Capítulo 02

Angel Lioncourt | New York

Tudo tinha simplesmente, ido por água baixo. 

Todas as minhas ilusões, tudo o que eu achava que acreditava, e tudo que… eu sinceramente, me perguntava se em dado momento, realmente existiu.

Não, eu já sabia que nunca havia existido.  

Porque Antony me enganou direitinho. No começo, ele fez tudo parecer perfeito. Jantares românticos, presentes caros, sorrisos e palavras doces. Tudo o que uma garota poderia querer. Eu me permiti acreditar naquela fantasia, me deixei levar pela ideia de que talvez, só talvez, eu tivesse dado sorte. Afinal, quantas pessoas casam com alguém que nem conhecem direito e acabam se apaixonando de verdade?

Bom… eu me apaixonei. 

Completamente. 

Cada olhar dele parecia prometer mais no ínicio. Prometer o tipo de futuro com o qual eu nunca tinha ousado sonhar. Mas foi tudo uma mentira. Um teatro cuidadosamente montado por ele. Eu não sabia que por trás daquele sorriso havia um homem frio, calculista, e pior: egoísta.

Porque no fim, eu só estava sendo usada, que nem a porcaria de uma boneca, e… só eu tinha demorado pra perceber isso — o que sinceramente? Me fez sentir uma completa anta. 

Por que as mensagens que ele recebia? Eu havia as visto de novo, e elas nunca paravam de chegar… nunca. 

— Você vai jantar em casa hoje? — Eu perguntei antes dele sair do trabalho, porque… acho que algo dentro de mim, ainda queria se enganar, se agarrar a algo que eu sabia que não poderia ter de volta.

— Não sei. — Ele sequer olhou para mim. — Depende do trabalho.

Era sempre assim. O trabalho, o trabalho, o trabalho. Como se a empresa fosse a única coisa que importava na vida dele. E eu? Eu era apenas uma peça de decoração, algo para exibir nas festas de gala e eventos empresariais. 

Uma esposa troféu.

Eu me sentia sozinha na maior parte do tempo. Sozinha em uma mansão enorme, cercada de coisas que eu não escolhi. Aquele lugar nunca pareceu meu de verdade. Eu me perdi naquele casamento. Fui me apagando aos poucos, até me tornar uma sombra de quem eu era.

Até que, um dia, eu parei de tentar.

E eu… decidi olhar aquelas malditas mensagem em seu celular pessoal, pelo menos… mais uma vez. 

Estou com saudades... Quando nos vemos de novo?

O ar ficou pesado nos meus pulmões, porque não tinha sido como antes. Não. Porque com uma das mensagens tinha uma foto. Ela estava linda, claro. Linda, loira, e completamente nua. Eu mal conseguia respirar. 

A dor, a raiva... tudo veio de uma vez só, e naquele momento… talvez fosse isso que eu precisava.

“Você tem que terminar issoagora!” Eu pensei. 

Mas… eu nem sabia como acabar com tudo para ser bem honesta. Confrontar Antony? Pedir explicações? Será que ele se importaria? Eu já sabia a resposta. 

Não, ele não se importaria.

Nunca se importou em nenhuma das vezes em que eu perguntei.

Quando ele chegou em casa naquela noite, eu estava sentada no sofá, o celular dele ainda na minha mão. Antony entrou pela porta, olhando de relance para mim.

— O que é isso? — perguntei, minha voz mais calma do que eu imaginava ser possível.

Ele parou, analisando a situação com frieza, como se calculasse o que dizer a seguir.

— Isso o quê? — A cara dele era de quem não dava a mínima. Ele nem tentava disfarçar.

Eu me levantei, jogando o celular dele no sofá.

— As mensagens, Antony. Quem é ela?

Ele deu de ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— São só negócios, Angel! Eu já te falei! Não faça uma tempestade num copo d'água.

Negócios? Ele realmente disse negócios? Meu sangue ferveu naquele instante. Como ele podia ser tão desprezível? Como ele podia achar que eu aceitaria uma desculpa dessas de novo?

— Negócios? — Minhas mãos tremiam de raiva. — Negócios não envolvem fotos de mulheres nuas no seu celular!

Ele suspirou, cansado, como se a discussão estivesse o aborrecendo.

— Angel, você está exagerando. Não foi nada sério. Eu tenho muito com o que me preocupar, e honestamente, não tenho tempo para lidar com os seus dramas. Eu já tenho problemas demais no trabalho.

Naquele momento, alguma coisa quebrou dentro de mim. Talvez fosse o meu coração. Ou talvez fosse simplesmente a última gota de paciência que eu tinha para gastar com ele.

— Se é assim que você me vê, como um drama para lidar... então acho que estamos acabados, Antony.

Eu esperava que ele reagisse, que ele mostrasse algum tipo de arrependimento, que implorasse para eu ficar. Mas o que ele fez? Ele apenas riu. Um riso seco e sarcástico, como se eu fosse uma criança birrenta fazendo uma ameaça boba.

— Ah, Angel... se você quer ir embora, vá. Não estou te prendendo aqui. Você sabe que esse casamento foi um acordo. Não tínhamos ilusões desde o início, não é? Você sabia muito bem o que estava fazendo quando aceitou.

As palavras dele me cortaram mais fundo do que qualquer faca poderia.

Acordo. Foi tudo o que eu significava para ele. Um simples acordo comercial. Eu não passava de uma peça no jogo dele, algo descartável. Tudo o que senti por ele, todo o amor que eu achei que tinha... foi apenas uma ilusão.

Bom… claro que tinha sido. 

Por que eu ainda quis me enganar pra começo de conversa?

Eu não respondi. 

Afinal, não havia mais o que dizer. Em vez disso, subi as escadas para o nosso quarto, onde empacotei as poucas coisas que realmente me pertenciam. Cada movimento parecia pesado, como se eu estivesse me libertando de uma prisão.

Antes de sair, fiz questão de deixar a aliança sobre a mesa de jantar, junto com as chaves da casa. Era o fim. E, sinceramente? Eu não sabia se me sentia aliviada ou devastada. 

Provavelmente ambos.

Enquanto dirigia pela cidade, as luzes de Nova York piscando ao meu redor, tentei não olhar para trás. Mas algo dentro de mim sabia que aquela noite ainda não tinha terminado. 

Algo estava prestes a mudar.

E eu não fazia ideia de como aquela mudança iria me atingir.

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