- Duzentos e cinquenta mil, porra! Você só pode ter uma boceta de mel!
- Shiiiu! – Eu levo o dedo aos lábios, pedindo que Amanda mantenha o tom de voz baixo. Corro até a porta do meu quarto e a fecho, com medo de que meus pais possam ouvir.
- Ele tinha algum tipo de fetiche estranho? – A voz de Amanda está bem mais baixa agora. – Alguma coisa nojenta? – Faz uma careta.
- Eu já disse que não transei com ele!
- Meu amor, fica difícil de acreditar quando o cara te mandou um bônus de duzentos de cinquenta mil.
- Ele realmente fez isso?
Eu me lembro do nosso acordo, é claro. Mas depois de que saí daquele clube e o álcool foi progressivamente deixando o meu corpo, me pareceu extremamente improvável que Matt estivesse falando sério. Ainda mais que ele disse que faria o pagamento em duas partes, o que significava que... caceta!
- Sim, já está na sua conta, você não viu?
- Meu celular estragou, lembra?
- É verdade, talvez isso justifique o presente...
Ela remexe em sua bolsa Prada, que eu sei que é original, tira uma caixa de um iPhone de última geração e o entrega para mim.
- O que é isso?
- Acho que a caixa é autoexplicativa, Ella.
- Eu sei... – não contenho um risinho com a ironia de Amanda. – Mas o que significa isso?
- É um presente do seu cliente – ela diz como se fosse óbvio.
- Por que ele me daria isso?
- É o que eu tô tentando entender desde que pisei nesse quarto – ela j**a as mãos pro alto como se fosse algo óbvio. – Podolatria é comum demais para essa grana toda... – Ela pensa por alguns segundos. – Bondage? Ele te amarrou? Ah, claro, gosta de ser amarrado! Gosta de brinquedinhos também?
- Mandy! – Sinto meu rosto corar. – Não foi nada disso.
- Abre a caixa – ela aponta com a cabeça em direção ao celular. – Talvez tenha um bilhete.
E tinha. Era um bilhete escrito a mão, com uma caligrafia de dar inveja.
Ella,
Sinto muito que tenha saído bem cedo pela manhã e te deixado dormindo no hotel, mas tenho certeza de que meu motorista cuidou bem de você. Como não sabia seu número – e creio que seu celular não tenha se recuperado – mandei um novo aparelho, com o meu contato já salvo.
Espero que não tenha tido tempo de mudar de ideia com relação ao nosso acordo, pois realmente vou gostar de ter a sua companhia pelos próximos meses.
De qualquer forma, vou pedir que meu advogado te procure para formalizar tudo.
Matt.
- Acordo? Que acordo? – Mal me dei conta de que Amanda também lia a nota, por cima de meus ombros.
- Matt quer brincar de casinha comigo pelos próximos seis meses. O dinheiro foi por isso. Metade agora, e o resto ao logo dos meses.
- Puta que pariu, Ella, é meio milhão!
- Eu sei, vou poder pagar por todo o tratamento da Sophia e talvez ainda me sobre o suficiente para dar entrada em um apartamento – quando as palavras deixam minha boca, percebo o quanto estou animada com a perspectiva. - Quero dizer, eu amo minha mãe e meu padrasto, mas essa casa é sempre tão cheia, não tenho minha privacidade.
Além de mim, filha do primeiro relacionamento da minha mãe, meu padrasto também tinha três filhos do seu casamento anterior, dois garotos mais velhos do que eu, gêmeos, e uma garota dois anos mais nova – com quem eu dividia o quarto. Além disso, ele e minha mãe tinham tido juntos uma garotinha, que atualmente tinha cinco anos. Todos moravam juntos, o que tornava essa casa uma loucura!
- Amiga, você tirou a sorte grande! – Amanda me deu um abraço, animada. – Não vá deixar isso escapar. Fora que esse tal de Matt me pareceu bem gostoso, não deve ser nada difícil dormir com ele.
- De fato, não deve – admito. – Mas isso está de fora do nosso acordo.
- O quê? – Ela soa bem surpresa.
- Sexo não está no acordo. Ele quer apenas que eu finja ser sua namorada para a sua família.
- Então tá! – Por algum motivo, Amanda não parecia acreditar muito no que eu disse. – Mas olha, eu te conheço, tá? Sei que você tem uma facilidade absurda de se apaixonada por quem não deve...
- Eu não tenho uma...
- Erick! – Ela diz simplesmente, e eu me calo ao ouvir o nome do meu ex-namorado otário.
- Não vá se apaixonar por esse Matt. Vocês são de mundos totalmente diferentes.
- Eu não vou.
- Vai ser tentador. Eu adoro sair com o Thomas, adoro conhecer os lugares em que ele me leva, adoro os mimos que ele me dá, e honestamente, eu adoro o sexo também. Mas nem por isso eu vou deixar de cobrar. Sei muito bem como nossa relação funciona e é importante que você também saiba como a sua com Matt vai funcionar.
- Ele disse que vai mandar o advogado me procurar, Mandy, acho que ele mesmo vai fazer questão deixar isso muito claro.
- Eu sei. Mas eu te conheço. Qualquer palavra doce e cuidado extra que alguém tenha com você e em cinco minutos você já está planejando mentalmente o casamento e o nome dos seus filhos.
Eu queria protestar, mas o fato é que Amanda estava certa. Nós erámos amigas há tempo o suficiente para ela já ter visto isso acontecer mais de uma vez. Acho que por ter visto meu pai biológico abandonar nossa família a própria sorte, ter começado a trabalhar muito cedo e depois ter assumido a responsabilidade de cuidar de Sophia, eu realmente nunca soube o que era ser cuidada por alguém. Então quando alguém tinha a mínima demonstração de cuidado comigo, meu coração logo derretia.
Mas esse não seria o caso com Matt. As coisas ficariam muito bem estabelecidas e eu duvidava que ele se importasse com qualquer coisa além da sua empresa e em querer obter a aprovação do pai.
- Não vai acontecer! – Garanto a minha melhor amiga.
Minha família tinha um comércio que funcionava no andar de baixo da nossa casa. Começou como uma pequena mercearia, vendendo produtos alimentícios de primeira necessidade. Apenas uma vendinha de bairro mesmo, mas que sempre nos ajudou a manter as contas em dia. Depois de um tempo, Miguel, meu padrasto, expandiu o espaço e colocou algumas mesinhas. Passamos a vender também bebidas e petiscos rápidos. Tinha sido uma boa ideia, visto que sempre tinham alguns homens conversando aleatoriedades e bebendo, ainda que fosse segunda-feira de manhã. Mas também tinha sido uma má ideia, visto que sempre tinham alguns homens conversando aleatoriedade e bebendo, ainda que fosse segunda-feira de manhã.Nossa venda não estava nem perto de ser um sucesso empresarial, ou mesmo de ser suficiente para sustentar uma família de oito pessoas. Mas como eu e meus dois irmãos estávamos desempregados, conseguíamos nos revezar para cuidar do estabelecimento. As manhãs eram minhas.Por isso, quando Matt me mandou
“- Eu mando o motorista, Ella” – desdenhei, enquanto contava a história toda para Amanda.Obviamente eu tinha ligado correndo para a minha amiga. Eu não tinha a menor intensão de aparecer no escritório de Matt usando calça jeans e camiseta do Harry Potter. Mas, dito isso, eu não fazia ideia do que usar. Não era exatamente como se eu tivesse muitas opções.- Ele é fofo – respondeu ela, mexendo no meu armário.- Ah, claro. Vai ser muito fofo também quando o Bruno ou outra pessoa me ver entrando em um carro de luxo.- Mete o foda-se, Ella! Você não está fazendo nada de errado.- Eu sei! Mas você sabe que as pessoas não pensam assim...- Você deveria se importar menos com o que as pessoas pensam! – Ela briga. – Ninguém tá pagando suas contas! Aliás, o Matt tá.- Você sabe que eu não consigo ser como você!Amanda revira os olhos e volta a se concentrar nas minhas roupas.- Posso te emprestar algo, se quiser.- Não posso ficar te pedindo roupas emprestadas toda vez que for sair com ele, Man
- Ele te deu o cartão dele e disse pra você usar à vontade? Amanda ainda não acreditava que eu tinha pagado nosso almoço em um dos restaurantes que sempre quisemos ir – e nunca pudemos pagar – do shopping mais chique da cidade. E que agora estávamos indo até uma loja super renomada pedir para que “renovassem o meu guarda-roupas”. - Dá para acreditar? E o cartão é feito de ouro! - Deixa eu ver! Cadê? - Dentro do meu sutiã! – Digo, como se fosse óbvio. – Eu não vou correr o risco de perder ou de alguém me roubar. Tá seguro. - Super seguro. Até porque ninguém coloca a mão aí a muito tempo, né amiga? - Cala a boca! – Respondo, mas estou rindo. Entrelaço meu braço no de Amanda enquanto caminhamos olhando as vitrines chiques. Se eu já tinha vindo nesse shopping antes uma vez, era muito. Não era um lugar para mim. Não tinha lojas de departamento. Se eu olhasse para a direita tinha uma Chanel, se eu olhasse para a esquerda tinha uma Prada e se eu olhasse para frente tinha uma Lennox. Na
- Eu nunca mais volto naquela loja! – Lilly dizia revoltada. – Elas foram tão preconceituosas! – Ela baixa a voz para quase um sussurro. – Nunca passei por isso.Nós estávamos sentados em uma cafeteria no shopping. Por mais que Amanda e eu não tivéssemos almoçado há muito tempo – e tivéssemos pedido sobremesa, minha amiga fez questão de pedir três tipos de doces diferentes. Eu pedi apenas um chocolate quente. Estava nervosa e chocolate quente era uma bebida de conforto. Mas preciso admitir que me arrependi um pouco. Se aquele era o melhor chocolate quente que já provei na vida, imagina o resto do menu!- Eu estava com o cartão de crédito de outra pessoa, então...- Não a defenda! – Matt me cortou. – Não tem defesa.- Não tem mesmo! – Amanda concorda. – Ela foi uma idiota.- Não se preocupe, Ella, vou te levar em uma outra loja aqui perto que é maravilhosa! Eu gosto ainda mais dela, na verdade.- Ótimo, vocês já têm planos para até a hora do jantar, então... – Ele se levanta. – Vou vol
Enquanto nos éramos seguidas por três funcionários da loja carregando as compras para mim até o estacionamento, eu pensava que nunca tinha saído de uma loja com tanta sacola junto, nunca! Talvez nem se eu somasse todas as sacolas dos últimos dez anos da minha vida em compras, daria aquela quantidade.Isso em uma loja de departamentos já seria um absurdo, mas em um a multimarcas de grife... Por mais que Lilly não tivesse deixado eu ver a conta, eu tinha certeza de que valia uma fortuna.- Isso é um exagero... – sussurro para Amanda em um momento em que Lilly se distrai com o celular. – Lilly deve ter feito Matt gastar mais do que ele tá me pagando!- Deve? – Amanda dá uma risadinha. – Meu amor, é claro que ela fez!- Eu não consigo me sentir confortável com isso.- Relaxa! – Ela diz. – Isso é troco de bala para gente como os Lennox. Lilly deve fazer uma compra dessas todo mês.- Ainda assim... Não paro de pensar que esse dinheiro poderia ser muito mais bem gasto com outras coisas. Como
Depois do jantar, o motorista de Matt me leva até em casa. Ou melhor, ele me leva até a casa de Amanda. Além de eu saber que não conseguiria entrar em casa com todas aquelas sacolas sem chamar atenção, também seria difícil explicar o fato de estar descendo de um carro chique. Então peço que ele estacione em frente a casa da minha melhor amiga, que fica há apenas cinco minutos de caminhada da minha casa, e aproveito para descarregar todas as compras lá. Fico apenas com a roupa que usarei na manhã seguinte, já que Matt queria me ver novamente, a qual camuflo dentro de sacolas de mercado. O restante das coisas, Amanda iria me levando aos pouquinhos, toda vez que fosse me visitar.Tento entrar em casa o mais sorrateiramente possível, por mais que pelo horário já fosse para todos estarem dormindo. O problema é que não estavam. Quando entro no meu qua
Fico feliz quando levanto na manhã seguinte e Bianca não está mais no quarto. Eu a tinha ignorado completamente quando ela jogou a cartada do Matt, mas se bem conhecia a minha irmã, sabia que mais cedo ou mais tarde ela voltaria naquele assunto. Ficava feliz que fosse mais tarde.Bianca trabalhava como secretária em uma empresa de advocacia, ela odiava o que fazia. Ainda assim, ela sabia que não podia largar, já que seu salário era uma renda complementar necessária para a nossa família. Ela entrava todo dia às nove horas da manhã, o que significava que tinha que sair de casa, no máximo, às oito. Isso me deu pelo menos uma hora para me arrumar, com a certeza de que não a veria.Quando desço até a cozinha para beber um copo de suco de laranja antes de sair de casa, encontro minha mãe cuidado de Sophia e Giovanna. Meu padrasto também já deve ter saído para trabalhar e Bruno deve estar na venda. Breno ainda deve estar dormindo.- Bonita! – Sophia aponta para mim, provavelmente se referind
- Preciso que finja que é meu chefe – alcanço Matt com alguma vantagem. Bianca vinha caminhando um pouco afastada de mim, apenas observado. Então, consigo ser direta quando o encontro, me esperando em frente ao spa.- Eu não sou?- Não desse jeito. No spa. Não me beija... – o empurro levemente quando ele tenta se aproximar.- O que está acontecendo, Ella?- Minha irmã tá desconfiada de... você sabe. – Faço um gesto com a cabeça na direção que ela estava. – Tá me seguindo.Ele ri.- A gente pode fingir que está junto para a sua família também – ele dá de ombros. – Seria menos problemático para você.- Matt... – É a minha vez de rir. – Você realmente se imagina sentado em uma mesa de plástico em um bairro de subúrbio para o almoço de domingo?- Talvez – ele mente.- Isso nunca daria certo. Por favor, só finja que é meu chefe no spa.- Se você prefere assim – ele indica a entrada com a cabeça. – Tanto faz.Sigo para dentro do spa enquanto vejo Bianca nos observando através da vitrine. Se