era afundar em uma cadeira e me perder em alguns copos de qualquer coisa forte o suficiente para me desligar da realidade.

— Um whisky, por favor. — Pedi assim que me sentei no balcão.

O garçom me olhou, meio surpreso, mas não questionou. Ele serviu o copo e eu bebi de uma vez, sentindo a queimação descendo pela garganta. Era exatamente do que eu precisava.

O primeiro copo foi rápido, o segundo nem tanto, e no terceiro... bom, no terceiro, eu já estava me sentindo um pouco mais leve. Divorciada. Era quase cômico. Eu deveria estar triste, talvez? Mas não estava. Eu estava aliviada.

— Que tal outro? — A voz grave e provocante veio de trás de mim, me fazendo erguer os olhos para o espelho atrás do bar. Vi a silhueta de um homem alto se aproximando, mas continuei olhando meu copo, tentando não demonstrar muito interesse.

Ele se sentou ao meu lado, e eu pude sentir o cheiro do perfume dele antes mesmo de olhar para ele diretamente. Era um aroma marcante, amadeirado, o tipo de cheiro que fica na memória. Que tipo de homem usa esse perfume? Eu não sabia. Não queria saber, na verdade. Mas algo em mim foi atraído por ele imediatamente, mesmo que eu tentasse me concentrar no whisky.

— Não estou precisando de companhia — respondi, minha voz soando mais fria do que eu pretendia. Não que eu me importasse. Eu estava lá para beber, não para conversas fiadas com estranhos.

Ele riu, um riso baixo e cheio de uma confiança quase arrogante. Aquele tipo de riso que já dizia tudo sobre ele, como se ele tivesse certeza de que poderia me conquistar com duas ou três frases bem colocadas.

— Não parece que você está precisando de nada — ele respondeu, a voz carregada de um charme que me fez querer olhar para ele. Mas não olhei. Ainda não.

— Pois então, você já pode seguir seu caminho — eu disse, levando o copo aos lábios para mais um gole. O whisky já estava fazendo seu trabalho, me deixando mais leve, mais solta. Talvez até um pouco atrevida.

Ele não foi embora, é claro. Eu sabia que ele não iria. O tipo de cara que aparece do nada, se senta ao seu lado sem convite e faz uma piada sarcástica para quebrar o gelo não é o tipo que simplesmente vai embora. E eu estava começando a ficar curiosa.

— Qual o motivo da comemoração? — ele perguntou, ignorando completamente minha sugestão de ir embora.

Respirei fundo e, sem me virar, respondi:

— O fim de um pesadelo. — Divórcio não era uma palavra que eu queria usar naquele momento, mas era isso. Eu estava comemorando o fato de estar livre.

Ele assobiou baixo.

— O fim de um pesadelo... isso merece uma bebida especial. — Ele fez um sinal para o barman, que se aproximou. — Dois tequilas, por favor.

Eu não pedi tequila, mas antes que pudesse protestar, o copo já estava na minha frente. Eu não devia aceitar, eu sabia disso. Mas a essa altura, a razão estava se dissolvendo no meio do álcool. E, se eu fosse sincera comigo mesma, eu estava curiosa para ver onde aquilo ia dar.

Finalmente, me virei para olhar para ele, e meu coração deu um pequeno salto quando meus olhos encontraram os dele. Ele era... perigoso. De um jeito irresistível. O tipo de homem que exala confiança, que sabe que pode conseguir o que quiser. Os olhos dele eram de um tom profundo de azul, quase como o mar antes de uma tempestade. E o sorriso... ah, o sorriso. Aquele sorriso arrogante que já dizia mais do que mil palavras.

— Aaron Blackwood — ele disse, estendendo a mão como se isso fosse uma apresentação normal, como se estivéssemos em algum evento chique e não num bar qualquer. Eu fiquei parada por alguns segundos, analisando se deveria apertar a mão dele ou não. Mas, no fim, o whisky venceu.

— Angel — respondi, aceitando a mão dele. O toque foi breve, mas suficiente para eu sentir o calor que subia pelo meu braço.

— Um nome apropriado para a noite — ele comentou, tomando a tequila com facilidade. Ele me analisava, sem pressa, como se estivesse lendo cada movimento meu, cada pequena expressão. E, de repente, eu me senti mais exposta do que queria estar.

Eu tomei minha dose de tequila, sentindo o calor imediato que desceu pela garganta. Aquilo não era uma boa ideia. Eu já estava meio alta, e tequila nunca ajuda nessas situações. Mas algo me fazia querer continuar. Algo nele.

— Não vai me perguntar o que eu faço da vida? — ele brincou, virando para o barman e pedindo mais uma rodada. — Não quer saber se sou um psicopata ou algo assim?

Eu ri, e o som da minha própria risada me surpreendeu. Fazia tempo que eu não ria de verdade.

— Você tem cara de problema, mas acho que psicopata não é um deles — retruquei, um sorriso brincando nos meus lábios.

— Problema? — Ele se inclinou para mim, seus olhos brilhando com diversão. — Talvez eu seja. Mas quem disse que problemas não podem ser... divertidos?

Havia algo perigoso naquela frase, algo que fez meu corpo reagir antes mesmo que minha mente pudesse processar. Era um jogo. Um jogo perigoso. E, naquele momento, eu estava disposta a jogar.

Os copos continuaram chegando, e eu perdi a conta de quantos bebi. Cada vez que Aaron falava, minha mente ficava mais leve, mais distante de todo o caos que minha vida havia sido até então. Ele tinha aquele jeito de falar que fazia parecer que o mundo lá fora não importava. Só nós dois, naquele bar, rindo e bebendo como se fôssemos os únicos ali.

Eu estava solta. Despreocupada. E então, em um momento que eu não sei explicar, ele se aproximou, o suficiente para que eu pudesse sentir o calor da respiração dele. Seus lábios ficaram perigosamente perto dos meus, mas ele não fez nada. Apenas ficou ali, provocando, esperando que eu desse o próximo passo.

E eu dei.

Antes que eu pudesse pensar, me inclinei e o beijei. O gosto de tequila e whisky misturado com o perfume amadeirado dele... foi tudo o que eu precisava para esquecer, pelo menos por um momento, quem eu era.

— Acho que essa foi uma comemoração e tanto — ele murmurou contra meus lábios, o sorriso de cafajeste ainda presente.

Eu ri, ainda meio tonta, mas sentindo o calor daquele momento invadir cada parte do meu corpo.

E foi assim que começou. Aaron Blackwood seria o maior problema da minha vida. E naquela noite, eu nem sabia disso ainda.

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