Capítulo 8

- Ele te deu o cartão dele e disse pra você usar à vontade?

Amanda ainda não acreditava que eu tinha pagado nosso almoço em um dos restaurantes que sempre quisemos ir – e nunca pudemos pagar – do shopping mais chique da cidade. E que agora estávamos indo até uma loja super renomada pedir para que “renovassem o meu guarda-roupas”.

- Dá para acreditar? E o cartão é feito de ouro!

- Deixa eu ver! Cadê?

- Dentro do meu sutiã! – Digo, como se fosse óbvio. – Eu não vou correr o risco de perder ou de alguém me roubar. Tá seguro.

- Super seguro. Até porque ninguém coloca a mão aí a muito tempo, né amiga?

- Cala a boca! – Respondo, mas estou rindo.

Entrelaço meu braço no de Amanda enquanto caminhamos olhando as vitrines chiques. Se eu já tinha vindo nesse shopping antes uma vez, era muito. Não era um lugar para mim. Não tinha lojas de departamento. Se eu olhasse para a direita tinha uma Chanel, se eu olhasse para a esquerda tinha uma Prada e se eu olhasse para frente tinha uma Lennox. Nada de Renner, C&A ou mesmo Zara. A loja na qual estávamos indo não era de uma grife específica, mas sim uma multimarca (com todas essas grifes juntas e misturadas). Lá eles ofereciam os serviços de personal stylist, ou seja, uma pessoa exclusivamente para me ajudar a definir meu estilo e comprar os itens mais adequados. Isso tudo foi Amanda quem me explicou, eu não saberia, é claro.

- Boa tarde! – Uma atendente rapidamente chega até nós assim que pisamos na loja? – Posso... ajudar? – Seu olhar está nos varrendo da cabeça aos pés, o que volta a me deixar extremamente desconfortável.

- Sim – Amanda responde. – Minha amiga quer renovar o guarda-roupas dela.

- Nosso serviço de personal stylist só funciona com horário marcado e reserva antecipada. Vocês têm um horário?

- De novo isso...? – Deixo escapar baixinho.

- Não, mas foi Matt Lennox quem nos mandou.

- Matt Lennox? – Ela dá uma risadinha debochada. Ela se volta para mim: - Olha, eu sinto muito, mas não temos nada aqui do... – volta a me medir – seu estilo.

- Você é a personal stylist? – É Amanda quem pergunta.

- Não.

- E não deveria ser a personal stylist a falar sobre o estilo dela?

A mulher fica sem resposta apenas por um segundo.

- Eu vou pedir por favor para que vocês se retirem.

- Vamos... – eu volto a segurar o braço de Amanda, pronta para arrastá-la dali se fosse necessário. Já estava me sentindo humilhada o suficiente por estar sendo julgada pela minha aparência, não precisava de mais.

- Não! – Amanda enfia a mão no meu decote e arranca o cartão de lá.

- Amanda! – Eu protesto, tentando puxar o cartão de volta.

- Esse cartão é de ouro, querida, eu posso comprar você se eu quiser. Então, comece trazendo duas taças de champanhe, ok?

Mas a atendente não se intimida. Em um gesto hábil, ela arranca o cartão das mãos de Amanda e seus olhos vão direto para o nome estampado ali.

- Vocês roubaram isso?

- O quê? Não! – Digo indignada. – Olha, nós vamos embora, tá? Só me devolve isso – aponto para o cartão.

- Eu não vou te devolver isso! – Ela diz como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo. Se vira para a moça atrás do balcão. – Liga para a Lilly Lennox.

- A irmã do Matt? – Deduzo, uma vez que ele disse que era ela quem costumava comprar nessa loja. – Não! Isso é ridículo.

- Vocês duas, para a salinha lá atrás, agora!

- Você não pode nos prender aqui! – Disse Amanda. – Isso é crime!

- Roubo é crime! – Ela diz. – Eu posso chamar a polícia e a gente resolve isso logo, vocês preferem?

Agarro a mão de Amanda antes que ela possa dizer mais alguma coisa e a puxo na direção da porta que a atendente apontou.

- Você é louca? Por que foi pegar o cartão assim?

- Ela estava humilhando a gente! – Ela baixa o tom de voz, um tanto chateada. – Eu queria mostrar que a gente pode pagar.

- E agora estamos mais humilhadas ainda – reviro os olhos e me sento em uma cadeira que tinha ali, Amanda vindo se sentar ao meu lado.

- Me desculpa.

- Não é culpa sua.

Aquele sentimento era horrível mesmo. Não era a primeira e com certeza não seria a última vez que eu passaria por isso ao estar no mundo de Matt. Mas enquanto Amanda queria poder esfregar na cara da atendente o quanto ela estava errada, eu simplesmente preferia baixar a orelha e me retirar, exatamente por saber que ali não era meu lugar. Eu não ia lutar para entrar à força, Amanda lutaria.

Cerca de dez minutos se passaram antes da porta abrir. Matt entrou furioso, seu olhar varrendo a sala antes me achar com Amanda em um canto.

- Vamos embora! – Ele estendeu a mão na minha direção.

Eu me levantei, sem pensar duas vezes. Não aceitei sua mão, me joguei nos seus braços. Um tanto desconcertado, Matt envolveu minha cintura.

- Desculpa. Eu devia ter sido mais cuidadosa.

Matt leva a mão direita ao meu rosto e o levanta, fazendo com que meu olhar encontre o seu.

- Nunca mais deixe ninguém te tratar assim, está ouvindo? Nunca mais! Por que você não me ligou? Recebi uma mensagem da Lilly, ela não estava entendendo nada.

- Eu não queria incomodar.

- Não seja boba. Vamos! – Ele faz um gesto para que Amanda nos acompanhe.

Quando saímos para a parte da loja, vejo a atendente falando desesperadamente com uma moça loira muito bonita, que deveria ter mais ou menos a minha idade, ali por volta dos vinte e cinco anos. Seus olhos eram as únicas coisas que lembravam Matt, além disso, eu jamais suporia que eram irmãos.

- Eu sinto tanto! A gente só quis evitar uma confusão maior e...

- Você tem que pedir desculpas é para essas duas aqui! – A raiva de Matt não diminuiu nem um pouco.

- Sinto muito senhoritas – a atendente se vira em nossa direção e até faz uma pequena reverência. – Se houver quaisquer coisas que eu possa fazer por vocês, para nos redimir... Um desconto, ou...

- Não ouse! – Matt a interrompe. – A partir de agora tudo o que vocês vão fazer para se redimir vai ficar a cargo do acordo com o meu advogado. – Vamos embora, Lilly!

E colocando nós três a sua frente, Matt nos guia para fora da loja.

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