Capítulo 04

Angel Lioncourt | New York

Depois de toda a conversa com o meu pai, eu resolvi pedir o divorcio, e quando finalmente me sentei na frente de Antony e disse que queria, eu admito… que esperava uma reação maior. Uma briga, talvez. Eu estava pronta para ouvir desculpas esfarrapadas, ou até mesmo para ele tentar me convencer a ficar. Mas o que aconteceu foi o completo oposto.

Antony me olhou por alguns segundos, com aquele olhar frio que ele tinha aperfeiçoado ao longo dos anos, e simplesmente deu de ombros.

— Se é isso que você quer, Angel, tudo bem por mim. Podemos acabar com isso rápido.

Aquela frase foi como um soco no estômago. 

Não pelo que ele disse, mas pela forma como ele disse, com tanto desprezo e indiferença. Para ele, eu realmente não significava nada. O casamento nunca tinha sido mais do que um contrato comercial, uma aliança estratégica para manter os negócios das nossas famílias unidos. E eu? Eu era só uma parte do acordo, facilmente substituível.

Engoli a seco, tentando não deixar a dor transparecer no meu rosto. Eu não ia dar esse gosto para ele. Ele não merecia ver que, mesmo depois de tudo, ele ainda conseguia me machucar.

— Bom, então acho que estamos resolvidos — disse, tentando manter a voz firme.

Antony se levantou da cadeira como se estivéssemos apenas discutindo um almoço de negócios, não o fim de dois anos de casamento. Ele já tinha um advogado pronto, é claro. Já devia estar esperando que eu pedisse o divórcio há muito tempo. Talvez até torcendo para que isso acontecesse logo, para ele poder se livrar de mim e seguir em frente com suas “negociações” paralelas, que claramente envolviam mais do que papeis e contratos.

— Meu advogado vai entrar em contato com o seu — ele disse, pegando o celular da mesa e começando a digitar mensagens, provavelmente marcando o próximo encontro com alguma outra mulher. — Podemos resolver tudo rápido. Não quero prolongar isso mais do que o necessário.

Aquilo foi a gota d’água. Não era só o fato de ele estar me ignorando, era o quanto ele estava subestimando o que aquilo significava. Eu passei três anos da minha vida tentando fazer aquele casamento funcionar, tentando ser a esposa perfeita para ele, só para acabar assim. 

Eu não importava para ele. 

Nunca importei.

— Você sempre foi tão prático, né? — A frase saiu antes que eu pudesse me segurar.

Antony finalmente levantou os olhos do celular, me encarando como se eu estivesse sendo ridícula.

— Pra que prolongar o inevitável, Angel? — Ele deu um meio sorriso, aquele sorriso que costumava me fazer sentir especial, mas que agora só me causava repulsa. — Nós dois sabíamos que isso não era para durar. Vamos ser adultos sobre isso, certo?

Eu cruzei os braços, tentando não perder o controle das minhas emoções. Ser adultos? Ele realmente tinha coragem de falar isso? Depois de tudo que ele fez?

— Claro, Antony. Vamos ser adultos. — Suspirei, já cansada da conversa. — Me avise quando seu advogado resolver tudo. Eu não vejo a hora de colocar um fim nisso.

Sem olhar para ele novamente, virei as costas e saí da sala. A mansão Graham, que um dia eu achei que seria meu lar, nunca tinha parecido tão fria e vazia. Cada canto daquela casa me lembrava de como fui ingênua, de como acreditei em algo que nunca existiu.

Enquanto subia as escadas para o nosso — não, o quarto dele —, tentei não pensar no tempo que perdi, nas noites em que fiquei acordada esperando ele voltar para casa, nas festas em que sorri e fingi que estava tudo bem, mesmo quando estava despedaçada por dentro. 

Agora tudo isso ia acabar.

Abri o armário e peguei a única mala que eu tinha trago comigo no começo do casamento. Engraçado, não é? Eu me mudei para essa mansão enorme, mas nunca senti que pertencia a ela o suficiente para trazer mais do que uma mala de roupas.

Comecei a colocar minhas coisas na mala, sem pressa. Não havia muitas coisas que eu queria levar dali, de qualquer forma. Minhas roupas, meus sapatos... só isso, e o resto podia ficar. Não havia nada naquela casa que eu quisesse manter comigo, nada que fizesse questão de guardar como lembrança.

Enquanto dobrava o último vestido e o colocava na mala, uma sensação de alívio começou a tomar conta de mim. Era isso. Eu estava saindo daquela prisão. Eu não era mais a Sra. Graham. Não era mais a esposa troféu. Eu era só eu, Angel Lioncourt. E estava pronta para seguir em frente.

Fechei a mala, a coloquei sobre o ombro e me olhei no espelho uma última vez. A mulher que eu vi refletida não era mais a mesma que entrou naquela mansão dois anos atrás. Eu tinha mudado. E dessa vez, eu sabia que a mudança era para melhor.

Desci as escadas com firmeza, tentando não olhar para os cantos da casa que costumavam me sufocar. Antony não estava em lugar nenhum, é claro. Provavelmente já tinha saído para mais uma de suas “reuniões de negócios”. Melhor assim. Eu não queria mais ouvir a voz dele, nem olhar para a cara dele.

Quando finalmente alcancei a porta da frente, me permiti uma última olhada para trás. Não senti nada. Nenhuma tristeza, nenhum arrependimento. Apenas o vazio de algo que nunca foi real.

Saí da casa e fechei a porta atrás de mim, de vez.

Agora era oficial: Eu estava livre.

O motorista já me esperava com o carro na entrada. Joguei a mala no banco de trás e entrei sem hesitar. Quando a porta se fechou, senti o alívio se espalhar pelo meu corpo. Era o fim de uma fase sombria da minha vida. O motorista começou a dirigir, e eu olhei pela janela, vendo a mansão Graham ficar para trás, diminuindo até se tornar apenas uma lembrança distante.

Eu sabia que, daqui para frente, as coisas não iam ser fáceis. Divórcios nunca são. Mas pelo menos eu estava fora daquela relação unilateral. Fora daquele casamento vazio.

Agora, tudo o que eu queria era um recomeço. Algo novo. Algo que me fizesse sentir viva de novo.

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