Fantasmas noturnos
Depois de fazer a higiene noturna apaguei as luzes e deitei-me de costas, com a barriga para cima; nessa posição fiquei relembrando vagamente os acontecimentos do dia. Estava com um pouquinho de fome, mas resolvi não comer nada até o dia seguinte. Procurei relaxar ao máximo todos os músculos, membros e órgãos e busquei meditar; agi exatamente conforme eu havia lido em uma revista, isto é, deixei que a mente vagasse em um limbo projetando o mínimo de pensamentos que me fosse possível. Imaginava um lugar calmo às margens de um lago azul de águas tranquilas e cristalinas.
Perdi os sentidos e adormeci. Acho que era de madrugada quando pressenti alguém que me tocava o ombro. Sentei-me na cama, mas o quarto não estava escuro como eu imaginava: uma claridade difusa coava de algum lugar ao qual eu não podia distinguir
Afinal, o que é Karma?― Bom dia! Vim chamá-los para o café! ― Exclamou alegre.Levantamos e nos dirigimos para a casinha do quintal. Eu já estava me tornando um freguês assíduo para refeições junto com a família de Rozendo. É lógico que eu não poderia comparar a comida de Maurine com meus congelados. Portanto, resolvi que quando fosse fazer a feira com ela, reforçaria as compras. Assim minha consciência não pesaria tanto.Desta vez o velho preparara os quitutes. Mesmo assim tudo estava perfeito: ovos, queijo assado, doces... um desjejum na medida para se ganhar alguns quilinhos extras.Durante a refeição Maurine e eu colocamos Rozendo a par de nossos ‘contatos imediatos’. Expusemos, com detalhes, tudo o que aconteceu durante a noite, nossos encontros e conclusões.O velho escutou em
Elaborando um planoSaímos da mesa onde fizemos a refeição matinal e fomos para a varanda dos fundos.― O que faremos? ― Inquiri logo que nos encontramos acomodados.Rozendo ponderou:― Em minha opinião, a primeira coisa a fazer é mantermo-nos conscientes da importância da empreitada que se apresenta à nossa frente, unidos e sem temor. Nossa proteção está justamente na confiança que vamos oferecer aos personagens desse drama com o objetivo de solucioná-lo definitivamente.― Concordo ― avaliou Maurine. ― Temos que estabelecer argumentos para convencer, principalmente Raphael, que me parece o mais embrutecido e renitente do grupo. Além disso, Raphael exibe uma inteligência bem desenvolvida, pena que para o mal. Clara e João já se predispuseram a ajudar-nos, o que já representa um grande passo. No momento
Mãe SabinaEla estava sentada em uma espécie de toco com duas cadeiras postadas à frente. As cadeiras eram baixas para que o consulente pudesse ficar à mesma altura da velha. Com isso ela podia encarar cada um diretamente nos olhos. E que olhos! Parece que deixavam as pessoas nuas, verrumando até o âmago, desvendando a alma de cada um. Achei que seria impossível ocultar algo daquela anciã.Trajava apenas um vestidinho de chita, estampado com motivos florais vermelhos. Magra: Canelas secas, seios murchos e os pés descalços bem assentados no piso do aposento. Dentes? Se os possuía estavam guardados em algum lugar dentro da casa; mas o sorriso vazio era franco e sincero.Logo que nos viu sentados iluminou seus olhinhos vivos com um raio de luz aceso no interior de seu coração. As gengivas lisas e gastas abriram-se mostrando satisfa&cc
Explicando fenômenosChegamos ao solar e, imediatamente, colocamos Rozendo a par de nossa missão; o velho escutou o relato com o maior interesse e mostrou-se satisfeito com o arremate final da empreitada:― Eu já esperava que Mãe Sabina tivesse conhecimento de tudo; também fiquei satisfeito com a vinda próxima do perito em assuntos paranormais ― observou.Minha curiosidade fazia a cabeça fervilhar; não me contendo indaguei do velho:― Quando chegamos para consultar Mãe Sabina ela nos disse que ‘eles’ já tinham avisado de que nós iríamos lá. A quem ela quis se referir com ‘eles’, pelo amor de Deus?Rozendo soltou uma boa gargalhada e depois, suspirando, se dispôs a falar:― Mãe Sabina tem trânsito livre e irrestrito no ‘tal’ mundo invisível do qual falamos; ela c
MediunidadeDepois do banho desci para comer e encontrei a mesa da cozinha já preparada para o café; Maurine havia arrumado um pedacinho da cabeceira estendendo uma toalha; tinha café, leite, chá, torradas, manteiga, queijo... tudo que se tem direito para um ajantarado eficaz.A moça vinha entrando com uma jarra de suco de abacaxi e um pratinho de rosquinhas caseiras. Comentei:― Não precisava isso tudo! Assim eu fico sem graça...Ela sorriu e disse:― Para mim não é trabalho. Eu sinto prazer em servir as pessoas ― abaixou um pouco os olhos ―, principalmente aquelas de quem eu gosto ― completou.― Está bem, ― observei ―, mas você, Rozendo e Bianca terão que me fazer companhia para o café, senão... nada feito.Ela sorriu com alegria e saiu para buscar o avô e a filha.Quando os três chegaram
Os caça-fantasmasNa sexta, eu e Maurine fomos à rodoviária pela manhã esperar o professor Amaury; enquanto aguardávamos pedi para ela falar sobre o professor, pois seria melhor que eu já tivesse alguma ideia a seu respeito quando ele chegasse.Maurine suspirou profundamente; começou discorrendo sobre aquilo que sabia da vida de seu antigo mestre:― Não sei muito ― assinalou; ― sei apenas aquilo que conversamos enquanto realizávamos o tratamento. Segundo ele, o pai era pastor de uma igreja evangélica e a mãe limitava-se aos afazeres domésticos. Tinha mais três irmãs; duas mais velhas e uma mais nova. Contou-me que foi criado dentro da rigidez característica do protestantismo clássico. Até os dezesseis anos ele ia ao culto todos os domingos; punha a bíblia embaixo do braço, vestia manga comprida e grava
Analisando a situaçãoDepois da explicação técnica do professor Amaury, ficamos todos em silêncio procurando digerir, da melhor maneira possível, toda a informação recebida.Passados alguns minutos Rozendo inquiriu:― Meu caro professor; e quanto ao casarão a que conclusão chegou?Amaury não se fez de rogado:― Pelas primeiras observações de Beatriz, trata-se de um grupo com fortíssimo entrelaçamento psicológico; mas deixemos, inicialmente, que ela nos fale a respeito.E virando-se para a moça pediu:― Fale-nos do que você conseguiu ‘enxergar’.Beatriz endireitou seu corpo mantendo a coluna ereta. Sutilmente sua expressão fisionômica foi-se transformando e ela ficou extática, rígida como em um estado de profunda catalepsia. Com um
A reuniãoAmaury dirigiu-se ao banheiro para lavar as mãos e recomendou-nos o mesmo procedimento. Depois bebeu um copo de água fresca, fechou as portas, acendeu a fraca lamparina e apagou as luzes; em seguida instalou Beatriz na cadeira que ficava ao abrigo de qualquer luminosidade, deixando outra ao seu lado vazia, certificando-se de que a jovem estaria em posição confortável; com passes longitudinais fez com que ela entrasse em um transe profundo. O próximo passo foi compor a mesa, sentando-se ele em uma extremidade e colocando Rozendo na outra; eu e Maurine ficamos frente a frente. A mim ele incumbiu de anotar em um caderno tudo aquilo que acontecesse durante o procedimento da reunião.Logo que estávamos ocupando os nossos devidos lugares, o professor recomendou que nos mantivéssemos em comunhão de pensamentos e apagou todas as luzes acendendo apenas a fraca l