Finalmente. Divorciada. Eu não sabia se ria ou chorava, mas uma coisa era certa: eu precisava de uma bebida. Ou várias. Talvez por alívio, talvez por frustração... Ou talvez porque depois de tudo o que passei, eu merecia uma noite de esquecer de tudo.
Depois de assinar os papéis, eu saí do escritório do advogado com uma sensação esquisita. O peso daquele casamento fracassado tinha sido retirado das minhas costas, mas ao mesmo tempo, uma parte de mim ainda processava o que isso significava. Eu estava livre, sim. Mas livre para o quê? Para recomeçar? Para ser eu mesma? Eu nem sabia mais quem eu era fora daquele casamento.
Minhas pernas me levaram até o bar do restaurante mais próximo, sem nem pensar. Eu precisava de algo forte, algo que fizesse esse turbilhão de pensamentos sumir por algumas horas. O bar estava levemente cheio, mas não me importei com a movimentação ao redor. Tudo o que eu queria era afundar em uma cadeira e me perder em alguns copos de qualquer coisa forte o suficiente para me desligar da realidade.
— Um whisky, por favor. — Pedi assim que me sentei no balcão.
O garçom me olhou, meio surpreso, mas não questionou. Ele serviu o copo e eu bebi de uma vez, sentindo a queimação descendo pela garganta. Era exatamente do que eu precisava.
O primeiro copo foi rápido, o segundo nem tanto, e no terceiro... bom, no terceiro, eu já estava me sentindo um pouco mais leve. Divorciada. Era quase cômico. Eu deveria estar triste, talvez? Mas não estava. Eu estava aliviada.
— Que tal outro? — A voz grave e provocante veio de trás de mim, me fazendo erguer os olhos para o espelho atrás do bar. Vi a silhueta de um homem alto se aproximando, mas continuei olhando meu copo, tentando não demonstrar muito interesse.
Ele se sentou ao meu lado, e eu pude sentir o cheiro do perfume dele antes mesmo de olhar para ele diretamente. Era um aroma marcante, amadeirado, o tipo de cheiro que fica na memória. Que tipo de homem usa esse perfume? Eu não sabia. Não queria saber, na verdade. Mas algo em mim foi atraído por ele imediatamente, mesmo que eu tentasse me concentrar no whisky.
— Não estou precisando de companhia — respondi, minha voz soando mais fria do que eu pretendia. Não que eu me importasse. Eu estava lá para beber, não para conversas fiadas com estranhos.
Ele riu, um riso baixo e cheio de uma confiança quase arrogante. Aquele tipo de riso que já dizia tudo sobre ele, como se ele tivesse certeza de que poderia me conquistar com duas ou três frases bem colocadas.
— Não parece que você está precisando de nada — ele respondeu, a voz carregada de um charme que me fez querer olhar para ele. Mas não olhei. Ainda não.
— Pois então, você já pode seguir seu caminho — eu disse, levando o copo aos lábios para mais um gole. O whisky já estava fazendo seu trabalho, me deixando mais leve, mais solta. Talvez até um pouco atrevida.
Ele não foi embora, é claro. Eu sabia que ele não iria. O tipo de cara que aparece do nada, se senta ao seu lado sem convite e faz uma piada sarcástica para quebrar o gelo não é o tipo que simplesmente vai embora. E eu estava começando a ficar curiosa.
— Qual o motivo da comemoração? — ele perguntou, ignorando completamente minha sugestão de ir embora.
Respirei fundo e, sem me virar, respondi:
— O fim de um pesadelo. — Divórcio não era uma palavra que eu queria usar naquele momento, mas era isso. Eu estava comemorando o fato de estar livre.
Ele assobiou baixo.
— O fim de um pesadelo... isso merece uma bebida especial. — Ele fez um sinal para o barman, que se aproximou. — Dois tequilas, por favor.
Eu não pedi tequila, mas antes que pudesse protestar, o copo já estava na minha frente. Eu não devia aceitar, eu sabia disso. Mas a essa altura, a razão estava se dissolvendo no meio do álcool. E, se eu fosse sincera comigo mesma, eu estava curiosa para ver onde aquilo ia dar.
Finalmente, me virei para olhar para ele, e meu coração deu um pequeno salto quando meus olhos encontraram os dele. Ele era... perigoso. De um jeito irresistível. O tipo de homem que exala confiança, que sabe que pode conseguir o que quiser. Os olhos dele eram de um tom profundo de azul, quase como o mar antes de uma tempestade. E o sorriso... ah, o sorriso. Aquele sorriso arrogante que já dizia mais do que mil palavras.
— Aaron Blackwood — ele disse, estendendo a mão como se isso fosse uma apresentação normal, como se estivéssemos em algum evento chique e não num bar qualquer. Eu fiquei parada por alguns segundos, analisando se deveria apertar a mão dele ou não. Mas, no fim, o whisky venceu.
— Angel — respondi, aceitando a mão dele. O toque foi breve, mas suficiente para eu sentir o calor que subia pelo meu braço.
— Um nome apropriado para a noite — ele comentou, tomando a tequila com facilidade. Ele me analisava, sem pressa, como se estivesse lendo cada movimento meu, cada pequena expressão. E, de repente, eu me senti mais exposta do que queria estar.
Eu tomei minha dose de tequila, sentindo o calor imediato que desceu pela garganta. Aquilo não era uma boa ideia. Eu já estava meio alta, e tequila nunca ajuda nessas situações. Mas algo me fazia querer continuar. Algo nele.
— Não vai me perguntar o que eu faço da vida? — ele brincou, virando para o barman e pedindo mais uma rodada. — Não quer saber se sou um psicopata ou algo assim?
Eu ri, e o som da minha própria risada me surpreendeu. Fazia tempo que eu não ria de verdade.
— Você tem cara de problema, mas acho que psicopata não é um deles — retruquei, um sorriso brincando nos meus lábios.
— Problema? — Ele se inclinou para mim, seus olhos brilhando com diversão. — Talvez eu seja. Mas quem disse que problemas não podem ser... divertidos?
Havia algo perigoso naquela frase, algo que fez meu corpo reagir antes mesmo que minha mente pudesse processar. Era um jogo. Um jogo perigoso. E, naquele momento, eu estava disposta a jogar.
Os copos continuaram chegando, e eu perdi a conta de quantos bebi. Cada vez que Aaron falava, minha mente ficava mais leve, mais distante de todo o caos que minha vida havia sido até então. Ele tinha aquele jeito de falar que fazia parecer que o mundo lá fora não importava. Só nós dois, naquele bar, rindo e bebendo como se fôssemos os únicos ali.
Eu estava solta. Despreocupada. E então, em um momento que eu não sei explicar, ele se aproximou, o suficiente para que eu pudesse sentir o calor da respiração dele. Seus lábios ficaram perigosamente perto dos meus, mas ele não fez nada. Apenas ficou ali, provocando, esperando que eu desse o próximo passo.
E eu dei.
Antes que eu pudesse pensar, me inclinei e o beijei. O gosto de tequila e whisky misturado com o perfume amadeirado dele... foi tudo o que eu precisava para esquecer, pelo menos por um momento, quem eu era.
— Acho que essa foi uma comemoração e tanto — ele murmurou contra meus lábios, o sorriso de cafajeste ainda presente.
Eu ri, ainda meio tonta, mas sentindo o calor daquele momento invadir cada parte do meu corpo.
E foi assim que começou. Aaron Blackwood seria o maior problema da minha vida. E naquela noite, eu nem sabia disso ainda.
Angel Lioncourt | New YorkO calor da noite invadiu cada célula do meu corpo assim que saímos do bar, e mesmo o ar fresco de Nova York não foi suficiente para abafar o fogo que se acendia dentro de mim. A sensação dos lábios de Aaron nos meus ainda queimava, fazendo meu corpo tremer levemente com o desejo reprimido por tanto tempo. Eu não sabia se era o álcool, o alívio de estar finalmente livre, ou simplesmente o magnetismo bruto e irresistível daquele homem que me dominava. Talvez fosse tudo isso junto, se fundindo em um turbilhão de emoções e impulsos.Ele não disse uma palavra enquanto atravessávamos a rua em direção ao hotel, mas a maneira como me segurava pela cintura, o toque firme de suas mãos grandes e possessivas, falava por ele. Aaron Blackwood exalava confiança, aquele tipo de autossuficiência perigosa que você reconhece imediatamente — e que sabe que deveria evitar. No entanto, naquela noite, eu estava disposta a me perder completamente.Assim que entramos no lobby do hot
Angel Lioncourt | New YorkA respiração pesada de Aaron se misturava com a minha, preenchendo o quarto com um ritmo quase animal, um eco do que nossos corpos expressavam. Quando ele se moveu dentro de mim pela primeira vez, tudo o que eu conhecia se desfez, como se aquele momento fosse o único ponto de ancoragem em um mundo caótico. Cada impulso, cada pressão, cada centímetro de seu corpo se movendo contra o meu criava uma sinfonia que reverberava dentro de mim, quebrando qualquer resistência que eu ainda pudesse ter.Aaron se apoiava em seus braços fortes, os músculos de seus ombros e peito tensos, se destacando sob a luz suave do quarto, e sua expressão era a de um homem completamente consumido pelo desejo. Ele me observava com aqueles olhos azuis, escurecidos pela luxúria, enquanto seus quadris investiam contra mim em movimentos bruscos. Era como se cada estocada fosse calculada, um jogo cruel entre prazer e controle. E eu estava presa a esse jogo, mas não como uma espectadora pass
Angel Lioncourt | New YorkQuando penso na minha vida antes do casamento, parece outra pessoa. Outra versão de mim, uma garota que acreditava em contos de fadas modernos. Não tinha príncipe encantado, mas a promessa de uma vida estável. E, no fim, acho que foi isso que me levou a dizer "sim". Porque, na minha cabeça, meu pai sempre teve razão. Se ele dizia que Antony Graham era o melhor para os negócios, eu acreditava. Se ele dizia que Antony me faria feliz, eu confiava. Meu pai nunca me decepcionou. Pelo menos, não até então.Lembro claramente do dia em que ele chegou em casa, a expressão séria no rosto cansado, com o peso de um mundo que parecia desmoronar ao nosso redor. Depois que minha mãe morreu, éramos só nós dois. Não tinha mais a presença acolhedora dela, nem o calor de um lar cheio de risadas. Era só o silêncio. E ele, meu pai, fazendo o que achava melhor para manter o nome da nossa família de pé.— Angel — ele disse, e aquela única palavra já me deu um frio na espinha. — P
Angel Lioncourt | New YorkTudo tinha simplesmente, ido por água baixo. Todas as minhas ilusões, tudo o que eu achava que acreditava, e tudo que… eu sinceramente, me perguntava se em dado momento, realmente existiu.Não, eu já sabia que nunca havia existido. Porque Antony me enganou direitinho. No começo, ele fez tudo parecer perfeito. Jantares românticos, presentes caros, sorrisos e palavras doces. Tudo o que uma garota poderia querer. Eu me permiti acreditar naquela fantasia, me deixei levar pela ideia de que talvez, só talvez, eu tivesse dado sorte. Afinal, quantas pessoas casam com alguém que nem conhecem direito e acabam se apaixonando de verdade?Bom… eu me apaixonei. Completamente. Cada olhar dele parecia prometer mais no ínicio. Prometer o tipo de futuro com o qual eu nunca tinha ousado sonhar. Mas foi tudo uma mentira. Um teatro cuidadosamente montado por ele. Eu não sabia que por trás daquele sorriso havia um homem frio, calculista, e pior: egoísta.Porque no fim, eu só
Angel Lioncourt | New YorkEu sempre soube que meu pai tinha uma sensibilidade impressionante para perceber quando algo não ia bem comigo. Ele era o tipo de homem que enxergava além das aparências, além dos sorrisos falsos e das respostas automáticas. Sempre soube quando eu estava mal, mesmo que eu tentasse esconder. E, depois de quase três anos casada com Antony, eu não estava só mal... eu estava destruída.Logo depois daquela noite em que encontrei as mensagens no celular de Antony, as coisas começaram a se desfazer ainda mais rápido. Eu tentei manter a compostura, tentei agir como se ainda existisse algo ali para salvar, mas a verdade é que já estava tudo perdido. Não havia mais casamento. Não havia mais nós.Eu estava sobrevivendo. Apenas isso.E meu pai, Lucian, percebeu. Claro que ele percebeu. Não demorou muito para ele começar a me questionar.— Angel, está tudo bem? — ele me perguntou certa tarde, enquanto estávamos sentados na varanda da casa dele, olhando o sol se pôr no ho
Angel Lioncourt | New YorkQuando finalmente me sentei na frente de Antony e disse que queria o divórcio, eu meio que esperava uma reação maior. Uma briga, talvez. Eu estava pronta para ouvir desculpas esfarrapadas, ou até mesmo para ele tentar me convencer a ficar. Mas o que aconteceu foi o completo oposto.Antony me olhou por alguns segundos, com aquele olhar frio que ele tinha aperfeiçoado ao longo dos anos, e simplesmente deu de ombros.— Se é isso que você quer, Angel, tudo bem por mim. Podemos acabar com isso rápido.Aquela frase foi como um soco no estômago. Não pelo que ele disse, mas pela forma como ele disse, com tanto desprezo e indiferença. Para ele, eu realmente não significava nada. O casamento nunca tinha sido mais do que um contrato comercial, uma aliança estratégica para manter os negócios das nossas famílias unidos. E eu? Eu era só uma parte do acordo, facilmente substituível.Engoli a seco, tentando não deixar a dor transparecer no meu rosto. Eu não ia dar esse gost